Volume 1

Capítulo 5: O Clube de Amigos (2)

Minha mãe acabou chegando bem tarde ontem. Isso acabou me atrapalhando de conversar com ela. Minha mãe sempre foi uma pessoa muita convicta e de personalidade forte, creio que isso tenha sido uma das razões que a levou ao sucesso no mundo imobiliário. Ela também é do tipo trabalhadora e que dá de tudo de si para conseguir o que quer. Por isso, achei que não seria uma boa ideia conversar com ela ontem. Ela deveria estar cansada. 

 

Não sei se ela conseguiu ter uma boa noite de sono, mas eu com certeza não tive. A ansiedade me moeu ontem a noite, era difícil para mim até mesmo fechar os olhos. De um dia para o outro, eu estava simplesmente no pior lugar da escola. O lugar que poderia ser o responsável por destruir o meu objetivo de vida. As palavras de Yoshiko-sensei pareciam não sair de minha mente, como uma maldição.

 

"O que eu fiz de errado? Como isso aconteceu?" 

 

Os pensamentos de culpa atormentavam a minha consciência, mesmo que no fim, eu nem soubesse direito onde errei. Ou melhor, talvez eu sabia... mas não queria enxergar. Agora — como punição — eu seria obrigado a conviver com aquelas pessoas

 

Por ter passado a noite em claro, acabei só adormecendo ás quatro e meia da manhã. O resultado foi que o despertador acabou tocando, mas eu não escutei. Nem um dos nossos empregados me acordou, provavelmente, não notaram a minha ausência. Não podia nem julgá-los já que desde meus doze anos, meu pai ordenou que ninguém me despertasse. Segundo ele, isso era para que eu acordasse para vida, ou coisa do tipo. 

 

O resultado: acabei acordando faltando apenas 30 minutos para começar a aula. Nem tive tempo para tomar meu café da manhã. E o pior de tudo, foi que nem pude beber o meu café matinal no Amai café. Aquela foi a minha pior manhã em um bom tempo. 

 

Por sorte, consegui chegar faltando 5 minutos para o começo da aula. No entanto, teria que aguentar até o intervalo com a barriga vazia. Isso seria insuportável...

 

"Não, espere!!" 

 

Eu sempre levo meu bento para a escola, já que eu não gosto de comer no refeitório. Ele é preparado pelos nossos funcionários, sendo um almoço bem preparado e de extrema qualidade. Claro que eu que escolho o cardápio. Se não, eles encheriam de saladas e comidas de — alta classe — que eu odeio. Eu poderia aproveitar e comer metade escondido antes da aula começar.

 

"Ah... Arroz, salsicha, ovo, carne de porco..." 

 

— [...]

 

— Espera aí... 

 

— EU ESQUECI DE PEGAR MEU BENTO!

 

Eu tinha esquecido desse pequeno detalhe. Na correria, acabei me esquecendo de pegar o bento na cozinha. Isso significaria que eu realmente teria que sofrer de fome até o intervalo e que ainda precisaria ir para o maldito refeitório. 

 

Devido a minha pequena crise agora, eu também estava atraindo olhares de julgamento da minha classe. Eu nem precisava olhar para eles, apenas sentia seus olhos fixos em mim. 

 

"Ah, que maravilha!" 

 

-1000 pontos de respeito para mim. Que belo dia!! 

 

***

 

*DIM-DOM!*

 

"Argh... finalmente... intervalo..."

 

Ao escutarem o sinal, os alunos começaram a se movimentar. Os alunos que traziam sua comida de casa, tiravam seu bentos da mochila e comiam enquanto jogavam conversa fora com seus amigos. Já aqueles que não traziam, iam correndo em direção ao refeitório. 

 

Uma vez eu não trouxe o bento de casa, assim como hoje. Eu queria ver como seria experiência de comer junto com outras pessoas e talvez até fazer alguns amigos. Infelizmente, eu acabei descobrindo da pior maneira que o refeitório segue a lei do mais forte. Não apenas fiquei um tempão na fila rodeado de zé manés, como também, acabei tendo que comer sozinho numa mesa que cabia tranquilamente umas 6 pessoas. 

 

Mas, eu não tive culpa. Como é um colégio para pessoas mais — financeiramente estáveis — eu achei que o refeitório seria um local tranquilo e agradável, com pessoas educadas e maduras. Porém, é o contrário! Talvez, principalmente os garotos, veem a escola como uma escapatória da vigilância excessiva dos seus pais e acabam agindo como um bando de animais irracionais.

 

A escola acaba só se envolvendo ou em situações que envolvem algum aluno PCD ou em coisas mais graves. Fora isso, os adultos responsáveis pela cantina acabam resolvendo a maioria dos problemas. Ás vezes, eu me pergunto se essa é realmente uma escola particular. 

 

"Ficar aqui remoendo o passado não vai mudar nada..."

 

O refeitório fica no térreo. Seria bom acelerar os meus passos para conseguir algum bom lugar, mas estava com tanta fome que não tinha forças para isso. Então, teria que me arrastar até chegar lá. 

 

***

 

Fiquei uns 10 minutos na fila, até chegar a minha vez. Nem é um tempo tão grande assim, mas para quem está morrendo de fome é como se fosse uma eternidade. Parece que há um buraco enorme na minha barriga e eu praticamente estou rezando para que ela não fique roncando. Já basta de passar vergonha por hoje.

 

Hoje o prato do dia é Tonkatsu. Talvez, essa é a única coisa boa desse lugar. Pelo menos, os pratos não são comidas de riquinho. Pelo menos, não nos dias em que vim aqui. Se me lembro bem... da última vez que vim aqui serviram arroz, algas, sopa de missô...

 

— Ei, jovenzinho! — Exclamou, a tia da cantina. — Vai ficar viajando aí ou o quê? Pegue sua comida logo e saia da fila! 

 

— É isso aí! Eu estou com fome! — Gritou, um dos alunos. — Se você não está saia da fila! — Pelo jeito, eu acabei viajando na maionese de novo, e acabei atraindo a atenção e a raiva dos alunos da fila. 

 

— M-me desculpa! Eu já estou saindo. — Disse, sem pegar o meu prato.

 

É por essas e outras que as pessoas acabam me achando esquisito. Algumas vezes, acabo imerso demais em meus pensamentos e isso me coloca em situações estranhas. Ás vezes, fico encarando as pessoas sem nem notar ou acabo murmurando meus pensamentos para mim mesmo. 

 

Depois me pergunto, o porquê de eu não ainda não ter amigos...

 

— Tsc, eu tenho que parar de fazer isso... — Murmurei para mim mesmo. 

 

Decidi que mudaria daqui para frente. Nem que fosse as poucos, mas minha maneira de agir teria que ser revista por mim. Era hora de aos poucos, levantar a minha cabeça e agir com coragem. Porque se eu continuasse agindo como covarde, nada mudaria. 

 

Aquela fome que iria sentir pelo resto do dia seria minha punição. 

 

"Eu tenho que... levantar a minha cabeça!!"

 

— Hã...? 

 

Ao estender a minha visão, notei que uma pessoa olhava para mim. Eu conhecia essa aquela pessoa. O vento que entrava pela janela, balançava seu cabelo laranja chamativo. Seus olhos de mesma cor, estavam fixos em mim como se ela quisesse me dizer algo. No entanto, assim como no nosso último encontro, nenhuma palavra era dita pela garota. 

 

"Se me lembro bem, seu nome é..." 

 

— Rina-san, você está me escutando? — Disse, um garoto que estava ao lado de Rina. Eles pareciam se conhecer devido a próximidade dos dois. Talvez, ele seja o namorado dela ou coisa do tipo. 

 

Por sua vez, ela parecia não notá-lo. Ou pelo menos, ela parecia não estar muito interessada nele naquele momento. Seus olhos continuavam fixos em mim. Tão fixos que até me deu certa vergonha e senti que seria hora de sair dali. 

 

"E se as pessoas verem isso...?" 

 

"Elas vão rir de mim..."

 

Porém, se eu fizesse aquilo eu estaria fugindo mais uma vez. Agiria como um covarde de novo. Por isso, dessa vez eu não vou ir para trás! Com coragem, levantei a minha cabeça e encarei ela de volta.

 

Foi quando ela esboçou alguma reação. Suas sombrancelhas arregalaram e sua boca abriu um pouco. Talvez, ela não esperasse isso vindo de mim. Foi quando a mesma virou seus olhos de um lado para o outro e deu alguns passos em minha direção. Ela parou em frente a mim enquanto segurava a bandeja. 

 

— O que foi? — Perguntei. 

 

— [...]

 

A garota, então, estendeu a bandeja que estava em sua mão. Ela não falava absolutamente nada, apenas mantinha seu braço estendido. Infelizmente, eu não tenho como ler mentes, por isso não conseguia entender o que ela queria dizer. Ela também não me ajuda...

 

...Afinal, como saberei o que ela quer se ela não me dizer? 

 

— Ei, você! — O aluno que estava com ela anteriormente acabou me chamando. Ele tinha um sorriso irritante em seu rosto. — Acho que ela quer que você segure a bandeja. 

 

— Sério? — Movido pelas palavras daquele aluno, acabei segurando a bandeja para ela. Quando tomei de sua mão, Rina deu alguns passos para trás e então fugiu. — O que essa garota quer héin? Que estranha... — Murmurei.

 

— [...]

 

— Você... qual é o seu nome? — Indagou, o conhecido de Rina. 

 

— O meu? É a Ak-Akihiro Ryoichi. 

 

— Ryoichi-kun... entendi. Acho que esse vai ser um ano muito divertido... 

 

Então ele também seguiu Rina e foi embora. 

 

"O que diabos foi isso??!" 

 

— Eu só me bato com malucos... — Murmurei. 

 

"Bem, pelo menos agora eu tenho o que comer..."

 

"Espera aí, Rina..."

 

Eu não conseguia entender por que ela fez isso por mim. Eu literalmente havia a conhecido no dia anterior. Além do mais, depois do que eu disse, jurava que ela me odiava. Sendo bem sincero, eu ainda não consigo entender essa garota. 

 

Porém, eu posso agradecê-la depois. Eu tenho mesmo que estar no clube mais tarde... 

 

"Bom, vamos comer..." 

 

***

 

"Estou aqui mais uma vez."

 

*BAM!* 

 

—...Whuah... nham... boa tarde! 

 

— Hum, essa voz... é o nosso novo Kouhai, Yuki-chan? — Perguntou, Natsuki-senpai. 

 

— Sim, é ele — disse, Haruka-senpai. — acho que deveria parabenizá-lo, eu jurava que você iria fugir. 

 

— Bem, se eu pudesse fazer isso, com certeza faria... Whuah!! Nham... nham... 

 

— [...]

 

— Esse som... você está cansado, Ryoichi-kun? — Indagou, Natsuki-senpai. 

 

— Bem, sim. Eu não durmi direito hoje á noite.

 

— Hum, hum! Você não pode fazer isso, Ryoichi-kun! Não sabe que perder uma noite de sono é como um veneno para você, principalmente, quando está na fase de crescimento! 

 

"Ué, quando você virou a minha mãe do nada?!"

 

— Bom, de qualquer forma, eu vou ficar bem... eu gostaria de falar é com a presidente. 

 

— Com Yuki-chan? Sobre o qu- Oh! Não me diga que...

 

—...Você se apaixonou por ela?! 

 

— Não, acredite. — Afirmei sendo bem sincero. — Você está parecendo com Harumi-san. 

 

—...Eh, eu não sei se isso pode ser considerado um elogio...

 

— Com certeza não é. 

 

— Hahaha...

 

Mesmo depois de ter falado comigo, a presidente parecia mais interessada em ler o pequeno livro que ela tinha em mãos. Isso sendo bem sincero, pouco me importava. Entretanto, antes que eu pudesse ir falar com ela, decidi que seria melhor tirar uma pulga que estava atrás de minha orelha.

 

— Por sinal, onde está ela? — Me referindo a Harumi. — Ela sempre se atrasa? 

 

— Hum, Harumi-chan? Ela não está atrasada. — Respondeu, Natsuki-senpai. — Na verdade, ela nem vai vim aqui hoje. 

 

— Ué? Por quê? Não é pra estar aqui todos os dias? 

 

Tinha certeza que Yoshiko-sensei disse isso para mim. Ela afirmou que eu deveria estar aqui nessa sala todos os dias. Pode ser que Harumi esteja faltando, eu não me surpreenderia com isso sendo bem sincero. Apesar de não conhecê-la direito, ela tem cara de quem faria isso. 

 

Pode ser que isso também apenas seja pressão de Yoshiko-sensei. E que na verdade, esse clube seja bem flexível com faltas e coisas assim. Já escutei isso de alguns colegas de classe. Existem clubes que você apenas se inscreve e acaba virando um — membro fantasma — dele. Servindo apenas para aumentar a quantidade de membros nos relatórios. 

 

Se for o caso desse clube, isso seria muito bom. Eu poderia nem mais colocar os pés aqui amanhã, nem nunca mais! Também não precisaria ter que conversar com minha mãe e poderia ter a vida escolar dos meus sonhos! 

 

— Bem, VOCÊ realmente tem que estar aqui todos os dias. Mas, esse não é o caso de Harumi-chan. 

 

— Hã?!! Como assim? Que história é essa? — Perguntei de maneira mais agressiva.

 

— D-de qualquer forma, acho que seria melhor você conversar sobre isso com Yuki-chan...

 

— [...]

 

Acabei perdendo a paciência mais uma vez. Mas, ela estava correta. Por mais que seja a vice-presidente, acho que assuntos como esse devem ser resolvidos com a própria presidente do clube. Além de que eu já havia combinado de conversar com ela. 

 

Ainda sim, é estranho como a presidente parece não escutar nada do que falamos aqui. Ou pelo menos, ela não fala nada comigo. Como se o livro ou a janela, ou qualquer coisa que ela esteja fazendo seja mais interessante do quem está nessa sala. 

 

Atravessei a sala em direção a Haruka-senpai. Ela estava totalmente imersa em seu livro, tanto que mesmo quando cheguei ao seu lado, ela pouco se importou. Como se eu nem mesmo existisse. No entanto, isso não me impediria de falar com ela.

 

— Presid- 

 

*BAM!*

 

De repente, um barulho alto pode ser escutado por todos os membros do clube. Mesmo sendo um novato, até mesmo eu já sabia o seu significado: havia alguém ali. 

 

Até mesmo Haruka-senpai que estava tão apaixonada em seu livro, foi despertada de seu transe. 

 

— Então, você também veio... acho que deveria parabenizá-la por não ter fugido... — Essas palavras saíram de sua boca, mais uma vez. 

 

"Será que..."

 

Quando virei meu rosto para atrás. Senti um pequeno dejavú. A garota não deixava de olhar para meus olhos. E seus cabelos balançavam com o vento que vinha da janela quebrada. 

 

Era a garota de cabelo laranja.

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

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