Volume 1

Capítulo 6: O Clube de Amigos (3)

Os delicados fios cor de laranja eram movidos pela brisa que vinha da janela quebrada. A tímida garota permanecia imóvel como se não tivesse certeza do que faria a seguir. Então, ela continuava apenas parada em pé em frente a sala do clube. Ela não entrou, mas também, parecia não querer ir embora. 

 

Aquela falta de coragem parece ter sido percéptivel á todos ali. Inclusive, para Natsuki que sequer enxerga. 

 

— Rina-chan? — Natsuki-senpai parecia estar preocupada com ela visto que não escutou ela se mover. 

 

— Rina-san, você está bem? — A presidente pareceu ter notado o modo estranho como Rina estava agindo, visto que também pareceu estar incomodada. 

 

— [...]

 

A presidente pareceu olhar para mim de canto de olho. Talvez notando que por mais que Rina não se movesse, ela continuava olhando para mim. Haruka parece ser todo tipo análitica, então, aquilo foi o suficiente para ela ter algumas dúvidas sobre mim.

 

— É por causa do que ele disse ontem? — Perguntou a presidente.

 

Até mesmo eu que estava boiando naquela conversa, entendi que a dúvida da presidente era pertinente e fazia total sentido. Afinal, eu não havia me descupado com ela ainda e eu tinha falado de maneira grosseira com os membros do clube. 

 

Apesar que, sendo bem sincero... eu ainda não enxergava o que tinha tido de maneira tão ruim. Claro, eu tinha falado bobagem, exagerado. Porém, não acho que tenha sido para tudo isso. Afinal, todos os outros membros haviam apenaa ignorado tudo aquilo. Eu já tinha escutado que algumas pessoas são mais sensíveis que outras, mas ainda enxergava aquilo como uma reação exagerada dela.

— [...] — Rina pareceu finalmente ter voltado a sí mesma. Ela quase deu um pulo, e então virou o seu rosto de um lado para o outro como que negando que aquele fosse o motivo. Logo, Rina se moveu para dentro da sala do clube e fechou a porta. 

 

*BAM!*

 

O som seco característico da porta ao fechar ressou pela sala e fez com que as atenções se voltassem a garota. Pelo menos, daqueles que a enxergavam, já que Natsuki ainda parecia um tanto confusa tentando decifrar ao máximo os sons. 

 

Rina após fechar a porta se virou para mim. Ela não falou nada mais uma vez, mas fez uma reverência com a cabeça e se moveu para a primeira fileira. Ela acabou se sentando na última cadeira e continuou olhando para baixo como se tentasse fingir que não havia acontecido nada. Ela definitivamente era esquisita.

 

Por mais que entendesse sua timídez, não entendia as ações da garota. Buscando alguma forma de entender suas ações, decidi que seria uma boa ideia conversar com sua senpai sobre isso. Afinal, ela provavelmente a conhecia melhor que eu. 

 

— O que há com essa garota? 

 

— Não sei. Era você que deveria saber. — Afirmou, Haruka.

 

— Eu?! Por quê? 

 

— Porque ela parece estar obcecada por você, não é óbvio? 

 

— Obcecada por mim? E porquê ela estaria? 

 

— Acho que você deveria perguntar isso para ela, não para mim. — Disse, Haruka. Ela já parecia entediada de tudo aquilo.

 

"Tsc... sempre sobra para mim..."

 

Já irritado com aquela situação toda, achei que seria bom ser direto com ela. Se apenas deixasse para lá aquilo poderia acabar piorando com o tempo. E isso seria um saco! 

 

— Ei! Ô garota! O que você quer hein? — Perguntei com um tom grosseiro. — Se você tem algum problema comigo é melhor falar! 

 

[ ! ] — Rina pareceu ter tomado um susto devido ao meu tom de voz. Ela se levantou num pulo e começou a mexer suas mãos rapidamente. 

 

— Fale logo! Você tem algum problema comigo? 

 

— [...] — Rina desesperadamente começou a mexer seu pequeno e delicado rosto de um lado para o outro. Seu olhar era cheio de apreensão e covardia, entretanto, não via motivos algum para isso já que não estava a ameaçando. Para mim, ela apenas queria fugir como um coelhinho indefeso.

 

— Um gato comeu sua língua? Se tem algo pra dizer para mim... ABRE A BOCA E DIGA! 

 

—...A..arf...a...

 

— Vamos DIGA! 

 

[ !!! ] — Rina então agindo realmente como um coelho assustado, saiu correndo e depois de abrir a porta, saiu pela sala do clube. O som seco já característico para mim, ecoou mais uma vez pela sala do clube. Acho que enxergei algumas poucas lágrimas escorrendo sutilmente pelos seus olhos. 

 

Não bastava ela ainda deixou a porta aberta...

 

— Ah... tsc, tsc... você não é muito sensível com as garotas, não é Ryoichi-kun? — Perguntou, Natsuki.

 

— Insensível... — Murmurou, Haruka. Sua voz é sempre tão fria e imutável, mas até mesmo eu percebi certo grau de irritação em seu tom. 

 

— [...]

 

— Não pode! Desse jeito, você nunca terá uma namorada bonita! 

 

A raiva e a indignação tomou conta de minha cabeça. Talvez devido a frustação de não entender aquela garota ou devido a vergonha que estava passando naquele momento. Talvez eu tivesse exagerado um pouco, mas aquela garota era pior que eu! Nós já estamos no ensino médio; ela não deveria agir com mais maturidade? 

 

O que mais me irrita nela é como ela não abre a boca dela para nada. Nem mesmo para se defender. Eu já tenho que vim todos os dias nesse lugar de gente estranha e ainda tenho que ficar aguentando coitadismo de desconhecidos? Não vejo como isso pode ser minha culpa. 

 

— Ah... — Suspirou, Natsuki. — Agora você perdeu todas as suas chances com Rina-chan... e pensar que eu pensei que vocês se dariam bem, já que ela também é do segundo ano... 

 

—...E eu ouvi dizer que ela é bem popular entre os garotos. Todos dizem que ela é linda... — Natsuki parecia suspirar profundamente por não poder enxergar a beleza de sua Kouhai.

 

— [...]

 

— E dai? 

 

— Hã...? — Natsuki pareceu se surpreender com minha indagação.

 

— Do que adianta isso tudo? É bonita, mas não fala... o que a difere de uma boneca? 

— Ryoichi-kun...? 

 

Isso acontece com nós humanos ás vezes. Palavras que você se arrepende assim que sai de sua boca. Como se o veneno que fica escondido em baixo de seu coração expurgasse pela sua lingua. 

 

O som de passos fora da sala do clube se afastando progressivamente só tornou aquele momento mais agonizante. Eu havia pisado feio na bola mais uma vez. 

 

—...Rina-chan acabou de entrar no clube e ela é muito tímida... já foi muito difícil Yoshiko-sensei trazê-la aqui. Eu acho que depois disso ela não vai mais querer voltar....— Murmurou, Natsuki.

 

—...Ah... tsc... como é que você pode ser tão tapado? Você não percebe que ela é muda, mesmo que queira... ela não consegue falar... 

 

— [...]

 

— Ryoichi-kun, eu acho que essa é a hora certa para lhe dizer sobre o objetivo desse clube. — A voz fantasmagórica da presidente me de um pequeno susto. Entretanto, sua voz fria e análitica havia voltado. 

 

— [...]

 

Cheio de vergonha, nem conseguia voltar a minha atenção para a pessoa atrás de mim. Então, apenas continuava a olhar para frente de maneira cabisbaixa, enquanto me arrependia do que havia feito anteriormente. Meus punhos estavam cerrados com força e meus dentes se voltavam contra meus lábios. Talvez, aquela fosse a forma que minha consciência buscava para me punir, para me causar sofrimento. 

 

— Como você já deve saber, esse não é exatamente um clube normal. Pelo menos, ele não segue os padrões propriamente os padrões estabecidos de um. — Disse, Haruka. — Nós não temos que fazer relatórios ou temos qualquer deveres ou atividadades normalmente. No entanto, isso não significa que não tenhamos um objetivo; afinal, mesmo que não sejamos — normais — ainda somos no fim, um clube. — Relatou, Haruka.

 

— Yumi-san, você poderia explicar sobre o nosso objetivo? 

 

— Claro. Seria um prazer. — Disse, Natsuki. Sua maneira recatada e sua forma fina ao falar, mostrava que ela estava séria. 

 

— Ei, Ryoichi-kun. Você poderia dizer qual é o nome desse clube? — Perguntou, Natsuki.

 

—...Clu...be de... amigos... 

 

—...Sim, é isso mesmo. — Afirmou, Natsuki. — Isso é estranho, não é? Fica meio difícil de saber qual é a razão da existência desse lugar, mas, se existe é porque tem algum motivo. — A todo momento, Natsuki entrelaçava seus dedos juntando suas mãos. Provavelmente, uma forma dela processar seus pensamentos. 

 

— Bom, sim. Em um clube de futebol, se joga futebol. No clube de jornalismo é onde sai as notícias do colégio... mas, eu não consigo ligar os pontos do que se faz em um clube de amigos. — Disse, em quanto mantinha minha cabeça baixa. — Eu pensei que isso poderia ser um clube para fazer amizades, mas eu não consigo ver isso aqui. Pelo menos, não nesses dois dias em que estive aqui. 

 

— Haha! Isso não é verdade! Eu sou bem amiga da presidente, não é Yuki-chan? 

 

—...Hum... — Yuki pareceu não se importar muito com a fala de Natsuki. 

 

— Bem, voltando ao assunto... o objetivo desse clube é mais simples do que você imagina. E sim, tem haver com o nome desse lugar. — Afirmou, Natsuki. — O objetivo desse clube é... — Murmurou, Natsuki. Ela parecia estar sorrindo, visto que estava se divertindo fazendo mistério.

 

— Ajudar os nossos colegas. — Disse, Haruka. Interrompendo totalmente o discurso emocionante de Natsuki. 

 

— Ajudar os nossos... colegas? — Interroguei, surpreso. 

 

— GAH! Ei... que maldade, Yuki-chan! Eu estava prestes a dizer...

 

— Você demorou demais. Estava quase dormindo. 

 

— Isso não é motivo!! — Exclamou, Natsuki. 

 

— Certo, certo... 

 

De repente, a minha atenção mais uma vez se voltou a presidente. Dessa vez, olhei para ela na esperança de vê-la onde ela costuma ficar. Ao lado da janela, Haruka-senpai mais uma vez brilhava com a luz que vinha da janela. A luz que refletia em seus fios de cabelos tornavam aquele momento único. Como se eu estivesse vendo algo sobrenatural. Como se... eu deixasse de olhar para ela, nem que fosse por apenas um único segundo... ela fosse desaparecer. 

 

—...Nosso dever é ajudar os nossos colegas e amigos. Em qualquer coisa que eles precisarem: seja fácil ou difícil. Desde que haja um pedido e que esse mesmo seja aceito por todos os membros... então, a ajuda será realizada. Esse é o nosso objetivo, nossa razão de existir. 

 

— [...]

 

— No entanto, Ryoichi-kun. Como presidente, meu dever é manter a harmonia desse lugar. Mesmo que você já seja desse clube, Rina também é. Então, irei abrir uma única exceção dessa vez... Você saber o que eu quero dizer com isso? — Indagou, Haruka.

 

— Eu não-

 

Antes mesmo que eu pudesse dar uma resposta, a garota fantasma deu seu veredito. 

 

— Sua primeira tarefa como membro desse clube é... peça perdão e ajude a trazer Rina-san de volta ao clube. 

 

A tarde quente de primavera me trazia mais uma notícia irritante. Teria agora que me envolver com aquela garota desconhecida e estranha. Não apenas isso, como teria que trazê-la de volta para esse lugar esquisito. Não sabia se os céus estavam me punindo ou se eu era apenas um garoto muito azarado. 

 

No entanto, entendia que havia errado e que, talvez, aquela fosse uma oportunidade de me redimir pelo meu pecado. Se agora sou um membro do — clube de amigos — teria que agir como tal, pelo menos, enquanto estivesse ali. 

 

"Mas, o que é um amigo...? O que faz um amigo...?"

 

Nunca tive muitos amigos em minha vida. Então, aquele era um certo mistério para mim. Não entendo como devo agir, como seguir ou até mesmo como um amigo deve se comunicar ou expressar. Nem mesmo sei o que difere um colega ou um conhecido de um amigo. 

 

"Enquanto estiver aqui... será que terei a minha resposta...?"

 

Afundando em meus mais profundos pensamentos, tentava não me afogar no mar de dúvidas. Pois, sabia que se afundasse... não teria ninguém para me puxar de volta.

 

"Será que algum dia... terei alguém para chamar de amigo? Um amigo de verdade...?"

 

Antes que me afogasse, decidi voltar mais uma vez para a areia da praia. Afinal, agora tinha um objetivo no qual havia sido designado apenas para mim. Não a conhecia, não sabia o que ela gostava, nem sequer sabia o seu verdadeiro nome. Entretanto, era o mesmo para ela. No fim, estavámos em situações iguais. 

 

"Rina... eu irei lhe ajudar... então, por favor..."

 

"..."

 

"Me ajude também..." 

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

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