Volume 1

Capítulo XVI: Soa-me bem o nome deste lugar. (Parte I)

Continuação do diário: Continuei então adentrando nos campos, andei agachada, tinha me cobrindo de terra e me esfregado com folhas e galhos para disfarçar meu cheiro, truque básico de um exército desde que os homens descobriram as vantagens de matar uns aos outros. 

A sorte novamente estava comigo, eu vi depois de subir um terreno um rebanho daqueles alces, eu esqueci de escrever, eles são parecidos com os existentes no nosso mundo, aqueles que se vê nos filmes e desenhos americanos mas são maiores e os chifres deles são enormes não são largos e achatados como os que conhecemos, ramificam tal como os galhos de uma arvore e o mais curioso é que eles possuem dois pares de chifres e suas patas, os senhores precisam de ver, eu faço questão de arrancar uma pata que enviarei para Forte São Jorge e outra pata junto com outro troféu que vou reivindicar (afinal fui eu que abati) que faço questão de enviar como presente para nosso Imperador.

Ps: Também enviarei os chifres mais bonitos para que façam parte dos tesouros do Cáiser, o primeiro de muitos presentes desta terra.

(Observação: de fato com o passar dos anos, Sofia e tantos outros brasileiros ou não, faziam questão de mandar itens valiosos e interessantes do Novo Mundo como presentes ao Imperador fazendo-o com que este possuísse uma coleção de artefatos que seriam preservados para posteridade.)

Voltando ao que interessa a pata deste animal ao contrário dos nossos que possuem um tipo de casco tem dedos, cinco dedos grossos parece mais a de um cachorro e as unhas são tão grossas que parecem ajudar no apoio, fora isso os outros elementos da fisionomia do animal nos são familiares.

Que hora perfeita, que hora mais incrível, rapidamente avisei meus amigos pelo comunicador a localização do rebanho e uma vez feito isso, desligado o aparelho pus-me alegremente a descarregar meu rifle naqueles pernis ambulantes.

1 ... 2 ... 3, preenchi minha meta. Como não seria justo abater mais que o necessário, porém à vontade, o desejo de atirar era grande e eu tinha que aliviar esta minha tensão. Decidi, uma vez que ainda possuía 15 cartuchos sobressalentes (em alguns animais eu tive que dar mais de um tiro devido a sua robustez e também errei um ou outro tiro), exercitar a pontaria em uma rocha no meio da campina que estava distante, um bom exercício, o resto do rebanho correu em debandada esperei eles se afastarem e então fiz 10 disparos deixando os cinco projéteis restantes para uma eventual emergência, fora os 5 cartuchos que ainda possuía na Luger já que gastei 4 matando os traficantes de escravos.

Ps: O carregador da Luger vai 8 munições, mas eu sempre ando com um cartucho na agulha por precaução dando 9 munições. 

Foi então que retornei, era por volta de 16:00 no horário local eu estava preocupada, será que os patetas digo meus amigos darão conta de trazer todas as presas? E as crianças? Foram bem acolhidas? Descobri quando o sol já estava se pondo por volta das 19:00 quando os rapazes terminaram de trazer todas as presas mesmo já tendo anoitecido.

Os nativos então nos preparam uns quartos e fiquei observando as estrelas entre uma mensagem e outra trocada com nossa base.

Sofia Luger Takeda, 24 de Janeiro do ano de Nosso Senhor de 2041, 6º dia. Acordamos às 7 da manhã com o som dos rotores duplos do Helicóptero do exército era um modelo HELIBRAS ARP-10. Eu particularmente achei o envio desta aeronave apenas uma forma de mostrar poder aos nativos, pois nossa carga se muito, daria no máximo 3 toneladas mas se o objetivo era este (de demonstrar nosso poder) então foi muito bem cumprido pois impressionou os nativos.

Junto com a tripulação estava o Sr Major Rogério Piquet de Gabriel e Avelar, enviado diretamente de Brasília para servir como diplomata. Pelo visto enquanto eu caçava Jzor intermediava as negociações entre o nosso governo e os nativos.

Logo percebi que os nativos impressionados com nossa generosidade e nossa tecnologia e também por se sentirem abandonados em meio à guerra civil estavam muito abertos à ideia ou possibilidade de serem anexados (termo bonito para a palavra conquistar) pelo Brazil e as negociações giravam em torno disso. 

O Sr Coronel responsável pela base militar havia por meio de seus superiores contatado o Imperador e o Primeiro-Ministro e solicitou que se levassem o chefe do Vilarejo e mais alguns anciões para que conhecessem o Brazil e formalizasse a anexação.

Então logo depois que a aeronave pousou em um antigo pasto e o Sr Major se apresentou, apareceu visivelmente amargurado o chefe da aldeia. Ele se chamava Má X Mahá ou na língua local deles que não era a falada pelo império que governava a região, significava: Precioso e de Confiança. Interessante que um costume que parece povoar toda a região é o nome do meio que indica o Deus que cada um adora e o “X” significava que Má tinha rejeitado todos e isso se via no seu lamento traduzido por Jzor.

No original se meus ouvidos não me tapearem foi dito isso:

—Tog seki zdal seki-mrar kxau temarri irem seki zdji kbe tulm dlenoh nzal irem nrer iquete, txin fim deglo zdal quetz nzal urit ansio virs teratk-mrar noka-mrar eiem virs ninka seki Val-li zdal irem bar, mira ere seki-mrar kxau-mrar netém irem muki?

Barniu nampu zdal seki-mrar kxau-mrar zdal intanriu ei seki-mrar xért! Seki-mrar domoriuk bar eiem kxau? Nzal bar paroi rehliá seki irem com negla zor nzal kja, mexal barnie tognier rutipoh-mrar kbe eiem zakl xawa zdal seki pref puxi letx arrautam nzal-mrar nzal pauati, zror-mrar jzeri virs eico pari car nafi virs nithi seki eza. Eiem gotzi zdji seki nolitza zdal lire ere comenda zdal car eico polpovu seiki eico mexia bar seki netz virs bat seki-mrar ima zdji car degal naia bat nrlé seki-mrar ima zdji nego virs mexia hespan.

(Veja o que os deuses fizeram conosco e com minha gente, éramos felizes, mas dois bem-nascidos que se acham dignos de mandarem no mundo tomaram um de cada vez o pouco que nós tínhamos, onde estão os deuses quando precisamos?

Tenho certeza que os deuses que conheço não os enviaram! Os senhores têm um deus? Se tiver, por favor, nos mostre, pois parece ele ser bom, nunca tinha visto soldados com um poder tão grande quanto o mais temido feiticeiro e serem tão bondosos, dividirem do seu pão em vez de reivindicar o nosso. 

Um rapaz e o estudioso que aqui está comentaram que no seu mundo o seu país tem a obrigação de ajudar os fracos e em muitos casos ajuda até os fracos e pobres de nação estrangeira.)

Este senhor com seus 50 e poucos anos continuava a falar, ele transmitia um misto de desespero e esperança em seu semblante e na sua voz.

—Irem ere gasri xeli bat vecau, nzar-mur degal lox zexi zdal irem temarri-mur naco virs eico mexia? Irem petza-mur lessau eza quemec car eico quémi nzal binitz teno bar seki jaua ixel zdal eico dlenoh, paroi, ixe Gyugi Tak Zeri.

(Estamos gratos pela ajuda recebida, seria pedir muito para que nós façamos parte de sua nação? Aceitaríamos transformar nossa terra em seu território se isso significa ter o mesmo tratamento que sua gente, por favor, cuide de Gyugi Tak Zeri (que na antiga língua local significa a Vila sob as Águas dos Livres).)

—Sim, estamos prontos para negociar um acordo, por isso convidamos o senhor e alguns anciões para nos acompanhar, será recebido pelo nosso Imperador e o Primeiro Ministro.

Jzor repassou a mensagem para aquele senhor que respondeu:

—Qüezal maji erit zou irrar zdal banra? Uekzal!!!!

(Poderei entrar nesta besta voadora? Incrível!!!!) Perguntou o chefe do vilarejo.

Ainda pela manhã o helicóptero do exército partiu para a base com uma bela carga de peles e alguns importantes figurões. Jzor decidiu ficar e seguir seu caminho, haveria outros seguidores de Kuria que serviriam como intérpretes além de alguns dos nossos que já iniciaram seus estudos nas línguas deste mundo. Era hora de nós darmos meia volta e retornamos rio acima.

O resto do dia foi mais tranquilo e sentíamos uma sensação de dever cumprido, o professor checava o refrigerador com o material coletado. Gyugi Tak Zeri era o nome exótico e bonito deste lugar e mesmo assim preferi chamar de Cidade das Palafitas e já posso imaginar esse local em breve receber seus campinhos de futebol de várzea e uma ou outra roda de samba, tem muita gente que irá querer e irá acredito muito morar lá quando for formalizada a anexação do território.

Última informação: o vilarejo dista cerca de 460 km da base.

Continua…

 



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