Volume 1
Capítulo XI: Expedição Pioneira Parte I
Data: 20 de Novembro de 2040, gabinete imperial em Brasília.
O grande dia havia chegado, a divindade vinda da Mesogeia havia comunicado pessoalmente ao Imperador Brasileiro de que já tinha sido escolhido o local e que só dependia da “boa vontade” do governo para dar início à ação de abrir o portal.
Uma reunião foi convocada e nela estavam os presentes da reunião anterior mais alguns representantes dos principais partidos e coalizões do parlamento imperial e membros do alto escalão. Nesta reunião foram firmados os termos de um tratado entre o Grande Império Unido do Brazil e Kuria Epchar.
O tratado que havia sido elaborado previamente na presença de Kuria e representantes brasileiros, foi lido em voz alta pelo porta-voz. Encerrada a leitura, os representantes partidários realizaram uma votação e cada voto tinha um valor proporcional ao número de parlamentares eleitos.
Os representantes da oposição tentaram como de costume obstruir realizando exigências como alterações e mais detalhes, mas foram voto vencido perante os representantes da situação que ameaçaram fazer aquela votação só entre eles caso seus colegas continuassem a inventar obstáculos.
Encerrada a votação o primeiro ministro assinou o documento, o Imperador e a deusa também assinaram, Kuria assinou desenhando um glifo que lembrava em muito um selo. Outros representantes do governo e das FFAA assinaram na qualidade de testemunhas.
Tal operação inimaginável, no máximo teorizado necessitava ser discutida com extremo cuidado, alguns dias antes batedores que se infiltraram no portal japonês já haviam enviado informações, porém uma ajuda inesperada foi dada por Kuria que descreveu com detalhes o local que o portal ligaria e até a situação política da região.
Tendo em mãos tantas informações, foi natural que os figurões e até mesmo o Imperador e o Premier dessem quase todo o espaço para a convidada que se pôs a falar.
Quem a visse como ela estava vestida imaginaria que era alguém do alto escalão alemão ou russo, vestida com saia e terno preto, parecia uma diplomata de uma importante nação.
Assim ela iniciou sua fala:
—Olá senhores, obrigado a todos por vir, obrigado a Vossa Majestade o Imperador, obrigado ao Sr Primeiro Ministro, com a permissão de todos irei explicar um pouco do meu mundo que os senhores hão de explorar.
O terreno em que dará a outra ponta do vórtice que abrirei tem algumas planícies com uma cadeia de montanhas e será no sopé dessas montanhas que se localizará a saída do vórtice.
—Porque logo no sopé em terreno íngreme ainda? Indagou um oficial
—Pareceu-me divertido. Retrucou Kuria
—Só por isso? Respondeu o jovem oficial
—Na verdade, pensei um pouco e escolhi do ponto de vista estratégico, terrenos acidentados são mais difíceis de atacar e mais fáceis de defender, não aprenderam isso nas suas escolas de guerra? Respondeu Kuria, e que aproveitando a deixa continuou:
—Graças aos batedores enviados nos últimos dias pelos senhores, consegui por meio deles ordenar a meus seguidores que construíssem uma estrutura grande e fortificada suficiente para abrigar o portal que será devidamente ornamentado, digno da nação que irá o utilizar.
—E será feito assim dessa maneira por seus seguidores? Mas e os custos, de onde sairão? Será uma espécie de oferenda prestada a você por eles? Indagou outro oficial
—Não bobinho, o custo a ser pago já foi enviado ao gabinete do Primeiro Ministro e também ao Imperador.
Mas voltando ao que eu estava dizendo...
—Quais as dimensões do vórtice? Interrompeu um general.
—Prometo que será grande o suficiente para transportar um avião cargueiro sem a necessidade de desmontá-lo
—Isso dá pelo menos uns 50 metros de largura.
—75 metros ou uns 113 pits de prata e 40 metros de altura ou 67 pits, agora rapazes voltando ao que é realmente importante, os senhores precisam agora saber como anda a situação política do local.
Nota: Pits de prata ou em yamareu ou agiopits é uma medida de comprimento equivalente aproximadamente a 67 centímetros.
Há poucos anos o soberano do Império que controlava a maior parte deste continente chamado pelos nativos de Mesogeia e que se chamava Alezius V morreu. Ele era um bom rei, tentou fazer todo o possível pelo bem do seu país e eu me encontrei com ele em algumas ocasiões.
Ninguém sabe em que circunstâncias ele morreu, apenas o encontraram morto na sua cama de manhã, ele não tinha 40 anos. Seus filhos ainda pequenos foram levados para o exílio para sua própria segurança, enquanto isso as forças leais a dois dos maiores generais começaram a lutar entre si.
A deusa continuou:
—De um lado temos Galba, primo do imperador falecido, ele vem da casa de Pontepor e do outro lado temos Apolonius sua família os Kathapylos cultivam o mais puro sangue de Constancio, quero dizer, eles descendem diretamente de Constantino XI de Bizâncio e seus camaradas e desde então só são considerados legítimos os filhos frutos das uniões entre aqueles que atravessaram por acaso o vórtice séculos atrás.
Abismados com esta última informação, D. Rafael se levantou e perguntou:
—Como assim Constantino XI? Você diz o imperador de mármore? Aquele que morreu defendendo Constantinopla dos turcos em 1453?
Kuria respondeu:
—Então vocês acham que foi assim que aconteceu? Estão assustados, pois também sei destas informações? Por onde começo? Digamos que não é a primeira vez que estes vórtices, buracos de minhoca (esse nome é engraçado) ou portais se abrem e em alguns casos isso tudo se dá de forma espontânea e foi que aconteceu naquele dia, é uma longa história.
—Eu quero muito ouvir esta história. Exigiu curioso e em certo ponto chocado o imperador.
—Há muita coisa para vocês descobrirem e aprenderem no outro lado tal como eu descobri e estou aprendendo aqui. Para mim seria mais divertido ver os senhores acharem por conta própria as respostas das perguntas que estão fazendo e das outras que farão.
No fundo de seus corações há uma fagulha de dúvida e curiosidade infantil que serão um dos principais motores para lançar vocês no desconhecido. Não é fascinante esta adrenalina tal como Colombo quando se jogou no Atlântico sem ter certeza do que encontraria? Que sensação incrível vocês não sentem no fundo de suas almas?
Se me permite, irei continuar com o que eu dizia... voltando... Apolonius vem de uma família que desde sua chegada na Mesogeia só se casam com descendentes daqueles que atravessaram o portal e lutavam junto de Constantino XI, o nome adotado para a casa logo que chegaram é de Khatapylos.
Aceitem como uma graça divina o conselho que lhes darei, fiquem de olho nesses aqui e também nestes aqui...me refiro claro ao inimigo de Apolonius e como já mencionado primo de Alezius V, Galba pertencente a casa de Pontepor.
—Senhora Kuria, já que se deu o trabalho de mencionar as famílias dos pretendentes ao trono porque não mencionou o imperador falecido? Disse um dos líderes partidários.
—A verdade tinha me esquecido, a família de Alezius que atualmente está em sua maioria exilada se chama Paleogo Focari. Sobre Galba sempre foi muito leal ao seu primo, mas mantinha grande rivalidade com Apolonius, quando este arquitetou um golpe de estado impedindo que o filho de Alezius fosse coroado, Galba viu que tinha que tomar o trono para si.
—Mas então é só uma briguinha dinástica, tal como contado nos livros de história. Perguntou o ministro da guerra
—O problema, penso eu, é que Apolonius como eu disse se orgulha do seu sangue “puro” e convenceu seus seguidores que somente aqueles que descendem dos que atravessaram o vórtice em 1453 devem comandar não só o império mas todo o continente.
Aqueles que compartilham dessa visão acredita que o vórtice foi um “sinal divino”, eu particularmente não sei de nenhum deus que deu esse sinal apesar de que alguns dos meus “colegas” que faz um tempo que não vejo e nem meu irmão, tenham parte dessa história apesar de ser o deus da guerra.
Apolonius e sua família sempre foram da “média nobreza” acima dos pequenos senhores, mas também não muito próximos da corte devendo a sua patente aos seus próprios méritos. Talvez ele se alimente dessa visão para assumir o poder ou realmente acredite que famílias como a sua, mereçam um pedaço maior de carne e outro problema é como acusam seus inimigos, Apolonius e seus vassalos iniciaram uma guerra racial no império.
Por outro lado, apesar de haver esse conflito racial no começo da guerra o que move ambas as facções, digo o que move suas tropas são interesses próprios, lá a lealdade de uma casa com outra, um laço momentâneo de amizade pesa mais alto do que o que vocês chamam de “ideologia”
O imperador tomou a voz:
—Srta Kuria, quais seriam as razões desta guerra racial, mesmo agora não sendo levada a sério? Mero sentimento de superioridade? Aqui na nossa história infelizmente fatos assim ocorreram e odeio dizer, mas ainda ocorrem nos rincões mais esquecidos do mundo. Porém nunca tal atrocidade ocorre de forma gratuita e espontânea, pelo menos aqui sempre uma crise (acidental ou intencional) antecede os genocídios.
—Muito bem observado majestade, as informações são escassas e confusas, há quem diga que é um ressentimento pela dinastia que governava antes dos Pontepor e que foi deposta a algumas poucas gerações, aqueles eram constantianos puros.
A verdade, o que mesmo importa é que este império está um caos com ambos os lados causando grandes estragos e sofrendo perdas. A região em que os senhores chegarão pertencia a uma província chamada Montes Centrais (Olipis re Ziteni) sua capital é Topiko Leridi e está abandonada devido à guerra.
—Onde fica esta cidade?
—Há uns 63 como vocês dizem, quilômetros a sudeste do vórtice brasileiro em meio à cadeia de montanhas que já mencionei, majestade. Sobre o restante do território circundante aonde vocês chegarão, havia alguns senhores locais que de certa forma controlavam os vilarejos, mas até eles desapareceram devido a conflitos sectários estando os locais em estado de anarquia.
A presença dos senhores poderá melhorar a vida dessas pessoas e se o desejo dos senhores for de ir para ficar acredito que aceitarão seu domínio, ainda mais com suas (fascinantes) tecnologias.
—Certo, acredito senhores ser muito importante tomarmos nota de toda situação, porém o que realmente me incomoda e é preciso saber é que tipo de perigos, quais os níveis das forças que podemos considerar hostis. Comentou um dos oficiais mais experientes.
—Toda gama de exércitos, grupos de salteadores, bestas selvagens, povos humanos e humanoides com ou sem o que vocês chamam em sua literatura de magia... Outra ameaça eventual são o que vocês chamam de dragões e antes que me pergunte sim algumas espécies são domesticáveis, porém com a anarquia que se instaurou muitos dragões que eram domados acabaram sendo soltos e sem um líder, também realizam ataques por todo o mundo.
A última ameaça, acredito eu, são as tropas leais a uma das facções e também que possam obedecer a, qual termo utilizado aqui? Caudilho, sim é possível que alguém astuto o bastante possa juntar um punhado de guerreiros e queira tomar esta terra de ninguém para si ou pelo menos um valioso naco para proveito próprio (se eu fosse vocês ficaria de olho nas cidades-estados de mercadores mais ao sul).
—E sobre as armas? Perguntou o primeiro ministro.
—Já havia me esquecido, outra não se pode dizer ameaça, mas as diferenças culturais que vocês enfrentarão no tocante a alguns costumes isso será algo interessante que eu deixo para que vocês mesmos descubram e sobre as armas meu jovem, como posso responder?
Continua…