Volume 1

Capítulo VIII: Um Gilmar chamado Castanho.

—Nome completo, por favor.

—Gilmar de Leiria Castanho

—Naturalidade.

—Miranda do Corvo, Distrito de Coimbra, Reino de Portugal.

—Idade:

—22 anos

—Data de Nascimento:

—4 de agosto de 2018

—Sua ficha preliminar diz que você antes de vir para o Brazil, já tinha experiência militar, poderia me confirmar?

—Me alistei às forças armadas portuguesas e acabei lutando ao lado dos monarquistas na revolta monárquica que ocorreu há dois anos.

—Motivo da sua vinda ao Brazil:

—Meu pai conseguiu um emprego aqui e me sugeriu que eu viesse para cá ficar junto com ele e minha família que veio dele.

—Por que um rapaz que serviu as forças armadas de seu país decidiu quando se mudou para cá ingressar nas forças armadas de nosso país?

—Desde criança tinha admiração pelo Brazil admiração essa que cresceu ainda mais quando a sua monarquia foi restaurada e isso me fez querer sonhar um dia poder servir o seu Imperador.

—Esqueci de perguntar sua patente no exército português.

—Praça, infantaria nunca fui promovido.

—Há pouco tempo houve um conflito armado no teu país e pelo que constam os documentos você já tinha ingressado no exército durante o conflito referido, você teve alguma participação nele?

—Sim quando me alistei inicialmente fui enviado para o Regimento de Artilharia Nº4 em Leiria

—Olha a cidade que aparece no seu nome

—Sim, sim, aprendi os fundamentos da artilharia, mas com o retorno da monarquia pouco depois do meu alistamento e início dos confrontos fui designado como batedor para o recém formado Regimento de Infantaria Nº21 de Lisboa e para lá fui enviado.

—Não lembro se já perguntei, mas qual foi sua participação no conflito?

—Dei alguns tiros...

—Confirma que deseja ingressar nos batalhões de Batedores do 13º Regimento de Infantaria de Brasília-DF da 5ª Divisão do 1º Corpo de Exército Planalto do Exército Imperial de Sua Majestade?

—Sim eu confirmo essa minha intenção.

—Então você receberá este encaminhamento e marcará com o oficial médico uma bateria de exames, após o senhor ter passado por esta bateria e uma vez que seja aprovado, você irá passar por um teste inicial de tiro, depois fará um exame de simulação de combate em ambiente controlado e se por fim você for bem avaliado nestes testes poderá iniciar o treinamento de formação na unidade almejada e quem sabe poderá então nela ingressar.

—Entendido, permissão para sair

—Permissão concedida, o senhor tem no máximo três dias para passar pela primeira bateria de testes, a simulação de combate será na outra sexta-feira.

Aquele rapaz de aparência medíocre marcou seus próximos exames. A data disponível era para daqui dois dias, ou seja, uma segunda. Poderia então descansar este resto de sábado e ter um domingo livre, tempo suficiente para refletir sobre sua decisão, rever suas decisões, mas quando questionado ou quando ele mesmo se questionava sobre a carreira que escolheu ele já dizia, era um homem das armas, sabia que tinha nascido para isso que era isso que desejava, sabia que ingressar na unidade sonhada não seria fácil que a carta de recomendação feita pelo então superior seu de quando ainda estava em Portugal não seria suficiente.

Quem era esse rapaz?

Gilmar de Leria Castanho, português típico de cabelos negros e lisos, olhos verdes barba feita ou por fazer, magro com um pouco de massa muscular media 1 metro e 70 e pouco dentro da média do seu povo e pele clara.

Quando criança devorava histórias sobre guerras do passado e do presente não desgrudando o noticiário especializado que muitas vezes pela internet atualizava as informações dos combates como se fossem ao vivo. 

Assim ele acompanhou a guerra da Venezuela, a crise do mar da China Meridional, a guerra Pérsico-Árabe e tantas outras crises e conflitos civis.

Como um cavaleiro de eras passadas ele sonhava lutar por algo grandioso, talvez uma forma de dar vazão à agressividade natural humana, mas por algo “certo”, quando criança se via em meio a combates trocando golpes mortais com toda sorte de armas, acertando o inimigo com disparos de inúmeras armas de fogo ou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo. 

Sua ânsia pela loucura da guerra que levava a consumir vários materiais relacionados ao tema. Tudo que se possa imaginar, essa sua ânsia só não era maior do que pela história das “loucuras” que seus ancestrais realizaram na mítica idade das navegações que fez com que até hoje dezenas de palavras de línguas distantes como o japonês, malaio, entre outras tivessem origem na fala lusitana

Se lançar ao mar ou ao desconhecido na ânsia de descobrir e aprender é um desejo primitivo humano, ir aonde ninguém foi e chegando lá plantar e colher, das sementes lançadas por Portugal a que melhor germinou, cresceu, deu frutos, tornou-se árvore frondosa, tornou-se o Brazil e mesmo que tivesse enfrentado alguns “incêndios” o tronco continuava a raiz com muito esforço buscava e conseguia com sacrifícios alcançar água e terra boa. 

Um inverno seco com tempestades e fogo, finalmente havia terminado, a primavera tinha chegado. Sim o Brazil havia renascido das cinzas forte e orgulhoso, nem os políticos considerados mais moderados ou liberais escondiam a ambição de pelo menos transformar este Império na potência militar dominante no hemisfério sul.

O Brazil...o Brazil estava lhe chamando, mas Gilmar não queria ficar longe da família então quis Deus que seu pai que se chamava Serafim Olivença Castanho recebesse uma boa proposta de trabalho de uma empreiteira que acabava de chegar ao país para trabalhar nos escritórios recém-inaugurados em Brasília. 

Serafim não renunciaria a um emprego melhor, mas não abriria também mão da família e fez questão que sua família viesse junto dele, sorte que sua esposa Inês trabalhava em casa gerindo algumas páginas da internet. Junto dele e seus pais ainda atravessaram o Atlântico suas irmãs: Maria Pia e Antónia Rodrigues.

“Filho à hora é agora, venha conosco e lhe darei todo apoio no seu sonho de servir as forças armadas brasileiras, só fique perto de mim, de sua mãe e suas irmãs, é uma promessa”. Essas foram às palavras do seu pai, a oportunidade era grande e tudo parecia se encaixar.

Esta é uma pequena parte de sua história. No momento, Gilmar estava pensando no que iria fazer e o que ele poderia fazer? É simples, andar sem compromisso enquanto isso o jovem lusitano observava nas bancas de revistas e nos outdoors eletrônicos espalhados pela cidade e que entre um anúncio publicitário e outro se passavam noticiários mostrando os eventos recentes.

Recém-chegado à cidade, observava suas avenidas, ruas e construções, questionava as construções “modernistas” saídas da mente de Oscar Niemeyer. Maldosamente em seu íntimo agradecia ao fato de que durante a guerra passada, as bombas “foram sabias o bastante” em acertar as construções de design “mais duvidoso” sendo substituídas por edifícios de estilos mais “clássicos”, substituindo aquelas peças de concreto armado sem sentido.

 

“Deus foi piedoso e guiou as bombas para as construções mais feias”, dizia uma anedota local, os escombros parecem eram mais bonitos que as construções originais.  

Nos telões e outdoors o assunto do momento era como se podia imaginar, o incidente em Fukushima no Japão ocorrido alguns dias antes....

O que se podia esperar? Era cada vez maior o número de pessoas nas ruas e nos fóruns da internet dizendo inúmeras coisas por puro palpite. Também manifestaram o sonho que do outro lado do portal e que de acordo com alguns boatos, havia um mundo ainda na era medieval, (o termo correto seria, pré-industrial) mas um medievo digno de jogo de RPG com direito a dragões, elfos e deuses pagãos. 

 

Bom sonhar não é proibido, mas quem diria que aqueles sonhos movidos por décadas de livros de fantasia e toda sorte de literatura, sim tudo isso, deu um palpite correto? Ou será que a ideia de outros mundos parecidos com o nosso não é fruto de nossa imaginação, mas uma inspiração, uma força que não seria nada mais nada menos que uma centelha da manifestação divina que seguindo a vontade Dele faz com que estes mundos espalhados pelo imensidão do cosmo possam “sentir” e se conectar uns aos outros. É essa teoria acaba de ser provada.

 

Gilmar não pensava nisso, queria apenas descansar sabia que a semana seguinte seria tudo ou nada, tinha um sonho, sonho este que ele resolveu dar um pouco de vazão ao observar com o brilho dos olhos de uma criança a troca da guarda no Palácio Imperial do Planalto. O estandarte imperial estava içado isso significava que sua majestade o imperador estava presente naquele prédio. 

“Dei sorte” ele imaginou e assim assistiu a cerimônia, depois deu mais algumas voltas e foi para sua casa, um apartamento alugado no distrito de Guará que antes era um dos lugares mais sujos e abandonados da capital e naquela altura tinha sido revitalizado. 

 

Depois de uma boa caminhada estando finalmente em seu lar ele decidiu se distrair com alguma coisa naquela noite. Sendo quem ele é, ele escolheu jogar um simulador de combate. Era o jogo mais comentado para os consoles de última geração, neste jogo o jogador tinha a oportunidade de escolher sua época histórica favorita e optar pelo modo campanha no “single player” com uma ou mais histórias que possuíam um começo, meio e fim ou então se aventurar na internet e disputar partidas online com outros jogadores no modo “multiplayer”.

 

Era um jogo interessadíssimo que permitia simular combates com a máxima precisão histórica possível desde o que seriam os primeiros combates tribais no neolítico até os conflitos recentes que ainda estavam em curso.

O jogador ainda podia escolher como bem entender qual a posição do seu personagem no campo de batalha, desde arqueiros, lanceiros, cavaleiros, aviadores, tanqueiros, submarinistas, até assumir a pele de um piloto de caça ou controlador de drone. 

O senso comum diria que alguém que vive para ser um militar quando está em um momento íntimo de descanso, daria um tempo e se desejasse jogar algo, jogaria um jogo com outra temática como há muitos anos um militar do exército húngaro que foi finalista em um jogo de corrida ou os mercenários de exércitos privados que quando estão descansando preferem disputar partidas virtuais de futebol. 

Mas Gilmar, diria os mesogeus nasceu com a chama do “deus da guerra” e se ela se apagasse ele deixaria de existir, sim é o que dizem algumas velhas lendas, verdades ocultas.

Hoje o pretendente à batedor escolheu realizar uma campanha da guerra dos Sete Anos, jogou por muitas horas, tinha um fascínio nas primeiras armas de fogo carregadas pela boca em um processo ritualizado e um pouco demorado e que foram utilizadas na conquista europeia do mundo.

Chega o domingo, dia de descansar, fazer alguns exercícios para fortalecer o corpo, trocar mensagens com os pais, andar pelas ruas do coração do império, comungar do corpo de Cristo na ceia do Senhor e descansar mais um pouco.

Segunda, finalmente chegou à segunda, primeira coisa a fazer: bateria de exames médicos. Boa notícia os exames médicos ocorreram tudo perfeitamente, foi provado que mesmo tendo aparência medíocre o português tinha boa saúde. 

 

Agora a próxima etapa no dia seguinte seria o teste de tiro. O teste decorreu com perfeição sob elogios dos instrutores que gostaram das habilidades mostradas por Gilmar com diferentes armas, mas era teste em um ambiente fechado e controlado. 

 

O próximo teste seria uma primeira simulação de combate ocorreria na data anunciada, até lá Gilmar deveria nos dois dias entre a prova de tiro e o referido exame, comparecer pela manhã no quartel e realizar treinamentos e exercícios caso quisesse obter sucesso, lá teria acesso a armas e ambientes diversos para melhor desempenho.

 

Gilmar demonstrava certa familiaridade com o ambiente de treinamento do quartel general do 1º Corpo do Exército Imperial. A verdade é que desde que tomou a decisão de ingressar nas Forças Armadas Imperiais e Reais Unidas do Brazil e começou a desejar ingressar nas Unidades Móveis de Reconhecimento do Planalto, conseguiu sabe lá onde e como, um folheto que descreve cada parte do campo de treinamento e nos dias anteriores ele devorava toda sorte de informações referentes ao que o esperava (com direito a simuladores de guerra no modo “hard”). Ele conhece muito bem o ambiente e com isso pode planejar seus exercícios. 

O regime de exercícios nestes dois dias como uma forma de avaliação não era orientado. Os oficiais acreditavam que a forma como cada postulante a unidade decidia se programar iria determinar seu futuro. Se observava a forma como cada cadete era capaz de observar com clareza suas falhas e deficiências e como eles iriam lidar ou o que priorizaria nestes rápidos dois dias, afiar as habilidades ou corrigir as deficiências? Cada um deveria como um teste à parte, ponderar sobre isso.

Finalmente o dia do exame chegou, enquanto se dirigia para o local, não percebeu, mas uma estrangeira o olhou, deve ter achado aquele “espécime” interessante e sem ele perceber, ela o seguiu, era Kuria que tinha acabado de chegar ao país e iria sem avisar ter uma audiência com o Imperador.

Por impulso ela quis aquele rapaz e enquanto ele realizava a prova de simulação de combate conseguiu o nome e sobrenome dele. Agora ela precisava arrumar um jeito de ter uma conversa com o monarca desta nação que aqui ela estava, enquanto o rapaz seguia para um destino que ele jamais poderia imaginar.



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