Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 9 – Arco 6

Capítulo 161: Adventos dos Sonhos

Atena atravessou as Passagens Espectrais que agora conectavam o porto de sua cidade para a ilha de Rodes.

“Íris realizou um ótimo trabalho”, pensou, conforme diminuía a distância da gigantesca estátua que brilhava com a ascensão solar no céu de parcas nuvens.

— Nuah... — Sentada sobre a cabeça do Colosso de Rodes, a Aurora se deparou com a chegada da deusa. — Oooiii!!

O grito dela ecoou até a deusa, que logo subiu o olhar esverdeado para a pequena mulher de fios liláceos, no topo da figura de bronze.

Não foi preciso muito para que requisitasse a escolta dela à outra passagem arco-íris escondida dos mortais, essa que passava sobre a cidade rodeana e as levava até a floresta.

— Então meus maninhos também foram em uma missãozinha nova, né!? — Eos nem olhou para a deusa ao indagar.

— Sim. Pensei em chamar-te igualmente, porém devido aos acontecimentos dos quais tive conhecimento, optei por deixá-la por aqui para permanecer como uma garantia de proteção a elas...

— Nuah! Imaginei que fosse isso, claro! — Sorriu triunfante e estufou o peito. — Mesmo que fazer esse trabalho sozinha seja bem mais custoso!

— Neste caso, peço minhas devidas desculpas.

— Hihi! Não precisa se desculpar, embora eu goste disso!!

Atena apenas encarou a mais nova do trio protetor de Rodes com o canto dos olhos, sem esboçar qualquer reação perante as palavras dela.

Com o passar daquela conversa, as duas desceram a reta final do túnel espectral até a passagem florestal.

No entanto, diferente do que pensavam, não precisaram seguir por mais caminho dali em diante.

Logo quando saíram da conexão arco-íris, se encontraram...

— Não imaginei que aguardaria por esta área de prontidão. — Atena se antecipou, diante da leve surpresa demonstrada pela lilácea. — Sinto muito pelo que ocorreu, Calíope...

A Musa da Eloquência, apesar dos olhos castanhos pesados, esbanjava um sorriso leve no rosto.

— Há quanto tempo não nos vemos pessoalmente, Minerva — disse com sua voz melódica. — Na verdade, só tive o desejo de respirar um pouco do ar da natureza. Não imaginei que chegaria tão cedo.

— Sim, eu precisei me adiantar um pouco. A situação anda um tanto quanto complicada no Olimpo...

— Eu imagino. — Calíope, depois de assentir, mirou a pequena ao lado da meia-irmã. — Eoszinha. Clio queria ter um assunto em particular convosco. Poderia ir até ela?

— Nuah? — Surpresa com o chamado, Eos levantou os ombros juntos. — ‘Tá bom. Eu vou lá!

Ainda um pouco deslocada com o encontro repentino entre a deusa e a musa, a Aurora resolveu acatar o pedido.

Não demorou até desaparecer do campo de visão de ambas, as deixando a sós em definitivo.

— Então, Minerva... Como sua situação no Olimpo a impede de perder tanto tempo, não o tomarei muito. — Os olhos se afunilaram. — Como está nossa mãe?

— Infelizmente, meu pai não comenta a respeito com frequência. Porém, posso garantir que ela está bem. A situação não se modificou tanto nesse contexto.

— Entendo.

— Não precisa se preocupar. Nosso pai não tem algum interesse em afligi-la. Posso garantir que já teria o feito, caso desejasse. — Enrugou de leve a testa.

Calíope, por sua vez, soltou um breve lamento, como se aliviada.

Mas ainda não satisfeita...

— E os jovens?

— Irei resumir rapidamente o que ocorreu e para qual tarefa eles foram enviados. Mas, antes disto, preciso lhe pedir um favor.

— Como quiser. Qual seria?

Um singelo momento de silêncio tomou conta, entrecortado por uma corrente de vento frio que uivou entre as árvores ao redor das duas.

— Em caso de alguma ocorrência extraordinária dentro de alguns dias... — As sobrancelhas se arriaram, deixando a feição da sábia com um aspecto frígido. — Necessito que deixe Eos prontificada em prol de agir.

Um portal se abriu no meio do nada. Uma garota saltou dele.

Impressionada com a real capacidade do responsável por transferi-la da região sombria até aquele lugar, caminhou até subir o aclive relvado.

Quando chegou na região plana, se deparou com a imagem tomada pelo pôr do sol, a queimar o tapete aquático que se estendia por todo o horizonte.

Exalou um suspiro deslumbrado.

Não obstante ao objetivo de destruir toda aquela paisagem, era impossível de negar que carregava certa beleza.

Chegou a ter pena por um momento, mas tal sentimento se esvaiu tão rápido quanto a brisa estival, a chacoalhar as mechas índigo do pesado cabelo negro.

Folhas de árvores adjacentes já eram preenchidas por uma tonalidade amarelada. As estações se encontravam prestes a serem alternadas.

— E qual cidade seria essa, senhor acompanhante? — indagou sorridente, ao dar a volta para o portal.

Dele, o rapaz encapuzado também saltou, até a fenda circular desaparecer no vazio.

Tal reação liberou a imagem da vertente contrária ao bonito panorama dominado pela natureza.

— Corinto — respondeu sem rodeios, a voz soturna e seca como de praxe.

— Oh. Se não me engano, essa pertence àquela deusa... — Virou o rosto, na busca de puxar da memória o nome da respectiva. — Nah! Acho que não importa nem um pouco, né?

Abriu os braços na expressão de um sorriso de escárnio, enrugando a testa.

— A Deusa do Amor — resmungou o encapuzado.

— Certa resposta! Eu sabia o tempo inteiro, só ‘tava te testando! — Estalou os dedos, em oferecimento a uma piscadela convencida ao rapaz. — Ai, ai... ‘Cês não sabem se divertir, né? Aqueles pirralhos até que são simpáticos, ainda que não todos. Uma pena logo eles terem sido enviados a uma missão impossível.

Arlen não respondeu.

Os olhos negros da menina se dirigiram à vista da cidade, a poucos quilômetros colina abaixo.

Chamas magentas se acendiam ao passo que a claridade era substituída pela escuridão noturna.

Assobiou, genuinamente deslumbrada, ao conferir a beleza da coloração apaixonante.

— Consigo ver porque aqueles dois desgraçados adoraram sair — grunhiu entredentes. — Até que não é tão desinteressante, vendo por esse ponto.

As vistas mal piscavam, vidradas nas pequenas festas feitas pelos mortais da pólis especial.

Imaginou que não seria má ideia promover festivais semelhante àquele quando tomasse conta de tudo.

Falaria sobre essa proposta com seu criador ao retornar.

— ‘Tá legal. Vamos pra próxima. — Corrupiou-se, os olhos se fecharam em resiliência. — Quero explorar um pouco mais... sobre tudo que o Criador irá tomar em breve.

Não deixava, contudo, o aspecto sorridente desaparecer da faceta.

Fitando-a por debaixo do capuz, o pilar principal dos Imperadores das Trevas seguiu o comando dela e estalou os dedos polegar e médio.

O novo vórtice escuro rasgou o espaço, para que a criação do Deus dos Sonhos, sem hesitar, saltasse através dele.

Antes de segui-la, Arlen ofereceu uma última olhadela à cidade de Corinto e à paisagem onde o sol se escondia, em definitivo, nos confins do Mar Egeu.

Estava para bater dois dias desde a partida dos jovens ao Berço da Terra.

Enquanto transitava entre diversos pontos do continente helênico, o dominador da Autoridade do Espaço tentou imaginar quais seriam os futuros movimentos daquele homem.

Como discutido com a líder das Erínias, em breve ele e seus “frutos” abandonariam a inércia para abrir suas garras.

Então, a grande disputa entre os “sócios” se iniciaria.

Ninguém iria ser capaz de pará-los, conforme disputassem a detenção dos direitos de estabelecer uma nova Era.

— Uau! ‘Cê sabe muito bem como impressionar!

E nesse ínterim, um dos tais frutos do referente deus se divertia em apreciação às pólis helênicas.

Arlen desceu na sequência, a exemplo das demais ocorrências.

A cidade visitada no momento era envolta pela vasta natureza, cercada por subidas montanhosas onde, em uma delas, residia uma acrópole.

— Então, me diga — resmungou. — Qual o seu nome?

— Ah, que chatice. O Criador me chama de Haumea. — Levou o indicador ao queixo, esboçando um sorriso maldoso. — Sou a Perversão dele!

Arlen não sabia se tinha sido uma boa ideia receber aquela informação. No entanto, preferiu aceitá-la em silêncio.

Haumea continuava curiosa acerca das visitas. Encarou as florestas abaixo, como se pudesse descobrir mais sobre ao se entranhar nelas.

Fitou-o de soslaio, uma mão num dos joelhos flexionados e a outra acima das sobrancelhas enrustidas.

— E essa seria...?

— Elêusis.

— Hm! Essa é com certeza da...! — Outra vez se esforçou, no intuito de resgatar a santidade motriz daquela pólis.

Ao encarar a nova onda de dificuldades vivenciada nos pensamentos da esforçada, o encapuzado mussitou:

— Deusa da Terra...

— Mais uma certa resposta! — Quase chegou a cortá-lo no final da frase, animada com a redescoberta. — Engraçado. Essa aqui parece ter um cheiro diferenciado. Fica me instigando ainda mais...

Com as vistas semicerradas em pura excitação, a garota de cabelo volumoso na altura da nuca levou o indicador e o médio destros sobre o lábio inferior.

Antes que o guia pudesse dizer algo, ela disparou uma risadinha maléfica e saltou do morro.

Em questão de segundos, desapareceu da linha de visão do rapaz para realizar o instigante desejo de se embrenhar no ambiente.

Num primeiro instante, Arlen separou os lábios, como se desacreditado diante da atitude tomada pela criação do Deus dos Sonhos.

Levou um delongado período até decidir acompanhá-la.

No entanto, ao invés de também pular do relevo elevado, abriu outro portal que o levaria até o plano terreno.

Chegou ao solo relvado em meros dois segundos, entre um salto e outro.

O som da água corrente invadiu os ouvidos, assim como o de animais silvestres nas proximidades.

Para sua surpresa, entretanto, a garota não estava lá.

Mais rápida que o pensamento, ela já havia se livrado da tutela do “parceiro de crimes”.

Haumea se colocava a alguns metros do ponto onde tinha descido. Saltava com velocidade no entremeio dos arvoredos, prestes a gargalhar pelo fato de conseguir despistá-lo sem dificuldades.

“Agora posso dar uma voltinha mais acalorada, que nem aqueles dois!!”, juntou os dentes, sentindo-se cada vez mais próxima da cidade.

Chegou até ela em poucos minutos.

De cara, encarou a arquitetura diferenciada das casas feitas por madeira, cercadas por plantações e flores de inúmeras tonalidades e formatos.

Os eleusianos passeavam pelas ruas de terra e relvado. Interagiam à espera da chegada da noite.

Notou a maioridade considerável de mulheres, todas adultas, fator responsável por despertar novas doses de interesse sobre a exploração.

— Essa escapadinha vai ser boa...

Sem hesitar, saiu das sombras ao dar o primeiro passo à região habitada de Elêusis.

— Então... ‘cê quer que eu ache essa garota, é? — perguntou a jovem morena, seu cabelo avermelhado se repartia em pontas afiadas no início das costas. — Logo tu perdeu ela tão fácil assim, ó, grandioso mensageiro da escuridão?

— Cale a boca e faça de uma vez — disparou sem pudor no tom de voz.

Hazel torceu uma das sobrancelhas e soltou a risada provocativa que se afeiçoava.

— Kaha! Sabe que eu não ‘tô nem aí pro problema de vocês, né? — Apontou ao encapuzado. — Só porque ‘tão me segurando pra não ir imediatamente até o meu, não pense que farei tudo que mandam.

Abriu os braços balançando a cabeça. As mechas laterais rebeldes, de cor preta, dançaram durante os movimentos.

Arlen resistiu em silêncio, o que a deixou um pouco desconfortável. Através de um lamento carregado, girou sobre os tornozelos, de volta à direção da trilha.

Flexionou os joelhos até se agachar na terra. Levou a palma canhota a tocá-la, delicada.

— Que fique claro entre nós. Só ‘tô fazendo isso pra receber nossa parte do acordo, entendeu?

— Não precisa me lembrar. Afinal, você descumpriu nosso primeiro acordo.

— Hah! Para de ser um porre, garoto! — Soltou outro riso de escárnio. — Seja o primeiro ou o segundo acordo, o fim vai ser bom pra vocês também!

— Por isso, você deve permanecer na linha até lá, filha de...

— ‘Tá bom, ‘tá bom. — Balançou o braço esquerdo. — Agora cala a sua boca e deixa eu me concentrar, vai?

A antecipação repentina o fez engolir as palavras, além de o permitir velar a irritação que vinha a galope na ponta da língua.

Controlou a respiração, ciente de que se perder para aquilo não era de seu feitio.

Hazel fechou os olhos avelã e concentrou-se ao limite, a fim de usufruir de uma habilidade única que carregava no coração.

Literalmente dele, uma batida serviu como “pulso”, que foi propagado pelos arredores a um raio de distância diminuto.

Assim, a onda de eco regressou até seus ouvidos. As palpitações continuaram, bem compassadas, mas aumentado a distância de propagação dos pulsos cada vez mais.

Tudo isso era inaudível para Arlen, que a observava de esguelha. Curioso, porém, manteve-se quieto para não arriscar de a atrapalhar.

Depois de quase um minuto, a ruiva montou um mapa mental de todo o ambiente com as “informações” recebidas.

— Encontrei sua fugitiva. — Ergueu-se após o veredito. Bateu a mão suja de terra na parte de baixo do manto que a envolvia. — Ela ‘tá na cidade. Então, o que vai...?

Encarou ao lado. O rapaz não se encontrava mais ali.

Com o portal aberto, a se fechar aos poucos, ela resmungou solitária e desviou o rosto.

— Homens são miseráveis — ponderou, contrariada.

Sem ter muito mais o que fazer, aceitou o convite silencioso e saltou para o vórtice negro, que desapareceu logo na sequência.

Por fim, Haumea ameaçava invadir a cidade.

“Estão vendo? A imagem daqueles que doutrinarão o futuro de vocês!”, começou a erguer o braço dominante. “Acho que posso brincar um pouquinho, né...?”

Só que, quando ameaçou mover o palmo, seu punho foi envolvido por outro.

Encarou de perfil a imagem do jovem coberto pelo manto negro, enfim tendo a encontrado.

Ficou emburrada por ter sido interrompida no ato derradeiro, mas nada surpresa diante da chegada do imperador.

— ‘Cê veio bem rápido. Um capacho interessante — provocou sem poupar a lábia pejorativa.

Arlen não respondeu diretamente àquilo:

— Vocês estão fazendo muito o que bem entendem ultimamente. Esse não foi o combinado, que eu saiba. E tampouco precisamos ficar repetindo.

Pela primeira vez ele soou austero em seu timbre, estalando os dedos com vigor a fim de fazer mais um vórtice espacial surgir.

Sem a largar, pulou à abertura até sair do outro lado, a região do ponto inicial de tudo; a prisão rodeada pela muralha, coberta de névoa negra por todas as partes.

— Hmpf! — Ela puxou o braço e se livrou da pegada forte do rapaz. — Sua parte deve se achar muito se pensar que estão no pleno controle da situação, né? Acha mesmo que o Criador não percebe suas segundas intenções, desgraçados? Ele é maior que tudo e todos. E isso inclui vocês!

Arlen evitou entrar na discussão, o que deu chance para a garota continuar:

— Ele só está com vocês por mero capricho. No fim, quem se tornará o grande e único Rei da nova Era será ele! — Semicerrou as vistas em clara desfeita. — Não importa o que tentem... Esse será o grande destino de nossos sonhos!

Sem permitir retrucas, ela saltou do topo da envoltura construída para proteger a prisão e desapareceu em meio à fuligem que dominava o ambiente.

O rapaz sustentou o silêncio, desinteressado em prosseguir encucado nas provocações ardilosas daquela outra proveniente do Deus dos Sonhos.

Mas, uma certa dose de preocupação o invadiu, sem que esperasse.

Afinal, foi como se as palavras proferidas por ela, principalmente no final do ódio destilado, já dessem a entender as parcas expectativas em certo caso envolvendo a palavra-chave: destino.

Um choque de liderança entre os Imperadores das Trevas continuava a se tornar algo inevitável.

Atritos àquela altura só iriam prejudicar a ambição que ambos os lados compartilhavam, sabia disso.

Mas não tinha muito a fazer quando se tratava daqueles seres...

Pensando nisso, optou por manter o último ocorrido fora do conhecimento das erínias.

Pelo bem da construção da nova Era, acreditaria naqueles que tinham a missão de alcançar e mudar o destino dos deuses.

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