Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 7 – Arco 5

Capítulo 137: Jogo das SOMBRAS - Desdobramentos

Quando o sol foi coberto pelo horizonte, a embarcação divina enfim atracou na zona portuária de Atenas.

Debaixo das estrelas unidas à lua cheia, os jovens apóstolos deixaram o transporte e seguiram rumo às Passagens Espectrais.

Porém, nem todos seguiram o mesmo caminho.

Melinoe e Silver deixaram os demais e rumaram para outra direção, sem delegarem qualquer palavra a eles.

Gael fez o mesmo na sequência, acenando da forma eufórica de costume antes de dar meia-volta.

Helena decidiu permanecer com as gêmeas e Damon, que partiram rumo ao templo.

Sem delongas, passaram pela pólis até se depararem com duas figuras de pé na entrada.

— O descendente mais novo do Deus da Guerra não está interessado em ir até outro local para ajudar alguém. — A primeira, num tom de frustração, dizia enquanto o rabo de cavalo bege meneava com o vento. — O descendente do Deus do Vinho, Meade, só disse que estava cansado e foi dormir. E não consegui convencer o descendente da Deusa do Amor, também. Lady Afrodite prometeu que tentaria persuadi-lo até hoje, o quanto antes, mas...

— Então estamos com a corda no pescoço, eu diria. — Atena semicerrou as vistas. — Ártemis não oferece notícias. Os Classe Herói estão ocupados. Portanto...

Antes de completar a frase, ela levantou as sobrancelhas e voltou a atenção para o céu escuro.

Íris acompanhou o movimento da potestade, curiosa diante da interrupção repentina.

A resolução veio logo na sequência, quando os membros da corporação surgiram de um portal luminoso, originado do vazio.

A reação boquiaberta tomou conta da Mensageira dos Deuses.

Chloe e Julie, envolvidas por um manto azul-claro, conduziam o comando.

Helena e Damon, cabisbaixo, caminharam até a abertura de luz desaparecer.

Mediante uma respeitosa reverência, as garotas entoaram:

Estamos de volta, minha mãe. Concluímos nossos treinamentos com impecável sucesso.

A voz da púrpura, proferida em alto e bom tom, mesclada à voz da alva, proferida mente adentro através da Telepatia, alcançaram as divindades superiores em perfeita sincronia.

Enquanto a fiel escudeira reagia boquiaberta, a sábia divindade já conseguia identificar os traços evolutivos em cada um dos recém-chegados.

Imaginava que os ausentes também haviam conseguido alcançar os níveis esperados.

Por fim, encontrou o rosto do meio-irmão caçula, que a fitou de cabeça ainda baixa.

Ele tinha sido recuperado e, para melhorar, aparentava estar ainda mais forte.

Na sua contagem de dois meses e meio desde a partida do grupo seleto, receber tais resultados — ainda que só em uma primeira checagem superficial — era fabuloso.

— Considerei que necessitariam de mais tempo. Contudo, superaram minhas expectativas... — Virou-se por completo aos jovens. — Pretendo solicitar o relatório de vossos treinamentos. No entanto...

— O templo foi atacado. — Damon a antecipou no ato.

Helena abaixou desviou o olhar, melancólica.

Chloe e Julie mantiveram a postura.

— Por obséquio, permita-me. — A primeira decidiu seguir aquele caminho.

Enquanto a tensão se apossava do clima, Atena fez que sim com a cabeça, dando a permissão.

— Forças inimigas invadiram e provocaram danos às instalações do Museion nos últimos quatro dias. As senhoritas Polímnia e Erato, infelizmente, foram petrificadas pela maldição da Rainha das Górgonas.

— Medusa — mussitou a deusa, de relance.

Íris acompanhava os relatos resumidos sem piscar uma vez sequer, atônita.

— Unida a ela estava uma criança de aspectos bestiais, que não pudemos identificar. Segundo relatam os filhos do Deus dos Mares e do Deus do Sol, este foi neutralizado após conceber graves ferimentos a senhorita Thalia. Ela, todavia, sobreviveu. Tanto a Rainha das Górgonas quanto o menino em questão escaparam.

— Pelos deuses...

“Era como eu expectava, no fim”, Atena atendeu aos pensamentos acumulados durante os últimos dias, sobre a possibilidade de algo do tipo ocorrer.

Foi quando sua filha acuou a explicação de repente, como se pesarosa a fim de prosseguir.

Por meio de um lamento pesado, ela se livrou do baque e o fez...

— A senhorita Terpsícore lutou bravamente até o fim. — Os olhos das superiores paralisaram. — Um ser extremamente poderoso comandou a invasão e a matou em combate.

A mensageira já levava uma das mãos à boca aberta.

Quem manteve a circunspecção foi a sábia.

— Puderam identificar?

Chloe assentiu, antes de continuar:

— De acordo com o relato da apóstola Notívaga, que infelizmente não chegou a tempo... — Fez-se um breve átimo de silêncio. — Se tratava de uma Erínia.

As sobrancelhas de Atena ganharam peso, indo contra as vistas que se entrefecharam.

Para finalizar, a purpúrea comentou:

— Damon e a filha do Deus do Submundo também a enfrentaram, porém não foram aptos a impedi-la. Com a chegada da Notívaga, o integrante dos Imperadores das Trevas que controla a Autoridade dos portais interveio e a resgatou.

Mesmo com o turbilhão de informações pesadíssimas, a deidade manteve-se calma por fora.

— Uma das Erínias... Então elas estão envolvidas.

O pensamento em voz alta pôde ser escutado pelos demais nos arredores.

De fato, mais uma excedência de expectativas, ponderou.

Medusa por si já era uma adversária estupenda. Agora, juntando uma erínia na equação...

E pior; havia mais duas. E estavam unidas ao grupo inimigo.

O cenário não poderia ser mais desfavorável aos deuses...

— Isto é extremamente inquietante. Todavia, vocês devem descansar, por ora. — Encarou-os de volta, a seriedade crescia. — Minhas congratulações por terem, além de conquistados os objetivos primordiais, cumprido com vossa incumbência enquanto exigidos. Ademais, fico feliz por estarem sãos e salvos.

— Agradecemos as palavras, minha mãe. Demos nosso melhor, do início ao fim. — Chloe foi quem falou, mas Julie a acompanhou na vênia.

— Por fim, permaneçam prontificados a receberem novas ordens de agora em diante. Estão dispensados.

Mediante a declaração derradeira, deu meia-volta com alguma pressa e tomou o caminho da passagem para dentro do santuário.

Ainda atordoada com as informações, Íris a acompanhou.

— Nesse caso, irei me despedir por aqui. — Helena empenhou um sorriso leve. — E você, irmãozinho?

— Eu ainda quero falar com a Atena.

— Está bem. — O abraçou rapidamente. O garoto aproveitou o momento raro de afago e relaxou a feição. — Nos vemos no Olimpo!

A ruiva acenou com a mão para as gêmeas, que devolveram o gesto enquanto acompanhavam sua partida, da mesma maneira que tinha chegado.

— Deseja apanhar a Daisy? — Chloe encarou o olimpiano.

Ele apenas moveu a cabeça, sem dizer nada.

Podendo ver a aflição no olhar do companheiro, a lanceira também optou pelo silêncio.

Tanto ela quanto a alva seguiram para o interior do templo, ao que o Classe Prodígio as acompanhou.

Quando entraram, viram Atena e Íris reunidas no salão principal.

— Irei trazer a Daisy. — A deusa já se anteviu, encarando-o de soslaio. — Ela deve estar adormecida...

— Quem são essas erínias? — E ele, sem se importar muito, a cortou no meio de novo.

A mulher virou o restante do rosto.

— São três divindades vetustas, tanto quanto eu. São consideradas “Deusas da Vingança”, nascidas diretamente de um dos seres primeiros. A respeito do que conheço, o sangue de tal entidade caiu sobre os mares revoltos do Jônico, dando vida a elas. São tanto divindades quanto criaturas; por isto, considero-as anômalas.

— A senhorita as conhece, mãe?

— Já as encontrei pessoalmente, uma única vez. Foi há muitos anos, em prol de certa negociação. O suficiente a fim de atestar vossa ameaça. — Voltou a mirar o rapaz. — Você a enfrentou, certo? Como ela era?

— Tinha garras enormes nas mãos. Mas arranquei um dos braços dela.

— Iiih!? — Íris foi quem soltou o chiado estupefato. — Arrancou o braço de uma erínia!? Você é louco!?

— Eu acho que lúcido...? — Ele contorceu uma sobrancelha.

— Megera, portanto... — Sem delongas, a sábia desvendou a identidade. — Senão a mais problemática, de certo.

“E ter arrancado um braço dela...? Não estava levando a luta a sério? Ou então...”, absorveu em silêncio.

Mesmo assim, não pôde se dar ao luxo de não ficar surpresa.

Nem uma estação havia se passado desde que o apóstolo tinha ficado incapacitado de usar sua energia.

Já tinha notado a grande cicatriz no braço esquerdo dele, só que agora ofereceu atenção especial a ela.

O preço necessário pela recuperação quase inviável.

— Ah!!

Antes de qualquer debate prosseguir, uma voz angelical se proliferou pelo recinto.

Por esse instante, toda a carga emocional no ambiente pareceu desaparecer num piscar.

De todos, Damon foi o que mais experimentou o acalento indescritível subiu o peito ao enxergar a pequenina na virada entre o corredor e a sala.

Ainda com os olhos claros entrefechados de sono, tinha o cabelo cor de vinho todo bagunçado.

O tão aguardado primeiro reencontro residia logo à frente.

— Da...

— Irmão!!! — Ela avançou mais rápida que ele, o abraçando no pescoço. — Você voltou!! Eu senti tanto a sua falta!!

Boquiaberto, o filho de Zeus relaxou o corpo rígido.

— Eu também... — Sorrindo como raramente fazia, exalou um suspiro aliviado.

Ficaram assim por um tempinho, atraindo os olhares das donas da casa.

— Chegou em boa hora. Os treinamentos dela também foram finalizados. — Atena trouxe o olhar dos irmãos até si. — Falta pouco para que possa ser integrada oficialmente à Corporação dos Deuses.

— Sério? — Impressionado de verdade, Damon a fitou.

E ela mostrou os dentes em um sorriso radiante.

— Sim!! Vou poder ser como você, irmão!! — Sem desgarrar do pescoço dele, deitou a cabeça em seu peito. — Vou poder te ajudar e ajudar todo mundo!...

O olimpiano sentiu bastante orgulho dos feitos da menina.

Embora ciente de que ela se tornar uma apóstola seria vivenciar os perigos que enfrentava, estava feliz pela conquista dela.

Seu sonho se aproximava mais e mais.

E ele jamais poderia interrompê-la, não importava como.

Restou, portanto, a promessa feita para si próprio, somada a uma das principais motivações em prol de continuar lutando: protegê-la.

— Ainda precisamos encontrar uma dupla para as introduzir da maneira devida. Assim que tiver novidades, a contatarei. — Às palavras da deusa, a garotinha assentiu eufórica. — Podemos prosseguir com as conversas outra hora. Já está tarde. Recomendo que voltem para casa e descansem.

Damon, acusando o cansaço, nem respondeu verbalmente.

Apenas olhou para a irmãzinha, que não se desgrudava de si, e aceitou a demanda oferecida pela deusa.

Para aquele início de regresso, já estava de bom tamanho.

— Vamo’, Daisy?

— Uhum!

Os dois deram as mãos quando ela enfim desenlaçou os braços de seu pescoço.

Foram acompanhados pelo corredor à acrópole, onde despediram-se por meio de olhadelas rápidas.

A menina ainda gesticulou com o braço erguido.

Atena, quieta, encarou atenta às costas dos caçulas, à medida que se aproximavam da entrada invisível para o túnel arco-íris.

“Está próximo...”, divagou, escondendo um sorriso sedento a se desenhar na face.

Os dois nada mais ouviam do outro lado.

Prosseguiram juntos pelo caminho espectral que alternava nas sete cores.

Nunca estiveram tanto tempo longe de casa. Por isso, até compartilhavam certa saudade para com o local.

Por estar em contato com o irmão, Daisy já podia identificar as minuciosas emoções embaralhadas em seu interior.

Controlou a curiosidade e não o direcionou qualquer questionamento.

Por outro lado, também deixava sua inquietação aflorar um pouco mais que o normal.

Ao perceber isso, Damon olhou para o céu, de propósito.

— Quer saber como foi meu treinamento?

Quando escutou a pergunta, demorou segundos preciosos a fim de processá-la.

Era como se um milagre tivesse sido realizado.

— Sério!? Você contaria!?

Perante o brilho no olhar celestial, ele prendeu uma risada na garganta.

Como havia decidido consigo mesmo, faria o possível para não mais guardar tudo dentro de si.

Seria essa a primeira vez que contaria as próprias experiências por vontade própria.

E seria ainda mais importante, agora que ela estava a um pequeno passo de se tornar uma apóstola.

— Então... — Pegou bastante ar, estufando o peito. — Por onde devo começar?...

Decidido a seguir em frente, sempre no desejo de melhorar para e por ela, utilizou a distância percorrida para contar tudo que podia.

— Então a Bell foi morta!? — Através do sorriso recheado de ironia, a jovem ruiva encarou por cima do ombro. — Kaha! Não esperava menos!

— Ainda não foi confirmado — retrucou o rapaz ao lado, a expressão soturna observava-a de baixo. — Ainda que não deixe de ser uma notícia desagradável.

— Ah, pode crer!! Vocês depositaram tantas expectativas naquela fracota e agora precisam repor às pressas com outro integrante pra irem à jornada final!! Digo, nossa, isso que chamam de planejamento, né!? Kahahaha!

Apesar do silêncio desagradável destilado pelo grupo reunido, Hazel gargalhou, fazendo as mechas negras balançarem.

A garota encontrava-se sentada no limite da beirada de uma das antigas torres em ruínas. Balançava as pernas no ar como se fosse uma criança.

Os outros estavam nos arredores, em algumas edificações menores.

O único a compartilhar o espaço com ela era Keith, que estava mais afastado e de pé.

Apesar da face enfadonha, carregava um sorriso afiado conforme observava a diversão solitária da desgarrada.

— Se eu fosse você, tomava isso como aviso — comentou na esportiva.

— Hein?

— Vocês tinham o mesmo objetivo, praticamente, não era? — Um dos afastados, o de cabelo castanho, indagou.

Também sorria, mas com menos ferocidade comparado ao rapaz das cicatrizes.

— Nah! Só na teoria — Ergueu o indicador e o levou ao lábio inferior. — O cerne é um pouco diferente, mas posso considerar que sim, nossos objetivos se cruzam! Assim como todos daqui, né?

Todos responderam com o silêncio.

Quem o cortou foi o mesmo rapaz de tom altruísta:

— Vocês já lutaram alguma vez?

— Não seria necessário! — Lambeu o mesmo dedo com deleite.

— Oh...

Impressionado de verdade, o garoto semicerrou os olhos.

— Para de dar trela pra ela falar, Heath. — O outro ao lado desse, de cabelo negro, resmungou. — Chata pra cacete.

— Se ‘tá incomodado então vai embora, moleque!

— Hã? — Olhou torto para ela. — Quer que eu acabe contigo e suas falácias agora, é?

— Não luuuutem! — Outra voz, mais afinada, ecoou. Vinha da menina isolada entre as torres menores. — Irene odeia luuutas!

Todos a ignoraram. Exceto...

— Se acalme, Leon. Ela está certa... — Heath, que se antecipou ao semelhante. — Todos nós vamos em busca do mesmo objetivo, no fim das contas. Precisamos manter uma boa relação.

Ao ser chamado a atenção, Leon estalou a língua e desviou o olhar.

Encontrou outro dos integrantes reunidos, também solitário e, diferente dos demais, de costas para a “reunião”.

Seu cabelo acinzentado podia ser visto, mas parte da capa escura que o cercava junto da bruma negra o impedia de decifrar sua feição.

— Hmpf! Como se eu fosse acompanhar esse bando de idiotas — mussitou Hazel, sem dar a cara a tapa outra vez.

Keith a encarou de esguelha, como se a julgasse. Seus lábios se contorceram ainda mais, elevando a excentricidade sorridente.

— Eles nem perdem por esperar. — Ergueu o queixo, destilando seu olhar grotesco sobre os presentes. — Vamos virar tudo de cabeça pra baixo, sem que possam nem reagir!!

— E não se esqueçam de nós!

Uma nova voz se inseriu na conversa, crescente conforme se aproximava do topo da maior torre.

O esverdeado contemplou ao encarar sobre o ombro.

— Olha só! Os traidores! — Hazel logo reconheceu a identidade dos gêmeos de diferentes semblantes. — Toma cuidado, hein! Vai que eles repetem a dose com vocês!...

— Jamais faríamos isso. — Castor abriu os braços robustos, sem deixar de sorrir. — Desejamos o mesmo que vocês, aqueles que nos acolheram. Vamos dar nosso melhor para que tudo corra como planejado. Certo, Pollux?

— Claro...

A resposta do outro veio mais fraca, a exemplo da circunspecção estampada na face alva.

— Iremos levá-los até a ruína dos deuses!  

Os pilares das trevas encararam a confiança depositada nas palavras do robusto.

Antes que pudessem devolver alguma opinião, tremores os alcançaram de modo constante.

Nenhum pânico foi constatado em qualquer um, já que estavam cientes da proveniência de tamanhas anomalias.

De onde se situavam, podiam enxergar o templo negro, único local que a névoa escura não podia cobrir...

— Eu juro que vou sodomizar aqueles desgraçados!!!

Os berros enervados da erínia ecoavam por todo o recinto tomado pela obscuridade.

Conforme destruía as paredes pela frente, deixava seu ódio acumulado ressoar como uma aura ao redor.

Perante as outras duas mulheres escondidas nas sombras, não se aguentava com o rancor latejante no peito.

Desprezava a presença de quaisquer figuras, fossem superiores ou inferiores.

No entanto o contrário não podia ser assegurado.

— Megera, trate de se controlar — reclamou a da esquerda. — Ninguém além de você detém a responsabilidade. Arque com os próprios atos.

— Quer que eu te quebre no meio também, Tisífone!?

A mais nova das monstruosidades franziu o cenho, na adoção do silêncio diante da ameaça.

A enervada preparou para destruir outra área do salão, mas quando ergueu as garras brecou o avanço, assolada por uma sensação congelante.

Mesmo Tisífone engoliu em seco. O rosto se virou na direção oposta, para fitar a terceira — e mais intensa — silhueta no salão.

Megera foi quase obrigada a controlar o fervor, contentada com as palavras antecipadas pela desafeta.

O olhar afiado de Alecto penetrava a alma das companheiras, mesmo detrás da densa caligem.

Tampouco necessitava de palavras para reestabelecer a ordem absoluta no âmbito.

A tensão diminuiu quando o rangido das portas ecoou, trazendo a presença do homem encapuzado.

Depois de avançar a passadas curtas, Arlen levou uma das mãos ao peito e ofereceu sua reverência, tão polida quanto as palavras:

— Eis o relatório: a górgona e seu protegido tiveram seus ferimentos tratados. A maior perda foi um dos olhos petrificantes da mulher, porém sua maldição ainda deve ser utilizável. Acerca do lado dos deuses, duas das Nove Musas foram petrificadas e uma foi morta.

Fracasso. — A voz arrepiante de Alecto foi seca após o relatório do coberto. — Era esse o “recado” que desejava entregar, tola irmã?

Diferente do tratamento com relação a mais nova, a enegrecida sequer encontrou palavras para rebater a mais velha.

Os olhares de ambas, incisivos como navalhas, se encontraram. Hesitante, a mulher de somente um braço resolveu se acalmar.

O silêncio voltava a tomar conta. A calmaria que vinha após a tempestade... e que também a precedia.

Uma presença tão retumbante quanto as já estabelecidas se revelou lentamente, por outra passagem contrária.

O som da abertura chamou a atenção das figuras dominantes em igual intensidade.

Se ajeitaram de forma automática, como se fossem coordenadas por um agente invisível.

Recuado, Arlen se curvou. Pôs um dos joelhos no piso frio, cerrando o punho dominante logo ao lado.

As erínias mantiveram-se erguidas, sem fraquejar perante a influência que se equiparava a delas.

— Todos os preparativos estão concluídos. — Alecto declarou. Ergueu a palma canhota e a fechou, com vigor. — Nosso maior movimento terá seu início. E, sem que percebam... os deuses encontrarão sua ruína através do destino!

Um sorriso feroz projetou-se, unido à escuridão.

Todas as atenções permaneceram presas àquela figura.

Abriu, em destaque, os olhos de sangue.

Como se posicionasse os braços abertos, deixou a voz ecoar por todas as estruturas tomadas pelas trevas.

— Entendo. — Sua voz estremeceu todo o local. — Pelo fim da Era dos Deuses. Pelo início da Era dos Sonhos. Logo, todos virão... para os braços de Morfeu.

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