Volume 7 – Arco 5
Capítulo 133: Fases da Lua
Elaine regressou ao confronto.
Ainda que bastante debilitada pelas lacerações no olho e abdômen, além da ardente perfuração na mão canhota, mantinha-se determinada a salvar sua amiga.
Isso levou-a a abandonar sua vontade de não a ferir a todo custo.
Após se livrar do ímpeto que lhe esmagava rumo à morte, trouxe a lâmina que brilhava a descansar ao lado do torso.
Unida aos feixes de luar, a ultrapassarem as aberturas no teto devastado, clareava todo o interior obscuro.
Não só isso, como também destacava o rosto da portadora.
Ela procurava o equilíbrio respiratório através de fracos arquejos, que faziam seus ombros subirem e descerem com suavidade.
Graças à elevada adrenalina, municiada do sangue esquentado, experimentava a gradativa inibição das dores em seu corpo.
Era o momento propício a favor da grande recuperação.
Quiçá a tomada de um domínio jamais vivenciado...
Outro fator favorável a isso vinha do choque expressado pela filha de Hebe.
De olhar decrescente, encarava as gotas sobre o solo e a mancha escarlate na palma trêmula.
Devolveu a faca suja à mão canhota e puxou a varinha da cintura. Definiu que foi um erro pensar na possibilidade de matá-la sem usar sua energia.
Apesar disso, já tinha percebido que a apóstola exalava uma influência diferenciada.
Dotada de nova postura e expressão, parecia estar pronta a fim de, finalmente, demonstrar suas verdadeiras habilidades.
Sem deixar de manter a vista remanescente cerrada, buscou as experiências adquiridas.
Desde a batalha em Argos até os treinamentos recentes com sua mãe, focou em si própria, interna e externamente.
Os frutos da evolução, a sua própria maneira...
— Posso não ser tão forte quanto o Gael..., corajosa como o Damon, resiliente como a Lilith..., segura que nem o Silver... ou confiante e sonhadora igual a Daisinha — pensou em voz alta. — Mas se for para salvar uma amiga... deixarei de enxergar tudo ao meu redor... Fecharei os olhos para minhas inseguranças!
A nova onda vital se alastrou por toda a ruína.
Poeira foi levantada através de uma leve onda de choque.
Os fios azul-escuros, que alcançavam a altura dos ombros, levitavam com graça.
“Eu nunca senti a Eli exalar uma energia dessa”, aflita, Bluebell franziu o cenho. “Ela realmente mudou?”
A descendente lunar relaxou o corpo tensionado.
Exalou uma lamentação profunda, suficiente em prol de expulsar todo o peso acumulado no peito.
Não havia vento que cortasse o silêncio absoluto, tanto dentro do templo quanto em seus arredores.
Bluebell não demorou a notar a ausência sonora, responsável por trazê-la um pressentimento desagradável.
Cogitou usufruir do Esmagamento Gravitacional o quanto antes, bastante preocupada.
Os planos foram varridos quando a filha de Ártemis ergueu o braço dominante, apontando a lâmina brilhante ao topo.
O cintilar aumentou, unindo-se ao feixe que se encontrava exatamente acima de sua cabeça.
Num deslocamento plácido, começou a descê-la numa formação encíclica.
O rastro da mesma coloração predominou todo o trajeto, sem permitir que os olhos da adversária desviassem a atenção.
Levou-se poucos segundos até um anel brilhante ser “desenhado” em torno da apóstola.
“Finalmente aprendi... essa é a única vertente que posso utilizar”, projetou um sorriso imperceptível.
Não precisa se sentir envergonhada por saber apenas uma forma. Pelo contrário; a domine, a aperfeiçoe e torne-se a mestre desta habilidade!
Ao recordar as palavras uma vez ditas por sua mãe, ela exalou rara confiança.
— Arte da Lua, Primeiro Apogeu: Fases da Lua!...
A luminosidade chamativa alcançou o ápice de intensidade, a ponto de escapar para o exterior do templo.
Bluebell precisou posicionar um dos braços à frente da face, no intuito de proteger as vistas da forte manifestação.
Essa esvaneceu logo na sequência, a exemplo do rastro anelar criado pela movimentação extravagante.
Diferente do previsto pela rósea, nada ocorreu na sequência.
A filha de Ártemis só relaxou a lâmina, permitindo ao raio natural tomar conta de seu redor. A maior mudança veio de sua influência, recheada de gelidez e pressão.
Aguardou mais alguns segundos, contudo nada ocorria em qualquer hipótese.
Cansada de aguardar, levantou a varinha e utilizou o Esmagamento Gravitacional onde estava.
Mesmo ao elevar em diversas vezes a força de sua Autoridade, agora, não teve sucesso em derrubá-la.
Pensou em depositar mais esforço, porém os riscos lhe atormentavam.
Ciente das sérias chances de sucumbir no caso de excedência dos próprios limites, decidiu confiar que ela seguia de pé exclusivamente através do próprio empenho.
Visto isso, arriscou-se a avançar.
Deixou a lâmina apontada para trás num giro veloz e saltou no sentido da noturna, que enfim ameaçou se mexer.
Dotada de maior celeridade, repetiu o deslocamento anterior. Circulou com a lâmina, deixando um rastro púrpuro no espaço.
Contudo, dessa vez, o interrompeu no meio do caminho, mantendo a ponta afiada direcionada ao topo.
A tonalidade predominante mudou.
O releixo foi tomado por um teor cinza brilhante, a exemplo da faixa originada no vazio; a metade de um anel.
— Lua Minguante...
Perante o murmúrio, Bluebell não teve tempo para hesitar e procurou afligi-la com um corte horizontal vindo das costas.
A apóstola arriou o equipamento numa velocidade absurda e bloqueou a investida no ato.
Uma onda de choque espalhou-se em volta das duas.
“O quê!?”, incrédula ao enfrentar tamanha precisão defensiva, a filha de Hebe levantou as sobrancelhas.
Optou por ir de encontro ao pensamento recente e expandir a força da Autoridade Cinética da Gravidade.
Elaine a rebateu antes que pudesse mirar com o objeto de madeira, em seguida executando um salto para trás, a fim de esconder-se do raio iluminado.
Mesmo a luz acinzentada do releixo tornou-se parte da escuridão.
Por um instante, a agressora perdeu a presença de seu alvo.
Manteve a faca próxima do peito, a fim de garantir a defesa, conforme exalava nervosismo.
Apontou a vara de condão na caça a inimiga escondida.
“Nem ‘tá tão escuro assim! Como ela conseguiu sumir!?”, escutou alguns passos que a fizeram corrupiar por completo.
Ninguém foi encontrado na retaguarda.
“Essa desgraçada ‘tá caçoando de mim!?”
As veias começavam a saltar a testa.
— Lua Crescente...
O sussurro que veio quase do pé de seu ouvido lhe arrepiou a espinha. Girou na direção do som, mais uma vez incapaz de achar a presença oculta.
A lunar foi tão ágil quanto antes na origem de um novo anel pela metade com a arma cintilante.
O cinza tornou-se um ralo lilás, enfim entregando sua posição.
Foi tudo muito preciso, inconcebível para que Bluebell fizesse algo a respeito.
A garota surgiu sob um dos feixes mais fracos espalhados pela ruína e empurrou a lâmina contra a oponente.
Essa, que quase caiu com o sobressalto, experimentou o frio corte atingir o lado do braço canhoto.
Cambaleou para trás, até que a presença da noturna novamente tornou-se um com o breu.
Indignada com a situação atual, conferiu a laceração rasa, o bastante para fazer fios de sangue escorrerem pelo restante da pele alva.
Na segunda vez, Elaine a surpreendeu ao surgir por sua retaguarda, reprisando o golpe.
O corte veio da lombar à lateral do abdômen.
Mais líquido escarlate com pontilhados dourados espirrou, impelindo-a a girar um golpe reativo de esfaqueamento.
A lâmina acertou o vazio, de novo.
“Ela ‘tá evitando me ferir gravemente!?”, logo percebeu a tática opositora, tanto pelo cuidado dos ataques quanto pelos pontos específicos onde a atingia.
Fato era que a garota medrosa e insegura estava diferente.
Ainda lhe era inconcebível tal mudança repentina, visto os comportamentos absolutamente submissos no reencontro há meses, em Argos.
Enquanto ponderava, recebeu outra ferida, da esquerda, agora em sua coxa.
Mais um corte longe de aprofundar sua carne. Mesmo assim despertava incômodo bastante para a fazer prender um grunhido.
— Não brinca comigo!!
Ao perder a paciência, a filha da juventude levantou a varinha. Sem se importar com os consequentes efeitos colaterais, devotou a concentração total de energia na direção do teto.
O Esmagamento Gravitacional retumbou sobre o templo inteiro.
Nesse período, a capacidade de deslocamento de quaisquer corpos no raio da Autoridade foi privada.
A tremulação ruidosa das colunas no exterior trouxe a iminência do colapso.
Apesar da enxaqueca eletrizante, resistiu à própria pressão esmagadora. Não levou muito tempo até que a primeira coluna sucumbisse.
O efeito cascata foi instantâneo e trouxe os demais sustentáculos abaixo.
Posto isso, o que restava do teto ruiu, sem oferecer escapatória às combatentes.
Em meros segundos, a ruína do antigo templo desapareceu em escombros e fumaça...
Não muito tempo depois de ter se despedido de sua filha, Ártemis alcançou os andares superiores do Monte Olimpo.
A bela paisagem noturna a fez se perder em pensamentos.
Os últimos meses junta de sua filha passaram rápidos. De alguma forma, sentia como se parte de um passado não tão distante estivesse de volta.
— Ártemis.
A voz familiar lhe puxou dos devaneios.
Ao girar o corpo, encontrou a figura que aguardava, sempre trajada com ornamentos de uma armadura sobre o bonito vestido branco.
O semblante da respectiva, bem circunspecto, foi iluminado pelas chamas alabastrinas.
— Te fiz esperar demais, querida irmã?
Atena parou de andar no centro do saguão.
— Na verdade, eu acabei de chegar. — A lunar exalou um suspiro. — Perdoe-me por ir diretamente ao ponto, porém qual seria a razão desse chamado repentino?
— Eles se moveram novamente. — A resposta foi tão direta que assustou a questionadora. — Eu falhei em deixar esta possibilidade omissa. O Museion foi atacado mais cedo.
— O santuário das nossas irmãs? — Ao remeter àquela informação, os olhos esgazearam. — Os jovens...
— É como imagina, irmã. Por localizar-se em uma região remota de Rodes, não posso observá-los com a Piscina da Vidência. — Juntou-se ao lado da noturna. — Todavia, Calíope enviou um singelo sinal.
— E o que aconteceu?
— Não posso afirmar... — Desviou o olhar, preocupada. — Por ora, torço para que esteja tudo bem. Cogito enviar alguém até lá, mas levaria um tempo precioso de barco. Preciso ver se há membros qualificados disponíveis...
A Deusa da Lua atentou às divagações da mulher em completo silêncio.
Podia sentir o nervosismo, poucas vezes demonstrado por ela, pairar sobre o clima.
Também pensou no quanto era raro algum erro de perspectiva ser cometido por sua parte.
Numa posição onde não havia muito o que fazer, a Deusa da Sabedoria passou a procurar por soluções improváveis.
Alguns nomes interessantes surgiam em sua mente, mas de quebra imaginou que estariam indisponíveis.
Portanto, a saída mais provável estava logo ali.
— Minha irmã. Elaine estaria disponível para ser enviada?
À indagação da sábia, Ártemis refugou um pouco antes de responder, através de um sorriso preocupado:
— O treinamento dela, em tese, já terminou. Se eu falar com ela sobre, talvez seja possível.
A estrategista identificou certo receio naquela resposta.
Mas era o que possuía para agora.
— Tudo bem. De todo modo, tentarei outros contatos. Se for possível que você a acompanhe, seria perfeito. Íris pode chegar em Corinto e Esparta rapidamente, e...
— Ora, ora, você ainda usa aquela farsante!?
A nova e desagradável voz irrompeu os planejamentos em voz alta da mulher, além de chamá-la a atenção até o guarda-corpo.
De pernas cruzadas e mãos apoiadas sobre a fina extensão de gesso, o homem sorria malevolente, à medida que as pontas do arrepiado cabelo branco dançavam junto à brisa.
O rosto asco tomou conta de Atena, porém a divindade encarou a reação como algo adorável.
Ártemis apenas observou, sem proferir uma palavra em retorno.
— Se quiserem alguém veloz e consideravelmente confiável, estou sempre à disposição! — Pegou a moeda dourada do cinto e a jogou para o alto, com o polegar.
— Agradeço, Hermes — rebateu com desgosto. — Contudo, caso desejasse por vossa ajuda, iria lhe contatar com antecedência. E caso eu não tenha o feito, quer dizer que, no momento, não necessito dela.
— Isso é tão degradante, minha amada irmã. — Levou os olhos cerúleos, semicerrados, na direção dela. — Sabe que sou o verdadeiro Mensageiro, não aquela sua pirralha de estimação.
As deidades preferiram sustentar a taciturnidade, mesmo diante das ironias disparadas pelo Mensageiro dos Deuses.
Todavia antes de qualquer outra afronta entre os semelhantes olímpicos, um estranho arrepio atingiu a Deusa da Lua.
A sensação a fez se corrupiar bruscamente para o horizonte. As sobrancelhas se contorceram, espantada.
Caminhou a passos curtos até se aproximar da balaustrada na beirada do átrio.
Os irmãos a fitaram em silêncio, trocando olhares dúbios e desprovidos de inimizade pela primeira vez.
— Elaine?...
O mussito proferido por ela soou quase inaudível à dupla.
Com os cílios pesados, decidiu ser conduzida por uma intuição que parecia gritar dentro do peito.
Deu a volta com tanto ímpeto quanto o gesto anterior e avançou apressada até as escadarias.
Inquieta, Atena decidiu indagar:
— Irmã, aconteceu algo?
A Deusa da Lua cessou o andar e virou o rosto; seu sorriso mostrava-se desconcertado.
— Disse a minha filha que voltaria mais cedo. Vou aproveitar para avisá-la sobre a partida, então lhe tratei notícias assim que possível.
— Entendo...
Sem novas explicações, ela se despediu através de um aceno positivo da cabeça e desceu os degraus na noite olímpica.
A sábia sustentou a visão fixada naquela passagem por algum tempo, inapta a esquecer a estranha expressão projetada pela semelhante.
Em contrapartida, Hermes voltou a sorrir com escárnio.
Ficou de pé sobre a extensão de gesso e ergueu o rosto, em prol de contemplar o chamativo satélite natural.
— Ela não soou sincera. Sabe disso, não sabe, irmã?
— Não precisa me dizer o óbvio.
— Fico lisonjeado com tamanha consideração!
Não obstante a nova resposta sarcástica, o sorriso projetado pelo mensageiro mostrou-se genuíno.
O ímpeto enraivecido da mulher foi cortado no ato da retruca.
A partir daquele instante, a apreensão quanto ao ocorrido em Rodes, alheia a estranha reação de Ártemis, ocupariam sua mente acima de quaisquer assuntos.
Uma lamentação escapou dos lábios.
Restava aguardar as consequências que seriam colhidas do cenário atual.
O silêncio pairava junto à fina camada de fumaça.
As cigarras pararam de chorar. O vento não uivava pela floresta. Nada ocorria no local das novas ruínas.
E assim perdurou até um braço surgir de baixo dos escombros.
O restante do corpo veio na sequência, puxado pela força que machucava os músculos.
O coque direito do cabelo rosa fora desfeito após ser afligida pela demolição do templo. De longe isso se apresentava como o fator mais importante no momento.
Bluebell tossiu bastante sangue, conforme tentava se reerguer. A ferida no abdômen havia piorado. Os efeitos colaterais estremeciam todo seu corpo.
A visão revelou-se levemente turva, o gosto de ferro adocicado preenchia todo o paladar.
Levaria algum tempo até se recompor da forma devida.
Quando as pupilas se habituaram ao cenário, contemplou nada além de destroços espalhados pelo solo relvado.
O luar, minimamente encoberto pela cortina acinzentada, trazia a parca iluminação de destaque às árvores do bosque nos arredores.
Demorou a perceber a vermelhidão sobre a vista esquerda.
O sangue com Ícor escorria a partir do supercílio lacerado, mas não aparentava apresentar algum risco a sua integridade.
Contudo, além da própria situação, existia a curiosidade sobre o estado da adversária.
Nas condições atuais, não poderia mais usar sua Energia Vital.
A faca continuava intacta na mão canhota, assim como a varinha na dominante.
Caso a lógica prevalecesse, a filha da Deusa da Lua deveria estar num estado semelhante — ou até pior — ao dela.
— Eli... — mussitou afônica. — Eli, Eli, Eli...
Tropegou sobre os entulhos em busca daquela que mais desejava matar com extrema ansiedade.
Sem ter cruzado metade da devastação, conseguiu encontrá-la.
Aparentemente encontrava-se desmaiada, abaixo de alguns detritos. Suas feridas profundas ainda derramavam sangue.
Tal cenário fez a rósea esboçar um fraco sorriso, decidida a pôr um fim naquilo de uma vez por todas.
Aproximou-se até ficar acima do corpo dela. Apontou a lâmina suja em prol de executar o golpe derradeiro.
— No fim, eu ganhei... porque eu sou a mais forte... — murmurou entre arquejos. — Acabou, Eli... Você realmente me surpreendeu...
“Sim... se as coisas tivessem sido diferentes, nós...”, não foi capaz de completar.
No fundo, após tudo, ela temia as próprias ações.
Temia o resultado de suas escolhas.
Tratava-se de um sentimento indecifrável. Estava tão decidida a matá-la, sem ressentimentos, para seguir em busca da almejada “justiça”.
Mas agora parecia estar relutante com algo.
Arriando as sobrancelhas, apertou o pequeno punho da faca e buscou varrer as contradições da cabeça;
Só que, antes de desferir o empalamento, a perna canhota foi agarrada pela palma ensanguentada da menina.
De repente, foi puxada com tanta força que deixou de sentir o contato das solas com o plano.
Em meros segundos, sem entender nada, tombou de costas.
Elaine superou as debilidades dos ferimentos e se levantou o mais rápido possível. Sentia a síncope se aproximar a passos largos, mas ainda não deveria sucumbir.
Bluebell repetiu o gesto, quase a cair aos pedaços. Perplexa com o ressurgimento da garota, rangeu os dentes e amaldiçoou:
— Por que você insiste tanto... e não me deixa te matar!?
Também arfante, a descendente da lua sustentou a determinação.
— Eu já respondi essa pergunta... mais de duas vezes...
Ficaram frente a frente.
Por mais que próximas de atingirem o ponto de fadiga, possuíam ferimentos complicados. Em cada caso, uma delas estava um pouco mais afetada.
Isso equilibrava o cenário, onde tudo pendia a um desfecho inesperado a favor de qualquer um dos lados.
Tomada por uma nova sucessão de dúvidas, Elaine experimentou o feixe luminoso a envolver mais uma vez.
Sendo a única entidade destacada naquele mar de obscura destruição, foi contagiada por um turbilhão de coragem ao fechar a vista remanescente.
“O luar...”, pegou-se conectada à ínfima projeção, capaz de superar toda a camada de poeira. “Você está comigo, não está... mamãe?...”
Sorriu sem perceber, permitindo ao restante da força dentro de si lhe guiar.
Arrepiada defronte a influência exalada pela apóstola, a filha de Hebe recuou dois passos.
Quase tropeçou num destroço elevado, mantendo o equilíbrio com o auxílio dos braços bem abertos.
“Essa sensação...!?”, incrédula, engoliu em seco ao vê-la reabrir o olho íntegro.
O marrom da íris era contornado por uma borda violeta, de onde o cintilar se propagava com maior intensidade.
— Esse vai ser... meu último... golpe...
Ergueu a lâmina e repetiu a movimentação das três últimas ocasiões. Com lentidão, deixou o rastro luminoso criar a forma anelar que fazia a rósea estremecer.
Ela já não sabia mais o que fazer a respeito de tanto esforço.
O desejo de vingança sobre a morte de sua mãe continuava a gritar dentro do peito.
Picos de ansiedade começavam a lhe corroer por dentro.
De novo e de novo a relutância, que antes imaginava ter superado, regressava.
À medida que o movimento circular da Classe Prodígio se aproximava da finalização, ergueu a varinha com extremas dificuldades.
— Pare... — A apontou na direção dela. O braço completamente oscilante. — Por favor... pare...!!
A voz tornou-se melindrosa, embargada.
Pela primeira vez, surgiu um vacilo poderoso sobre o que desejava de verdade...
“Estou indo, Bellzinha...”, o contorno do olho escurecido ganhou mais brilho.
A lâmina de lua encheu-se da mesma luz.
E então...
— PAREEE!!!
Com os olhos arregalados, Bluebell gritou.
Em desprezo às limitações físicas, mentais e vitais, a filha da Deusa da Juventude desafiou o último golpe da amiga.
Que fechou o olho e mussitou:
— Lua Cheia...
Sem hesitar, correu para a amiga e saltou no fim, levando a outra mão a empunhar o pomo.
Arrastada por medo e rancor, a rósea concentrou sua energia ao limite e manifestou sua Autoridade.
Elaine cortou o espaço, de cima para baixo. Mesmo incapaz de executar um ataque preciso, já sendo afetada pela gravidade esmagadora, atingiu a extremidade erguida da varinha.
As poderosas energias entraram em contato, deliberando o distúrbio mais arrebatador do conflito.
A terra inteira tremeu, assim como o espaço. Até que, graças ao cansaço das duas, uma explosão descomedida as envolveu.
Enquanto as árvores do bosque sofriam com o rebuliço, as duas encontraram o rosto de cada uma, a ínfimos metros.
Nenhuma delas sorria. Tampouco carregava qualquer ódio na feição.
Tudo ocorreu em um singelo instante. Mas, para elas, foi como se durasse uma eternidade.
Até os destroços e a fumaça as envolver.
O desfecho daquela batalha de emoções... nem mesmo a lua poderia vislumbrar...
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