Volume 7 – Arco 5
Capítulo 131: Pêndulo - "Promessa Sob o Luar"
Os olhos marrons se abriram.
O destaque do satélite natural, rodeado por pontos cintilantes no céu escuro, iluminava o rosto sonolento a descansar nos pequenos degraus.
A típica brisa primaveril fazia os fios de seu curto cabelo azul dançarem, assim como o solo gramado e as árvores que circundavam o templo.
Repleta de sono, piscou algumas vezes na luta para não tombar a cabeça novamente.
Isso durou até um novo ruído lhe despertar a atenção.
Vindo de sua retaguarda, percebeu que se tratava da porta de entrada do santuário sendo aberta.
Quem saiu dali foi uma mulher alta, o sorriso gentil estampado em sua face.
— Oh. Então estava aí, minha querida.
A Deusa da Lua estendeu a mão até ela, que aceitou o chamado ao direcionar a sua com lentidão.
Conduzida a ficar de pé, entrelaçou os pequenos dedos nos dela e desceu a escadinha com as mãos dadas.
Os passos tímidos dela equivaliam a cada avanço da divindade. Assim seguiram, juntas, até o centro do pequeno campo
— Aonde... vamos?...
A menina ergueu o rosto, sua voz soava enfraquecida pela sonolência.
A condutora, apreciadora daquele jeito acanhado de sua filha, assentiu em positivo e alargou o semblante radiante.
— Temos visitas hoje — respondeu. — Creio que irá gostar.
Não demorou até a dupla alcançar o local combinado.
Tão logo a criança enxergou duas figuras presentes a poucos metros. Suas sobrancelhas contraíram assim que notou serem uma dupla semelhante a ela e sua mãe.
Tanto a adulta — de estatura semelhante à da divindade lunar — quanto a criança possuíam dois coques laterais amarrados em seus cabelos azul-ciano.
De certa maneira, remetiam ao límpido céu dos dias ensolarados em Hélade.
Ambas se viraram ao perceberem a chegada das anfitriãs.
Os olhos também compartilhavam a mesma tonalidade rósea, tão vibrantes que deixaram a criança lunar boquiaberta sem sequer perceber.
Os olhares das crianças se cruzaram nesse instante.
Enquanto a deusa e a visitante trocavam cumprimentos silenciosos, as meninas resolveram se esconder atrás de cada uma.
Ambas coraram de timidez.
— Elaine, essa é a tia Hebe. — A deidade prendeu uma risada ao apresentar. — Seja gentil e a cumprimente.
Elaine inclinou a cabeça um pouco ao lado. Procurava não mostrar a face inteira.
Ao mesmo tempo, queria evitar as vistas radiantes das duas à frente. E a criança da perspectiva contrária repetia o gesto.
Assim que se encontraram na mesma linha de visão, deram outro passo acuado.
Regressaram à retaguarda de suas mães, no aguardo de alguma outra ação que as amedrontasse a prosseguir.
Em companhia à barreira das duas, as divindades superiores soltaram leves risadas, divertidas com toda a indecisão.
Dito isso, a visitante resolveu se agachar até ficar na altura da criança, acariciando sua cabeça com cuidado.
— Não precisa ter medo, Bell. — Sua voz soava doce e gentil. — Vá falar com ela.
Hebe virou-se até a criança da lua e abriu caminho para que sua filha caminhasse por livre vontade.
Ela procurou varrer a insegurança por meio de um forte suspiro, a fim de seguir como fora pedido.
Ártemis aproveitou o momento e seguiu o exemplo.
Moveu a perna com cuidado e, sem todo o ritual realizado pela companheira, deu um empurrão nas costas da menina.
O susto durante o avanço a fez engatilhar uma reclamação, mas já se encontrava afastada o suficiente para regressar.
O máximo que pôde fazer foi sustentar o desvio de atenção da outra criança.
Ao passo que as deusas aguardavam pelo despertar da coragem, elas empenhavam-se ao máximo em prol de não se encarar de forma direta.
— Elaine... não é?
A ciana enfim murmurou, chamando os olhos tímidos da pequena.
Pela primeira vez, permaneceram frente a frente por espontânea vontade, desprovidas de medo ou insegurança.
— S-sim...
Com a resposta travada da azulada, ergueu o queixo e respirou profundamente.
Aos poucos começou a ser tomada por um sentimento de ânimo, suficiente para esboçar um fraco sorriso e apontar o indicador a ela.
— Eu... vou te chamar de Eli! — Por fim, trouxe o polegar na direção do próprio rosto. — Sou a Bluebell. Se quiser pode me chamar só de Bell!
Elaine, num primeiro momento, ficou sem reação.
Inclusive as deusas ao redor não souberam como responder, impressionadas com a repentina mudança de atitude da criança cerúlea.
A noturna buscou algo que pudesse dizer em retorno.
Apesar da inquietação, conseguiu empurrar palavras murmuradas da garganta:
— Então... Bellzinha...
Foi só aquela resposta. Ainda assim, foi suficiente.
A íris da menina parecia brilhar.
O coração bateu mais forte ao escutar o apelido diminutivo, fazendo com que um sorriso espontâneo surgisse em sua face.
Amedrontada quanto uma possível reação negativa, a filha de Ártemis espantou-se diante do semblante contente.
Sem saber o que fazer, virou o rosto na direção de sua mãe, como se buscasse algum tipo de aprovação.
E ela veio na hora, através de uma piscadela. Foi o sinal que despertou, pela primeira vez naquela noite, o sorriso da criança.
As duas abandonaram as indecisões, decididas a construírem a proximidade que suas progenitoras possuíam.
Envolvidas pelo luar, a brisa primaveril e o farfalhar das árvores...
Uma nova amizade nascia.
— Eli... — A voz sussurrou em seu ouvido, fazendo com que abrisse os olhos através de piscadas lentas.
Sentiu a leveza do corpo que a fez se erguer, a fim de observar a figura à sua frente.
Apenas o sorriso animado na face reluzente fora identificado num primeiro momento.
As vistas, embaçadas pela sonolência, foram aos poucos se acostumando com o cenário.
Logo reconheceu o pequeno quarto, iluminado pelos alaranjados raios solares.
— Eli, vamos!
Prestes a adormecer de novo, mesmo sentada no colchão, voltou a ser conduzida pelo chamado.
No entanto a vontade de continuar na cama superou a alegria de escutar a voz familiar.
Quando se deu conta, distinguiu o tom azul-ciano amarrado em coques laterais.
Seguiu os instintos e escolheu se deitar novamente.
Ainda de vistas entrefechadas, encontrou um cintilar róseo se aproximar.
Sem que pudesse cogitar, experimentou o lençol que a cobria ser puxado com força, fazendo-o se abrir no ar em conflito com os feixes naturais.
— Vamos nos aventurar!
Acometida pelo ar frio, a filha de Ártemis tentou abraçar os próprios joelhos dobrados.
Foi impedida ao ser puxada para fora com força.
Arregalou os olhos ao sentir o corpo rolar bruscamente, arrastado até o vazio e derrubado pela gravidade ao solo.
A sensação da queda lhe causou um susto tão grande que a filha de Hebe tropeçou no nada com o calcanhar e desabou com o traseiro.
A queda conjunta foi criada.
Elaine ficou por cima de Bluebell. As duas gemeram de dor em uníssono com o impacto.
Ao entreolharem-se, os rostos bem próximos um do outro, superaram o problema por meio de risadinhas infantis.
— Você dorme demais, Eli!
— Eu quase não dormi... na noite passada...
A cabeça da garotinha repousou sobre o peito da amiga, que exalou uma fraca lamentação ao acariciar seu cabelo.
— Eu sei, mas prometemos, não foi!? Hoje vamos explorar o bosque!
— Eu sei...
Abraçadas, assim permaneceram por alguns segundos.
As caricias recebidas da cerúlea traziam o sono de volta à lunar. Mas precisava se esforçar em prol de cumprir a promessa.
Uma ajudou a outra a se postarem novamente, até que assentiram em conjunto.
Elaine trocou o pijama abarrotado por um vestido confortável. Lavou o rosto, livrando-se da remela, e penteou o cabelo azul-escuro com ajuda da amiga.
O amarrou em um característico laço na altura da nuca.
Depois de confirmar que estava preparada, acenou de novo e, de mãos dadas, foi com a companheira até o lado de fora.
Ver o lado de fora a fez travar no átimo da saída, fazendo a filha de Hebe se virar.
— ‘Tá tudo bem?
— Sim... Eu só... — Vexada, virou os olhos para os dois lados.
— Está tudo bem! — A mão acalentadora apertou mais a da amedrontada, lhe transmitindo segurança. — A gente ‘tá junta!
Sem ter o que dizer, Elaine fez que sim num gesto lento.
Então, Bluebell abriu a porta, de onde veio a lufada do exterior. A noturna se habituou à claridade, encontrando um bonito cenário à frente.
— Mãããe! Tiaaa! — A ciana chamou pelas deusas, que conversavam no jardim. — Vamos dar uma volta no bosque!
— Tomem cuidado, vocês duas.
Ao alerta oferecido por Hebe, ambas sorriram bondosas e se despediram.
Pouco a pouco, as duas — sempre Bluebell na condução — foram até a entrada da pequenina floresta que rodeava o santuário.
— Elas estão se dando muito bem, não é? — Fitou a lunar, com a xícara de porcelana em mãos. — Foi bom que tenhamos feito elas se conhecerem. Acho que precisavam disso.
A anfitriã deu um gole em seu chá, de vistas fechadas, recheada de placidez antes de responder:
— Elaine precisava ter esse primeiro contato com alguém. E a primeira pessoa que pensei foi Bluebell. — Soltou um breve suspiro, encarando-se no líquido morno. — Eu a privei por tempo demais...
A Deusa da Juventude absorveu em silêncio, encarando o líquido que tomava metade de seu recipiente.
— Com o tempo ela irá se soltar. — Tentou lhe transmitir a confiança que tinha sobre as duas meninas. — Assim como minha Bell...
O sol já se punha pela metade no horizonte, enquanto a lua em sua fase cheia nascia sobre o crepúsculo.
O corte entre o fim da tarde e o início da noite trazia uma tonalidade alaranjada sobre as árvores, como se folhas de fogo tomassem conta de toda a extensão fechada.
Grilos e cigarras proliferavam seus sons habituais, a ecoarem entre os troncos.
Movimentações rápidas de cervos farfalhavam a mata.
A trilha tornava-se um lindo cenário cintilante, graças aos raios que cortavam as copas e destacavam partículas de poeira a planarem pelo espaço.
Bluebell liderava o trajeto, até sentir ser agarrada na altura dos ombros pelas mãos estremecidas de sua companheira.
— Falta pouco pra anoitecer. Já ‘tá com medo, Eli!?
A primeira resposta não passou de dois acenos positivos.
As vistas fechadas uniam-se aos lábios pressionados, demonstrando pura aflição a cada avanço às profundezas da pequena floresta.
— Eu... — sussurrou com desconfiança — não acho que consigo, Bellzinha...
— Não se preocupe. Eu vou te proteger.
— Mas... você não tem medo... também?...
— Óbvio que tenho! Mas você também ‘tá comigo, não tá?
Após completar a frase, a filha de Ártemis sentiu-se encorajada a prosseguir.
Os punhos relaxaram, os olhos permaneceram entreabertos. Podia sentir a confiança de sua amiga lhe dominar aos poucos.
Ultrapassaram toda a trilha e alcançaram um local aberto.
O espaço encíclico recheado de folhas secas, onde havia somente uma grande árvore rodeada por outras, trazia boa parte do fulgor solar próximo de desaparecer.
— Viu? Chegamos beeem longe, e...!
Interrompendo a frase motivacional, um barulho diferente ecoou dos arredores.
As duas congelaram, arrepiadas da cabeça aos pés
— A-acho melhor voltarmos... — Elaine puxou a amiga. — Bellzinha!...
— N-não se preocupa! — Tentava manter a aparência corajosa. — Nós podemos...
De novo, o intenso bramido fez a cerúlea engolir as palavras com força.
A partir dessa reação, não foi capaz de esconder o temor deturpado que fazia as sobrancelhas contraírem.
Aproximadas pelo sentimento pávido, deram as mãos a fim de encontrarem proteção mútua, um conforto compartilhado contra o perigo.
Mas sua vulnerabilidade naquele ponto específico do bosque, não poderia ser prevenida de tal maneira.
Um urso pardo surgiu entre os arvoredos, assustando as duas que quase foram ao chão graças às pernas bambas.
Frente a frente com o animal gigante, pegaram-se inaptas a reagir. Somente observavam a aproximação lenta dele, esmagando as folhas sobre a terra com suas patas peludas.
Foi necessário um novo bramido, rente ao rosto delas, para que corressem em meio a gritos apavorados.
Tomaram o caminho atravessado até então, apressadas sem desentrelaçarem os dedos firmes.
A falta de velocidade do animal as permitiu abrirem distância de forma gradativa.
Ele continuou, porém, no encalço delas.
Não demorou até retornarem ao campo principal, perante o grande santuário.
Seus gritos alcançaram os ouvidos das deusas, que prontamente deixaram o recinto a fim de as atenderem no exterior.
Nem perguntaram o motivo do desespero, pois o mamífero invadiu o campo logo na sequência.
Sem pestanejar, a Deusa da Lua saltou dos degraus até alcançar o caminho entre as crianças e o urso.
Levantou a palma direita e, em silêncio, direcionou o olhar afiado contra o peludo.
Os bramidos cessaram e, na sequência, a corrida foi brecada no ato. O temor reverteu-se a ele, que deixou todo o ímpeto caçador esvair defronte a divindade.
Escondidas atrás da Deusa da Juventude, as meninas observaram a reação antinatural do animal, que deu a volta e regressou à mata, como se nada tivesse ocorrido.
Tranquilizada com o bem-estar das duas, a lunar também tornou as atenções à direção do templo.
— Dissemos para tomar cuidado, mocinhas. — Quem resmungou foi Hebe. — Que tal terminarem a exploração de hoje?
Cansadas, as duas deixaram todo o nervosismo acumulado vencer. Portanto, jogaram-se na grama.
Com a passagem do perigo, Bluebell não se aguentou e entoou risadas divertidas, colocando as mãos sobre a barriga.
Elaine a observou durante alguns segundos, até ser contagiada, mas soltou risos mais discretos.
Enquanto aliviavam a tensão de adrenalina que dominava seus corpos, eram observadas pelas duas superiores, repletas de dubiedade no olhar.
Com a sucessão de eventos, a mistura de diversas emoções, olharam uma para a outra.
O céu escurecido já trazia a ínfima iluminação do satélite natural recheado.
A ciana esticou a mão direita, aberta na direção da amiga, guiada por um sorriso eufórico.
— Um dia, vamos vencer aquele animalzão! — Mostrou os dentes ao dizer. — A partir de hoje vamos ficar fortes juntas, Eli!
A filha da lua a observou em silêncio no começo.
A exemplo da coragem de mais cedo, pôde experimentar o contágio criado pela convicção nas palavras da companheira.
Levou o membro canhoto até tocar a palma dela.
— Vamos, Bellzinha! — respondeu positiva, fazendo-a alargar o riso.
Observadas por suas mães, as garotas trocaram suas primeiras promessas sob o luar.
Os olhos marrons se abriram.
A brisa estival fazia os fios do curto cabelo azul dançarem, a exemplo do solo gramado e das folhas das árvores que circundavam o templo.
Como se fosse arrastada de um sonho distante, piscou algumas vezes até dar-se conta de que estava de volta.
Frente a realidade, ergueu o semblante plácido na direção do topo celestial.
O destaque provinha da mesma lua de sempre, próxima de sua fase cheia e envolta por diversos pontos que pulsavam sem parar.
Graças ao inesperado reencontro em Argos, tais memórias regressavam a cada dia mais vívidas e dolorosas.
Empenhava-se para mantê-las enterradas nas profundezas da mente, mas via-se incapaz de abandonar a inquietação.
Após recusar o convite da jornada à Rodes, dedicou-se aos treinamentos com sua mãe.
Não se sentia apta a avançar a um nível exterior se sequer dominava a si própria.
Ficar em Éfeso foi a melhor escolha, pensando nas palavras ditas pela amiga de infância naquele dia...
Eu voltarei.
A curta frase não parava de martelar à mente.
Sempre trazia todas as dúvidas, a inquietação e as lembranças remotas num único turbilhão.
No fim, restava o abraço aos joelhos dobrados, onde afundava a testa e remoía solitária.
O lamento abafado coincidiu com o rangido da porta que se abria em sua retaguarda.
Virou o rosto até fitar a Deusa da Lua, trajada em seu vestido levemente amarelado; o colar de safira e o arco dourado acima da testa chamavam a atenção.
— Então estava aqui, minha querida.
— Mãe... — murmurou. – Vai em algum lugar?...
Através do sorriso benévolo, Ártemis respondeu:
— Atena me chamou com certa urgência ao Olimpo. Preciso atendê-la, mas creio que não levará muito tempo. — Passou por ela nos degraus. — Se quiser, pode pegar um cervo para o jantar.
— Ah. Está bem...
— E não precisa se preocupar com o treinamento. Já conseguiu atingir um bom desenvolvimento nos últimos dias. Tire a noite de hoje para descansar. — Acenou com o braço, um gesto delgado. — Retornarei antes que se dê conta.
— Sim... Boa viagem, mãe...
A voz de Elaine, por mais miúda que fosse, a alcançou antes de desaparecer em direção às Passagens Espectrais.
Após acompanhar a partida dela, aceitou seu pedido para que repusesse as energias dedicadas aos últimos dois meses.
Ergueu-se da escadinha e foi até seus aposentos no santuário. Trocou o vestido que ia até os tornozelos para um mais curto, apropriado para caçar.
Diante do espelho na parede, ajeitou o cabelo e o amarrou nos característicos laços.
“Mais de dois meses”, ponderou. “Como o Gael e os outros devem estar?...”
Todo dia também se questionava acerca do grupo enviado a Rodes.
Chegava a ser estranho, saber que tinha companheiros com os quais podia se preocupar.
Ainda não se sentia acostumada a isso. E, no fim, era levada até ela novamente.
Balançou a cabeça em negação.
Ajeitou a lâmina, presa à manta roxa que passava pelo cinto de pérolas na cintura, e avançou a passos curtos até a saída.
Ainda encontrava dificuldades em prol de abandonar os devaneios pesados de há pouco, porém empenhou-se em focar no objetivo da noite.
Partiu ao bosque.
O choro das cigarras invadia seus ouvidos, mais intensos em comparação ao habitual.
Não passava um problema, pensou. Na realidade, serviam bem como obstáculo para a própria cabeça.
Caminhou por alguns minutos, em silêncio.
Os olhos varriam toda a área pouco iluminada pela noite. Sem alternar as cautelosas passadas na trilha de folhas secas, alcançou a área dos sonhos recentes.
A região que recebia a maior porção de luminosidade lunar, o relvado encíclico rodeado de grandes arvoredos.
Dali não demorou a encontrar o animal que procurava. Estava escondido entre alguns troncos à esquerda.
Cogitou aproximar-se, mas uma sensação peculiar a atingiu, interrompendo seu prosseguimento antes de sequer iniciá-lo.
O mamífero a observava fixamente, pronto para entregar a própria vida sem oferecer resistência.
Com a atenção voltada à sequência do caminho fechado, a apóstola deixou a caça para depois.
Observada pelo cervídeo, ignorou qualquer ruído nos arredores. Instigada pela influência, permitiu ser guiada ao rumo obscuro.
Ao passo que se aprofundava na região pouco acessada do terreno, começava a distinguir as nuances da energia.
Apesar de sua ínfima presença, experimentava bem o peso carregado. Gradativamente, forçava-se a aceitar a natureza dessa, incapaz de não evocar as mesmas lembranças de sempre.
Só voltou a desprender delas quando chegou a um novo ambiente aberto, abandonando a rota florestal.
Deparou-se com uma antiga construção.
Era muito semelhante a um templo, como aquele onde morava junto de sua mãe. A grande diferença situava-se no tamanho, bem mais modesto.
Estabeleceu a fonte da energia exalada; vinha da ruína, em seu interior.
Respirou fundo, criou coragem a fim de atrelar-se à entrada e assim o fez. Na passagem aberta, verificou que o recinto se encontrava vazio.
A exceção vinha de dois pedestais e uma mesa central, onde residia uma silhueta repousada sobre.
Semicerrou as vistas a fim de identificar a dona da pose de pernas cruzadas, acima da pedra retangular.
Centrava-se no maior dos feixes luminosos presentes na extensão silenciosa, proveniente das diversificadas aberturas criadas pelo tempo no teto.
Graças ao banho de luar, a tonalidade rósea do cabelo médio ganhava destaque.
Era a confirmação almejada pela apóstola.
A resposta que mais tinha medo de descobrir...
— Então você veio. — A voz feminina, de tom petulante, cortou a quietude. — Agora que cresceu consegue sair de casa sozinha, hein? Aprendeu a atravessar o bosque sozinha, Eli?
Os olhos, igualmente rosas, abriram-se exalando superioridade, em união a um sorriso convencido.
— Bellzinha...
Do contrário, Elaine esboçava pura tristeza ao contemplá-la outra vez naquela posição.
Sentia menos tensão no peito, apesar de a ansiedade continuar acelerando seu coração.
Era o momento que tanto desejou e renegou durante os últimos dois meses e meio.
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