Volume 7 – Arco 5
Capítulo 129: Dupla Casual - irmã mais velha despreza
Megera se preparou, mas recebeu um novo Tormento Rubro de súbito.
No puro deslocamento de reflexo, cortou as chamas com as garras de sombras, dispersando as labaredas intensas por diversas vertentes.
“Oh...”, notou, por aquela reação inesperada, a diferença de intensidade depositada pela ctónica.
Melinoe abriu um sorriso esporádico, animada em prosseguir com os golpes distantes.
Como o combate corpo-a-corpo não tinha se mostrado tão proveitoso, deveria pressioná-la com a crescente de sua energia ao executar os cortes de média distância.
A erínia pouco se importava. Sabia que aquilo só serviria em prol de gastar o estoque vital da mulher.
Por mais que fosse muito proficiente em combate e controle — já tinha percebido isso, admitia —, jamais lograria da mesma capacidade de retenção que ela.
Ao menos, nesse ponto, considerava sua vantagem imensurável.
Portanto, apenas brincava com ela, desvencilhando as chamas rubras que tomavam sua vertente
Repetia os movimentos, focada em não permitir que o ínfimo dos resquícios permanecesse ativo. Aos poucos, contudo, passou a experimentar uma sensação nada usual.
O show de luzes tirava o fôlego de Calíope, Terpsícore e Clio, observadoras afastadas na entrada do corredor.
Nenhuma delas se questionava sobre os poderes da apóstola, mas a criatura parecia ser pouco — ou nada — exigida.
Porém, algo mais inesperado ocorreu.
Quando Melinoe pisou com força no solo e, pela primeira vez, reduziu sua distância da megera em centímetros cruciais, bradou com ímpeto e disparou uma camada maior de fogo.
A monstruosidade, embora franzindo o cenho, sustentou-se risonha ao decidir lidar da mesma maneira com aquele ataque.
Quando cortou, as camadas da Autoridade Elementar da Escuridão varreram boa parte da condensada Autoridade Elementar do Fogo.
Só que, ao invés de devoraram a outra parte da energia...
— Até que enfim...
A região protegida do braço foi tomada por queimaduras.
De vistas esgazeadas, Megera depositou mais Energia Vital pelo restante do membro, a fim de apaziguar os efeitos inesperados.
Em meros segundos, concordou em ter sido descuidada por conta da presunção de superioridade.
Quando a manifestação sombria regressou ao tamanho de suas garras, encontrou as queimaduras de segundo grau na encardida pele escura.
Por pouco não ficara em carne viva.
Ainda assim, reagiu de maneira casual ao declarar:
— Você realmente é divertida, pirralha!
Ao invés de se irritar ou sentir-se intimidada, alavancou a ferocidade na expressão e na voz.
— Pare de me chamar de pirralha, sua desgraçada.
Melinoe, depois de rebater com uma encarada lancinante, disparou mais um Tormento Rubro.
Dessa vez, a enegrecida não deu chance para o azar e usou ambos os membros, duplicando as lâminas das unhas no intuito de apagar por completo a energia manifestada pela Classe Herói.
Ao mover os braços e as garras em um xis de dentro do peito para os abrir, viu que a mulher e seu manto flamejante havia desaparecido.
Aproximou-se num piscar, flanqueando por baixo. Desferiu o primeiro golpe curto com a Bênção ativada, obrigando-a a se defender no limite.
Uma onda de choque se alastrou com a colisão entre o gume artificial e os naturais, ambos banhados em energia.
Pouco a pouco as chamas ardentes eram absorvidas pelas “nuvens” de escuridão, o que obrigou a ctónica a agir rápido.
Com elevada agilidade, executou um rodopio e pegou a megera de surpresa, na tentativa de atingi-la nas costas.
A erínia também buscou corrupiar-se para interrompê-la, só que Melinoe foi mais rápida e realizou um segundo salto, a driblando no ato.
E disparou tanto um Tormento Rubro quanto um corte seco de extrema proximidade, provocando uma explosão poderosa naquele ponto.
O recinto chacoalhou. Ar quente se alastrou por todos os cantos, a ponto de arrancar gotas de suor das deusas atônitas.
Pouco tempo após o conflito, a filha de Hades saiu do invólucro de fumaça tórrida. Respirava com um pouco de dificuldades.
Mesmo assim, permanecia altiva e divertida.
O sorriso de escárnio se formou, à medida que a silhueta da adversária retornava à forma.
Ela continuava praticamente ilesa. Mas, agora, carregava algumas lesões pelo tronco, além de filetes de fumaça a escaparem do rosto.
Não havia muito o que fazer, ela pensou.
Embora pudesse se revestir no casulo absoluto, acabaria incapacitada de executar o que melhor sabia; atacar.
Ela gostava de vivenciar algum teor de dificuldade ocasionado pela inimiga.
E estava sendo muito bem alimentada no momento.
“Que monstra do caralho”, desabafou a ruiva, enrustindo as sobrancelhas.
Embora ainda não tivesse mostrado tudo que tinha a oferecer, não estava, em hipótese alguma, se segurando.
“Não quero ter que forçar essa merda demais”, mas já começava a cogitar acelerar o processo.
O manto ficava cada vez mais avermelhado, em uma tonalidade bem próxima do sangue. Os detalhes de caveira se tornavam mais grotescos.
Calíope engoliu em seco. Uma aflição diferenciada a dominou enquanto observava, na minúcia, os detalhes da proteção flamejante na apóstola.
Já Megera respirou fundo.
Se a mulher estava ainda se resguardando em algum teor, dela nem precisava se falar.
“Venha... Me mostre tudo que tem, pirralha!”, abriu os braços, como se fosse um convite.
E um desafio.
Melinoe resmungou em puro desprezo e desferiu mais Tormentos Rubros.
Pensando em como ela queria apostar naquilo, a erínia resolveu entrar na brincadeira; fez crescer a quantidade de escuridão nas garras e cortou o espaço, também as disparando.
Engoliram, agora sem imprecisão, todas as labaredas. Todavia, atingiram somente a parede que vinha em seguida.
A velocidade da ruiva recebia um novo acréscimo exponencial, possibilitando-a a desviar e atacar em milissegundos.
Com uma investida quase imperceptível, levantou a capa de fogo, que pareceu crescer na iminência de dominar tudo ao redor dela.
Megera mostrou os dentes grotescos e avançou, contra-atacando.
O longo braço deslocou-se contra o releixo ardente, outra vez provocando o contato agressivo.
No fim, o resultado se repetiu; o fogo foi anulado pela escuridão.
Isso conduziu a apóstola a abdicar de um golpe de sequência, recuando ao saltar.
A enegrecida preferiu se aproveitar da situação, então fechou as garras acima da chapa metálica. Procurou puxá-la de volta, no intuito de arrancar-lhe o membro dominante.
Grunhindo como um demônio, Melinoe perdeu controle da energia por um breve átimo. O brilho nos globos púrpuros cresceu, tal qual o Manto do Inferno outra vez.
Perante o tamanho das chamas começando a cercá-la, a erínia preparou as garras do outro braço.
Os arrastou no solo e buscou um golpe ascendente. A ctónica, ao ver aquilo, inclinou-se à direita.
O tempo de reação beirou a perfeição, a permitindo retomar o controle da energia. Assim, o mar de fogo em sua volta foi reduzido.
E toda a concentração foi transmitida à lâmina agarrada por Megera, causando uma irrupção de Autoridade Elementar do Fogo que a obrigou a largar a arma.
Experimentou as pontas das lâminas braçais sendo queimadas.
Depois, outro corte num giro rápido atentou à encardida, que usou uma repentina explosão de escuridão nas pernas a fim de se desvencilhar.
Mesmo assim, fios do cabelo foram arrancados e imediatamente apagados como pó pelo fogo sangrento.
A Classe Herói almejou um novo golpe, rebatido pelas garras da inimiga, que acabava de aterrissar do último salto.
De novo, um estrondo assombroso se alastrou pelo salão de entrada do Museion.
Sem pensar, Megera afiou o olhar sobre a imagem da Classe Herói, com a guarda ligeiramente aberta.
Um risco a ser tomado.
Uma tentativa atrás de outra, que começavam a ganhar contornos desesperados.
“Merda!!”, fagulhas desbotadas escaparam das bordas do Manto do Inferno.
Megera pôde enxergar aquilo num pequeno milésimo.
Foi o suficiente para fazê-la se regozijar ainda mais.
— Vamos, pirralha!! — Com a oportunidade em mãos, arqueou o próximo ataque frontal. — É hora de me mostrar...!!
Quando parecia improvável que a Classe Herói conseguisse se safar em total integridade, uma lâmina veloz desceu, junto a uma trovoada influente.
A corrente de ar eletrizada se alastrou, obrigando as duas a se afastarem no ato.
— Então é por isso que a tagarela não voltou? — questionou o garoto, que se erguia no centro do palco criado por si próprio. — ‘Tava até agora esperando pra acabar contigo.
Ao se recompor do baque súbito, a apóstola esgazeou as vistas.
— Você...!?
A inesperada interrupção viera do filho de Zeus.
Com o braço canhoto enfaixado, levantou-se com um semblante de poucos amigos para a irmã de sua amiga, já algo bem estabelecido entre os dois.
Sob outra perspectiva, a erínia franziu o cenho, tomada em uma inédita circunspecção.
Podia pressentir algo diferenciado vir daquele rapaz. Ainda que tivesse visto nada em especial do próprio.
Isso só a conduzia a questionar-se sobre a natureza inconcebível experimentada nele.
Uma influência singular e, ligeiramente, até mesmo familiar a ela...
A sensação só aumentou quando ele se voltou até sua disposição. Os globos que remetiam ao céu da noite fixados em seu rosto.
Megera jamais conseguiria colocar aquilo em palavras. Mas estava certa de que...
“Uma aberração apareceu!”
Calíope e Terpsícore, assim como a escondida Clio, também foram incapazes de mascarar o espanto.
Nenhuma delas identificou a passagem do garoto pela entrada do salão, única passagem que dava acesso ao local.
Tampouco a utilização de Energia Vital foi percebida até o momento em que a viram ser manifestada, interrompendo as combatentes.
— Então foi de você que o pirralho do meu sobrinho falou! Foi bastante surrado naquele deserto, né!? — A criatura apontou com uma das garras.
— Então ‘cê é um dos sei-lá-o-quê das Trevas? — Terminou de virar o torso, ficando de frente para a criatura. — Que ótimo. Eu ‘tava precisando tirar o pó mesmo.
— Todos vocês, paridos de deuses, são convencidos assim!?
Apesar do tom irônico, Megera retomou a concentração de energia da escuridão sobre as garras.
No entanto, sequer pôde reagir quando um brilho cerúleo surgiu adiante e desapareceu mais rápido que um piscar.
As vistas esbugalharam mediante a ação no puro instinto, onde juntou os dois braços na vanguarda em formato de xis.
O corte invisível foi evitado na altura do peito, restringindo-se a ferir seus antebraços.
Sangue bastante escuro, a trazer pingos de Ícor pouco brilhosos, espirrou contra o piso de mármore.
Todos os acompanhantes fixaram-se atônitos nas costas de Damon, que reapareceu na retaguarda da inimiga.
Mantinha a espada relaxada, a ponta voltada na direção dos pés sobre o plano.
Como se nada demais tivesse ocorrido, voltou a fitar num giro incompleto do corpo.
Melinoe, após um breve período boquiaberta, voltou a juntar os dentes num estalo de língua.
— Ninguém te chamou aqui, seu pirralho! — rebateu irritadiça, sem perceber que o chamava pelo que odiava ser chamada. — Ela é minha presa! Não se meta na caçada dos outros!
— Ah. Foi mal. — Sem filtro algum, e tampouco interesse no esperneio da desafeta, terminou de dar a volta. — Depois a gente se resolve, beleza?
Tão ácido quanto costumava ser, arrancou uma pontada de furor da ruiva.
Em contrapartida, a enegrecida encarava os cortes superficiais feitos nos antebraços. Tinha sido protegida no último instante pela escuridão.
“O efeito surpresa não adiantou muito”, mas apesar da postura confiante — e até convencida —, o olimpiano escondia sua aflição.
Só pela reatividade daquela que pretendia acertar há pouco, podia imaginar o empecilho desagradável ao alcance dos olhos.
Sem contar as condições das anfitriãs e, principalmente, as da filha de Hades, que estava lutando com sua Bênção ativa.
Engoliu em seco e apertou a empunhadura da espada.
Cercado pelos integrantes do panteão, Megera sustentou a taciturnidade por um breve instante.
Voltou a condensar bastante energia, sem desgrudar as vistas sombrias do novo alvo.
Foi o gatilho para o recomeço.
Antes de a camada do elemento impuro revestir seus braços machucados, a dupla atacou em simultâneo.
Um de cada lado, forçaram sua defesa improvisada.
Os membros posicionados nos flancos da face sofreram o impacto de temperaturas calorosas, embora diferenciadas.
As chamas rubras da ctónica trouxeram queimaduras a sua pele; a lâmina do olimpiano, desprovida de energia, somente adentrou sua carne.
Depois de aguentar os ímpetos semelhantes, os lançou para trás ao abrir os membros com raiva.
A Autoridade sombria enfim revestiu sua pele, mas a dupla pouco se intimidou.
Voltaram a investir de forma ordenada, para espanto maior das observadoras.
A íris de Damon despertou o cintilar também presente em Melinoe. A Bênção foi ativada e, usufrutuário da celeridade sobre-humana, adiantou-se perante a adversária.
A espada foi dominada por raios de coloração semelhante.
Contudo, ao invés de seguir para acertá-la, a fincou no solo.
— Pula!
O grito não foi compreendido pela filha de Hades. Contrariada, arriscou um salto instantâneo.
Em contrapartida, a curiosidade fez a erínia manter as solas conectadas ao plano, preparada para o que viesse na hora.
“Arte do Relâmpago, Terceira Centelha”, ele ergueu as esferas brilhantes do rosto. “Correntes Fulminantes!”
No exato átimo em que raios se alastraram por todo o solo até atingir os pés da criatura.
O formigamento desagradável subiu das pernas até o restante da estatura, a impedindo de se mover.
O efeito elétrico pela superfície fria esvaneceu antes de alcançar as musas, já naturalmente congeladas.
A Classe Herói regressou numa aterrissagem desconfiada, ao tempo que exprimia perplexidade pelo cenho franzido.
O exclusivo saco de pancadas dos últimos dois meses demonstrava uma capacidade além do esperado.
— Usou a corrente elétrico pra me paralisar, hein? Entendo, a sensação que tive não era um engano! — O sorriso vilanesco avantajou. — Quero que me mostre o que tem, pirralho...!!
— Primeira Centelha...
Interrompendo a motivada declaração, o descendente dos céus já apontava a espada para a vertente contrária de onde o corpo mirava.
Talvez fosse fruto da demasiada presunção, mas demorou a identificar a verdadeira ameaça que jazia ao alcance dos olhos.
Quando cogitou agir, já era tarde.
No mínimo, arrancou o braço canhoto da paralisia, a favor de se defender de qual fosse a resolução daquele arrepio.
Essa fração de instante trouxe espanto ao apóstolo, porém a intimidação foi rapidamente varrida quando desapareceu de onde estava.
Como um raio azulado, criou o rastro lampejante durante o caminho traçado até romper a barreira do som.
O impulso revelou-se, a onda de choque estrondeou contra as paredes.
Sangue espirrou pelo vazio. Ninguém piscava ou respirava.
O pedaço de tempo congelou a alma dos indivíduos, tanto pelos efeitos quanto pelos resultados propagados por ele.
O braço escurecido girava no ar.
Na altura do bíceps, o corte exposto já estava cauterizado, evitando novos resquícios de sangramento.
A afligida perdeu o pouco brilho no olhar, petrificado na direção do membro decepado.
— ... Espada Relâmpago.
Após a voz soturna do rapaz, o estampido do trovão ressoou por todo o ambiente.
Viajou os corredores até estremecer as câmaras no caminho, uma por uma, das mais próximas às mais afastadas.
No entanto...
“Ela protegeu o pescoço...”, amaldiçoou a leve curvatura na rota planejada, onde pretendia finalizar o embate através daquele ataque agressivo.
“Está diferente”, Melinoe, mostrando os dentes unidos, não conseguia acreditar no que os olhos contemplavam.
O garoto que sofria humilhações contínuas há pouco mais de dois meses, incapaz de usar a própria energia, agora mostrava estar em outro patamar.
Ele conseguiu, em breves minutos, o que ela jamais tinha se aproximado até então.
Gostaria de resmungar, abominá-lo de alguma forma. Mas o presente cenário não a permitiu tomar aquele partido.
A aparência da erínia se alterou de maneira abrupta; a face inteira enrugou, os globos oculares enfim retomaram os movimentos só para estremecerem.
Afligida pela agonia arrebatadora, jamais experienciada em toda sua vida, acompanhou o braço cortado tombar a poucos metros.
Palpitações acentuadas ecoaram contra o silêncio.
Por certa razão, a ansiedade recaiu sobre todos os extremos do salão, que ainda carregava partículas eletrizadas pelo ar.
— Meu braço... Entendo. Meu braço... — Os murmúrios soavam... conformados. — Você o cortou fora, hein?...
“Mas que...?”, antes mesmo de completar a inquietação, Damon encontrou o olhar perdido da enegrecida.
A ruiva, em paralelo, posicionou a alabarda ante o tronco, já na expectativa do que estava por vir.
Quando as pupilas da megera diminuíram até quase se tornarem um ínfimo ponto em meio à esclera, veias estouradas saltaram por todo o branco.
A influência sórdida irradiada da mulher corrompeu o saguão, sobrepondo a energia deliberada pelo filho de Zeus de imediato.
O iminente perigo se formou dos lábios negros dela:
— Vou matá-los!!!
O veredito assustador precedeu o grotesco giro de seu rosto na direção dos membros da corporação.
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