Volume 7 – Arco 5
Capítulo 128: Punição das Chamas
— Vou matá-los!! Transformarei todos em escultura!!
O coração bateu mais forte.
Todos os ruídos nos arredores desapareceram num estalo, até as pernas da anfitriã começarem a ser tomadas pela petrificação.
Foi tudo muito rápido. Ninguém ali pôde reagir...
— Polímniazinha!!!
A exceção foi Thalia, que gritou desesperadamente ao conferir parte do ocorrido, ainda protegida pelo corpo de Gael.
Aquilo atrasou um pouco a situação de sua cura, mas não havia o que fazer.
Quando as filhas da sabedoria finalmente alcançaram o segundo hall do aposento particular, o desastre já estava anunciado.
Silver reagiu rápido e, concentrado nos membros inferiores da criatura, puxou a companheira de treinamentos antes de desferir uma rápida incisão de Autoridade Elementar da Água.
Medusa recuou num salto, sem se importar com as perseguidoras, prontas para a encurralar na passagem.
Usufruiu do deslocamento flexível a fim de driblá-las e seguir em frente, na vertente do menino desacordado.
“Vou matá-los”, tentou aproveitou o embalo do caminho e mirou os pescoços de Gael e Thalia.
“Vou matá-los!”, pegou impulso num salto vertical, preparou as garras.
“Vou matá-los!!!”
Rangeu os dentes e, no momento decisivo, foi pega de surpresa por uma flecha que zuniu à sua frente.
“Apelo: Me perdoem por isto.”
O aviso de Julie antecedeu a detonação que criou a cortina de luz branca, impedindo a troca de olhares de qualquer indivíduo no local.
Foi o estopim para a sequência de confusões no interior recheado de tensão.
Helena caiu no chão, estremecida de medo, conforme Polímnia terminava de ser petrificada por inteira; filetes de sangue escorriam pela face dela, como se estivesse chorando.
O filho de Apolo não resistiu na sustentação do foco de energia, portanto foi incapaz de concluir a cura nos ferimentos da Musa da Comédia.
Por sorte, ela já não se situava mais em perigo, desprezando a agonia física em consequência da agonia emocional.
A Rainha das Górgonas, responsável por iniciar a caótica cadeia de eventos, arriscou-se nos demais sentidos em prol de alcançar Crisaor.
Mesmo cega graças à cortina de luz, pôde carregá-lo em segurança até uma das laterais do recinto.
Através de um golpe poderoso, destruiu a parede e tentou fugir dali antes que o fulgor esvanecesse.
E o desgaste vital de Julie fez o efeito passar mais rápido em comparação ao habitual.
O filho de Poseidon foi o primeiro a reabrir os olhos. Enxergou a cena adiante, enquanto a lanceira fora a próxima a se recompor à claridade.
Nenhum dos dois encontrou a mulher-serpente. Tampouco o menino bestial.
Restavam as condições adversas.
O peso logo recaiu sobre os ombros dos jovens descendentes divinos, que ainda não sabiam lidar com tais reveses em profusão.
— Você facilitou a fuga dela — resmungou o prateado, algo além de seu modus operandi.
— Encarecidamente, peço que se acalme — interveio a púrpura. — Embora isto seja um fato, Julie anteferiu tão somente a plenitude de todos os presentes.
O rapaz, primeiramente, indagou consigo se ela tinha ideia quanto a com quem falava.
Como parecia ser respondido pelo semblante circunspecto daquela que enunciava palavras extravagantes, não encontrou formas de rebater.
No entanto...
— Senhorita Polímnia!! — Helena gritou, a plenos pulmões, enquanto a petrificação subia o peito da musa. — Não!! O que fazemos!? Ela vai...!!
Ao ver que ninguém ali tinha alguma resposta a dar, o baque veio cruel ao coração da Classe Iniciante.
— Não se perca em desespero, minha jovem. — O murmúrio sorridente de Polímnia a fez congelar. — O amanhecer não está tão distante...
Lágrimas surgiram nas vistas estremecidas da ruiva, que virou o rosto corado, incapaz de observar a finalização daquela cena.
Thalia, ainda derrubada, tentou se erguer. Já podia, ao menos, ficar sentada.
Mas, ao esticar o pequeno braço, notou ser inapta a alcançar a semelhante, que a fitou de esguelha.
Nenhuma palavra foi trocada entre ambas. Apenas o rosto da lilácea tornou-se pedra, até o último fio do cabelo.
Gael abaixou a cabeça. Silver desviou o olhar. Os dois, pela primeira vez, compartilhavam o mesmo sentimento de pesar.
Já Chloe apertou com pujança o cabo da lança dupla, irritada com o inédito fracasso.
“Aviso: Minha irmã...”, a voz penetrante de Julie a fez recobrar o foco.
— Eu sei, Julie. Senhorita Euterpe está no corredor. — Deu a volta sem hesitar mais um segundo.
O aviso foi passado também aos demais, porém o choque os fazia apenas escutar e não reagir.
Apenas o prateado apresentava-se capaz de se mover.
Desgastes físico e mental eram intoleráveis no momento.
Esse era o preço a pagar por um plano de batalha que parecia funcional a princípio, mas tornou-se contraproducente.
Não fosse o considerável, ainda sentia zumbidos nos ouvidos graças à constante exposição aos ataques sonoros da tutora que corria para salvar.
E o tempo seria, meramente, outro empecilho no trajeto espinhoso que se formara naquele templo.
Uma nova vítima poderia florescer daquele caos a qualquer instante...
Medusa já estava bem adiantada pela passagem fechada.
A preocupação fundamentava-se na criança ensanguentada em seus braços.
Não se importava mais com as esculturas feitas por seus olhos. Só queria salvar o pequeno desmaiado.
De sobrancelhas arriadas, prossegui até reencontrar a estátua de Erato. Diante dela estava Euterpe, ainda chocada pelo encontro.
Naquele estado, jamais seria capaz de antever a chegada da criatura, que mudou de ideia e decidiu aceitar o presente.
“Torne-se mais uma bela obra, maldita!!”, deixou o desejo vingativo gritar dentro de si, preparada para o bote.
Mas quando se aproximou das vistas cercadas pelo pranto silencioso... um som estranho ecoou.
Ao mesmo tempo, sem nem notar, a visão esquerda foi cercada pela escuridão.
“Hã?”, restou a indagação indefinida, movida pelo absoluto silêncio que veio a seguir.
Paralisada, percebeu tardiamente a dor que se alastrou por toda a vista canhota.
Um punhal estava fincado nela.
Sangue passou a escorrer como lágrimas.
A perfuração repentina ainda demorou a enlouquecê-la. Parecia que a ficha ainda continuava a cair.
“Mas... que merda...!?”, atordoada, deu dois passos para trás.
Então, a lâmina foi puxada de volta por uma força contrária, fazendo mais líquido rubro espirrar para fora.
A agonia indescritível quase a fez perder a consciência. Sabia que, se isso ocorresse, seria capturada junto com o menino.
Esforçou-se a fim de manter-se de pé, sem desmaiar.
Pela boca arreganhada, inspirava e expirava todo o ar que conseguia.
Ao levantar o rosto atônito, voltou a encontrar os olhos de Euterpe, não tão vulneráveis quanto há poucos segundos.
Agora, eles eram protegidos pela palma de outra pessoa, de maior estatura, postada na retaguarda dela.
Dessa forma, conduziu o olhar à respectiva.
Escondida por uma máscara que expressava tristeza, a tensão se elevou tanto quanto o arrepio por sua espinha.
— Então foi você que fez toda essa bagunça — afirmou com seu tom de voz carregado. — Eu não estava em meu melhor dia. E você teve a coragem de invadir nossa casa... e fazer isso com minhas irmãs.
Pela primeira vez naquele lugar, a Rainha das Górgonas experimentou um gosto pavoroso atingir suas papilas.
Não podia contatá-los com perfeição. Nada obstante a isso, sentia-se fuzilada pelo olhar mortífero detrás da peça branca.
Por um átimo, esqueceu-se da agonia de ter o órgão ocular perfurado.
Jamais esperara, afinal, confrontar uma influência tão brutal vinda de uma daquelas deusas.
— Parece que... — A Trágica carmesim puxou sua irmã para trás. — Vamos ter que pisar em cobra, hoje.
O novo obstáculo encontrava-se posto diante de seu ato final de escapatória.
Com Crisaor incapacitado sob o braço, o delicado impasse afligiu os pensamentos da criatura.
Forçar a passagem e escapar da musa esguia, ou enfrentá-la com o somatório de problemas que trazia consigo.
Fosse um ou outro, nenhuma saída seria simples.
“Essa sensação...”, a Musicista enfim despertou do estado de choque. Encarou as costas largas da irmã. “É a personalidade irritada da Melpi...”
Como se o acaso jogasse a desfavor, um portal escuro surgiu num piscar, logo atrás da górgona.
A aura insólita irradiada daquele vórtice espacial trouxe um abalo ao ímpeto poderoso de Melpômene.
Ela franziu o cenho, sem medo de estar, agora, cercada pelas imprevisibilidades inimigas.
A tragédia estava longe de terminar.
No saguão principal do santuário, a destruição se construía em profusão.
As aberturas no teto e nas paredes permitiam o ar fresco da noite invadir o local.
Essas leves correntes eram incumbidas de varrerem parte da fixa cortina de fumaça, revelando as figuras ali presentes.
Calíope apoiava um dos joelhos no piso. Os olhos se esgazeavam em detrimento do habitual semblante sorridente, inexistente naquele momento.
Logo adiante, a imagem da irmã mais nova tinha o corpo ensanguentado.
Terpsícore carregava inúmeras lacerações pela extensão do tronco. O olho direito havia sido destruído por um corte profundo.
Só que nada disso era tão grave quanto ao braço destro, arrancado pela metade na altura da ulna.
— Você é beeeem resistente! Receba meus cumprimentos, dançarina! — Megera mostrou sua enorme envergadura ao abrir os braços. — Mas estou decepcionada. Se você realmente for a mais forte daqui, então será muito mais fácil. Todo esse tempo que me segurou será em vão.
— Não... — Terpsícore quase se engasgou com o próprio sangue ao murmurar. — Não pode... ser em vão.
O riso confiante que brotou no semblante da Musa da Dança fez uma das sobrancelhas da erínia se contorcer.
Mesmo num estado deplorável — à beira da morte não seria um absurdo dizer —, demonstrava tanta bravura quanto um espartano treinado.
Ligeiramente tocada com o comentário, a criatura de trevas direcionou o olhar às portas que davam início ao grande corredor.
Lá estava outra das nove irmãs, tentando esconder-se atrás de uma das alas.
Clio apertava a borda do batente. A feição contorcida tentava não revelar sua aflição.
Por meio de um riso preso, a criatura a ignorou. Pelo menos durante aquele momento, já que mataria todos, um por um.
A seguir, caminhou a passos curtos na direção da turquesa. As enormes garras se estalavam de forma grotesca.
Estavam prontas para finalizá-la.
“Vamos ver...”, sorriu com perversidade ao travar a mira no peito da mulher. “Vou degustar o coração!”
Calíope, logo atrás, pensou em se levantar para evitar o pior, a despeito de seus ferimentos.
— Arte do Submundo, Quarta Morte! — Uma voz petulante chamou a atenção de todos. — Pilares do Inferno!
Quando finalizou o passo seguinte, a erínia foi pega de surpresa. Um pilar de chamas rubras surgiu, em um piscar, debaixo de seus pés.
O gêiser poderoso atingiu o teto e levantou boa parte dos destroços nos arredores, os carbonizando em segundos.
A iluminação abrasante trouxe vida ao salão obscuro durante o período decisivo, onde a Autoridade Elementar do Fogo engolia a adversária sem lhe permitir escapatória.
A Eloquente desistiu de se mover. A Dançarina arregalou os olhos, a exemplo da mais velha.
— Que chatice. Eu só queria ficar um pouco em paz e isso acontece — resmungou a ruiva, que surgiu do lado de fora do templo. — Como que aquela Deusa da Sabedoria não alertou sobre um possível ataque aqui dentro!? Será que ela ‘tava muito emocionada pra isso!?
A Apóstola de Classe Herói, Melinoe, carregava a enorme alabarda de dupla lâmina na mão destra.
Dando pouca importância à situação, tirava cera do ouvido com o mindinho canhoto.
Sua expressão carregava tanto descontentamento quanto o tom no qual anunciou sua chegada.
As musas não souberam como responder à filha mais velha do Deus do Submundo.
Restou a espera pelos frutos que o poderoso ataque surpresa traria.
Ainda detrás da porta principal, a Historiadora exalou um suspiro preenchido de alívio.
Mas...
— Ah, tão quente... Eu gosto disso — regozijou a erínia, ao mover as garras destras e dissipar o pilar de chamas. — Mais um pouco e eu seria atingida de verdade. Talvez se sua intenção assassina fosse menos evidente, pirralha.
— Agradeço a dica, sua monstruosidade. Mas sinceramente, fico feliz que tenha sobrevivido a isso... — A desafiante mostrou os dentes num sorriso de escárnio. — Seria muito sem graça morrer sem, ao menos, me divertir um pouco! Estou há mais de dois meses no tédio, sabia!?
Pela primeira vez, os olhos enegrecidos da entidade ameaçadora contataram o rosto da ctónica, que exalava um espírito sanguinário do semblante.
Foi o suficiente em prol de despertar um súbito desejo de a desmembrar, o mais lentamente possível. As musas não seria problema algum, já contava com essa determinação.
Só que, apesar da confiança exalada junto à petulância natural, a própria apóstola não tinha certeza sobre a possibilidade de vitória.
Não que a habilidade utilizada fosse a mais poderosa de todas. Mas vê-la ser dissipada com tamanha facilidade, como se fosse um tênue fio de poeira, entregou tudo que ela precisava saber.
“Eu reclamei daquela maldita, mas foi por isso que ela me enviou, né?”, afiou o sorriso e girou a alabarda. “Espero que ela me dê uma bela consideração quando eu voltar!”
Em sua mente, nada além da imagem do triunfo foi posta no topo.
A Energia Vital correu por todo o corpo, até ser canalizada da palma dominante à arma escura.
Ajeitou a postura ao posicionar a alabarda atrás de si. Não demorou até que camadas de chamas se criassem sobre as duas lâminas.
Megera lambeu os beiços, em excitação ao desafio que a inimiga propunha.
Contornou o restante do corpo, delegando foco absoluto a ela. Nem se preocupava com qualquer chance de ser atacada por trás pelas mulheres inertes.
A filha de Hades riu e, sem hesitar, realizou um salto veloz à passagem inicial do recinto.
Chegou até bem próximo de onde se encontravam as figuras presentes.
— Saiam daí! — gritou até as musas adjacentes, que executaram as ordens. — Arte do Submundo, Terceira Morte: Tormento Rubro!!
Balançou a lâmina da frente em diagonal, disparando uma onda de fogo contra a erínia.
O sorriso vil se alargou em proporções grotescas, até que o impensável ocorreu:
Camadas escuras envolveram as enormes garras.
Num frenesi, desceu o braço canhoto e disparou rajadas negras que entraram em contato com as chamas.
E as engoliram.
Para piorar, tais “lâminas” se tornaram ainda maiores, prosseguindo em direção à ruiva.
“Isso é ruim!!”, pensou ao girar a segunda lâmina da arma, no intuito de rebatê-la.
Mas no último instante, preferiu forçar o próprio corpo a se abaixar, evitando o contato consigo.
No fim, os disparos escuros cortaram o teto e seguiram adiante, até desaparecerem de vista.
Por ironia, o recinto se iluminou mais, com o alastro do luar daquela noite.
Melinoe, ao aterrissar, olhou por cima do ombro em um rápido suspiro.
O riso no rosto agora apresentava certo contorcionismo. O mais puro escárnio.
“Essa desgraçada...!”, apertou com ímpeto o cabo da alabarda, como se em busca de controlar as emoções.
— Autoridade Elementar da Escuridão!? — rugiu. Em sua voz, exalava imodéstia. — Suas unhas são suas próprias armas, é!? Sua monstruosidade!
“Como pode ser capaz de usar Energia Vital sem um ponto material para a canalizar!?”, em sua mente, exalava tensão. “Merda. Isso é ruim...”
Flashes de memórias deturpadas começavam a martelar em sua mente.
Chegou a levar a mão livre sobre a têmpora. As circunstâncias estavam mudando mais rápido do que ela esperava.
— Está impressionada? Não lhe julgo, mas creio que você mesma tenha respondido. — A mulher balançou o cabelo encardido. — Eu sou uma monstruosidade!
Devidamente afastadas, as anfitriãs não se acostumavam a assustadora capacidade da invasora.
Só desconhecia o que era pior: isso ou o fato de que a convidada à frente pudesse se equiparar numa batalha.
A Eloquente se esforçava para cuidar dos graves ferimentos de sua irmã.
O sangramento do olho direito já tinha sido estancado, restando as profundas lacerações e a abertura do braço.
Por outro lado...
“Isso me enoja.”
A descendente do Submundo perdia a batalha contra os respectivos sentimentos.
— Não se sinta tão acuada com isso, pirralha! — Megera se deliciava. Abriu os braços, agora repletos de escuridão. — Venha! Vamos dançar um pouco!!
Melinoe, com sombras nos olhos contraídos em puro ódio, mordeu o lábio inferior. A ponto de arrancar um filete de sangue da carne...
As lembranças já tinham se estabelecido.
Não havia mais escapatória.
“Essa merda impura...”, a escuridão que assolava sua irmã mais nova ganhou mais vida do que nunca.
— Só de ver eu já fico puta!! — Um sorriso maníaco se desenhou em sua faceta.
A erínia só se deliciava, mais e mais, com as “evoluções” da adversária divina.
A Autoridade Elementar do Fogo voltou a preencher as chapas metálicas sinuosas da alabarda.
Melinoe flexionou as pernas e saltou sem medo, no intuito de um ataque corpo-a-corpo.
A velocidade que irrompeu o ar, como se quebrasse uma barreira invisível, despertou arrepios nas espectadoras.
“Arte do Submundo, Segunda Morte: Navalha Flamejante!!”
A ínfimos metros da criatura, executou um corte seco sobre seu pescoço.
Megera juntou os braços na velocidade do pensamento, em prol de bloquear a investida.
Por mais que o fogo das lâminas, em nova colisão com a escuridão vital, passasse a ser absorvido... ela guardou um detalhe triunfal.
A erínia se espantou quando a explosão ocorreu, a envolvendo sem que pudesse sugar toda a energia flamejante a tempo.
No fim, as duas saíram da nova cortina de fumaça com meros arranhões.
— Heh! — A criatura ainda disparou novas lâminas escuras.
Melinoe desviou delas e agachou-se, no objetivo de atingir as pernas da monstruosidade.
Essa executou um salto que dobrou os joelhos para, na sequência, chutar violentamente a costela da ctónica.
Ela teve a destreza perfeita para recuar a arma e se defender ao máximo dos danos. Mesmo assim, o golpe foi impactante o bastante para a lançar contra as paredes.
Uma onda de choque considerável passeou pelo âmbito.
Quando os pés voltaram a tatear o solo, outro gêiser surgiu de súbito a ascender do piso escaldante.
Um casulo de trevas cobriu sua estatura e evitou novos danos, além de “cancelar” a proliferação das chamas.
Só que ela se descuidou e, quando estava pronta para deixar a proteção negra, pilares sequenciais surgiram de novas vertentes.
O clima tórrido do salão não perdoava nem as musas, abismadas diante a magnitude avassaladora de cinco colunas de fogo a pressionarem a poderosa ameaça.
“Esta jovem é incrível”, Calíope piscava com lentidão.
Conforme recitava os pensamentos, a própria se erguia dos escombros, sem remover a extremidade inferior da alabarda do contato com o solo.
Sentia a dor latejar nas costas e na região atingida, mesmo ao ter defendido. Fios de sangue escorriam da testa, aberta durante a colisão.
O sorriso, entretanto, voltou a dar o ar da graça.
Mas como esperado, o casulo obscuro se expandiu a tempo e absorveu todas as cinco fontes de fogo do local.
Quando tudo se apagou, Megera abandonou o envoltório.
Nenhum sinal de lesões teciduais podia ser identificado em qualquer membro exposto.
Era a clara mensagem que passava; a quantidade de esforço depositado em derrotá-la se provava inútil.
— De fato, você é muito mais divertida! Mas ainda não deve ser o suficiente...
— É mesmo? Então acho que eu realmente te subestimei. — Os olhos roxos irradiaram um brilho intenso.
— Subestimou?... — A megera aproximou os cílios.
— Sabe... Eu acabo me limitando um pouco quando luto com alguém. Mas não é de propósito... — Os fios do cabelo alto dela começaram a menear, sozinhos. — É que senão eu venço fácil demais!
— Que interessante. — Mostrou os dentes. — Posso dizer o mesmo, pirralha!
— Então... — Uma influência diferenciada alastrou-se por boa parte do Museion. — Que tal a gente se soltar um pouco, hein!?
Por um momento, a convicção absoluta de Megera foi inibida.
À medida que o fulgor ocular da apóstola se elevava, grossos revestimentos de chamas escarlates se reuniam em torno dela.
Era como se a aura visível passasse a ser tangível, formando faixas bem delineadas de acordo com os membros envolvidos.
Umas se interligavam à base do cabelo que ia somente até a nuca, originando uma espécie de capuz.
O cintilar púrpuro proveniente da íris de cada globo uniu-se à emitida pelas roupas de fogo.
Uma inédita pressão resplandeceu pelo campo de batalha.
— Bênção: Manto do Inferno!
A filha de Hades se exibia como nunca.
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