Volume 7 – Arco 5
Capítulo 125: CAOS no Museion
A primeira a reagir prontamente ao abalo no templo foi Erato.
Não hesitou em sair de seus aposentos, deixando para trás a porta com a marca da lira cinzelada em dourado.
Os fios magentas oscilavam a cada passo apressado pela extensão do grande corredor.
O senso de urgência era validado pelo clima nefasto que se alastrava por todo o ambiente.
Através de um rápido pensamento lógico, que considerava a magnitude do tremor e os ruídos decorridos, imaginou que o impacto tinha sido proveniente da entrada principal.
Não deixava de torcer para que tudo estivesse em perfeita ordem.
Talvez fosse resultado do treinamento de algum dos jovens convidados, então a preocupação logo seria varrida.
No entanto uma anomalia irreconhecível surgiu no meio de seu caminho.
Obrigada a frear a corrida por instinto, a Poetisa enxergou o vórtice negro rasgar o espaço vazio.
A sensação desagradável lhe fez tremular as sobrancelhas.
Uma figura surgiu em meio ao portal.
Não bastasse a situação logo à frente, foi tomada por um arrepio indescritível na retaguarda.
Tentou girar o corpo no reflexo, só para ser atingida por um choque sem precedentes. À medida que o corpo inclinava para trás, percebeu a ausência de todo o antebraço esquerdo.
De vistas arregaladas, foi acometida por uma dor angustiante. Dali se espalhou por todo o corpo, a obrigando a se empenhar no intuito de não ir ao chão.
Sangue recheado de pontos dourados, o Ícor, que representava a linhagem divina, foi derramado em profusão.
Precisou retornar o giro interrompido na metade, em prol de observar o responsável por lhe atacar.
Ao fazer isso, foi tomada por arrependimento graças a todo o descuido.
Olhos acastanhados brilharam em meio à escuridão parcial do recinto.
Estavam próximos demais, o suficiente para não lhe permitir qualquer chance de fuga.
Não havia mais como se livrar da maldição.
Primeiro veio uma intensa descarga elétrica, que lhe estremeceu por inteiro. Em seguida, as pernas congelaram na superfície, incapazes de receberem os comandos de movimento.
Ao encará-las, constatou a razão do temor que esmagava seu peito.
Já na altura dos joelhos, os membros haviam se tornado pedra. E assim seguia, até as coxas e, após isso, ao quadril.
Amargurada no puro desespero, Erato era tomada pela petrificação.
Logo seria coberta até a cabeça, portanto utilizou o tempo que restava no intuito de decifrar a identidade dos invasores.
Diferente do cogitado, quem arrancou seu membro e quem a petrificava eram pessoas diferentes.
O menino de cabelo castanho-escuro segurava o antebraço, envolto pelas garras formadas das próprias unhas.
Em paralelo, as serpentes deram o ar da graça com força, prendendo o resquício de sua atenção nos sibilos afiados.
Sem poder mais mover o rosto, visto o efeito congelante na altura da garganta, reconheceu a figura que deixou de vez a passagem espacial.
— P-por que você...!?
Incapaz de dar complemento à indagação aturdida, deparou-se com a faceta de escamas douradas carregada pela Rainha das Górgonas.
Nenhuma sílaba a mais pôde ser proferida; a estátua já estava completa até o último fio de cabelo.
Medusa contemplou o mais novo trabalho.
Sentia êxtase pelo semblante de desespero da musa, entalhado para a eternidade.
O dominador da Autoridade Cinética do Espaço observou a dupla do outro lado, sem descer à passagem onde os deixou.
— Crisaor. Há mais desgraçados espalhados por aqui. — A criatura apontou para a sequência recheada de entradas. — Encontre-os e mate todos. Sem dó.
— Sim.
O pequeno assentiu com a cabeça após delegar a resposta verbal.
Jogou de lado o membro ensanguentado da petrificada e fez seu caminho até as primeiras portas.
— Essa estátua ficou mais bela do que eu imaginava. — Ao passar a palma enrugada sobre o rosto imóvel da Poetisa, assentiu. — Quero fazer outras. Teríamos espaço para levá-las comigo?
— Como quiser — respondeu Arlen, sem emoção aparente.
Ainda assim, Medusa sorriu, interessada.
Deu o sinal a Arlen ao retomar a postura adiante ao que era apresentada pelo corredor.
O encapuzado respondeu com o silêncio ao recuar e fechar a passagem encíclica.
— Achava que isso seria chato, mas... — O trajeto mostrava-se livre a favor da invasora. — Acho que posso me divertir um pouquinho.
Entretanto preferiu dar a volta no objetivo de verificar as passagens iniciais, no itinerário inverso do tomado por Crisaor.
Tendo diversas opções pelo caminho, atentava-se a qualquer detalhe que demonstrasse alguma relevância.
Todas as estruturas retangulares eram banhadas em prata, além de portarem a mesma marca da fachada do santuário.
Só que não demorou muito até achar uma exceção à regra.
O símbolo de uma flauta reluzia em ouro. A mulher-serpente estreitou o olhar e, sem pestanejar, chutou a estrutura com agressividade.
O rangido estridente rasgou o silêncio, mas foi só. O cômodo inicial tinha somente alguns castiçais apagados, sem qualquer presença de indivíduos.
Apesar disso, escolheu ratificar a real ausência ao caminhar na direção da passagem seguinte.
Contando com o auxílio das sensitivas víboras em sua cabeça, esforçou-se para desvendar uma possível habilidade de ocultamento.
Se fosse o caso, pensou, seria muito desconfortável de lidar.
Varreu todos os cantos da alcova através das vistas animalescas, ao que moveu a maçaneta da porta adiante.
No novo recinto, também silencioso e escurecido, não constatou a presença de qualquer indivíduo.
Sem novos compartimentos a explorar, aceitou o insucesso e regressou ao corredor.
Novos tremores se espalharam pela passagem principal assim que voltou a encarar as portas restantes.
— Ela é totalmente diferente das outras. Só quer diversão e destruição — murmurou, em recordação ao convite feito pela erínia idealizadora do ataque.
“Pelos resquícios de energia que senti na floresta, a garota que matou Euryale não deve estar aqui. E sobre a Stheno...”
Um brilho odioso tomou conta de seu olhar.
Lembrou de ter experimentado uma influência familiar na última visita à floresta, onde suas irmãs foram derrotadas; no caso, essa deveria estar interligada com o desaparecimento de Stheno.
Identificar o mesmo resquício ali, dessa vez um pouco mais forte, a fez arrepiar dos pés à cabeça.
Voltou a avançar, dessa vez a passos mais apressados.
Após uma breve caçada, os animais sibilaram enervados, a obrigando a brecar o prosseguimento no mesmo instante.
Para captar alguma perturbação, concentrou-se em um absoluto silêncio, à medida que os répteis se movimentavam agitados ao redor da face.
Não demorou até uma melodia adocicada alcançar seus ouvidos.
A estranha intimidade, ressoada pelos ecos espalhados por todo o corredor em questão de milésimos, varreu o foco da criatura durante um breve átimo.
As luzes acesas nas paredes se apagaram num efeito cascata, fazendo com que o breu a envolvesse por inteiro.
Só assim pôde recobrar a concentração que, num ato de puro ímpeto, a fez abaixar o corpo.
O zunido passou sobre a cabeça e atingiu duas das serpentes, as arrancando do couro.
A dor insólita lhe trouxe um tremor a todo o corpo, mas não houve tempo de sequer ceder a ela.
A flecha, quase invisível nas trevas, ganhou um efêmero brilho alabastrino que se elevou mais rápido que o pensamento.
Uma explosão de Autoridade Elementar da Luz a engoliu.
“Merda!”, amaldiçoou a tática de anular sua maldição com o efeito brilhoso, a impedindo de manter os olhos abertos sem proteção.
Sem tempo a perder, Medusa identificou uma segunda presença e recuou dois saltos rápidos.
Mesmo ao deixar o epicentro da explosão luminosa, ainda precisava bloquear as vistas.
Tampouco as serpentes podiam enxergar em meio à poderosa luminescência.
Restava delegar todos os sentidos à audição, a fim de descobrir os responsáveis pelo ataque surpresa.
A figura que a fez recuar, contudo, realizou outra aproximação. Pôde identificar, através da oscilação do ar, um golpe direto de empalamento contra seu peito.
Defendeu-se no instinto ao posicionar os braços, em xis, na frente do tronco. Depois, moveu-se dois passos à esquerda, fazendo a lança passar ao seu lado.
“Desgraça!!”, num relance, pôde abrir os olhos em um ponto cego do cintilar intenso.
Embora afligida pela dor nos órgãos expostos, pôde fitar os fios púrpuros dançando à sua frente.
Buscou o rosto dela a fim de ativar a petrificação, o último recurso possível diante de tamanha desvantagem.
Só que, ao agachar o corpo e fixar na face dela, encontrou-a da maneira que deveria permanecer; de olhos oclusos.
Quem fosse, conhecia a natureza de sua petrificação. E tinha antecipado isso desde o princípio...
A ficha começava a cair. Como tinha demorado a considerar aquele fator, se fez a pergunta ao ranger os dentes, enfurecida.
Rugiu como uma besta e tentou acertar a agressora com as pernas, mas o recuo foi antevisto.
Sangue quente escorreu dos cortes em cada braço. Para sua sorte tinham apenas rasgado pouco da pele e da carne, ao invés de terem sido perfurados.
Seria uma dor de cabeça maior lidar com tal cenário.
Com a ajuda de algumas serpentes, pôde abrir um pouco da vista esquerda para analisar as feridas.
Se alguma vez tinha agradecido às escamas resistentes, não fazia ideia.
Só sabia que pensar nisso de forma positiva a trazia ânsia.
— Alguns milímetros além...
O resmungo da garota, descontente com o erro de cálculo derradeiro, foi absorvido por ela junto a um novo choque.
“Essa energia...”, conforme a luz branca começava a esvanecer, Medusa passou a reabrir os olhos.
— É a mesma...!!!
Quando o intervalo entre as primeiras colisões enfim a permitiu notar, encontrou a imagem da lanceira a poucos metros.
Seu cabelo caía somente até a altura dos ombros, pois amarrava-o em um coque aberto sobre a nuca.
Em porte da arma de lâmina dupla, manteve as vistas fechadas, a fim de evitar a petrificação alheia.
— Vossa presença neste recinto é deveras intrigante, Rainha das Górgonas. — Recobrou a postura ereta, a lança posicionada ao lado do tronco. — Pela incumbência por estorvar nossos significativos ensinamentos, conquistados mediante demasiada obstinação, não planejo lhe poupar.
— Sua influência consegue ser nojenta igual a daquela mulher...!! — Abriu as mãos, em revelação às grandes garras. — Retiro tudo que tinha dito até agora. Eu achava que ia ser chato e, depois, que seria divertido. Mas agora é questão de honra...!! Te petrificar aqui e agora será a primeira retribuição por tudo que aquela desgraçada fez conosco!
— Tudo ao que se refere não passa de consequência concebida por vossos atos — rebateu ao girar a arma longa. — Caso não almeje a remissão, portanto arque por tais.
— Assim como ela, vocês, deuses, só enxergam e escolhem o que lhes convêm! É por isso que todos serão eliminados como escória!!
Exaltada, a mulher-serpente avançou em busca de lacerar a inimiga com as garras.
Chloe, porém, desviou mais uma vez, através de um pulo ligeiro.
Aberta nova distância, buscou um contragolpe empurrando a arma afiada, mas a górgona também se desvencilhou ao flexionar as pernas contra o chão.
“Se é assim...!”, de corpo já agachado, tomou a nova decisão através de um riso grotesco.
Desceu os seios e as mãos ao solo gelado, onde começou a rastejar em altíssima velocidade.
Esgueirou-se a exemplo de uma verdadeira cobra até cercar a vanguarda da garota, de volta à escuridão local.
O semblante circunspecto dela, como se não temesse a ameaça representada por tal investida, arrancou um resmungo interior da górgona.
Virou à direita numa curva rápida e preparou as garras no intuito de afetá-la.
Contudo, sem que pudesse prever, a fraca melodia tornou-se uma pressão musical ensurdecedora.
A desorientação lhe acometeu num piscar. O agressivo ruído começava a machucar seus ouvidos. Prestes a sucumbir ao solo, perdeu de vista a imagem da apóstola.
Precisou recuar no mesmo ritmo que avançou, em vista de se afastar do som vibrante e recuperar os sentidos.
“Quem fez isso!?”, tentou reorganizar os pensamentos, também quase inaudíveis graças ao zunido que restou.
À procura de outros indivíduos na extensão obscura, viu um brilho efêmero rasgar a escuridão.
A flecha explodiu em uma nova camada luminosa.
“De novo!!?”, a desvantagem tornava-se gritante à górgona. “Merda...! Quantas são!?”
Pela contagem improvisada feita na reunião dos fatores dispostos até o momento, Medusa abraçava a possibilidade de estar enfrentando, no mínimo, três adversárias simultâneas.
E ela não estava errada. Só não conseguia cravar, por ora...
“Pergunta: Você está bem, minha irmã?”, a voz de Julie atravessou a mente embaralhada da semelhante.
— S-sim... Isto foi intenso.
Mesmo para Chloe, era necessário algum empenho a fim de sustentar um equilíbrio.
Ela não tinha sido poupada da balbúrdia sonora, afinal.
Caso deixasse a concentração esvanecer por um mero piscar, poderia tornar-se vulnerável à resistente monstruosidade.
— Me desculpe por não oferecer um aviso prévio. — A Musicista se aproximou das duas. O aulo ainda perto de sua boca. — O efeito surpresa foi minha aposta. Respire um pouco, querida.
— Foi uma exímia decisão, senhorita Euterpe. — Apanhou a barra da lança com ambas as mãos.
Ligeiramente recuperada do baque auditivo, Medusa começava a escutar a troca de palavras a poucos metros de onde estava.
“Tem... mais uma”, reconheceu, conforme a luz voltava a desaparecer, a segunda influência nefasta do local.
Respirou fundo, mesmo que o coração estivesse em chamas.
Contou cada inspirada de ar nos pulmões trêmulos, cada expiração de gás carbônico contra o oxigênio delimitado pelas passagens fechadas.
Aos poucos, passava a recobrar a estabilidade perdida graças à sucessão de adventos.
“Ah... Agora eu lembro”, imagens um tanto borradas regressaram à mente deturpada.
Ela, mesmo que por pouco, já conhecia aquelas duas.
E, graças a isso, a vontade dentro de si cresceu de forma exponencial.
— Vou destruí-las!...
O juramento entoado entre os dentes soou como um agravante do desafio que as filhas de Atena precisavam enfrentar.
Breves minutos após o ataque.
Selene, da cabeça do Colosso de Rodes, observava a lua que se encontrava muito próxima da fase cheia absoluta.
Cercada pelas estrelas que marcavam a predominância derradeira do verão helênico, se uniam à enorme extensão do Egeu em um cenário estonteante.
A leve brisa, cheia de ressalga, fazia os ondulados fios roxo-escuros menearem no ar.
Exatamente daquele lugar há dois meses, lembrou-se, recebeu os jovens apóstolos vindos de Atenas.
Além de servir como ótimo local para se contemplar tamanha exuberância, era um perfeito ponto de visão para quase toda a extensão da ilha, logo atrás.
No entanto a tranquilidade envolvida pela natureza acabou desfeita quando uma sensação peculiar a afligiu.
Por um momento, cogitou ter sido algo a ser levado em consideração.
Mas ao virar a face sobre o ombro relaxado...
— Nuah! Sabia que estava aqui!
A voz de tom infantil foi reconhecida pela Notívaga, assim como a aparência da pequena.
Após escalar a gigantesca estátua, Eos arquejou durante alguns segundos, com uma das palmas abertas em pedido de espera.
Balançando as tranças giratórias em volta das orelhas, que alternava de rosado a lilás, desviou o foco até o topo recheado de pontos pulsantes.
O sorriso aberto perante o cenário de deslumbre a fez esquecer o que desejava entregar à irmã mais velha.
Essa também adotou a taciturnidade, permitindo que a Aurora pudesse se deleitar um pouco mais ao seu lado.
Selene preferiu considerá-la como a “resposta” para a sensação reconhecido há poucos segundos.
Entretanto não desistiu de manter a atenção nos arredores.
— Onde está Hélios? — questionou num mussito.
— Nuah... Ele disse que iria tirar um cochilo! O maninho não é nada prestativo à noite, diferente de ti, maninha! — A menina sentou-se ao lado da companhia. — Eu queria ser mais prestativa de noite também!
Diante do resmungo melancólico pela infantil, Selene não entregou qualquer resposta.
— O barco deles ainda está atracado! — Eos fitou o porto, logo abaixo. — Já passou tanto tempo e eles nem saem daquele lugar!
— Você sabe que não é assim que funciona com elas.
— Nuah! Não precisa lembrar disso! — Levantou os braços, fazendo beiço. Depois, juntou indicador e polegar. — Eu bisbilhotei um pouquinho assim! Os métodos de treinamento das musinhas ficaram menos assustadores!
— É só o que você pensa, vendo de fora. — Semicerrou as vistas. — Se aqueles garotos e garotas não estavam habituados ao extremo, agora eles certamente já devem estar em melhores condições.
Apesar do tom soturno emitido pela noturna, a lilácea sentiu arrepios ao recordar os momentos vivenciados dentro daquele templo.
Mesmo Selene não carregava lembranças tão agradáveis da época mencionada. Mas era inegável que tinha sido fundamental a fim de torná-la forte.
E assim deveria ser com aqueles jovens prodígios. Não poderiam, por mais duro que pudesse admitir, estar em mãos melhores...
Os pensamentos foram cortados quando uma nova influência a alcançou.
Eos também percebeu, abrindo os olhos de forma abrupta. Quando pensou em apenas virar o rosto por cima do ombro, deparou-se com o deslocamento imediato da irmã, já de pé.
— O que...? — Antes que sequer pudesse completar, o ruído de uma explosão abafada ecoou até seus ouvidos.
Em poucos segundos, um fraco rastro de fumaça passou a crescer no espaço.
E vinha exatamente das profundezas da floresta.
— Eos. — Selene deu passos curtos à beirada da cabeça da estátua. — Vá acordar Hélios.
— Mana...!
Eos se ergueu, perplexa com as sobrancelhas arregaladas.
Antes que pudesse ser chamada, a Notívaga deixou-se cair após o colosso. Deslizou por toda a estrutura ornamentada e pousou em segundos no solo relvado.
Graciosa, isenta de quaisquer oscilações, ergueu o rosto e disparou pelos entornos da grande estátua.
Procurou pela única Passagem Espectral presente na ilha.
“Aquilo não me pareceu ser fruto de algum treinamento...”, estreitou o olhar, à medida que as possibilidades se afunilavam na cabeça. “Poderia ser...?”
Cogitou, de relance, a mais provável hipótese. Caso fosse, se perguntava como poderiam ter lhe driblado daquela forma.
Depois de contornar o porto, chegando entre a costa e o início da cidade, as poucas perguntas se tornaram muitas.
Quando se deparou com a ausência do portal espectral que deveria estar ali, a primeira flor do nervosismo desabrochou.
Correu com os olhos por todo o arredor, ainda crente sobre a chance de ter errado a entrada.
Mas não tinha como errar. A ficha caiu...
Ela, definitivamente, tinha sido superada.
— Nos descuidamos... Eles nos pegaram.
Portanto, a necessidade de se aproximar do templo o quão antes possível só urgia mais e mais.
Aquilo lhe custaria minutos que poderiam ser preciosos até o templo das Nove Musas.
Considerava um erro crucial, mas não podia se deixar abater por tal culpa.
Ao remeter a cada contato com eles, há dois meses, podia se certificar de que todos, sem exceções, estavam preparados.
— Seja o que for... — Flexionou as pernas e, vencendo o primeiro baque, começou a correr por terra. — Resistam.
Para contornar a crise, até que chegasse no Museion, Selene não podia fazer nada além de depositar sua confiança nos prodígios olímpicos.
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