Volume 7 – Arco 5
Capítulo 121: Os Três no Luar
Elaine reconheceu Meade e vice-versa.
O motivo, com toda clareza do mundo, provinha do encontro entre ambos na decadência da situação em Argos.
A garota continuava a se remoer desde então, apesar de ter sido a peça fundamental na vitória contra a Hidra de Lerna.
— Três meses, hm?... — O esverdeado semicerrou as vistas.
Dito isso, não lograva de tantas expectativas no auxílio dela em questão, mesmo esse sendo oferecido pela Deusa da Lua em pessoa.
A Classe Prodígio mal tinha conseguido se mover na batalha da qual foi salva. A derrota para aquela integrante do grupo denominado Imperadores da Trevas foi absoluta.
O fez exalar um forte lamento, à medida que coçava a nuca com a ponta dos dedos, bagunçando um pouco do cabelo liso.
Arthur, por outro lado, olhou tanto ela quanto a garotinha que surgiu em seu lado com frieza.
Por ter sido enviado à ocorrência do deserto, só soube dos problemas na cidade argoniana através dos relatos de sua mãe, que observou tudo por meio da Piscina da Vidência.
Naturalmente esperava pouco da ajuda oferecida, em vista da natureza pessoal de conceber a capacidade de resolver qualquer coisa por conta própria.
Tais encaradas geravam desconforto triplicado à lunar, a ponto de fazê-la desviar o olhar amarronzado como sempre.
Seria uma tarefa tranquila, a priori. Em virtude disso, deveria renegar aqueles sentimentos e estufar o peito.
Foi isso que começara a aprender desde o primeiro contato com o grupo que viajou à Rodes, sendo desenvolvido nas experiências seguintes.
Até os treinamentos particulares dos últimos meses...
Mesmo sem olhar diretamente à vista deles, tornou a levantar o rosto, no intuito de devolver alguma segurança.
Serviu o suficiente para que os enviados da Deusa do Amor correspondessem no entremeio das testas enrugadas.
“Ela parece ter melhorado um pouco, pelo menos”, o preguiçoso admitiu.
Também virou um pouco do rosto, como forma de não demonstrar todo o receio que ainda carregava consigo.
O loiro, em paralelo, aparentava ter apreciado aquela nova tentativa de cumprimentos.
— Meu nome é Elaine... Irei ajudá-los a encontrar o que procuram...
Suas palavras, entoadas em meio a uma arfada pesada, soaram mais altivas do que o costume.
Exalavam uma busca inédita por reafirmar sua própria segurança, perfeitamente transmitida aos demais no local.
— Meade — respondeu, num bufo.
— Arthur. — O outro foi sucinto, sem emoções a serem destacadas na voz ou na feição.
— E eu sou a Daisy!! — Se apresentou a garotinha, com um sorriso triunfante. — Irei com a Elinha ajudar vocês!!
“Ah, não. Sério isso?”, Meade voltou a criar um cenário nada aprazível em sua cabeça.
Chegou a contorcer uma das sobrancelhas, mas passou despercebido pelo fato de todos levarem as atenções à olimpiana.
— Nem pensar — comunicou a Deusa da Sabedoria, no intuito de brecar a euforia da pequena. — Você deve descansar para procedermos com os treinamentos amanhã de manhã.
Com a cara corada em vergonha, Daisy deu meia-volta já na busca de fazer birra.
— Mas...!!
— Sem contarmos o fato de que ainda não foi oficialmente ingressada à corporação. Esta é uma tarefa delegada àqueles que detêm o título de Apóstolo — cravou a deidade, tirando as palavras prontas da boca dela.
Elaine ficou surpresa com a habilidade da sábia em acabar com as expectativas da menina, algo que já tinha provado não ser nada simples de concretizar.
Em vista disso, delegou um sorriso afável à agora entristecida companhia, na iminência de se aproximar dela e levar a mão a seu ombro esquerdo.
O rostinho cabisbaixo da menina lhe fitou nos olhos escuros, comprovando a genuína convicção da lunar ao dizer:
— Quando voltar, podemos brincar mais um pouco...
Dessa maneira, devolveu um grande sorriso à filha de Ártemis, ansiosa pelo momento.
Contente em ter mudado o astral da pequena, Elaine virou à Deusa da Lua e assentiu com a cabeça, como se para ratificar a própria partida naquela breve tarefa.
Girou sobre os tornozelos e ultrapassou a dupla de rapazes altos, que segundos após fizeram o mesmo no intuito de a acompanhar.
As deusas permaneceram na região, acompanhando a ida do novo trio rumo ao objetivo desejado por Afrodite.
Daisy acenou com o braço destro esticado, até que alguns minutos depois, eles sumiram da vista.
Durante a descida da elevação do nível do mar, Elaine guiou a dupla de classes superiores à dela.
Podia sentir uma pressão descomunal subir suas costas, porém respirava fundo, quase meditando a fim de suportar a sensação.
Um empenho do qual jamais seria capaz de sustentar a alguns meses. Já comprovava o avanço pessoal, no mínimo.
Os três chegaram a uma região isolada da cidade, pouco depois do grande bosque que circundava o templo de Éfeso.
Ao contemplarem o indicador apontado pela noturna, observaram a entrada escondida pelas densas árvores à uma cavidade natural rochosa, que parecia levar ao subterrâneo.
Sem delongas, desceram com cuidado através dos galhos e espinhos espalhados no entremeio acanhado.
A jovem foi a primeira a adentrar a gruta, por onde atravessou as rochas estreitas. Quase precisava se arrastar nas saliências para alcançar o outro lado.
Suspirou de alívio ao ver que pôde passar sem muitos problemas.
Arthur e Meade chegaram logo na sequência, recebidos pelo breu natural.
Elaine puxou a lâmina e reuniu sua energia. A luz purpúrea, advinda de sua energia, dominou o releixo e iluminou o ambiente.
Sendo assim, continuaram a avançar pelas passagens.
Minutos de silêncio eram cortados apenas por seus passos contínuos, até chegarem na área de rochas brilhantes.
Envoltas de uma pequena cachoeira a vazar de uma rachadura, devolviam o cintilar transmitido pela arma especial da lunar.
Aproximou-se a passos curtos, o som das sandálias na água ecoava com leveza.
Passeou com os dedos sobre a superfície amarelada, gélida por essência.
— É isso que procuram...
Virou-se para comentar, então logo observou as armas empunhadas da dupla; a foice do loiro e as luvas ósseas do esverdeado.
Arthur agiu mais rápido e cortou nos entornos do que parecia ser o maior fragmento ali disposto.
Parte da caverna chegou a estremecer.
A rocha unida à pedra metálica caiu na água e molhou a região inferior do vestido da filha de Ártemis.
Essa que, por sinal, quase deixou o coração saltar pela boca ao cogitar a possibilidade de ser o alvo daquela lâmina.
Por pouco o lanho passou por cima de sua cabeça, capaz de arrancar tênues fios azuis e, por sinal, fazer subir uma cortina de fumaça graças ao impacto.
Sem proferir qualquer palavra, o Classe Superior caminhou até a aquisição e a apanhou com a mão livre, enquanto relaxava a que carregava a arma longa.
— Objeto adquirido. Podemos voltar — entoou sem rodeios ao dar meia-volta, sendo o primeiro a tomar o regresso.
Incrédula com a atitude impensada do rapaz, a descendente da lua somente fez o que ordenara.
Diferente dela, Meade já carregava a conformidade consigo, inapto a criticar ou questionar a ação veloz do companheiro de corporação.
Foi o segundo a avançar de volta às saliências estreitas da caverna, já apressado para retornar o quanto antes à Deusa do Amor e, enfim, finalizar aquela incumbência.
“Eles são tão intensos quanto o Damon e o Gael”, pensou, também lembrando de Lilith no processo. “Ainda que mais quietinhos...”
Completou na formação de um falso sorriso, antes de se tornar a seguidora deles em definitivo.
Tão logo deixaram a gruta para trás, recebidos pelo luar do satélite em fim de fase minguante.
À medida que os rapazes aceleravam as passadas rumo ao objetivo, a Classe Prodígio parou por um instante em prol de observar a configuração celeste daquela noite.
No átimo em que cogitou prosseguir, um arrepio conhecido lhe percorreu a espinha.
De vistas arregaladas, tentou girar, porém apenas recebeu a explosão de ar e terra contra o corpo.
Os líderes se corrupiaram na velocidade do pensamento.
A sensação também lhes era um tanto quanto familiar, responsável por conduzi-los a prepararem suas armas outra vez.
Por um breve instante ficaram espantados com o fato de sequer terem antecipado aquilo, por mais que a ausência de alerta já fora compensada pela postura rearranjada.
Esperaram pelo retorno da jovem, provavelmente cercada pela densa cortina de fumaça, mas nada veio.
Se ela tinha sido pega em cheio pela tal detonação, poderia ter sofrido graves ferimentos além do expectado.
Restava, portanto, o ato de compreender como e quem tinha orquestrado aquilo.
A resposta veio na sequência, quando soldados putrefatos surgiram das sombras e atacaram os rapazes.
Eles tampouco se afobaram no intuito de derrubarem os legionários através dos respectivos armamentos.
Os fios de aço de Meade não os deixavam diminuir distância, por meio de ataques certeiros e aprisionamentos rápidos.
Nessa medida, a foice de Arthur balançava sempre a fim de afastá-los sem dificuldades.
— Isso já ‘tá ficando um saco — resmungou o primeiro, ao bailar das fibras quase invisíveis a olho nu, graças à escuridão.
Depois de se livrarem da maioria dos inimigos, os dois observaram a dispersão da poeira, revelando que a garota de fato não se encontrava mais ali.
Pelo contrário, novos legionários surgiram, uma mistura dos pútridos e esqueléticos, a cercarem a dupla em questão de segundos.
— Eu só queria voltar pra casa e dormir...
Meade prosseguia com as lamúrias pessoais, mas o aliado em paralelo pouco se importava.
Os olhos encarnados estavam focados tão somente em derrubar aqueles inimigos para, de alguma maneira, reencontrar a jovem filha de Ártemis.
Afinal, ainda podia identificar a influência dela por aquela região, não tão distante do ponto onde se encontravam.
Ela tinha caído de volta às proximidades da entrada da gruta, embora não na região certeira em si.
Foi afastada a alguns metros à direita, próxima a se entranhar um pouco mais na mata que circundava a área extensa.
Com alguns cortes nos braços por conta dos galhos e espinhos espalhados, levantou-se do solo terroso preenchido de algumas folhas secas.
Sentia leve dor na cabeça e nas costas graças à queda repentina, porém foi capaz de se defender do pior com uma reação muito ágil.
Dito isso, apanhou a lâmina incolor derrubada ao seu lado e tratou de soerguer-se de uma vez.
Ainda podia sentir a presença dos dois influentes a metros acima, porém estava encucada com a nova aparição em questão.
Tirando os legionários, todos focados em retaliar aquela dupla, havia o verdadeiro responsável por armar tamanha arapuca.
O cheiro de improviso sobrava no ar. Todavia, o perigo iminente a fez delegar absoluto foco nos arredores.
— Então é você de quem aquela garota fala sempre — mussitou a voz masculina, de aspecto um tanto quanto soturna. — Filha da Deusa da Lua, hein...
Elaine se virou, conseguindo enxergar a figura do rapaz bloquear uma das ínfimas passagens de luz entre as árvores.
Seu cabelo espetado remexia graças à fraca brisa.
As mechas e pontas vermelhas chamavam tanta atenção quanto a predominância acinzentada.
O sorriso acompanhava os olhos tão escuros quanto o céu noturno, exalando misticidade e, de certa forma, um peso de sordidez descomunal acima dela.
— Não precisa se acanhar. Apenas vim lhes trazer um recado — proferiu sem pressa, antes que a jovem pudesse se armar para o combate.
Desentendida quanto as palavras do misterioso, coberto pela característica capa escura que viu tanto os gêmeos traidores quanto a amiga revivida usar, a filha de Ártemis engoliu em seco.
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