Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 7 – Arco 5

Capítulo 120: Breve Missão do Amor

— Então é isso, meninos! — exclamou a Deusa do Amor, os braços cruzados sob os seios voluptuosos. — Conto com vocês para encontrarem a resina... ou metal... Seja o que for!

Feliz da vida, sem dar nada de graça com o sorrisão estampado no rosto rosado, Afrodite foi engolida pelo silêncio exprimido por aqueles com quem conversava.

O local era a colina onde podia ser visto o pôr do sol no horizonte, assim como o acender das luzes magentas na cidade adjacente.

Por aquele instante, nem Meade nem Arthur responderam os caprichos enunciados pela mulher da maneira devida.

Enquanto o primeiro semicerrava os olhos, já cansado só de receber as informações inesperadas, o outro aparentava pouco se importar com a natureza daquela indicação.

O detalhe que era equivalente para os dois? Os olhos encarnados distantes da imagem proeminente — e sedutora — da deusa.

— Achava que seria algo mais... grandioso? — resmungou o esverdeado, exalando o lamento preguiçoso de praxe.

Foi um raro momento que devolveu o olhar à mulher.

Já o loiro ao lado continuava a encarar o poente solar na paisagem de mosaico, que misturava o laranja e o azul-escuro por toda a extensão superior.

Trazia consigo as primeiras estrelas da noite estival.

— Não considera grandioso? — Ela estendeu a mão destra, mostrando os dedos bem delineados. — É uma busca que só vocês podem fazer. Negariam esse meu pedido, meus amores?...

A despeito das palavras aduladoras da deidade, Meade tornou a desviar o semblante num inédito suspiro.  

“Uma busca que só nós podemos fazer... Uma ova, saco...”, guardou o protesto em pensamento, conforme girava sobre os próprios tornozelos.

Arthur encarou a superior de soslaio, apenas para receber um sorriso gentil em retorno.

Permaneceu naquela posição durante alguns segundos, fechou os olhos carmesins e deu meia-volta, fazendo a capa que lhe cobria metade do torso desnudo esvoaçar no espaço.

Os dois desceram a colina em questão de instantes, a deixando solitária outra vez.

A escuridão celestial se aproximava cada vez mais ao ápice, ofuscada em partes pelos astros cintilantes e a presença da lua em sua fase minguante.

Afrodite seguiu um caminho contrário, de ascendência do relvado, e sentou-se no singelo pedestal ali construído.

Os ondulados fios loiros dançavam graças à brisa gelada.

Respirou fundo, em proveito máximo àquela pequena paz.

— Realmente, foi um pretexto bem bobo, eu diria — mussitou a sós, enquanto encarava o dorso da mão com os dedos esticados. — Quem sabe isto crie um aviso, para ambos os lados... é o que a pequena Atena pensaria, certo?

Cerrou as vistas com serenidade, deixando que o fraco resquício da luz solar a iluminasse, sempre venusta em natureza.

Foi assim que aquele outro dia de verão terminou, por detrás dos corcéis distantes.

A flecha acertara bem no centro do alvo de palha, preso por uma corda no galho de uma árvore.

Após ajeitar a postura pós-disparo, Daphne respirou com leveza, exalando algumas gotas de suor a caírem pelo rosto moreno.

Mechas dos fios cinzas, quase brancos, chegavam a grudar na face, mesmo com o volumoso cabelo amarrado num rabo de cavalo na região superior da nuca.

A única peça de tecido a cobrir os seios medianos revelava as marcas eternas pelo torso e braços.

O olhar celeste desceu ao arco de madeira portado pela mão canhota, que relaxou na passagem do tiro perfeito.

Com um fraco sorriso desenhado no rosto, comemorou internamente a evolução no treinamento pessoal de tiro ao alvo.

Caminhou a passos curtos pelo relvado, puxou a seta e a levou consigo ao corrupiar-se em direção ao templo a poucos metros dali.

Passou pelas rápidas ondulações do relevo até chegar à região retilínea que conduzia à residência com o símbolo do Sol estampado na fachada.

Só de encarar a entrada da morada, se lembrava de que fazia quase três meses desde a partida de Gael.

Até então em treinamento, não tinha oferecido qualquer contato com alguém daquele lado.

Isso a deixava preocupada. Porém não se deixava vencer sobre a confiança.

Ele com certeza voltaria, ainda mais forte e respeitável.

Tinha bastante fé nisso.

Portanto, também sentia o dever de se esforçar a fim de se tornar uma melhor versão de si mesma.

— Com licença.

A voz soturna, e até um pouco arrastada, a assustou de repente, fazendo-a rodopiar no mesmo eixo.

Encarou a presença súbita dos apóstolos enviados por Afrodite, ambos em paralelo.

Sequer entregaram a chegada para a garota, o que explicava seu susto extremo ao não reconhecer o chamado vindo do esverdeado.

Controlou a respiração, entretanto, ainda receosa, devolveu seu apelo através de um aceno rápido de cabeça.

— P-posso ajudar? — Chegou a se retrair um pouco, a mão apertou com firmeza a base do arco.

— Aqui é o templo do Deus do Sol, certo?... — Meade ergueu o olhar encarnado ao santuário em questão; ao seu lado, o loiro continuava desinteressado, somente a analisar os arredores. — Ele se encontra?

— No momento, não. Soube que foi ao Olimpo, mas não me disse quando voltava... — A marcada umedeceu os beiços antes de continuar. — Perdão, mas quem seriam vocês?...

Embora conseguisse — agora sim — identificar um fluxo vital interessante vindo dos dois, não os reconhecia de maneira alguma.

— Fomos enviados pela Deusa do Amor, para encontrarmos fragmentos de algo chamado ouro — exprimiu o preguiçoso, no seu marasmo vocal de costume. A garota permanecia dúbia. — Ah, que saco... Parece que o Deus do Sol possui adornos de metal com esse tal ouro, ou algo assim. Então viemos saber se ele conhece onde encontrar isso...

Apontou ao braço, conforme descrevia a situação para a jovem, um pouco menos desconfortável.

Logo tudo estava esclarecido.

Eles eram membros da Corporação dos Deuses, assim como Gael, ponderou.

— Me desculpem, mas não posso ajudá-los com isso. — Arriou um pouco do olhar pesaroso. — Mas se quiserem esperar...

Antes que ela pudesse completar a fala, Arthur deu três passos e reduziu a distância entre ambos.

Encarou-a bem de perto, a ponto de criar uma onda de inquietação estupenda na jovem, que chegou a recuar inconscientemente.

Meade nada entendeu, mas não se prestou a desenvolver qualquer queixa.

A resposta desejada passou longe de ser adquirida e esperar pelo retorno incerto do deus seria penoso, ele pensava.

Dito isso, o de volumoso cabelo loiro prosseguiu em sua observação inusitada.

— Queimaduras — murmurou quase ao pé do ouvido dela, que confirmou num novo aceno positivo.

As marcas chamativas eram bem antigas, ele podia ver isso.

De alguma maneira, estava interessado. Mas dispunha de pouco tempo em prol de dar sequência àquele assunto.

Assim, recuou e retomou a postura altiva, centímetros superiores a ela.

— Conhece alguém além do Deus do Sol que possa nos indicar um caminho? — indagou com certa cordialidade, responsável por surpreender o aliado na retaguarda.

Foi só um pouco, entretanto.

Sem deixar de experimentar o sufoco natural exalado por aquele rapaz de semblante irretocável — sobrancelhas relaxadas e cheias de circunspecção, a boca desprovida de tensão —, a jovem se desprendeu do foco.

— Talvez... a lady Ártemis... — Ainda carregava apreensão na voz e no semblante.

Os dois apóstolos conheciam o fato de a cidade de Éfeso, onde residia a respectiva deidade, ser vizinha àquela.

Logo, não deveriam cortar um dobrado a fim de chegarem até ela.

Trocaram rápidos olhares e regressaram sem sequer agradecerem à garota, que chegou a experimentar um abalo pesado sobre as pernas.

Nem na presença do referido Deus do Sol sofrera tamanha intimidação, no bom ou no mau sentido.

Quiçá fosse o costume, divagou consigo, antes de acompanhar o desaparecimento da temível dupla.

Recuperada a leveza do próprio ambiente, Daphne tateou uma das manchas irremediáveis sobre a própria pele.

Pensou mais um pouco, à medida que o liso cabelo dançava com a ação do vento.

“Queimaduras...”, franziu o cenho de modo cuidadoso. “Eu não sabia...”

A boca tornou-se levemente aberta, sem que percebesse, diante da provável descoberta.

Apertou ainda mais a palma livre contra o peito.

Nada obstante às novas interrogações que surgiam pela cabeça cansada, preferiu manter-se à orientação do grande templo.

Pouco demorou para que Arthur e Meade atravessassem as Passagens Espectrais, responsáveis por ligar diretamente as cidades de Delfos e Éfeso.

Vantagens entre pólis vizinhas e, ainda por cima, dominadas por deidades tão conectadas.

A grande diferença entre cada uma logo foi conferida pelos dois.

Enquanto na anterior não havia qualquer alma viva ativa, além da recepcionista do Deus do Sol em frente ao templo, aquela apresentava-se em seu ápice de movimentação.

Os mortais efesianos transitavam pelas ruas; alguns oravam para a deusa na qual depositavam todas as suas crenças e outros até festejavam.

Nenhum deles se surpreendia, contudo.

Permaneceram no foco absoluto até descerem do túnel arco-íris, chegando em frente à segunda grande construção visitada naquela noite.

Cercada pelo campo precedente ao grande bosque, encararam o templo com o símbolo da Lua estampado na fachada.

Adiante no trajeto, já podiam enxergar a presença de duas importantes figuras em paralelo à residência.

As mulheres se viraram à vertente dos garotos, sem nem esperarem sua chegada definitiva.

— Sejam bem-vindos — entoou Atena, com um leve sorriso de placidez. — É incomum estarem ativos, ainda mais por tais localidades, a esta hora. Desejam algo, meus jovens?

— A Deusa do Amor nos mandou pra encontrar um metal de conhecimento do Deus do Sol — explicou Meade, com preguiça, de fazer rodeios. — É algo chamado de ouro. A serviçal do Deus do Sol nos mandou vir aqui, pois poderíamos achar algo... que saco.

Ártemis trocou olhares com a Deusa da Sabedoria, rapidamente conhecedora da situação.

Também desprovida de enrolações, citou:

— Pois vieram ao local correto. Direi a vocês onde este metal precioso pode ser encontrado. — Às palavras dela, os garotos não esboçaram reações visíveis, mas direcionaram a atenção ocular à sua presença. — Todavia, estou incapacitada de acompanhá-los. Como podem ver...

A singela reunião com sua irmã não poderia ser interrompida, ponderaram os apóstolos em concordância.

Tampouco existia a necessidade disso, determinaram logo na sequência.

— Só precisa nos dizer o local — resmungou Arthur, eminente à própria maneira.

Atena não era capaz de conter as emoções efusivas sempre que tinha contato com o respectivo rapaz.

Passado o singelo instante de apreciação à proeminência que o envolvia, mesmo tão jovem, voltou a fitar a pensativa semelhante.

— Não precisam se preocupar quanto a isso.

“Nós não estamos preocupados”, Meade desejou retrucar, mas se segurou.

— Tenho alguém que pode os acompanhar nessa busca. — Deu meia-volta e levou alguns segundos para ir e voltar do templo.

Junto a ela, duas novas presenças se aproximaram, ao que o esverdeado semicerrou as vistas.

Uma delas já era conhecida, de alguma forma.

Com extrema aflição e nervosismo, Elaine foi apresentada pela progenitora. O cabelo azul estava solto até a altura dos ombros.

Ao lado dela, o absoluto oposto; a sorridente Daisy brilhava os olhos cerúleos. E o bagunçado cabelo cacheado era amarrado em um grande coque, cheio de pontas soltas.

— Minha filha conhece a região e poderá guiá-los sem delongas — proferiu a lunar, confiante de que aquela era a melhor escolha.

Pela postura da atinente, os enviados pela Deusa do Amor já não logravam da mesma expectativa...

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