Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 6 – Arco 5

Capítulo 99: Convite do Arco-íris

Íris seguiu seu rumo e, antes de tocar o solo inicial de Olímpia, reuniu Energia Vital no objetivo de criar um anel de luz que alternava entre todas as colorações do espectro visível.

O lançou na direção da porção afundada, recheada de rachaduras em seu entorno. A forma encíclica se expandiu num feixe de luzes coloridas que a envolveram, até alcançar o destino desejado.

Adentrou aquele arco e um novo se formou dentro das passagens concebidas por si, a transportando para dentro do túnel espectral.

Logo a camada luminosa se extinguiu no exterior, restando nada além do piso rochoso e resquícios de destruição causadas por outrem.

Bufou com paciência ao retomar a expressão sorridente de antes, antes de saltitar pelo caminho espectral com um novo destino em mente.

Não demorou a chegar no Reino de Atlântida, lar do Deus dos Mares.

Nenhum mortal podia sequer identificar a presença da mulher, que viajava sem pressa alguma através de passos largos.

Adiantou-se com os braços cruzados atrás das costas até presenciar o grande templo.

Os lábios róseos delinearam um novo sorriso assim que ganhou proximidade à majestosa construção.

Manteve o ritmo até descer pelo túnel iluminado, desembarcando em frente à entrada.

Balançou o braço direito para cima e para baixo, na tentativa de chamar atenção de algo ou alguém que pudesse estar detrás daquelas portas.

Conforme nada ocorria, a deusa começava a resmungar solitária.

Meditou um pouco à medida que enrolava uma das mechas que caía em frente a orelha no indicador.

Sem ter muito que fazer, escolheu bater à porta.

Ao pisar no primeiro degrau, foi cercada por um ar congelante irradiado pela própria construção, como se adentrasse o limite divisório responsável por protegê-la.

A despeito desse fenômeno, avançou pelo restante da pequenina escadaria.

Preparou-se a fim de chamar os moradores olímpicos, no momento que uma das estruturas metálicas foi movida para trás.

Sem delongas, uma mulher de cabelo prata-azulado surgiu do interior.

A mensageira recuou alguns passos ao ser dominada pela aura irradiada dela, tão gélida quanto a influência especial do templo.

Arregalou as vistas na percepção de um resquício de conforto infundido naquele fluxo.

Esse trouxe sua atenção até a íris azulada dela, de olhos semelhantes a duas pedras bem lapidadas de topázio.

— Oh, veja só se não é a Íris. — Anfitrite demonstrava surpresa em vista da jovem deusa.

— L-lady Anfitrite...! É uma honra ser recebida pela senhorita!

A Rainha dos Mares saudou a Deusa do Arco-íris com um sorriso benévolo, em aceitação à mesura realizada por ela.

Ainda que pouco desconcertada graças à ansiedade.

Carregada pelo misto de sensações frias e quentes, a bege voltou a levantar os olhos lilases.

— C-como estão as coisas!? Seu filho, Tríton, continua explorando os mares!?

— Ele não cansa disso, mas deve voltar para casa em breve. E não precisa ser tão cordial assim, respire um pouco. Aceita entrar? Posso lhe oferecer uma bebida quente, e...

— Ah, não, não! Vim apenas trazer uma informação importante da senhorita Atena! — Em vista dos leves gaguejos, Íris pigarreou antes de prosseguir. — Peço para que a senhorita passe a mensagem até seu descendente mais novo! Daqui a três dias, durante o amanhecer, ele está convocado a se apresentar na acrópole de Atenas!

— Oh, que interessante. Seria uma nova tarefa? — A cerúlea inclinou a cabeça, de leve, cheia de curiosidade.

— Eu não poderia responder a isso... Os detalhes serão entregues pela própria senhorita Atena no dia, mas acredito que seja algo bem importante!

Anfitrite fortaleceu o semblante cortês.

— Está bem, irei passar a informação a meu menino. Então, na matina do terceiro dia, ele estará presente na cidade de Atenas.

— Muitíssimo obrigada! — Voltou a se curvar perante a rainha. — Agora, se me dá licença, preciso ir! Foi um prazer e uma honra trocar palavras com a lady Anfitrite!

— Eu que agradeço! — Acenou com a mão ao lado do rosto. — Qualquer dia desses, pode dar uma passada mais acalmada por aqui. Será um prazer lhe receber.

— Com certeza eu aceito! Então, até breve!

Um tanto corada pelo convite da superior, Íris deu a volta e disparou até as Passagens Espectrais em altíssima velocidade, voltando a deixá-la sozinha na entrada do templo.

Anfitrite permaneceu alguns segundos a mais naquela posição.

Exalou um profundo suspiro, que liberou ar condensado de sua boca, e retornou à câmara principal do recinto frio.

Subiu o olhar em projeção de uma expressão circunspecta até retornar aos aposentos pessoais.

“Ela me convidou! Hihi...!!”, feliz toda a vida, Íris manteve a pegada e partiu à medida que o sol já se encontrava à pino no céu azul.

Se deixava levitar pelos túneis arco-íris, acalentada — apesar da fria influência atlanti — por ter sido requisitada pela Rainha dos Mares.

Após deixar a região marítima, virou à direita e contornou a cidade de Olímpia por uma porção do Egeu.

A nova cidade de destino estava em polvorosa abaixo do céu ensolarado.

Curiosa ao passo que observava homens, mulheres e crianças orando com dose extra de euforia, lembrou-se das palavras de sua potestade acerca de onde estava pisando.

“A pólis do Deus do Sol”, divagou ao se afastar, aos poucos do epicentro de adoração.

Não negava que queria observar por mais tempo, mas precisava cumprir sua tarefa.

Sem delongas, avistou o templo da cidade de Delfos, no alto de uma grande colina para onde todos olhavam e delegavam suas preces.

Lá, avistou um rapaz socar o ar diversas vezes, escondido por uma das elevações gramadas que cercavam o santuário.

Desceu pelo túnel multicolorido e, em breves segundos, surgiu diante da construção divina. Sequer foi notada por Gael num primeiro momento.

Imediatamente contagiada pela euforia do rapaz, ela olhou na direção dele e gritou:

— Booooom dia!!! Mensageira dos Deuses chamando!!!

O filho de Apolo cessou os movimentos velozes no intuito de verificar a responsável por entoar o chamado.

Enxergou a mulher de tiara que acenava com o braço erguida.

Duvidou por um átimo, mas rapidamente disparou até alcançá-la na região posterior da grande morada.

E, antes mesmo de dizer algo, foi apontado pelo indicador em riste dela.

— Você está selecionado!

O delfiano parou de andar, já com seu sorriso animado.

— Como!?

Cerrou os punhos aquecidos pela luva, que soltava finas linhas de fumaça do tecido.

“Senhorita Atena me disse que ele é bem impulsivo, então tentei ir na dele. Mas...”, a deusa bufou consigo, sentindo o calor que quebrava sua imersão na passagem anterior por Atlântida.

O choque térmico era real, pensou. Balançou a cabeça em negativa, o que trouxe certa dubiedade ao rapaz.

— Você foi convocado a comparecer na acrópole de Atenas, daqui a três dias durante o amanhecer. — Forçou um sorriso ao erguer os três dedos.

Antes desentendido, Gael acendeu uma nova chama de agitação dentro de si.

— Uma convocação da Deusa da Sabedoria!!? Mas que esplêndido!!! Do que se trata!!? Uma nova missão!!?

“Ela estava certa...”, Íris rangeu os dentes ao recuar passos quase inconscientes.

— Não posso dizer agora. Mas não se atrase, de qualquer maneira! — Quanto mais a influência abrasadora irradiava dele, mais queria se manter distante. — Até mais!

Corrupiou-se a retornar às Passagens Espectrais, deixando nada mais que seu rastro luminoso pelo espaço.

— Ei...!! — Gael nem teve tempo de tentar chamá-la.

Em menos de um piscar, a respectiva tinha desaparecido de sua frente.

Só que, ao invés de se deixar abater por tamanho mistério, o Classe Prodígio apenas elevou o entusiasmo de sua aspiração.

— Gael?... — A porta do templo tinha sido aberta e um quase bocejo lhe chamou. — Estava... falando com alguém?

Ao se virar de supetão, o delfiano encontrou a sonolenta garota de fios acinzentados e bagunçados ao redor do rosto cheio de pequenas marcas escuras.

— Oh!! Daphne!!

Ao chamá-la com ímpeto, ela percebeu que algo, de fato, tinha ocorrido naquele instante.

E se tratava de algo, no mínimo, importante.

Somente a intromissão velada restou à companheira, que exalou um rápido lamento e tratou de deixar a languidez de lado em prol de consultá-lo.

Enquanto isso, Íris procurava se distanciar de Delfos o mais rápido possível rumo a mais um novo destino.

Livre da energia tórrida do rapaz, ela suspirou com alívio.

— Que rapaz energético. A forma que ele deixa sua energia solta é difícil de lidar! — Olhou para os lados, em análise às localidades terrenas. — Faltam dois locais. Droga, eu realmente não queria ir para o último...

No ritmo adotado, não demorou até alcançar a cidadela que fazia fronteira com Delfos.

Contrária àquela que era dominada pelo ardor dos fiéis do Deus do Sol, Éfeso mostrava-se uma região deserta, sem uma alma viva nas ruas enquanto o sol estivesse no topo da abóbada.

Experimentou certa apreensão em torno da repentina mudança de ares, porém empenhou-se em prol do foco.

Sem fontes de distração, cruzou o trajeto ao templo, também isolado das moradias silentes.

Desceu nas proximidades da entrada do santuário, cercado pelo bosque que trazia um ar frio — o favorito dela — à região.

Com certo desgaste por conta da sequência desenfreada na visita anterior, tomou alguns segundos em prol de recuperar o fôlego.

Quando se aproximou da recepção, avistou os fios azul-escuros dançarem no mesmo ritmo das folhas nos arredores.

Engoliu em seco sem sequer perceber. Podia escutar as palpitações cardíacas colidirem contra o peito dolorido.

Tão ansiosa em comparação ao encontro com a Rainha dos Mares, a mensageira tomou coragem necessária a fim de entoar:

— S-senhorita Ártemis!

A Deusa da Lua em pessoa acariciava o focinho de um cervo, que parecia sorrir enquanto apreciava o afago.

Talvez fosse pelo nervosismo, mas só depois de chamar pela deidade, Íris pôde notar a presença do animal.

Não apenas isso como, ao lado dos dois, residia uma garota de fisionomia idêntica a superior.

O cabelo, amarrado em dois laços na altura da nuca, chamou ainda mais atenção da mensageira, que foi avistada pela dupla logo na sequência.

— Veja só se não é a Íris. Há quanto tempo não nos encontramos. — Ártemis lhe recebeu com cordialidade. — Presumo que o motivo desta visita é para entregar uma mensagem de Atena?

— A-assim você estraga a surpresa...

O murmúrio embargado de Íris fez a lunar prender um riso antes de prosseguir:

— É um hábito. De qualquer forma, qual é o assunto da vez?

— É uma mensagem para sua filha, lady Ártemis! — Olhou na direção da jovem ao recobrar a compostura. — Senhorita Atena me enviou para convocá-la para uma importante jornada, na acrópole de Atenas, daqui a três dias!

— Sempre íntegra como é de se esperar, minha irmã...

Dessa vez, o mussito de Ártemis não pôde ser escutado pela mensageira, que inclinou o rosto à direita em dubiedade.

Liberou o grande animal para retornar à floresta, então se prestou a dar total atenção ao desenrolar criado naquele momento.

No aguardo de alguma resposta, sentiu arrepios indescritíveis lhe percorrerem o corpo ao ouvir o assobio do vento.

Enrubescida das bochechas às orelhas, se viu presa no olhar de mãe e filha, que eram o ponto de dissemelhança entre ambas.

Ao contrário da Deusa da Lua, a menina acabou desviando o rosto na direção do solo esverdeado.

Unida ao silêncio entrecortado pela brisa, divagou consigo mesma até tomar uma decisão importante.

Reuniu coragem, ergueu o rosto e voltou a conectar-se às esferas lilases da Deusa do Arco-íris.

Por meio da expressão melancólica, Elaine ofereceu seu veredito à convocação:

— Me desculpe... Eu irei recusar dessa vez...

Sem acreditar no que tinha escutado, Íris piscou duas vezes.

Em contrapartida, Ártemis somente aceitou a determinação de sua filha, sem dizer qualquer coisa a respeito.

Um portal escuro se abriu dentro da Floresta Negra.

A mulher com cabelo de serpentes saltou do vórtice espacial, sem pressa alguma ao caminhar entre os arvoredos que criavam o ambiente lúgubre.

Junto dela, o misterioso coberto pelo manto escuro saiu da circunferência de energia.

A acompanhou por boa parte da região escurecida, até se depararem com ínfimos e nada naturais raios de luz em alguns metros.

Consequência dos troncos derrubados, destruídos ou queimados, a nova trilha foi acessada pela dupla silente.

Uma figura menor, com a face voltada para a terra, foi encontrada.

A górgona logo o reconheceu por conta do cabelo castanho-escuro todo bagunçado, a cair sobre seus ombros trêmulos.

Abriu o braço à frente do encapuzado, como se afirmasse a segurança do cenário.

Logo ao notar o sibilar das serpentes, o menino de pele escura se virou. Os olhos desbotados encararam os magentas da mulher... e nada ocorreu a seu desfavor.

Diante dele, a cabeça decepada de Euryale.

O restante do corpo da criatura se encontrava a metros de distância, sobre as folhas secas tingidas pelo sangue seco.

— Parece que eles atacaram antes — disse o homem, sua voz soava profunda. — O que aconteceu aqui?

— Tia Eury. Morta. Tia Sthe. Sumiu.

As palavras pausadas do menino trouxeram um desconforto peculiar ao encapuzado, que preferiu dar de ombros e direcionar o foco à górgona.

Ela acenou com a cabeça, envolvendo o ombro do menino num abraço reconfortante, sem tirar os olhos da cena chocante.

— É como você disse — murmurou, a voz rouca e soturna. — Eles atacaram antes. Ou seria melhor dizer que eles devolveram o ataque.

Fuzilou o homem ao lado com o olhar afiado, porém esse não aparentava temer sua petrificação.

Em detrimento a tais pormenores, ela se agachou até apanhar a cabeça da irmã morta, a levando até próxima de seus seios conforme a contornava com ambas as mãos.

Apesar dos pesares, não parecia carregar nada semelhante a ódio ou desolação.

Era como se houvesse aceitado a perfeição daquele ambiente, sem reclamações, nenhuma queixa a prestar.

Mesmo assim, não largava o membro cortado de Euryale.

Só restava uma casca vazia ali.

Era tão leve que poderia ser equilibrada com tranquilidade em somente um dedo.

A posição de conforto permaneceu, com a despedida silenciosa em memória da irmã mais velha.

— Agora que os deuses sabem sobre nós, precisamos ainda mais de sua força. Rainha das Górgonas, Medusa. — A insistência do soturno fez a mulher-serpente ranger os dentes. — Em breve, nosso principal objetivo há de se concretizar. As divindades desta Era serão subjugadas, e...

— Já disse que não me importo com os deuses. — O interrompeu sem pudor no timbre. — Apenas me unirei a vocês, pois quero a cabeça da Deusa da Sabedoria, e apenas dela. Podemos concordar que não deixa de ser um objetivo em comum?...

Ele preferiu não contra-argumentar, já que a criatura estava correta em sua abordagem.

Resumiu-se a exalar um rápido suspiro para, em seguida, abrir um novo vórtice espacial com o estalar dos dedos.

O efeito sombrio puxou a atenção de Medusa e do menino que a acompanhava em paralelo.

Uma nova figura feminina saiu daquele espaço. Prazerosa com um sorriso vil na face, que misturava preto e branco, deliberou sua influência aterradora à toda extensão florestal.

Sua encarada às vistas da mulher-serpente também não lhe causou efeito algum.

Por já estar ciente quanto a tal reação, manteve a postura diante da presença assoladora, que estendeu a mão em sua direção.

Em complemento às palavras do misterioso, como se à par de toda a conversa naquele território, declarou:

— A retaliação começará em breve. Venha. Será testemunha do nascimento de uma nova Era...

A voz grave mostrava-se assustadora, capaz de arrepiar a espinha da própria Rainha das Górgonas.

De fato, embora se importasse única e exclusivamente com uma divindade dentre todo um panteão, enxergou aquele caminho como o melhor possível.

Em consideração quanto às palavras ditas há pouco, não pegou na palma da obscura.

Somente assentiu com a cabeça e a seguiu de volta ao portal.

Antes de se unir à mulher na passagem espacial, espremeu a cabeça morta de Euryale com a força das palmas, a fazendo estourar em miolos pútridos a caírem sobre a terra.

Essa foi sua penúltima despedida de um passado repulsivo.

A última, em breve, também seria esmagada por suas mãos.

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