Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 6 – Arco 5

Capítulo 117: A Reluzente e a Margarida

No meão do jardim rodeado pelo bosque, Elaine deixava que a característica brisa da noite fizesse seus fios lisos menearem no fluxo sereno.

Encarava o céu parcialmente nublado, responsável por cobrir um pouco da lua crescente, quase cheia.

Com a lâmina nas costas, coberta pela faixa de linho azul-claro que cortava o torso numa diagonal, tratou de relaxar os braços e as mãos.

Respirava fundo, mediante a passagem da duradoura lufada. A concentração elevou-se, ao ponto de fechar as vistas inertes.

Com o avanço do tempo, deixou a Energia Vital correr livre por todo o corpo, através dos canais interiores; os batimentos cardíacos ganharam novo compasso, um ritmo mais lento.

Sentia o formigamento extravagante escalar a espinha. Espalhava-se por todos os membros.

O vento tornou-se ainda mais frio, em virtude de a temperatura corporal diminuir.

De modo gradativo, o rosto da jovem enrubesceu num tênue estado hipotérmico.

Foi quando abriu os olhos outra vez.

As nuvens escaparam sob o satélite natural, permitindo-o propagar um pouco mais de sua exuberância.

As auréolas dos globos marrons cintilavam num puro violeta.

Manteve-se firme naquele estado por pouco menos de um minuto, quando retraiu o foco absoluto através de um suspiro pesado.

A marca fulgurosa ao redor das esferas oculares desapareceu. A temperatura do corpo tornou a ascender.

Ofegante, buscou relaxar a tensão corpórea, enquanto abraçava os próprios braços.

Ainda faltava muito a fim de saltar àquele nível, pensou consigo. Deveria proceder no cronograma montado por sua mãe, como de praxe.

Dito isso, girou sobre os tornozelos e regressou à entrada do templo lunar.

Algum tempo já tinha se passado desde a última missão.

Desde o último contato com aqueles que podia chamar de companheiros.

Os treinos andavam bem, ponderava com certa confiança.

Sentia que estava muito mais próxima de alcançar o ponto de partida, incumbido de permiti-la a se juntar a eles.

— Oh, você está aqui. — A voz materna lhe chamou a atenção num giro rápido, antes de poder entrar na residência. — Estava treinando?

Diante do olhar interrogativo da sorridente Deusa da Lua, a apóstola cruzou os dedos e olhou à esquerda.

— Um pouco...

O modo pelo qual exprimiu a resposta era o natural; um sibilo fraco e quase inaudível.

Ártemis sabia disso, mas ainda assim percebeu algo a mais naquele timbre desgastado.

Não foi preciso pensar muito até tomar sua decisão.

— Vamos a Atenas hoje — entoou sem rodeios. Os olhos miúdos da garota cravaram em sua faceta. — Minha irmã nos convidou a uma visita. Você nunca foi em seu templo, certo?

— Mas...

— Não precisa se preocupar. Podemos repor o nosso treinamento amanhã ou depois. — Desprovida de hesitação, a deidade deu meia-volta e tornou a caminhar pelo relvado. — Já está com sua lâmina, então vamos.

Mediante a frase final, Elaine recebeu certa dubiedade.

Nem teve tempo em prol de questionar ambas as interrogações a lhe tomarem a cabeça.

Destituída de outras opções, preferiu avançar na vertente da genetriz, rumo às Passagens Espectrais.

Só depois de acessarem os túneis arco-íris que foi capaz de alcançá-la.

Encarou-a de baixo, em virtude da leve diferença de altura — ela já passava do ombro da superior —, porém experimentou o receio de indagar qualquer coisa.

— Você está se sentindo solitária, não está? — Foi a própria lunar quem disparou, surpreendendo-a. — Não precisa esconder. Eu sou sua mãe e posso ver isso em seus olhos.

Vexada, a prodígio tentou esconder o olhar vacilante ao desviá-lo como de costume.

A mulher complementou:

— Sei que está preocupada com muitas coisas. Eu também estou. — Realizou uma rápida pausa, conforme passava por cima das cidades adjacentes. — Por isso, vamos fazer uma pausa estratégica hoje.

Elaine somente acenou com a cabeça, desencorajada a tomar fôlego para dizer algo.

Acompanhou-a no trajeto especial, responsável por separá-los do rumo tomado pelos mortais sob sua luminescência.

Passado um breve intervalo, chegaram à grande pólis ateniense.

Foram diretamente à acrópole, no fim da colina, de onde já podiam ver a recepcionista posicionada na beirada do maior dos santuários ali construídos.

A radiante de cabelo bege direcionou o olhar celeste à descida dos caminhos, por onde mãe e filha reapareceram para o lado exterior.

— Sejam bem-vindas! — Íris se antecipou à dupla. Logo foi reconhecida pela apóstola, da visita que teve há não muito tempo. — Senhorita Atena já esperava por vocês. Por favor, entrem e se sintam em casa!

— Obrigada, Íris. Vamos, Elaine. — Fitou a filha de soslaio, recebendo novo gesto assertivo.

Conduzidas pela Mensageira dos Deuses, entraram no templo de Atenas e percorreram o corredor que interligava o exterior com a grande sala de estar.

Ficaram surpresas com a perfeita arrumação das estantes de livros, até mesmo da disposição dos móveis e dos lustres no teto, a iluminarem o recinto.

Olhando por cima do ombro, a mensageira sorriu triunfante, como se contente por reconhecerem a magnificência de sua potestade.

Seguiram em frente, rumo ao corredor principal, até desembocarem na passagem do jardim.

Só quando as portas foram abertas as visitantes puderam receber a pressão vital acumulada em seu interior.

O espanto dessa vez foi ainda maior.

Acompanhada pela Deusa da Sabedoria em questão — além da mulher-serpente vendada no outro extremo da região —, Daisy deixava sua energia latente fluir pelo âmbito.

Não obstante ao foco adquirido pela intensidade vital, a espada que empunhava ganhava demasiado destaque no recinto.

— Incrível — sibilou Elaine, no automático.

Ainda que perceptiva à chegada das duas, a caçula de Zeus sustentou a concentração na lâmina preta e branca.

Os raios alvos estalavam ferozes ao redor do gume. Os olhos cerúleos da garotinha cintilavam em euforia.

Ela enfim tinha conseguido alcançar o primeiro nível rumo a própria evolução.

— Vocês vieram — disse Atena, quebrando a perplexidade repentina das duas. — Faz um bom tempo que não lhe recebo aqui, irmã.

— Sim. — Ártemis foi curta e veloz ao regressar à atenção da menina no centro do saguão. — Essa é realmente nossa irmãzinha?

— Surpreendente, correto? — Sorridente, a sábia também devolveu olhares ao progresso da criança. — Levou tempo e paciência. Todavia, ela já ascendeu a um patamar além da respectiva idade.

Elaine continuava incrédula.

Lembrou-se vagamente do encontro exordial com aquela pequena, no dia que saiu em missão junto dos filhos de Zeus e Hades.

Durante a reunião no Olimpo, trocou rápidos olhares com a atinente, que sorriu benevolente em sua vertente — disso se recordava com perfeição.

Pensar que ela, ainda mais tão nova, conseguira obter tamanho grau de influência em pouco tempo...

Aquilo quase a fez morder o beiço inferior, à medida que cerrava os punhos.

Ambas as superiores perceberam isso, num rápido relance.

Embora ciente de que não havia problema em aderir às próprias fraquezas, sabia que jamais deveria aceitá-las por inteiro.

Era delas que arrancaria o necessário para revertê-las em uma nova força da qual ela, e somente ela, poderia usufruir.

— Tive uma ideia, minha irmã — enunciou a purpúrea, já a par da concordância opositora.

Antes de prosseguirem, contudo, a menina executou um movimento de corte vertical contra o ar, lançando partículas elétricas num raio de dois metros ao seu redor.

Aquela ação repentina as deixou admiradas por um singelo instante.

Feito isso, a própria recuou a postura e relaxou o membro dominante, deixando que a ponta da lâmina quase tateasse o plano.

Respirou fundo, comediu o trabalho vital de dentro para fora de si.

Aos poucos, a influência decresceu junto dos raios luminosos.

Só depois da sequência toda, ela se voltou às novas figuras no local.

Correu em saltos rápidos até a entrada do jardim, sem se preocupar com o suor que lhe banhava o rostinho corado.

— Oi, irmã Ártemis!! — saudou a Deusa da Lua, que respondeu através de um aceno cordial. Olhou para a garota ao seu lado, que desviou o olhar no reflexo. — Faz tempinho, né!? Seu nome é Elinha, né!?

— E-Elinha?...

Devolveu o foco à menina; como na ocasião do Olimpo, não podia escapar daquele semblante.

— Sim!! Elinha!!

Já tinha percebido de antemão, desde o primeiro contato há pouco menos de dois meses.

Mas parecia que, apenas naquele instante, pôde definir o sentimento de estar na presença dela em palavras.

“É tão fofa”, as guardou, entretanto, nas paredes da mente.

“A voz dela é linda!”, a criança rebateu inconsciente, como se pudesse ler as minúcias de suas emoções.

— Devidamente reapresentadas, podemos ir adiante — pigarreou Atena. — Daisy ainda caminha no processo de aprendizagem dos fundamentos em prol das batalhas. Levará um tempo considerável até que se habitue a um estilo respectivo. Em virtude disto, gostaria que a já experiente Elaine pudesse servir de possível alicerce em vossas melhorias.

— Eu?...

— Mas eu estou indo bem, irmãzona! — bufou a pequena.

— Certamente, melhor do que o expectado. Entretanto, não se adquire a capacidade sem a prática. E o melhor a vosso favor é praticar com alguém que já está habituada a isto. — Atena fitou a insegura filha da Lua.

“Por sorte ela permaneceu aqui. Talvez não seja tão produtivo quanto seria com minhas filhas, ou até mesmo Damon, todavia...”, semicerrou os olhos esverdeados, na expectativa de receber a resposta da apóstola.

Ao enxergar a irresolução dela, Ártemis deu o novo passo:

— Será uma troca justa, filha. Enquanto você ajuda Daisy a melhorar nesses fundamentos técnicos, ela pode te ajudar também. Porém, em que ela pode te ajudar... — Levantou o indicador destro, apontado a ela. — Você deve descobrir por conta.

O desafio já dizia tudo. Os olhos da cerúlea não deixaram de esgazear em espanto, mas isso foi uma mera reação inicial.

Captar a motivação no espírito da caçula de Zeus foi crucial em prol de fazê-la aceitar.

Sem hesitações, distanciaram-se até o centro do jardim, na região apropriada para poderem lutar.

Daisy continuava na empunhadura de sua espada extravagante; Elaine sacou a lâmina incolor das costas em seguida.

— Isso evoluiu muito rápido, senhorita Atena — opinou a Deusa do Arco-íris, na expectativa do que aconteceria a seguir. — Esse foi realmente o motivo de trazê-las aqui?

— Também. — Sem desgrudar os olhos das jovens, delineou os lábios num fraco sorriso. — Ártemis esteve de acordo comigo. Assim como resta muito a aprender no que concerne à Daisy...

Encarou a semelhante de soslaio, que parecia ainda mais absorta no que se desenhava adiante.

Apesar de ter sido muito rápido e ter omitido mais de metade das razões, confiava que sua filha obteria sucesso na nova empreitada.

“O que só eu posso descobrir...”, Elaine estava vidrada nos próprios pensamentos, a ponto de olhar a palma esquerda.

Fez nenhum aquecimento; só tentava achar qualquer luz que pudesse conduzi-la a uma resposta de forma breve.

— Elinha!! — O grito da menina, no entanto, a arrancou dos devaneios. — Não precisa pegar leve, ‘tá bom!!?

Depois de realizar rápidos saltos nas pontas dos pés, Daisy sequer aguardou algum sinal para começar a correr em sua direção.

A espada estava posicionada na vertente do relvado, um pouco aberta com relação ao torso em movimento.

A filha de Ártemis resolveu se desvencilhar das dúvidas internas e se prontificou a oferecer absoluta atenção à investida...

“Ela é lenta”, percebeu num piscar a falta de velocidade na corrida toda inconsistente da garotinha.

Não parecia ser tão difícil o trabalho de superá-la; ainda era criança e lhe carecia os dotes necessários, afinal.

Quem sabe fosse melhor pegar leve, ao contrário do que ela tinha pedido logo antes de iniciar o avanço.

Esse singelo pensamento a fez relaxar quando não devia. Então, acabou pega de surpresa por uma abrupta mudança.

A insegurança a abraçou de novo; num flash inesperado, as lâminas entraram em colisão.

O puro e instintivo movimento a salvou do golpe frontal da olimpiana, que saltou sem ela sequer perceber e atacou de cima para baixo.

Íris ficou boquiaberta. Atena e Ártemis observavam sem exprimir reações chamativas.

A filha da Deusa da Lua quase caía com uma das pernas erguidas, sendo forçada para trás aos poucos pela surpreendente criança.

— Conto com você, Elinha!!

Animada ao extremo, deixou os olhos azuis penetrarem o coração da experiente e destruírem sua falsa segurança.

O treinamento de combate mais inusitado tinha seu início no templo de Atenas.

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