Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 6 – Arco 5

Capítulo 114: Os Avanços da Daisy

Com a pequena espada de ferro empunhada por ambas as mãos, Daisy fechou os olhos celestes.

Posicionada à frente do torso, apontada para frente numa leve diagonal, a chapa metálica começou a receber sua energia.

Pouco a pouco, os estalidos alvos tomaram forma, transmitindo a energia elétrica de maneira bem-sucedida.

Foi inevitável o surgimento do animado sorriso de canto, responsável por conduzi-la ao avanço do próximo nível.

Os cacheados fios cor de vinho, de aspecto caótico, levitavam no intermédio do esforço designado ao sucesso daquele novo teste.

Já tinha apagado, da mente focada, a presença da Deusa da Sabedoria, incumbida de acompanhar seu progresso na entrada do jardim — os braços cruzados e o semblante circunspecto sustentavam a seriedade, mas realçava o interesse interior.

“Isto... continue”, torcia à medida que podia experimentar o avanço contínuo da menina.

Tentava esconder ao máximo, mas sua empolgação chegava a fazer com que apertasse os punhos escondidos entre os membros superiores.

Apesar das aparentes dificuldades, a aprendiz enfim conseguiu obter algum domínio sobre o controle vital.

Estava certa disso, dessa vez sem erros.

O fluxo irradiado pela respectiva comprovava sua tese, uma vez que se mostrava desprovido de ruídos ou incongruências.

Poderia suspirar contente — e até aliviada —, mas mal poderia esperar pelo que viria a seguir.

De súbito, num átimo de microssegundos, tudo foi por água abaixo; as arestas controladas desapareceram sem deixar rastro.

Restou o descontrole.

Novamente, a garotinha experimentou o peso descomunal tomar a arma em mãos.

O corpo leve quase foi à frente, porém as pernas se forçaram a mantê-la ereta.

A feição tranquila adquiriu linhas de nervosismo, os dentes rangiam com pujança.

Empenhou-se ao máximo no intuito de vencer a diferença invisível e se impor sobre a espada.

Com as vistas arregaladas, grunhiu de dentro do peito somente para levantá-la alguns metros no espaço.

A autoridade elementar do relâmpago permanecia em atividade, tão forte quanto nunca.

Nenhum deles trazia aflição ao ambiente, tampouco à pequena portadora.

Seria outra falha, semelhante a todas as demais pela qual passara até então.

Isso se não fosse o próximo ato.

— Aaaaah!! — O grito da menina ecoou alto, fazendo as sobrancelhas de Atena enrijecerem.

Desesperada, Daisy largou a espada a tombar no relvado.

O efeito estranho quase a levou junto, conforme os resquícios da energia desapareciam acima do releixo.

Linhas fracas de fumaça subiram de suas palmas.

Com tremedeiras por conta da queimadura, ela não suportou o derramamento de finas lágrimas nos cantos dos olhos — também trêmulos.

— Ai... ai... — Mediante os murmúrios de agonia, mal conseguiu cerrar os palmos avermelhados.

Atena se aproximou logo na sequência, apta a conferir a situação.

As lesões não aparentavam possuir um grau preocupante, portanto sequer foi necessária a intervenção imediata.

“O que significa isto?”, levou uma das mãos ao queixo, pensativa. “Então, realmente, ela possui algum problema de grave incompatibilidade?”

Semicerrou os olhos esmeraldinos, na torcida para que não fosse o caso.

Passados os segundos de ponderação, viu a criança se livrar da tremedeira que a paralisava.

Os joelhos flexionaram, no intuito de levar o pequeno corpo à vertente do equipamento caído.

Uma das mãos feridas já próxima de apanhá-la outra vez.

— Vamos parar por aqui. — A voz da sabedoria ecoou absoluta no recinto.

— Mas, irmãzona... eu... dessa vez eu quase...!

— Com as mãos assim não conseguirá repetir o processo. O que necessita agora é de repouso.

Após ser cortada no ato, a caçula do Rei dos Deuses não teve respostas. Meramente abaixou a cabeça e os braços, inapta a confrontar a mais velha.

E dessa vez, o impasse também martelava a mente da mulher.

Sempre conseguia consolá-la, levantar seu espírito em prol de se empenhar ao máximo todas as tentativas.

Continuava confiante quanto a seu potencial, mas já pendia a encarar uma outra realidade.

“Talvez ela não tenha nascido em prol disto?”, por pouco mordeu o beiço inferior no instante que tais palavras correram pela mente. “Já avançamos praticamente um mês e meio desde que eles partiram às Musas. Há progresso claro em vosso desenvolvimento, porém este imbróglio é um tanto quanto peculiar. Apesar da idade.”

— Vá até o banheiro e me aguarde. Irei cuidar das queimaduras.

Daisy acenou sem pestanejar.

Nem uma palavra foi proferida pelos lábios colados, ao que a própria deu meia-volta e caminhou a passos curtos à saída.

“O que resta, portanto?”, Atena continuava a bater e rebater na cabeça confusa. “Pense. O que ela lhe deixou?”

Enervada pela incapacidade de encontrar qualquer saída, a deusa deixou transparecer os sentimentos na expressão contorcida.

— Refine vossa concentração — entoou antes de a menina deixar o local, fazendo-a parar no meio da passagem. Nenhuma delas se corrupiou. — Treine uma imagem mental, onde possa apanhar a própria energia e domá-la ao respectivo favor.

Mais uma vez, a caçula não disse qualquer palavra. Somente deixou o recinto, trazendo maior desconforto à superior.

A sábia sabia que se tratava do sonho dela em jogo.

Sabia que ela queria, mais do que tudo, receber o irmão e demonstrar sua evolução, para chegar mais próxima de onde ele estava.

A partir dali, não mais se contentaria com dicas vazias.

Apesar dos pesares, Atena respirou fundo, na iminência de retomar o controle emocional.

Embora pudesse ser afetada pelo sofrimento silencioso da garota, aquilo por si só jamais serviria de motivação para perder toda a firmeza construída até então.

O árduo processo já tinha sido cogitado, ainda que o problema em questão fosse surpreendente.

A melhor saída, de certo, seria encontrada hora ou outra.

Restava trabalhar o quanto pudesse no intuito de chegar até esse nível.

Com as mãos enfaixadas, Daisy olhava para o teto do quarto iluminado.

As sobrancelhas relaxadas acompanhavam os lábios inclinados à melancolia; de novo e de novo, incapaz de controlar os próprios poderes.

Não importava o quanto pensasse, era difícil fazer a última coisa indicada pela Deusa da Sabedoria.

Ela só tinha treze anos, afinal.

Talvez o processo estivesse além do que poderia fazer com essa idade.

Essas coisas eram complexas para sua cabeça, muito em virtude disso.

Levantou o palmo esquerdo, de modo a esticá-lo sobre o rosto entristecido. Em seguida, o abaixou de volta ao peito.

Os olhos vidrados no topo cintilavam como se fossem despejar lágrimas a qualquer instante.

Fechou-os a fim de evitar isso.

Num instante, o cenário surgiu em sua cabeça.

Era como se o sonho tivesse sido iniciado no mesmo momento do ato, impedindo-a de despertar com facilidade.

Envolta pelo espaço branco, encontrou a imagem escurecida que parecia sorrir de volta.

Antes que pudesse agir de qualquer maneira, o brilho desceu do céu falso; uma repetição de algo que já tinha vivenciado há pouco tempo.

A despeito da ocasião anterior, no entanto, ela não experimentou o desespero.

Sentia nada além de uma onda de calor semelhante àquela que a tomava durante os treinamentos e que, em questão de segundos, escapava de seu controle.

Inconscientemente levantou as mãos, para receber o ponto luminoso em queda.

Ele parou, bem acima das palmas que não carregavam as faixas da realidade.

É... sua...

A voz estranha lhe trouxe calafrios, porém aquilo não a assustava.

Induzida pela figura misteriosa, a imagem tomou forma tangível.

Os olhos voltaram a se abrir na cama.

Suada, Daisy se levantou com pressa, a respiração ofegante.

Não teve o ataque da fobia como da outra vez, o que já era um grande avanço.

Voltou a tatear o peito com a mão não-dominante — os batimentos cardíacos descompassados.

Em seguida, encarou a destra, que oscilava com leveza.

Manteve a calma no limite.

Por alguma razão, sabia que aquela nova experiência era de suma importância para definir seus próximos passos.

“Imagem”, repetiu a palavra incontáveis vezes ao se posicionar sentada à beira da cama.

Fechou de novo as vistas, agora ciente do que desejava imaginar. O cenário branco regressou, por sua própria vontade.

A figura parecia ainda estar ali, mas não interagia como antes. Por outro lado, a luz permaneceu bem acesa à sua frente.

E no momento que esticou o braço na direção específica, o ponto cintilante elevou-se em fulgor.

Levantou-se de vez. Abaixo dos pés, surgiu um círculo luminoso recheado de formas geométricas complexas, além de aparentes escrituras indecifráveis.

A energia tornou-se palpável no instante que o cômodo inteiro foi dominado pelo brilho alvo.

Sem perder tempo, Atena deixou seus aposentos ao experimentar a influência arrepiante percorrer todo o corredor.

Quiçá o templo inteiro.

Não pensou duas vezes em levantar-se da cadeira de mármore e correr, somente de vestido, pela passagem principal entre os cômodos e a sala de recepção.

Desprovida de devaneios muito específicos, abriu a porta da menina — de onde tinha identificado a influência singular — em um rompante.

Ao se habituar à cortina luminosa criada no âmbito, arregalou as esferas oculares, incrédula.

— Irmãzona! Irmãzona! Eu consegui!! Olha!! — Daisy se virou a ela, sorridente como nunca.

Em sua mão destra, a lâmina preta e branca alcançava a altura das charmosas anteninhas do cabelo, a dançarem cheias de graça.

Abaixo do membro cerrado, envolto na empunhadura celeste, o desenho de asas compunha o acabamento da arma mística.

Boquiaberta, a sábia ficou sem palavras por um longo período, conforme observava o domínio aparentemente perfeito da caçula.

Relâmpagos brancos estalavam, brilhantes, ao redor de seu corpo.

Fosse apenas isso estaria tudo bem, ponderou a sábia, com maior propriedade.

Além disso, a luz que se espalhava do lado claro da lâmina e se misturava às pequenas descargas chamava bastante sua atenção.

E não se tratava de pouca energia focada ali e sendo deliberada para o exterior.

Se tratava de uma quantidade espantosa até mesmo para os grandes deuses...

— Fabuloso — mussitou sem nem perceber.

Essa era a resposta.

Nem precisava pensar muito em prol de compreender a sucessão dos eventos.

Ela nunca esteve errada; a irmãzinha de meros treze anos de idade era mais especial do que imaginava que seria.

Contente com o avanço repentino, Daisy voltou a encarar a mais velha no acesso ao quarto.

Conseguia controlar a energia com certo cuidado. Apesar da quantidade magnânima, mostrava-se eficaz em sustentá-la sob seu controle.

E isso, aos olhos de Atena, se mostrava algo espetacular.

Os ânimos exordiais misturados à surpresa varreram as dúvidas de seu coração.

Assuntos complexos demais para serem entendidos naquela idade, no fim das contas.

Restava a alegria de, enfim, ter encontrado o equilíbrio que faltava.

Isso coincidiu com o contato ocular ao rosto da Deusa da Sabedoria.

O sorriso grotesco expressado por ela, além de ser muito raro, fez a ebulição vital da menina findar aos poucos.

O brilho intenso foi embora, a energia diminuiu até desaparecer sobre o gume bicolor.

Controladora natural daquela arma mística, nunca sequer cogitada a existência, a criança relaxou o braço dominante e levou sua preocupação à superior.

— Irmãzona?

O chamado despertou Atena do transe como um estalo, fazendo-a virar metade do corpo e esconder a faceta extravagante com a mão.

Tentou ao máximo controlar as contrações involuntárias, o trabalho de dissimulação emocional mais difícil do qual se lembrava em vida.

Balançou a cabeça para os lados, no intuito de comedir o quanto podia do problema.

Quando voltou a liberar o rosto, direcionou um sorriso mais leve à aprendiz.

Esse sim genuinamente natural ao que costumava esboçar em seus momentos de aprazo.

— Meus parabéns, Daisy. Sabia que iria conseguir.

A pequena Daisy abriu a boca em plena animação, voltando a encarar a espada que tinha em punho.

Foi o proveito necessário a favor da deidade, que tomou o caminho contrário no semblante enrugado.

Os lábios ficaram retos, quase inclinados para baixo. As vistas esverdeadas fitavam a garota de cima à baixo.

“O que é esta espada? Esta energia... Isto é melhor do que eu expectava.”

Incapaz de definir se sustentava o rosto circunspecto ou voltava a sorrir com delicadeza, a deusa deixou-se divagar além do pretendido.

“Agora podemos começar a avançar, em definitivo.”

Quando tudo voltou a se apagar, o silêncio das respectivas sensações se fez imperioso.

A talentosa filha de Zeus enfim tinha caminho aberto, rumo a um avanço que nem as estrelas daquela noite de verão poderiam medir...

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