Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 6 – Arco 5

Capítulo 111: Por Dentro e Por Fora

Recheado de hematomas por braços, pernas e torso, Damon arquejava com rouquidão à medida que suportava a dor intensa na vista direita — roxa e inchada.

Melpômene não se impressionou com a cena.

A expressão inerte varreu o restante da área estrelada, até encontrar a presença de duas mulheres à frente do jovem.

Melinoe portava a mesma arma de madeira e não apresentava tamanho desgaste em comparação ao garoto.

Partes da saia, nas laterais das coxas, estavam rasgadas, em vista de lhe proporcionar maior liberdade de deslocamento.

Como de costume, usava nada mais do que faixas de tecido sobre os seios, a envolverem suas costelas e costas.

E a outra era perfeitamente conhecida.

A musa de desgrenhados fios turquesa, ao contrário da dupla, não portava qualquer objeto em mãos.

O olhar superior fuzilava o rapaz machucado. Só não podia superar a hostilidade natural da ruiva.

Com exceção das três figuras principais, fitou as outras duas mulheres que acompanhavam a sessão de treinamento, paralelas à entrada.

Calíope seguia a sorridente de sempre, em oposição à Urânia, que quase se contorcia em preocupação.

Nenhuma delas demorou a perceber a chegada da Trágica, mesmo sem terem desviado a atenção do evento no centro do salão.

Damon tentava manter o foco absoluto nas adversárias.

O olho bom lutava para se manter aberto. O suor copioso ia até o queixo e pingava em gotas pausadas para desaparecerem no solo escuro.

Vez ou outra o torso se inclinava, pesado. Empenhava-se no objetivo de sustentar alguma firmeza na postura.

Para isso, apertou com vigor a empunhadura do bastão. Foi o exato instante que a Musa da Dança se moveu, num rodopio veloz que terminou com um chute direto.

O olimpiano desviou no puro instinto. Os cacheados fios vinho-escuro dançaram com a passagem do pé descalço rente à face.

Ao invés de balançar a arma contra a guarda aberta da dançarina, no entanto, o prodígio desviou o corpo à direita e correu em direção à filha de Hades.

Determinado a acertá-la antes de tudo, ergueu o braço e saltou, preparado para descer um ataque total contra a cabeça dela.

O sorriso afiado brotou no rosto da ctónica, que posicionou seu bastão na altura da testa.

— Quem você acha que é, seu lixo!?

A colisão entre as armas causou uma explosão de choque intensa pelo recinto.

Tanto a dançarina quanto as espectadoras reagiram perplexas à atitude tomada pelo jovem.

“Ele realmente aprende rápido”, pensou. Um tênue sorriso se formou nos lábios.

— I-isso foi...?

— De fato... — Calíope, em resposta às palavras perdidas da caçula, semicerrou as vistas. — Ele, por um instante, reproduziu a Arte da Dança de Terpsícore.

O duelo pessoal entre a Classe Herói e o Classe Prodígio seguia agressivo.

Damon fazia de tudo para vencer a defesa de Melinoe, que devolvia a força com ainda mais ferocidade na tentativa de impeli-lo de volta.

Passados alguns segundos de instabilidade, ela desistiu de tal abordagem e surpreendeu-o com um soco poderoso no abdômen.

Cansado, incapaz de reagir àquilo, o garoto foi lançado para trás. Caiu no chão de novo, para depois começar a tossir e sugar o quanto de ar fosse possível.

Deleitosa por ter o frustrado outra vez, a ruiva balançou o bastão contra o ar. Os ossos do braço dominante estalaram alto.

Melpômene, detrás da fresta, nem percebeu o riso que seus lábios formaram, repentinamente.

O interesse no conflito se elevou. Ainda por cima quando o filho do Rei dos Deuses, desinteressado em desistir, forçou o maltratado corpo a se reerguer.

Pela segunda vez, ele arregalou a vista que não estava machucada e disparou contra a descendente do Submundo.

Nessa altura, Terpsícore resumiu-se a somente contemplar. Os nervos estavam ficando à flor da pele, mas a curiosidade fazia que tanto ela quanto as semelhantes esticassem a corda ao limite.

Damon, sem usufruir da velocidade concebida por sua energia inutilizada, tentou empalar o peito da ctónica. Ela se desvencilhou sem dificuldades.

Sem dar o braço a torcer, ele largou a arma ao girar o corpo em cento e oitenta graus. No meio do caminho, apanhou-a com a outra mão.

Melinoe estremeceu as sobrancelhas em surpresa ao ver o final do deslocamento, um golpe vindo de dentro para fora com a espada de madeira revirada.

Ainda no domínio da situação, defendeu-se com seu bastão. Depois, usou a mão livre em prol de apanhar o pescoço dele, para o enforcar.

Só que, no momento que o fez, paralisou de súbito.

O olhar noturno cravou seu rosto, tão perto que parecia estar penetrando sua alma.

A pressão descomunal inesperada a fez vacilar por segundos preciosos. Isso permitiu que o olimpiano se livrasse do contra-ataque e revidasse.

Por meio de outra ação de empalamento, buscou o rosto da ruiva. Ela “despertou” ao ver a ponta da arma se aproximar e esquivou a face à esquerda.

O vento, cheio de pressão vital, sacudiu o volumoso topete-moicano. E, na bochecha, um ínfimo corte se abriu, sem que sangue algum pudesse escapar ainda.

Frustrada por ter sido surpreendida, ela estalou a língua e não pestanejou em atingi-lo na costela. O lançou com agressividade dobrada a metros de distância.

Ele cuspiu bastante saliva antes de cair. Capotou duas vezes e, diferente da ocasião anterior, não encontrou novas forças a fim de se levantar.

“Esse desgraçado...!!”, indignada, a mulher pensou em continuar com o trabalho de o humilhar.

O sorriso em seu rosto estava contorcido.

— Muito bem! — Calíope surgiu na retaguarda dela, que já planejava avançar para espancá-lo enquanto imóvel. — Terminamos por hoje!

Ao ter os planos instintivos interrompidos, a filha de Hades devolveu um olhar de soslaio irritadiço. Para, em seguida, desviar o rosto e dar meia-volta.

Repetiu o itinerário das outras ocasiões, dessa vez jogando o bastão contra a parede. Apanhou suas coisas sobre a mesinha e abriu a porta.

Melpômene enfim foi revelada, numa troca de olhar extremamente pesada entre ambas.

“Ela realmente iria fazer...”, ponderou a Eloquente, ainda de feição risonha. “Enfim provou o gosto da frustração, hein?”

— Você foi surpreendentemente bem hoje — disse Terpsícore, ao se aproximar e estender a mão. — Tenho certeza de que a jovem do Submundo apenas foi movida pela completa decepção de ter sido, enfim, superada por ti.

Ainda com problemas para mover o corpo todo dolorido, o filho de Zeus encarou o convite da deusa.

Por um lado, duvidava se aquilo que ela dizia não era apenas para o motivar. Mas não conseguia encontrar nada além de seriedade nos olhos castanhos.

Por isso, aceitou a ajuda e foi puxado para o alto.

Experimentou estalos agonizantes por todos os membros.

Urânia se aproximou com uma bandeja em mãos. Sem pensar duas vezes, o garoto apanhou a jarra e derramou todo o néctar divino goela abaixo.

As dores diminuíram, mas a gravidade das lesões permaneceria. Ao menos, tinha vigor extra para se manter em pé.

— Você está em uma boa curva de evolução para somente duas semanas de treinamentos!! — A Eloquente abriu os braços. — Podemos dizer que, enfim, está aprendendo a usar técnicas de batalha sem a necessidade de se escorar somente em sua energia!!

Um pouco impressionado com as afirmações contundentes, o filho de Zeus encarou a palma recheada de calos.

— Acho que isso foi... instinto? — Franziu o cenho. — Naquela hora... pareceu que tudo de inútil ao redor sumiu.

— Instintivo ou intencional, você foi capaz de utilizar — rebateu a Dançarina. — Parece que eu estava enganada em acreditar que você enfrentaria mais dificuldades em lidar com os próprios problemas. Peço minhas devidas desculpas.

— Ah, que isso... — Sem jeito diante da mesura da superior, ele passou a mão pela nuca.

— O primeiro passo está sendo concluído! — Calíope bateu as palmas ao lado do rosto. — Quer prova maior do que as recentes conquistas, mesmo que pequenas? O fato de ser extremamente raro que Melpômene tenha interessem em algo. Ou alguém...

No momento do comentário, tanto a mais velha das musas quanto suas irmãs e o próprio apóstolo se voltaram à passagem de ida e volta do âmbito estrelado.

Não havia ninguém ali. Apenas a porta ligeiramente entreaberta.

Damon tinha sido o único inapto a perceber a chegada da Musa da Tragédia, que bisbilhotou até o final.

O novo dia de treinamentos no Museion enfim tinha terminado.

O filho de Zeus seguiu até seu cômodo após ser tratado pela tutora, a Astrônoma, então afogou-se no banho morno.

“Misericórdia”, resfolegou ao ser preenchido por um relaxamento sem igual.

Era tudo que precisava após apanhar tanto, pensou de maneira um tanto quanto irônica.

Depois de perder bastante tempo no spa particular, secou-se, vestiu uma nova muda de roupas e se deitou no colchão sobre o plano.

Usando a própria mochila como travesseiro, ajeitou-se de maneira a encarar o teto, parcamente iluminado pelas chamas azuladas nos arredores.

“Duas semanas”, divagou, perplexo por tanto ter se passado tão rápido.

De todo modo, guardava consigo as palavras das musas. Ele estava, até que enfim, voltando a caminhar em frente.

Não faltava muito. Em breve conseguiria alcançar seu objetivo momentâneo para, depois, buscar o derradeiro.

Se tornar mais forte...

Ao pensar nisso, moveu o braço dolorido até um compartimento aberto da bolsa. Puxou dela um laço.

O laço que tinha resgatado com Lilith, na Floresta Negra...

Enquanto o encarava, o apertou com força e desceu-o até descansá-lo sobre o peito.

Então, fechou os olhos.

Sucumbiu à fadiga.

Adormeceu, com a imagem dela em suas retinas.

O encapuzado caminhava, sem rumo e trôpego nas passadas.

Esgueirava-se pelos flancos sombrios da grande cidade, onde homens e mulheres tocavam suas vidas normalmente.

Procurava ao máximo não chamar atenção de qualquer um, à medida que passava pelos pontos cegos das vielas escuras.

Esforçava-se para esconder o rosto com o capuz, responsável por cobri-lo pela metade.

Desta maneira, conseguiu avançar por diversos quarteirões até, num azar raro, se esbarrar em uma figura de armadura.

Por trás do elmo com crina de cavalo, o soldado foi tomado pela curiosidade.

A estatura baixa da pessoa chamava atenção, mas o manto negro que lhe envolvia por todo o corpo despertava uma forte desconfiança.

— Ei, o que está...?

Quando foi perguntar, contemplou a asa de rapina revelar-se debaixo do tecido.

Foi incapaz de executar qualquer outra ação.

Um braço se esticou da vanguarda aberta até tampar sua boca; o outro surgiu para apanhar seu punho, o torcendo com força.

O homem gritou de dor, mas só o grunhido pôde escapar entre os dedos esguios da criatura.

Ao perder o controle da respiração, dada a produção efusiva de adrenalina no sangue, buscou segurar as estribeiras como um respeitável soldado.

Enquanto agarrado por trás, experimentou o ar arrepiante que vinha da boca dela, bem próxima do pé de seu ouvido.

O sussurro soou rouco:

— Um garoto... cabelo escuro... Uma garota... cabelo vermelho... Você viu algum desses?

Ele não compreendeu o intuito do questionamento e, de vistas esgazeadas, balançou a cabeça em negação.

A mulher estalou a língua e moveu o membro que lhe apertava o braço. Num rápido deslocamento, rasgou sua garganta com as presas afiadas.

O sangue espirrou descontrolado.

Nada soou da boca aberta do homem que, após alguns segundos de agonia, sucumbiu na viela isolada.

Uma poça do líquido rubro formou-se abaixo de seu corpo.

Enquanto apreciava o cenário através dos olhos obscuros, percebeu a queda do capuz, revelando seu semblante.

Com somente uma das asas intactas, carregava graves marcas de queimaduras por uma porção do torso, subindo até metade da face.

A mulher-ave voltou a esconder a aparência horripilante ao puxar a capa até a cabeça.

Deixou o soldado falecido ali, retornando para o caminho principal sobre a poça de sangue.

Um rastro de pegadas se criou pelo local.

Pouco importava a ela.

— Eu vou... encontrar vocês... — murmurou consigo mesma. — Vocês que... fizeram isso comigo... Mataram minhas... irmãs... Irei... matá-los...

A expressão odiosa daquela que era a única sobrevivente das harpias visava o objetivo derradeiro, em busca da vingança pessoal.

Aelo resistiu aos graves ferimentos após ser deixada agonizando no Deserto da Perdição pelos dois apóstolos prodígios.

As irmãs mais novas, Podarge e Ocípete, foram encontradas mortas na extensão vazia.

Possuída por forças ocultas enraizadas pela cólera, partiu à primeira pólis que fazia fronteira com a zona árida.

Chegou cidade dos soldados, nascidos para a guerra e que morreriam por ela.

Embora enfrentasse o risco de ser cercada por diversos deles, confiava na poderosa autoridade da Borrasca a fim de limpar o caminho.

Ainda assim, permaneceu no avanço sigiloso, até onde fosse possível fazê-lo.

Um tempo se passou desde o assassinato silencioso daquele homem. A ave se encontrava nas proximidades de uma elevada colina.

As imediações da grande acrópole, tal como o Templo de Esparta, situavam-se a seu alcance.

O robusto de cabelo vermelho-escuro e pele morena conquistava o prêmio do dia.

Em porte do grande machado, observava o cervo agonizar diante de seus pés.

A lâmina curvilínea era dominada pelo sangue do animal.

Sem pestanejar, apanhou um dos chifres e iniciou o arraste dele pelo solo gramado, o trazendo junto ao caminhar pesado.

A região de vegetação fechada não era tão extensa para ser chamada de floresta. Ainda assim, tratava-se de um local propício para caça, visto que diversos animais silvestres ali habitavam.

Carregou a presa abatida até metade do trajeto, quando encontrou uma figura de cabelo loiro e olhos vermelhos, que pareciam reluzir como joias preciosas.

Interrompeu a caminhada no mesmo instante, semicerrou as vistas negras e aguardou.

Imaginava a identidade da visita inesperada, pronto para dar de ombros e prosseguir ao destino.

No entanto...

— Então você estava aqui. Nosso pai perguntava por ti.

A expressão cautelosa logo esvaneceu, dando lugar às sobrancelhas levemente levantadas em surpresa.

A voz que veio dos lábios róseos era diferente.

De todo modo, não deixou de exalar uma lamentação carregada, por também reconhecer a específica presença que se aproximou em alguns passos. 

A fisionomia idêntica à da Deusa do Amor foi o que lhe confundiu por um momento.

As diferenças, além do tom vocal, situavam-se na voluptuosidade menos desenvolvida, tal como o semblante mais jovial.

Ela caminhava com as mãos unidas à frente do torso.

Utilizava um bonito vestido amarelo, de alas transparentes a mostrarem suas bonitas curvas.

O brinco de pérolas, na orelha canhota, balançava junto aos fios que escorriam sobre os ombros a cada passo sobre a terra.

— Desta vez apanhou um grande, irmãozinho. Se estocar bem, deve durar uma semana inteira.  

— Sai da frente.

Brandt desprezou as palavras da semelhante, voltando a avançar com o cervo morto.

Passou ao lado dela sem sequer a encarar e, não obstante, o leve sorriso em sua face caucasiana se susteve.

Por fim, optou por corrupiar, decidida a acompanhá-lo de volta.

Alternando olhadelas rápidas sobre o ombro, o filho do Deus da Guerra experimentou a irritação ser alimentada por boa parte do retorno.

Os cantos dos lábios elevados da moça o tiravam do sério, porém esse foco foi dissipado em questão de segundos.

Ao identificar a ausência de ruídos vindos de sua retaguarda, encarou a fim de verificar as circunstâncias.

A loira não mais avançava em seu encalço.

Sem se importar com a paralisia repentina dela, o robusto resolveu continuar sozinho, enfim livre da companhia incômoda.

Isso até ela proferir, em voz alta:

—  Alguém nos observa.

Dessa vez foi o apóstolo que interrompeu as passadas, por fim delegando a atenção devida à situação.

Antes de poder reclamar a respeito, uma poderosa ventania espalhou-se entre ambos, os separando no mesmo átimo.

Largou o chifre do cervo abatido e balançou o machado ensanguentado, permitindo que os resquícios do líquido esvoaçassem junto à corrente.

Mirou o redemoinho formado logo adiante, a poucos metros de sua vanguarda.

Assim como as pontas de seu cabelo, as folhas das árvores oscilavam freneticamente pelo espaço.

Não demorou muito até uma influência de Energia Vital ser identificado no meio do fenômeno.

A influência sórdida surgiu bem na sequência, dando ênfase às atitudes inesperadas da semelhante à Deusa do Amor.

O sorriso feroz surgiu no semblante do guerreiro, o punho ganhou força sobre a empunhadura.

Desprovido de temores, avançou num corte diagonal contra a camada de vento.

Não imaginava que tal escolha se provaria equivocada, assim que o tornado se abriu até prendê-lo no epicentro do fluxo giratório.

Estalou a língua enraivecido ao buscar uma nova brecha de laceração por dentro.

Dessa vez, o espesso revestimento se reconstituía em milésimos de segundos.

Ele tentou diversas vezes, algumas em sequência, mas nenhuma delas o livrou do olho do tornado.

— Não se mova.

A rouca voz dominada por ódio soou abafada pela ventania, mas foi o suficiente a fim de trazer a atenção do rapaz à sua vertente.

Embora a autoridade elementar do ar, em grande escala, obstruísse sua visão, pôde enxergar duas silhuetas não muito distante das passagens.

Uma claramente pertencia à loira, que o acompanhava até então.

Essa encontrava-se aprisionada pela nova presença, que era coberta por um manto negro e tinha as garras dos dedos apontados contra sua garganta.

O filho do Deus da Guerra permaneceu inerte, sem alguma reação emocional aparente.

Era como se ver a irmã ser feita de refém sequer o abalasse.

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