Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 6 – Arco 5

Capítulo 105: Nove Musas 4 [Crenças de uma Divindade]

Meros segundos após a conduta paralela, Chloe recuou em conjunto a sua irmã, encarregada de ter a protegido.

Ainda assim, nenhuma das duas foi capaz de impedir a nova ação da Musicista, que se posicionou entre ambas e apontou as duas lâminas sob o pescoço de cada uma.

“Ela é veloz”, pensou a lanceira, inerte enquanto controlada pela superior.

Gostaria de tentar sacar a arma dividida na cintura, porém não teve tempo hábil para tal.

— Vocês duas são o tipo que trabalham sempre em equipe. Dependentes uma da outra, certo? Esse momento me entregou tudinho. — Sem desfazer o sorriso, aproximou os cílios. — Ainda assim, me parece que precisam achar um equilíbrio.

O súbito clima de tensão perdurou até a feição desafiadora da musa regredir a um estado de relaxamento.

Ela recuou tanto as adagas quanto os passos, voltando a liberar espaço para que as irmãs pudessem respirar.

Voltou a encaixar as alas opostas das armas de ossos escondidas, formando novamente a flauta dupla.

Ainda afligidas pela sequência inestimada, separaram um breve período em prol de divagarem.

Não só sobre o ocorrido em si, mas sobre as palavras destiladas pela anfitriã.

Como de costume, a mediadora verbal era a purpúrea. Portanto, ela se prestou a comentar:

— Equilíbrio... — Levou uma das mãos abaixo do queixo. O olhar pensativo mirava o chão. — Por qual pretexto emenda tal determinação? Modéstia à parte, acredito que somos bastante equilibradas quando exigidas em diversas circunstâncias.

Euterpe ajeitou a faixa de pano que envolvia sua cintura, o sustento do vestido azulado que alcançava os joelhos, enquanto a garota declamava.

Só depois disso, proferiu:

— É como eu disse. Sua irmã reagiu no exato instante que eu me dispus a afligi-las com estas adagas escondidas. Ela foi ótima. Já você levou uma fração maior de tempo até perceber, por ter sido distraída com minha música.  —Apontou para as duas com a flauta. — Acredito que Clio tenha percebido isto e as enviou para minha tutela especial. Como esperado, por serem filhas de Minerva, certamente são bem centradas e superiores a diversos outros jovens no individual. Portanto, devem aprimorar as performances enquanto uma dupla.

As gêmeas voltaram a trocar olhares, cada uma a seu modo de demonstrar o espanto defronte ao esclarecimento da Musicista.

— Entendo onde deseja chegar, senhorita Euterpe. Todavia, isto nunca se revelou uma atribulação para nenhuma de nós duas.

— Não se tornou até então. — A devolução dela, que voltou a caminhar ao pedestal de mármore, causou desconforto na ateniense. — E apesar disto, você tem um pensamento muito equivocado acerca do que eu disse, mocinha.

Rodopiou e lançou-se a se sentar no mesmo local onde estava há meros minutos.

Chloe abaixou a cabeça de novo, na tentativa de encontrar a real motivação para o diagnóstico da musa.

Vendo que mesmo ela tinha dificuldades para tal, a anfitriã bufou com leveza.

— Nada é perfeito neste mundo. — As palavras, apesar de simples, iluminaram a escuridão da mente da jovem. — Não existe nada que não possa ser aperfeiçoado. Claro, em suas determinadas circunstâncias.

O rosto de Euterpe inclinou-se à direção do ombro direito.

E, aos poucos, a mentalidade deturpada da apóstola começava a perder a bruma.

Claro, não era por mal. O único revés sério do qual podia se remeter concernia ao caso do Deserto das Almas, onde ela e Julie se encontravam cansadas da batalha contra o Titã da Astúcia.

E todos, inclusive Atena, sabiam que o trabalho em equipe das duas era um dos melhores, senão o melhor, de toda a corporação.

Quiçá, do panteão...

— Instigante — mussitou a lanceira.

Com aquela singela réplica, a Musa da Música delineou um novo riso, recheado de tentação.

— Embora nada possa alcançar a perfeição, nem mesmo divindades... podemos nos aperfeiçoar a níveis onde ela possa ser minimamente aproximada. É nisto que eu acredito. — Apontou o aulo às duas, outra vez. — Portanto, eu servirei como o alicerce responsável por fazê-las serem aperfeiçoadas! As levarei a além do que são capazes hoje.

Como há tempo não ocorria, as gêmeas se tornaram igualmente contagiadas pelas palavras da ciana.

Determinadas a alcançar um aperfeiçoamento que jamais poderiam ter cogitado, demandaram olhares focados àquela que seria sua nova tutora.

— Aceitamos este desafio, portanto — determinou. — Todavia, se me permite... de que modo isto poderia ser desenvolvido?

Com a interrogação explícita pela lanceira, Euterpe saltou do pedestal de novo.

No retorno ao solo, caminhou até uma outra passagem daquele cômodo. Chamou pelas duas num movimento de cabeça, antes de abrir a porta.

— Eu disse que o intuito é fazê-las se aperfeiçoarem como uma dupla. Porém isto também as aperfeiçoará individualmente, é claro. Um caminho sempre levará a outro.

Explicou enquanto as conduzia pelo segundo pequeno corredor do recinto.

As duas, ainda que atentas às declarações, conseguiam imaginar como aquele templo era, de fato, enorme.

O destino delas foi um salão um pouco mais espaçado. Esse estava recheado de instrumentos dos mais variados tipos, por todas as partes.

As irmãs voltaram a se pegarem impressionadas com a peculiaridade daquele cômodo.

— O caminho que trilharão para se aproximarem da perfeição... será o caminho da música. — Euterpe abriu os braços e parou frente a frente com as duas. — Notas. Batidas. Ondas... Todo tipo de ruído. Tudo neste mundo pode ser entendido como música. Tudo pode se tornar música.

Passado o baque inicial, Chloe indagou:

— Nos ensinará, portanto, a compreender a música por trás de tudo?

— Vocês são extremamente inteligentes. Sábias. São capazes de enxergar o mundo ao redor de forma diferenciada em comparação aos demais. E é nisto que irei apostar. — Encarou a flauta sobre a própria mão. — E não somente eu. Sei que Clio também enxergou esta possibilidade.

Fechou os dedos sobre o instrumento ósseo, mediante um lamento cheio de vigor.

— Mesmo que os seres possuam concepções diferenciadas sobre as coisas, eles ainda podem chegar a consensos. Uma maneira de aceitar os próprios defeitos e tecer relações, visando um favorecimento mútuo. Não é nada diferente para a música. — Voltou a fitar as gêmeas. Os olhos castanhos brilhavam. — É isto que é chamado de harmonia!

Ambas experimentaram o peso transmitido pela visão pessoal da Musicista. E resguardaram-se em taciturnidade.

Euterpe fechou os olhos e, pela terceira vez, conduziu o aulo até a adjacência da face.

Inspirou todo o ar que pôde, repousou os lábios no bocal e soprou.

Uma melodia tão lenta quanto a receptiva foi entoada pelo jardim.

O encanto foi inversamente proporcional a ela, trazendo um estado de paz que a dupla não experimentava há muito tempo.

Era como se tudo que a Musicista disse fosse traduzido em belas notas musicais, a flutuarem pelo espaço até se conectarem às visitantes.

“É perfeito”, após um tempo, Chloe afirmou num semblante soturno.

Tal era a simetria das hastes ósseas com perfurações arredondadas, tampadas pelos dedos finos da mulher ao passo que conduzia sua arte.

Silver e Helena seguiram aos aposentos da porta que indicava a gravura das mãos unidas, como em uma prece.

Logo quando acessaram o primeiro cubículo, se depararam com uma mulher ajoelhada no mármore.

Ela entrelaçava os dedos, repetindo o gesto do desenho cinzelado na entrada prateada.

A jovem buscou o olhar do prateado, irredutível com sua feição circunspecta à vertente da anfitriã.

Sem ser retribuída daquela maneira, fechou a porta cuidadosamente.

Aguardaram pelo término da oração particular, ou o que a deusa estivesse fazendo.

Helena usou esse meio-tempo em prol de encarar o cabelo violeta-claro dela, amarrado em um volumoso coque. Mechas curtas e sinuosas escorriam na altura do pescoço.

Minutos se passaram. Nada parecia ocorrer.

A filha de Zeus começava a se questionar sobre como a musa estaria suportando aquela posição, não tão confortável, por um período tão delongado.

Silver passou a perder sua duradoura paciência. A sobrancelha esquerda se contorceu de leve, dando indícios de que, a qualquer momento, varreria toda a quietude do salão.

A companheira notou a súbita vontade do rapaz, então pensou em impedi-lo. Contudo, sabia que seria ignorada.

Mais alguns minutos se passaram.

O filho de Poseidon parou de contorcer os olhos, mas resolveu ir em frente:

— Ei...

— Esperava que sua tranquilidade fosse superior a isto. — A mulher o cortou, seu tom de voz soava muito baixo. — Porém, ela ainda não passa de um fino graveto. Dessa forma, jamais dominará a total integridade de sua própria essência.

O apóstolo reagiu perplexo ao escutar o julgamento repentino. Cogitou dizer algo a respeito, mas escolheu refugar o ímpeto e semicerrar os olhos.

Helena, por outro lado, enrijeceu os ombros, tensa.

O clima tinha se tornado bem pesado entre os presentes.

Só durante esse átimo a musa ergueu a postura. Sem temer a feição ameaçadora irradiada pelos olhos cor de mel do atlanti, deu a volta.

Os dois perceberam que ela também era um pouco menor, além de ter um porte um pouco mais rechonchudo que as irmãs anteriores.

Mesmo assim, sua influência austera predominou o recinto, os impedindo de tomar qualquer atitude perante a presença.

Aproximou-se a passadas curtas e ergueu o rosto, em busca dos globos frígidos do jovem prateado.

— Compreendo a razão para terem sido enviados até mim. Clio certamente é uma boa avaliadora... quando deseja.

— E-então... você é a senhorita Polímnia, certo? — Helena, encabulada, esfregou as mãos ao perguntar. — É um prazer ser recebida para seu treinamento.

— Sim. Sou Polímnia, a Sacra. — A musa virou metade do corpo. Uma bonita pedra de ametista, no formato de uma gota, descansava em seu peito. — E “treinamento”?...

— Err...

— Só para confirmar: que tipo de “treinamento” vocês esperam realizar? — Entrefechou os olhos azuis.

— Hmm... isso é...

— Combate? — O soturno adiantou-se à indecisa companheira, dessa vez tomado pela placidez.

Em concordância à resposta, pois não havia muito a se pensar além disso, a Classe Iniciante assentiu com a cabeça.

A Sacra, entretanto, somente resguardou-se sem proferir qualquer coisa em resposta.

Com algumas expectativas sobre isso, o que veio a seguir serviu como uma ducha de água fria sobre os descendentes divinos:

— Então vieram ao local errado. Por favor, façam um pedido para que possam encontrar outra pessoa.

— Hein...?

Helena, incrédula, sequer encontrou retruca à altura.

Polímnia se corrupiou em prol de avançar a um próximo cômodo, conectado por outro corredor menor.

Silver soltou um estalo de língua nada usual e, ao invés de dar a volta e desistir, a seguiu por meio de passadas apressadas.

A ruiva calhou de acompanhá-lo, incapaz de determinar até onde aquilo iria e o que tais palavras significavam.

Seguida pelos dois, a mulher nem mesmo fitou sobre os ombros. Apenas chegou ao outro cômodo, esse mais espaçoso que o primeiro cubículo.

Era simples, porém bem arrumado e aparentemente confortável. Nada da grandiosidade encontrada na biblioteca da Musa Historiadora.

Alguns móveis eram dispostos próximos às paredes. Havia uma cama, poltronas, e luzes brancas de lustres e um candelabro a iluminarem tudo.

Depois de correr por toda a extensão, os olhos esverdeados de Helena se depararam com o ponto de maior destaque: um altar.

Nele, a escultura de uma beldade sorridente, portadora de um rolo de pergaminho na mão destra.

A musa prosseguiu à exata vertente da figura concebida por mármore, gesso e toques de ouro.

Sem desgrudar a atenção da bonita composição, ela disse:

— Você, filho do Deus dos Mares. Por acaso teria alguma ligação com o País da Noite Eterna?

Incompreensível ao significado da nova pergunta, Silver só franziu o cenho.

— E o que seria isso?

Após alguns segundos em silêncio, ela tornou a comentar:

— Entendo... Então não. Por um momento imaginei o caso, me perdoe... — Cerrou as vistas. O garoto fez o mesmo, dúbio. — Sei que não há ninguém melhor do que seu progenitor para lhe treinar em combate. Continuar com isso não mudará em nada sua performance, já que você depende de outro fator motriz para utilizar a Arte do Oceano.

— Como conhece a Arte do Oceano?...

À pergunta do garoto, a musa deu uma risada.

— Somos as Musas; as Deusas das Artes. — Sem nem olhar para trás, transmitiu um arrepio aos dois. — Fomos nós que concebemos o conceito e a natureza das Artes utilizadas pelos deuses, os estilos harmônicos e padronizados que permitem usufruir ao máximo de suas Energias Vitais. Nós fomos aquelas que criaram os pilares destas habilidades. E eu fui aquela que criou as fundações daquela que se tornou a Arte do Oceano, utilizada por seu progenitor, o Deus dos Mares, e por você.

Impressionado de verdade com a informação, o apóstolo ergueu as sobrancelhas. Não lembrava há quanto tempo exprimia tal feição.

Helena, de forma parecida, tornou-se boquiaberta, levando uma das palmas à frente dos lábios.

— Como eu disse há pouco, parece que ainda há um longo caminho para que se torne a melhor versão de si mesmo.

E, apesar das prerrogativas, ele cerrou os punhos.

— Eu posso usar.

— Ao menos, quando está sozinho em batalha, pode utilizar. — O interrompeu num gestual rápido do palmo destro, enfim trazendo seu foco ao visitante. — Ainda é necessário que refina a polidez de sua concentração, a peça-chave desta Arte. E esse sim será o foco de nosso treinamento.

Enfim alcançando a compreensão acerca do intuito de ser Polímnia sua tutora, o atlanti voltou a relaxar os músculos faciais.

A Sacra, em contrapartida, dirigiu o foco à filha de Zeus.

Ansiosa pelas palavras cheias de lucidez — com certa languidez — da anfitriã, a garota engoliu em seco.

Sem pestanejar, Polímnia a tateou na altura da testa.

O suave contato despertou leves arrepios a todo o corpo da Classe Iniciante.

— Seu caso é excepcionalmente diferente — proferiu e, então, regressou à adjacência do altar. — Irei auxiliá-la no aperfeiçoamento do domínio de sua Bênção. Por incrível que possa parecer, nós duas combinamos bastante, então deve ser um pouco mais fácil de lidar.

— S-sim... — A ruiva acenou positiva com a cabeça, bem mais confusa do que esperava ficar com aquela conclusão. — Você... parece saber bastante. Com todo respeito.

— Talvez eu seja um pouco bem-informada.

A jovem procurou de novo o olhar do companheiro. Dessa vez, ele devolveu a encarada, também tomado por uma nova dose de curiosidade acerca da musa.

Isso coincidiu com o ato dela d cruzar as mãos defronte ao local sagrado, abaixando a cabeça e fechando os olhos.

— Achei que só os mortais faziam esse tipo de coisa — comentou o prateado. — Orar para os deuses. Meu pai recebe diversas preces e oferendas dos mortais de Atlântida.

— Eu fico imaginando o dia em que receberei essas preces exclusivas... — Helena levantou os olhos, contemplativa. — Vocês também recebem orações dos mortais dessa ilha?

— Todos os dias, mas não tanto como antigamente. Quando eu e minhas irmãs ainda éramos parte do panteão...

Mais uma inédita informação. E mais uma onda de surpresa aos visitantes.

Dessa vez, permaneceram em silêncio. Foi quando a Sacra seguiu com os dizeres:

— Estão equivocados ao pensarem que as preces são restritas aos mortais. O ato de buscar uma ligação, um pedido, um agradecimento... tudo pode ser concebido até mesmo por nós, divindades.

De certa maneira, Helena já fazia uma ideia sobre aquela realidade, visto que utilizava de tal artifício.

No entanto, uma dúvida instigante restou no que concernia à situação da musa...

— E para quem faz isso, então? — E foi Silver quem a questionou.

Polímnia ficou taciturna até o momento no qual as chamas do candelabro, mesmo sem vento algum no quarto, oscilarem.

— Para minha mãe.

Aquilo o deixou tão enternecido que sequer pôde expressar qualquer coisa através de palavras.

Somente compreendeu tudo que residia nebuloso diante de si. E fixou-se na imagem que representava aquela pela qual a musa sempre buscava sua ligação.

Por outro lado, Helena esboçou um sorriso afável.

Postou-se ao lado da tutora e juntou as mãos no gesto característico. Inclinou o rosto, conectou os cílios e também prestou suas orações.

Irretocável, Polímnia deixou sua posição e convidou o filho de Poseidon a fazer o mesmo.

Ele relutou a avançar, ainda que sem entender o motivo. Encarou as próprias pernas por breves segundos.

Sem ter muito a fazer, aproximou-se da estátua.

— Pense em alguém muito caro para ti. Apenas foque nesta pessoa. Feche os olhos e busque uma ligação com ela.

Diante das dicas da Sacra, Silver fechou os olhos, porém não entrelaçou os dedos como as deusas.

Reuniu toda a concentração possível. E foi levado, em meros minutos, ao mesmo cenário de quando sempre mergulhava nas miríades da própria serenidade mental.

Sentiu o corpo todo ser abraçado pelas camadas frias e pesadas do oceano, conforme afundava, se distanciava da luz na superfície.

Ainda estava impossibilidade de seguir às profundezas sem luminosidade. Contudo, diferente das ocasiões nas quais buscou outros métodos de introspecção...

Uma figura surgiu diante dele.

À medida que era recusado pela pressão da água, foi abraçado pela repentina presença. Era acalentadora; fazia seus batimentos cardíacos acelerarem de súbito.

Do lado de fora, Polímnia recebeu o estado interior do rapaz em tempo recorde.

— Muito bem... — murmurou com todo cuidado. — Busque o gatilho para aperfeiçoar sua serenidade.

A Energia Vital do apóstolo passou a fluir a seu redor. Tão pacífica e isenta de ruídos a ponto de impressionar, positivamente, a Sacra.

Mesmo Helena foi arrancada de seu estado compenetrado a fim de observar a tênue camada envolver o companheiro.

Assemelhava-se a uma graciosa onda marítima, que ia se dividindo dos pés à cabeça.

Só que não demorou muito até os olhos do atlanti voltarem a abrir. Foi rápido demais, mas as duas pensaram ter visto uma tonalidade diferenciada preencher sua íris.

A cor amarelada natural, de tom mel, voltou num piscar.

A despeito da curiosidade que aflorou nelas, Silver mirou as próprias palmas.

Polímnia, pela primeira vez, ameaçou esboçar um sorriso. O primeiro resultado tinha sido superior ao expectado.

— Entendi — disse ele. — Eu vou dominar isso.

As palavras serviam tanto para si próprio quanto para a tutora ao lado.

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