Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 5 – Arco 4

Capítulo 94: Laços

A camada de poeira abaixou.

Diversas árvores nas proximidades encontravam-se derrubadas. Boa parte delas divididas na metade dos troncos; outras com as enormes raízes arrancadas do chão.

Euryale voltou a respirar após recobrar a consciência. Sentiu uma ardência bizarra atingir a vista canhota, notando ser incapaz de abri-la enquanto se erguia da terra.

Levou os dedos trêmulos sobre o órgão e identificou o corte profundo que o destruiu.

Regurgitou ainda mais sangue, tão enfraquecida em comparação às víboras grudadas à cabeça.

A colisão agressiva, responsável por ainda lhe causar tantos ferimentos, a fez desejar a morte por alguns segundos.

No objetivo de driblar os desejos emotivos, lutou contra os próprios limites e retomou a postura.

As lacerações diversos por torso, braços e pernas expulsavam tanto sangue a ponto de quase prendê-la na síncope.

 Depois de se reestabelecer, avançou por meio de passadas lentas e trôpegas.

Atravessada a fumaça restante, contemplou uma cratera estreita no caminho. Estreitou as sobrancelhas, aproximando-se com cuidado.

Era o exato ponto onde a explosão tinha sido deliberada, há pouco.

Quando abeirou o buraco, visualizou a filha de Hades, caída no centro da zona afundada.

Parecia desacordada, embora resquícios da influência sombria ainda a rondassem.

A palma canhota seguia envolta do cabo da foice.

No entanto, nada naquela paisagem podia indicar qualquer ameaça à criatura que, entre arquejos, exalou:

— Sinto... cheiro de... vitória.

O sorriso se abriu em meio às escamas ensanguentadas.

Olho para o alto, podendo enxergar fragmentos do céu azulado graças à queda de boa parte dos arvoredos daquela região.

Só então percebeu que era banhada por um feixe solar.

Abriu os braços e respirou fundo, recheada de alívio. Depois voltou a encarar a inimiga.

Prestou mais atenção nas marcas do envenenamento, destacadas graças ao cano de luz que também se derramava sobre ela.

Deu mais dois passos e deslizou pela parede da cratera. Se aproximou da garota, abrindo as garras ainda afiadas do palmo destro.

Cobriu-a com sua sombra.

— Você foi uma adversária interessante. Por um momento, achei de verdade que seria morta. — Alisou as unhas viradas no pescoço dela. — Que sua morte... seja o início da merecida punição aos deuses.

Ergueu o braço, deleitando-se com a oportunidade de cumprir o objetivo.

No entanto, quando pensou em descê-lo para a retalhar, a energia obscura regressou num frenesi.

Congelou no ato, ao que a foice da apóstola, envolvida pela Autoridade Elementar das Trevas, atravessou o centro de seu abdômen.

Pouco sangue escapou do local perfurado, pois subiu até ser expulso pela boca. O baque agonizante a incapacitou de seguir com o planejado.

Então, o olho esquerdo de Lilith se abriu. A esclera permanecia tomada por escuridão, envolvendo a íris ametista que rejeitava o olhar petrificante da criatura.

“Impo...!!”, essa mal conseguiu findar o devaneio.

Nem as marcas negras ou o chifre anterior tinham restado. Para ela, a manifestação sórdida tinha sido desfeita com o impacto.

Enquanto se perdia na incredulidade, teve a lâmina puxada da barriga, agora sim liberando o líquido rubro para sair.

Gotas avulsas tingiram o vestido desbotado da ctónica, que passou a se erguer da terra, toda contorcida.

Euryale utilizou forças sabe-se lá de onde a fim de saltar da cratera. Arrepiada pela dor chocante, quase sucumbiu de joelhos ao aterrissar no campo superior.

“Tenho que...!!”, sem mais nervos para encarar aquela anomalia, procurou se arrastar. “Tenho que sair...!!!”

No entanto, a filha de Hades ascendeu na sequência.

A amaldiçoada olhou por cima do ombro, a feição contraída em puro temor.

— Não...!! Fique longe!...

Tinha tantas dificuldades para esbravejar quanto para mover o corpo maltratado.

Porém, a surpresa lhe atiçou quando conferiu o branco regressar ao domínio da esclera da apóstola.

Ao mesmo tempo, a influência sórdida desapareceu.

“Essa menina...! O qu...!?”, os braços e pernas de Euryale não respondiam os comandos do cérebro.

Nessa toada, Lilith caminhava a passos curtos até sua direção. A encarava desprovida de remorso no rosto. Também evitava a vista arregalada que podia lhe petrificar.

Não fazia ideia de como ela estava se mexendo num estado tão deplorável.

Tal choque de realidade a fez perder a noção.

— I-isso mesmo — balbuciou em provocação. — Aja como uma deusa, garota. É assim que vocês cheiram... a escória!

Palavras quaisquer não mudariam o ritmo da ctónica.

O olhar indiferente, que fuzilava a desolada; frio e desprezível a todo tipo de sentimento do qual ela poderia ser capaz de demonstrar.

Ao chegar nas pernas trêmulas dela, Lilith fechou os olhos e respirou fundo.

Aproveitou o período invulnerável aos efeitos do veneno ainda presente em seu sangue... e decepou a mais velha das Górgonas por meio de um corte seco.

Dessa vez, graças à autoridade flamejante, cauterizou a abertura de imediato, sem deixar mais sangue espirrar.

“Com isso... eu...”, a cabeça cheia de serpentes tombou no plano. Os animais enlouquecidos não puderam aguentar por muito mais tempo.

O fim gradativo de seus sibilares enervados trouxeram o silêncio da vitória de Lilith.

Permaneceu inerte após um breve intervalo.

A respiração desbalanceada fazia seu peito — tomado pelo roxo — subir e descer.

Como expectado, o efeito “protetor” da energia sombria esvaneceu, trazendo de volta os males cravados no corpo.

Os ferimentos gritaram em agonia, todos ao mesmo tempo. O prosseguimento do veneno na corrente sanguínea, em diversas partes do torso, a queimou por dentro.

Indecisa sobre qual tipo de emoção aderir após o triunfo arrastado, a filha mais nova de Hades levantou o rosto.

Também pôde encontrar pedaços do céu ciano. E quase não pôde enxergá-lo, graças ao cano luminoso que atravessava a coroa dos arvoredos e a envolvia, solitária no recanto taciturno.

“Eu...”, enfim, a ficha caiu. “Eu... consegui...”

Assim como as costas, que desabaram sobre a terra.

“Ma... mãe... Da... mon...”, enquanto a consciência era abraçada pela escuridão, a garota sorriu ao reencontrar a imagem daqueles que importavam mais que si própria.

A partir daquele ponto, Lilith começava uma nova batalha.

Pela vida.

Minutos após a partida do Monte Olimpo, Damon enfim alcançou a entrada da Floresta Negra.

Em desprezo ao cansaço acumulado, manteve a alta velocidade pela trilha principal, em busca da região onde Lilith batalhava contra uma das górgonas.

Nunca amaldiçoou tanto a impossibilidade de utilizar a sua Bênção. Gostaria de arriscar, porém isso tinha altas probabilidades de piorar o cenário.

De todo modo, viu uma fagulha de expectativa nascer ao experimentar traços da mesma energia proliferada dela na missão do deserto.

O que antes fora motivo de inquietação, agora poderia a salvar. Estava ciente sobre ter menos de uma chance a fim de fazer dar certo.

Os passos se apressaram ainda mais, a despeito das dores musculares. A tênue manifestação acabou regredindo muito brevemente.

Àquela altura, o filho de Zeus já alcançava a zona das petrificações causadas pelas amaldiçoadas.

Se impressionou ao deparar-se com tantas estátuas humanas, mas balanço a cabeça no intuito de não se distrair com aquilo.

Depois veio outra parte que ainda cheirava a folhas e terra carbonizadas. Provavelmente onde a batalha tinha se iniciado, cogitou.

Saltou pelas partes parcamente iluminadas, na tentativa de seguir quaisquer rastros deixados pelo conflito.

Feixes solares começavam a se tornar mais recorrentes. E então, o primeiro grande sinal da presença da companheira foi encontrado.

Um dos laços pretos que ela utilizava para prender o cabelo estava caído, ligeiramente rasgado. Manchas de sangue se misturavam ao tecido fino, assim como fios do cabelo ruivo dela.

Agachou-se a fim de apanhá-lo.

Apertou-o com força e recomeçou a correria pelo ambiente silencioso.

Cada nova metragem avançada trazia consigo mais devastação pelas imediações. Engolia em seco, ansioso sobre como a encontraria.

Tal dúvida acabo sendo respondida menos de dois minutos depois.

Enfim tinha alcançado a parte mais afetada pelo conflito. E, de quebra, encontro a cabeça decepada de Euryale, morta junta das serpentes presas ao couro cabeludo.

Ofegante, o olimpiano tomou coragem para continuar. Rapidamente encontrou, destacada pelo único raio de luz daquele perímetro, a jovem desacordada.

Fitou-a, imóvel por poucos segundos.

Foi como se o coração estivesse se preparando para o que viria a seguir. Retornou à corrida temporal e passou por cima da górgona morta.

Agachou-se perante a companheira. Não sabia como proceder a partir de então, nervoso demais para tomar qualquer decisão prudente.

Mais de metade do corpo dela já estava tomado pelas marcas púrpuras. Sem contar os machucados espalhados.

De vistas arregaladas, levou o ouvido esquerdo ao seu peito. Um alívio rompante o preencheu quando o coração em atividade foi escutado.

Apesar das batidas fracas e lentas, era o suficiente.

“Sua idiota”, rangeu os dentes ao pensar naquele resmungo.

Sem mais delongas, resolveu agir. Aperto o botão da foice na terra, a transformando de volta ao pequeno punhal.

Colocou a arma no cinto de couro e usou os dois braços em uma “concha”, a pegando com cuidado no colo.

Depois de a ajeitar, a cabeça da garota derramou sobre seu peito.

— Aguenta mais um pouco. Sua idiota!...

Rodopiou sobre os tornozelos e começou a correr pelo retorno da trilha.

Ainda que não tão rápido quanto antes, quando estava sozinho, imaginava a chegada na montanha alada em poucos minutos.

Deveria ser o bastante em prol de que a vida dela fosse salva...

— Não vou te deixar morrer. — A voz soava embargada, na companhia perfeita ao rosto contorcido. — ‘Cê disse que ia voltar, não foi? Eu escutei suas palavras. Eu acreditei nelas!

Nenhuma resposta vinha da garota.

Ainda assim, continuou a declamar:

— Sei que sou egoísta. Nunca falo o que ‘tô sentindo pra ninguém, nem mesmo pra você. — Olhou para o rosto desfalecido dela. Uma dor estranha lhe atiçou o peito. — Por isso... quando ‘cê sair dessa, eu...

Fechou os olhos por uma rápida pausa.

Damon!...

A voz dela ecoou de novo pela cabeça.

Reabriu as vistas celestes, remetendo ao encontro na missão de Delos...

O que eu... sou para você?

À época, não pôde compreender o objetivo daquele questionamento.

E por não ter respondido, Damon foi assolado por uma torrente de sensações inexplicáveis.

Quando olhou o rosto dela de novo... notou seus lábios levemente sorridentes.

Pensou se ela teria escutado aquilo, ainda que inconsciente em seus braços.

Uma súbita vontade de morder o lábio o acometeu.

— Damon!?

A voz metódica, no entanto, o arrancou dos devaneios.

Subiu a atenção de volta à passagem de terra, encontrando a responsável por ter entoado seu nome.

— Gêmeas?

Chloe vinha à frente de Julie, reposicionando-se na mesma vertente do garoto.

— Qual a situação? — a primeira indagou, fitando a filha de Hades carregada pelos braços dele.

— Onde diabos ‘cês ‘tavam até...!?

O respectivo interrompeu o próprio esbravejo ao também identificar uma górgona, carregada pela jovem nívea.

“Compreensível”, a lanceira remoeu-se por não ter chegado a tempo.

Sem precisar de novas explicações, focou em conduzir o aliado pelo trajeto correto até a saída da floresta.

— Demarcamos arvoredos específicos, em prol de auxiliar-nos durante o regresso. — Encarou de soslaio. — Aparentemente, devemos nos apressar, corret...?

Interrompeu-se a exemplo dele, ao vê-lo sugar todo o oxigênio possível, mesmo no ato de corrida.

Após completar a absorção, encheu o peito e soltou tudo de uma vez:

— ATENA!! — O berro repentino a assustou. Os ecos se alastraram entre os arvoredos. — Eu ‘tô chegando!! A Lilith precisa de tratamento, rápido!!!

Atena recebeu a mensagem em alto e bom tom, assim como os demais deuses presentes no salão.

Fechou as vistas esmeraldinas e, mediante um rápido lamento, ergueu-se do trono de direito.

Em meros segundos de reencontro entre suas filhas e a paisagem transmitida na piscina, compreendeu tudo que tinha ocorrido com elas.

Não terem matado Stheno, pelo menos, foi considerado um alento na soma dos resultados.

“A tarefa foi um sucesso”, ponderou ao trocar olhares com o Rei dos Deuses.

Ele permaneceu taciturno, de semblante inanimado.

Desse modo, a descendente entendeu a aprovação para fazer o que bem entendesse a partir de então.

— Lady Afrodite. Necessito de vossa ajuda para isto.

— Como quiser, pequena Atena.

A Deusa do Amor também se ergueu do assento, em retomada ao costumeiro sorriso.

Ambas trocaram gestos positivos de cabeça e, por fim, a sábia chamou Daisy para que as acompanhasse.

Sem questionar, a pequena seguiu-a quase agarrada em seu vestido. As três rumaram às portas alabastrinas.

— Vocês... vão salvar aquela coisa!?

O esperneio repentino de Melinoe não as permitiu deixar o recinto de primeira.

Todas deram a volta, não completamente, em prol de contemplar a postura desequilibrada da jovem de cabelo curto e ondulado.

— Todos viram o que eu vi... Aquilo é um mons...

— Não cabe a ti decidir. — Atena a antecipou, num timbre soturno. — Lilith continua sendo uma importante descendente divina. E integra a Corporação dos Deuses.

“Além de ser a única amiga de meu irmãozinho problemático”, guardou aquela finalização.

Daisy a olhou de canto, podendo sentir as emoções pronunciadas da deusa.

Sem oferecer brechas a favor de retrucas, Atena retomou o foco à saída. Abriu as portas, que rangeram por todo o recinto.

Melinoe segurou o ímpeto explosivo e respirou fundo, na iminência de soltar um uivo fino entre os lábios.

Sem terem mais nada a discutir, saíram do local, deixando o Rei e a Rainha dos Deuses sozinhos outra vez.

No auge do entardecer, o sol atravessava metade do céu sem nuvens.             

Melinoe ultrapassou as escadarias em alta velocidade, ignorando as deidades que permaneceram nos andares superiores.

Chegou ao sopé da montanha alada minutos depois.

Contornou a região vazia, recheada de templos menores. Se deparou com a entrada de sete cores para o Reino dos Mortos.

Antes de acessá-la, escutou o reverbero de passos apressados surgidos do nada.

Deu a volta, só para constatar a chegada do grupo que acabava de retornar da Floresta Negra.

Chloe foi a única a perceber a presença quase escondida da Classe Herói, fitando-a de esguelha por meros segundos.

Passou, após ela, Damon, com Lilith desacordada em seus braços. Subiram sem parar em momento algum, desaparecendo da linha de visão da ctónica.

Dando de ombros àquilo, entrou no túnel espectral, desaparecendo do ambiente restrito aos grandes e jovens deuses.

“Chegamos”, o filho de Zeus tomou a escadaria, executando saltos rápidos para pular diversos degraus.

A lanceira o perseguiu, sem o deixar abrir distância.

Sem delongas, chegaram ao primeiro andar superior, após atravessarem a divisa feita pelas nuvens imutáveis.

O olimpiano virou logo naquele saguão, encontrando as divindades juntas de sua irmã caçula.

Daisy ficou feliz e, ao mesmo tempo, perplexa com a chegada do jovem em segurança O segundo sentimento foi deliberado ao ver como Lilith estava.

Chloe contornou em seguida, rapidamente se deparando com a circunspecção assídua da progenitora.

E quando Damon recuperou parte do fôlego, através de arquejos intensos, suplicou:

— Atena... por favor...

Nem a experiente mulher ou a garotinha, aquelas que mais interagiam no dia a dia com o garoto, uma vez o viram agir de maneira tão desolada.

Atena assentiu de prontidão e aproximou-se da dupla. Verificou os ferimentos superficiais da desfalecida.

Estendeu a palma destra, tateando-a na altura do peito. O coração batia cada vez mais fraco; a respiração quase desaparecia.

Pôde sentir o estado deplorável da própria energia. Sem contar a outra, adormecida, porém ainda presente em seu âmago.

A despeito dos problemas, maior parte causados pelo envenenamento, enxergou uma chance.

— Coloque-a na cama daquela câmara. — Apontou à porta atrás de si. — Chloe. Onde está Julie?

— Sim, mamãe. — A jovem púrpura tornou-se ereta. — Ela permaneceu aos cuidados da górgona que trouxemos sob custódia.

— Compreendo. E vocês, estão bem?

Chegou perto da filha, que assentiu antes de seguir:

— Perfeitamente. Todos os ferimentos foram superficiais. — Deslizou os dedos com leveza acima do umbigo, onde os cortes estavam enfaixados. — A transportaremos até nossa morada, em Atenas. A manteremos imobilizada e incapacitada de fazer algo, até que a senhora nossa mãe esteja de volta.

— Fizeram a melhor escolha, as duas. — Fitou de canto o trabalho inicial feito pela Deusa do Amor, com a garota debilitada. — No entanto, necessito que também aproveitem a ida a Atena para visitarem Elêusis. Quero que notifiquem minha irmã, Perséfone.

— Como quiser, minha mãe.

Feita a mesura respeitosa, a jovem deu meia-volta e seguiu às escadarias.

Ofereceu uma última olhadela à entrada do cômodo singular. Desejou as maiores sortes do mundo à companheira de corporação e ao seu colega de longa data, antes de partir.

Tendo a questão importante resolvida, Atena respirou com pujança e retornou o foco à situação crítica do Olimpo.

Lilith já estava deitada no colchão da cama.

Cansado, Damon sentou-se em uma cadeira, acompanhado por Daisy, que o oferecia, tímida, um copo d’água.

Ele não queria fazer desfeita, mas não era capaz de desviar a atenção da amiga entre a vida e a morte.

— O maior problema é o veneno — confirmou Afrodite, depois de ajeitá-la na cômoda.

A sábia fez que sim ao completar:

— Poderia, por favor, remover vossas vestes e cuidar das lacerações?

— Como queira.

— Damon e Daisy. — Encarou os dois, de semblantes carregados. — Peço que aguardem, por gentileza, no exterior.

— Irmãzona...

— Farei o possível em prol de salvá-la. — Tocou no ombro do jovem atônito, que enfim subiu o rosto. — Tem minha palavra.

Ele aceitou o pedido da mais velha e levantou-se da cadeira. Junto da caçula, deixou o local, que teve a porta fechada sem mais palavras serem trocadas.

Foram abraçados pelo completo silêncio do pátio iluminado pelo entardecer.

Cabisbaixo, o olimpiano continuou a caminhada até debruçar-se na balaustrada de gesso.

A poucos metros acima das nuvens, podia observar a tonalidade alaranjada que passava a pintar o céu no extremo horizonte.

— A Lilizinha vai ficar bem! — Daisy afirmou, tentando desviar a melancolia do irmão.

Ele a fitou e, sem ter muito o que fazer além de torcer, abriu um sorriso fraco.

“Se eu não fosse tão fraco...”, depois, mirou a própria mão, a abrindo e fechando repetidas vezes.

Sua inutilidade em todas as circunstâncias, desde o conflito em Delos, martelava com ainda mais ímpeto a cabeça dolorida.

Daisy enlaçou seu braço esquerdo, apertando-o com força contra o próprio corpinho.

Acalentado por aquele gesto da menina, ele suspirou fundo.

Eu vou te proteger...

Os dizeres de Lilith retornaram outra vez.

Seus lábios se torceram em agonia. As vistas cintilaram, como se fossem despejar lágrimas a qualquer momento.

No entanto, nenhuma vontade de chorar se pronunciou.

Com as sobrancelhas pesadas, riu da própria insignificância com escárnio.

Então sussurrou para si próprio:

— Não pude cumprir a promessa...

Antes de ela ter expressado aquilo, tinha sido ele.

O verdadeiro responsável por mantê-la viva, mesmo que no fio da corda bamba.

Em poucas horas a noite chegaria. No entanto, não sabia até onde os esforços da Deusa da Sabedoria iria em prol de salvá-la.

Só se ateve a fazer o que estava a seu alcance naquele instante: torcer para que sua melhor e única amiga sobrevivesse.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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