Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 5 – Arco 4

Capítulo 86: Arraste Sombrio - em AROANIA 3

O padrão foi quebrado no instante que permitiu à energia violenta escapar do corpo, elevando a aura e a influência incomparável.

O estremecer alcançou a quebra do reflexo induzido diante dos olhos.

Aquele pedaço de devaneio encontrou seu fim num piscar, prestes a romper a barreira da realidade.

E assim ocorreu não muitos segundos depois.

Tudo ficou mais claro naquele átimo. A falsa concepção se desmanchou à frente de todos.

O agressor, prestes a desferir a facada letal no peito do garoto, foi impelido pela proliferação repentina daquele poder nato.

Arrastado contra a parede, levantou o rosto perplexo ao fitar a ressurreição do jovem apóstolo.

A passos tão curtos quanto pesados, susteve o fluxo agressivo como se fosse uma ação natural qualquer.

O pior é que era exatamente isso.

Nenhum esforço parecia ser levantado em prol de ostentar tamanha influência. Arthur tornara-se a imponência em pessoa.

E o autoproclamado imperador nada conseguiria fazer com relação àquilo.

“Ele escapou da Hipnose como se fosse um passeio no parque”, não podia deixar de contorcer os lábios, num sorriso do mais puro escárnio. “Que chatice... Essa energia é um absurdo. Até para nosso senhor... Ele é um perigo iminente.”

Nem percebeu que o suor escorria nas laterais do rosto contraído.

O loiro parou de caminhar ao diminuir bastante a distância, fazendo os fios lisos do inimigo derrubado dançarem com agitação no espaço.

Aquilo nem carregava algum tipo de atributo; tratava-se de sua vitalidade inalterada e somente isso.

— Essa energia é única... — Fez uma breve pausa. A voz soava um pouco trêmula. — Inatingível até para ele...

Arthur pôde receber o sibilo do encurralado, mas pouco se importava com tais lamúrias.

No intervalo de uma piscada, deixou a influência aterradora ser retraída.

A interrupção da pressão que o arrepiava precedeu a chegada dos primeiros raios solares, em definitivo naquele lugar.

— Você parece saber bastante. Vou me poupar ao trabalho de não te matar — retrucou.

A foice alçada à vertente do obscurecido.

Foi nesse momento que Meade revelou também estar desperto.

Os fios de aço cruzaram a distância entre eles e foram fincados nos flancos do esguio.

Ele não se impressionou com aquilo, afinal, aquele rapaz também já tinha se mostrado alguém especial.

— Que saco... E imaginar que você nos jogou num malabarismo mental falso... — Soava cansado, mas decidido a não o deixar fugir em qualquer hipótese.

O sorriso do cinza-azulado se desfez aos poucos.

A euforia daquela sequência de eventos já tinha se esvaído, restando a ele as misérias daquela posição indigesta.

Embora fossem ameaças além do presumido, tão surpreendentes por estarem escondidos sob a sombra dos deuses superiores, de nada adiantaria.

A convicção ainda seria a mesma, no objetivo de chegar ao destino premeditado.

— Todos cairão aos braços dele, queiram ou não... — Enrustiu as sobrancelhas, soturno.

Nenhum dos membros da corporação experimentaram receio ante tais palavras.

A postura irredutível deles não chegava a assustar em contrapartida, visto que se apresentavam meramente como uma extensão da autoridade sublime.

Traziam consigo a capacidade de superar os que estavam acima, tanto por longevidade quanto por hierarquia.

Mas do outro lado não era tão diferente; isso foi crucial na determinação do obscuro em levantar o braço rapidamente e disparar um fio de sombra pelo ar.

Arthur agiu mais rápido que o pensamento na tentativa de decepar o membro esticado, porém o vórtice negro de outrora voltou a lhe frustrar.

Ao invés de esgazear, apenas semicerrou as vistas.

Meade, logo atrás, separou os lábios milimetricamente.

Os dois foram induzidos a recuar por alguns metros, em virtude das camadas espaciais originadas no nada.

Quando relembraram dos ocorridos recentes, tanto no Deserto da Perdição quanto em Argos, consideraram a falha iminente daquela contenda.

Ainda que fossem qualificados a superar diversas complicações, não se arriscariam a esmo num cenário onde sequer era necessário.

A oportunidade apareceu, mas foi tomada deles de novo ao passo que o controle fora estabelecido.

E nenhum deles sentia remorso por isso.

Essa reação que os diferenciava dos demais.

Que os qualificava, pelo próprio adversário, a superarem os deuses principais daquela Era num futuro não tão distante.

— Esse poder é um saco — rezingou Meade, ao desistir dos fios presos adiante.

Arthur continuou a observar a estrutura espiral de energia condensada, até ela desaparecer por completo.

Levou consigo, obviamente, o inimigo à beira da queda.

Foi o ponto final forçado daquele novo encontro entre os enviados divinos e as sombras que se esgueiravam aos poucos no encalço olímpico.

Os apóstolos relaxaram a postura e suas armas, despreocupados no geral.

No mínimo teriam algo de interessante em prol de relatarem àquela que os enviou.

Restou a eles averiguarem o restante do cenário, por onde os réus responsáveis por causar os problemas no Deserto da Perdição escaparam.

— A pessoa que aquele homem citou — disse Arthur, puxando a surpresa do aliado de relance. — Quem deve ser?

Meade o observou de canto durante breves segundos, até soltar um rápido lamento.

— O chefão... — Coçou a nuca, agora de olhos centrados no amanhecer que vinha do horizonte exposto. — Alguém grande está por trás disso... O que é um saco...

O loiro fitou o solo ensanguentado, antes de retomar o foco à paisagem delineada pelo topo do Monte Cáucaso.

Com nada mais a fazer, decidiram finalizar de uma vez a jornada de averiguação.

— Essa situação só vai piorar... — Meade deu meia-volta e partir rumo ao descenso daquele monte. — Fico cansado só de imaginar essa droga...

Apressado para voltar até sua residência, como afirmado desde a subida inicial, não se importou com o que o companheiro escolheria fazer em seguida.

Mas também restava pouco a ele, além de acompanhá-lo.

Cair aos braços dele...”, o silente voltou a imaginar as palavras proferidas pelo esguio.

A constatação absoluta sobre o verdadeiro mandante daquele grupo estranho.

Para que a situação escalasse àquele nível e, consequentemente, alcançasse tamanho equivalente ao do próprio Olimpo, devia algum ser tão vultoso quanto os grandes deuses.

Mas esse trabalho deveria deixar a favor dos especialistas.

Eles só precisavam investigar vestígios. E encontraram algo que poderia ser muito mais importante do que imaginavam.

Com a lâmina da foice quase a tocar o solo rochoso, corrupiou-se no intuito de acompanhar o jovem preguiçoso.

Já tinha em mente as poucas palavras necessárias a comunicar a Deusa da Sabedoria, aquela que tinha nas costas o peso de encontrar as melhores resoluções para o conflito em crescente.

O amanhecer chegou sobre uma colina em Delfos, onde dois rapazes brindavam taças recheadas do famigerado Néctar dos Deuses.

Com respiração ofegante, ambos tomaram todo o conteúdo num único gole.

Quando terminaram, soltaram suspiros pesados, cheios de regozijo.

— Haha!! Isso é esplêndido!! — Gael proferiu no seu timbre entusiasmado de praxe.

— Isso é bizarro mesmo — mussitou Damon, sentindo a fadiga acumulada esvanecer gradativamente.

Aproveitou o momento para apanhar a jarra e colocar mais um pouco na taça.

O filho de Apolo fez o mesmo e os dois saudaram pela segunda vez, agora degustando da bebida com tranquilidade.

O agradável gosto adocicado se misturava a um ligeiro teor amargo, agora bem perceptível pelo paladar da dupla.

Em resposta a isso, fizeram uma rápida careta.

— Mas você é mesmo um esplendido parceiro de treinamento!! Sabia que seria ótimo te convidar!! — Ergueu o punho esquerdo, coberto pela luva de sempre.

O filho de Zeus esboçou um riso enfraquecido.

Pouco mais de uma semana tinha se passado desde a missão concluída no Deserto da Perdição.

Ainda experimentava os efeitos colaterais por ter excedido os próprios limites. Não podia usar Energia Vital, então tinha sido descartado de novas tarefas, por ora.

Dito isso, viu no convite do jovem dourado uma oportunidade de melhorar suas condições físicas.

Ao menos, era melhor do que ficar pregado à uma inércia infrutífera.

— Então!! — O pugilista se levantou. — O que fará agora!!?

Agora?... — Pensou um pouco, em silêncio. — A Daisy ‘tá com a Atena, no templo dela.

— Oh! Aquela menina!! Me lembro dela!!

— Ela deve estar indo pra fase final do treinamento...

— Então ela vai se tornar uma de nós, né!!? Isso é muito esplendido!! — Cerrou os palmos com ânimo. — Quantos anos ela tem!!?

— Treze.

— Mal posso esperar para que ela se junte a nós!!

Damon mal conseguia raciocinar a cada resposta, pois Gael já saía o atropelando com as suas.

— Eu vou pra casa. — Levantou-se do gramado e esticou os braços. — Não tenho muito o que fazer. Vou descansar, acho...

— Então faremos o mesmo!! Vamos de novo amanhã!?

— Ah, não. Foi mal. — Andou até uma árvore próxima, para pegar a bainha de sua espada. — Amanhã não posso. Vamo’ deixar pra outro dia.

Gael o esperou no mesmo lugar, até que os dois se corrupiaram e tomaram o declive do relevo, em direção à trilha natural à frente.

Podiam ver a cidade nas adjacências. Diferente da ocasião em que acessaram o porto, com destino à Ilha de Delos, agora havia um efusivo deslocamento de mortais pelas ruas.

— Eu queria muito ir em uma nova missão!!

— E vai ter alguma outra? — Fitou-o de esguelha.

— Ouvi meu pai falar, por acaso!! Pelo visto, o que aconteceu com a gente foi sério!! Mas ele disse que eu fui ordenado a descansar!!

Damon resmungou de leve ao ouvir a explicação efusiva.

De alguma forma, também estava a par das situações atuais que envolviam o panteão e a corporação, graças à Deusa da Sabedoria.

— Então... — O olimpiano acenou, mudando o itinerário no fim do declive.

— Sim!! Até a próxima!!

Acenou quando recebeu a declamação do delfiano e, dentro de poucos segundos, seguiu a uma vertente que o fez desaparecer no espaço.

Gael respirou fundo e continuou no mesmo trajeto, alcançando o grande santuário da acrópole de Delfos.

Entrou em casa e jogou a toalha sobre um dos assentos vazios no salão inicial.

— Como foi seu treinamento hoje? — Uma voz feminina lhe chamou a atenção. — Seja bem-vindo de volta... Gael.

O rapaz ficou sobressaltado ao ver que a garota estava em sua retaguarda.

— Oh!! Daphne!! — Sorriu em seguida. — Você estava me esperando!!?

Encarou-a na altura que se equivalia à sua.

A jovem tinha algumas marcas desbotadas a corromperem a linda pele morena, na altura do rosto e nos braços descobertos.

— Senhor Apolo pediu para te avisar que precisou visitar o Monte Olimpo. Enquanto cuidava do templo, fiquei no seu aguardo, sim...

Ela também sorria, a ponto de fazer os olhos azuis brilharem em satisfação.

— Entendi!! Vou tomar um banho, então!! — Deu a volta e dirigiu-se ao primeiro corredor disponível.

A garota de cabelo acinzentado, quase branco, apanhou as roupas que ele foi tirando no caminho.

— Então... Conseguiu diminuir sua inquietação?

— Um pouco!! Mas ainda quero ir em uma missão nova!!

Adentrou uma das viradas, onde se encontrava o banheiro.

Bastante vapor escapava da água morna na piscina rasa. Daphne pensou em ficar onde estava, ao passo que observava as costas firmes do dourado.

Corou um pouco e desviou o olhar, ainda na entrada do recinto.

— Se quiser... posso lavar suas costas...

— Hm!? — Virou o rosto por cima do ombro, sem ter conseguido escutar o sibilo dela.

— Ah! Digo!... Relaxe bastante!!

Ela claramente empenhou um sorriso torto, mas...

— Vou tentar!! Valeu, Daphne!!

O jovem não entendeu aquele ponto.

Desencorajada a repetir o pedido, a morena fez uma rápida mesura, girou sobre os tornozelos e retirou-se às pressas do banheiro.

Fechou a porta, o deixando a sós.

Então encostou na estrutura de madeira, respirando fundo com o coração acelerado.

Apertando contra os seios a roupa úmida de suor do anfitrião, ergueu o rosto a encarar o teto iluminado pelos lustres solares.

Em silêncio, permaneceu ali por algum tempo.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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