Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 5 – Arco 4

Capítulo 85: Fogo Amigo - em CÁUCASO 2

Tal atitude despertou certa estranheza no loiro, incapaz de desviar sua atenção do novo adversário; e imaginar que outro membro do panteão divino os trairia...

Decepcionado, mas não surpreso, girou a arma longa no intuito de indicar sua intenção voraz.

Somente o fato de esgazear os globos oculares foi suficiente no objetivo de instaurar sua poderosa aura pela região.

A pressão causou uma onda de choque invisível, apta a sobrepor a ventania do amanhecer no Cáucaso.

Meade não parecia se intimidar. Susteve o sorriso antes de mover os braços com pujança, soltando novos fios afiados.

Arthur pensou em utilizar sua energia, mas não viu necessidade naquele primeiro momento.

Sem tantos problemas, voltou a defletir as pontas de seta com primor, enquanto esquivava das sobras cortantes em seus flancos.

Por meio de rápidos passos à esquerda, direita e recuos concisos, foi evitando cada chegada surpreendente das fibras que pareciam se multiplicar.

Tampouco permitia que qualquer ponto do corpo fosse atingido, fosse diretamente ou até de raspão.

O outro também não utilizava algum resquício de Energia Vital, então a batalha permanecia parelha. Caso avançasse daquele modo, só iria ser cansativo para os dois lados.

Ciente disso, o sossegado agiu o mais rápido possível e deixou de andar para trás.

Através de passadas convictas, a ponto de criar leves rachaduras sob as sandálias escuras, girou o porte pouco musculoso entre as encruzilhadas de aço.

Contou com o auxílio da arma longa para manter os golpes responsáveis por afastar os ataques distantes.

Dessa vez, fez pouco diferente; abria caminho a cada deslocamento do braço dominante, sem dar brechas para novas recomposições do oponente.

Pouco a pouco, criou o espaço necessário para alcançá-lo e, através de um corte de cima para baixo, desferir o primeiro ataque direto contra ele.

Remediou boa parte da potência, no entanto...

Essa foi defendida pelas próprias luvas de Meade, que as posicionara acima da cabeça.

O esforço repentino o fez perder fração da compostura, quase que obrigado a flexionar um dos joelhos rente ao solo.

Não esperava por um golpe, puro como aquele, ser tão pesado. Rangeu os dentes como há tempo não fazia, porém fez de tudo para manter a serenidade nos pensamentos.

Conforme levantava os olhos entre os braços cruzados, percebia que algo estava errado...

— Que saco... Estava tão na seca assim?

Suas palavras não aparentavam alcançá-lo, já que nenhuma mínima reação surgiu de seu semblante.

Depositou todo o esforço necessário nos membros em prol de conseguir se livrar da pressão esmagadora.

Ao mesmo tempo que os abriu e rodopiou no chão à direita, cerrou as mãos e atirou mais fios com setas apontadas.

O loiro voltou a rebatê-las com certa facilidade. Aquilo por si só não trazia algum nervosismo ao Classe Avançada.

Tinha consciência de que não utilizava terça parte das próprias capacidades, ainda restando a energia interior.

“Ah, que saco...”, não via razões plausíveis que o levassem a utilizá-la contra um membro da corporação.

Entretanto, o cenário mostrava-se à beira do insustentável.

“Ele não ‘tá usando energia também, então...”

Recompôs a presença ao erguer o corpo. Continuaria apostando nas encruzilhadas simples.

Ainda não existia necessidade de se forçar a algo mais sério.

Ainda...

De qualquer maneira, o considerava outro traidor como os irmãos Dióscuros e o herói mortal que libertara o Titã da Astúcia de sua prisão eterna.

Imaginava quantos mais haviam infiltrados na Corporação dos Deuses... ou até pelo panteão superior, dos Deuses Olímpicos.

Era repugnante. Um asco total.

Crescia a cada segundo a vontade de colocá-lo em seu devido lugar. Passou a ficar tão cego pelo conflito pessoal que esqueceu do verdadeiro objetivo na montanha.

Isso valia para ambos, no fim das contas.

Livre das atitudes violentas da dupla de opostos, o homem coberto pelo manto negro observava com seriedade da mesma posição.

Dessa vez, não tinha a mão retesada à frente do rosto, portanto as vistas apresentavam-se bem arregaladas.

“Deuses são sempre deuses, no fim...”, ponderou solitário, à medida que encarava um cenário bem distante do que aqueles dois vivenciavam.

Diferente de toda a composição esperada, nenhum deles se movia.

Melhor; sequer tinham arredado o pé da posição original.

Ainda tinham olhos cravados em sua faceta contorcida, que era coçada pelas unhas quebradas na bochecha.

— Eu disse que não queria encrenca. Que chatice — resmungou enquanto tomava fôlego para agir. — Ao menos matarei dois.

Puxou uma faca da cintura, bem simples por sinal, mas suficiente para executar o ato desejado.

Longe da realidade, aqueles dois começaram a se enfrentar sem quaisquer prerrogativas.

Somente se atacaram e, orgulhosos como eram, trataram de confirmar a respectiva autoridade através da força.

Perderam minutos importantes num imbróglio desconexo.

Para Meade, Arthur investia com sua foice impetuosa, obrigando-o a se movimentar além do que pretendia.

Se desvencilhava dos golpes laminosos, à medida que criava contragolpes emaranhados pelos fios de aço.

“Que saco, desgraça...”

Irritadiço, o esverdeado já chegava ao ponto de ranger os dentes, tamanha a ineficiência em encontrar alguma brecha em potencial.

No entanto algo cheirava estranho.

A situação continuava a mesma, não importava o quanto avançasse ou recuasse.

E após algum tempo de duelo, percebeu um detalhe bem extravagante e, até mesmo, confuso.

O loiro não fazia nada demais.

Sentia que os ataques se repetiam, independente das circunstâncias ou da posição na qual se encontravam.

Por um átimo, o apóstolo cessou os ataques de retorno somente no intuito de conferir aquele incômodo.

Contou até três, instante propício para qual o silencioso investiu nos golpes consequentes.

Foi tudo muito rápido, mas o bastante a favor de seu entendimento.

Primeiro veio o ataque da esquerda para a direita, quase numa diagonal ascendente.

Em seguida, manteve o giro em prol de efetuar o corte horizontal de proporção semelhante, ambos desviados pelo controlador das fibras.

Foi a constatação absoluta da estranheza.

O fez parar por alguns segundos, sem mais o estado de sobressalto adquirido há pouco.

Respirou fundo e, enfim, virou o rosto à direita, vertente de onde deveria estar o responsável por criar aquilo.

O mesmo ocorria do outro lado.

Para Arthur, Meade sempre criava suas encruzilhadas de aço com os inúmeros fios destilados através das luvas ossificadas.

O padrão nunca mudava. Nenhuma habilidade extra era utilizada.

A sustentação daquele vaivém fazia crescer uma pontada de irritação no peito do silente.

As contramedidas poderiam ser fatais, não desejava se dar ao luxo de arriscá-las num terreno tão irregular. Arrastar aquele embate, no entanto, seria infrutífero.

Só o verdadeiro adversário parecia ganhar com aquilo.

Tendo isso para si, o rapaz fechou os olhos encarnados. Respirou fundo, na iminência de reunir a Energia Vital, até então resguardada no interior.

Ao abri-los outra vez, causou uma explosão de choque invisível nos arredores.

O simples gesto causou rebuliço em boa parte daquela região montanhosa, assim como desequilibrou o oponente.

Foi a primeira ação diferenciada que conseguia consumar; a abertura perfeita para findar os eventos inconsequentes.

— Entendo...

Ciente de que o paradigma se encontrava prestes a ser derrubado, por fim posicionou a foice ao lado do torso.

— Foi um bom truque.

Levou as vistas à direção da rocha elevada, onde deveria estar o homem de manto negro.

Os garotos estavam mais do que vulneráveis no ponto onde se encontravam. Descer até eles e desferir os golpes fatais o quanto antes não seria difícil.

Dito isso, saltou da ponta da rocha e equiparou-se à altura deles num piscar.

Sem delongas, ergueu-se no intuito de diminuir a distância e, um de cada vez, empalá-los com a arma branca.

Pensava se o fazia na altura do pescoço ou no peito; de todo modo, faria com calma e elegância.

A pressa sempre seria a inimiga da perfeição, ele carregava consigo. Contudo ainda era preciso dar mais valor ao tempo, para que pudesse concluir os objetivos o quanto antes.

Nessa linha de consciência um tanto quanto paradoxal, chegou próximo dos dois em meros segundos.

— Durmam para sempre nessa batalha infinita — entoou quase entre os lábios, resoluto de que a vitória já estava garantida.

Essa foi sua derrocada.

Sem que pudesse esperar, ao desferir o primeiro golpe direcionado a Arthur, foi pego de surpresa por uma onda de choque poderosa.

A respectiva rodeou o corpo do imóvel, impedindo-o de prosseguir para perfurá-lo no coração.

“Mas o qu...!?”, mal conseguiu completar o questionamento aturdido, vista a imprevisibilidade encarregada de empurrá-lo a alguns metros.

Pela primeira vez, pôde experimentar a verdadeira aura daquele garoto, que não mais olhava para o alto.

A ventania ganhou ímpeto conforme se alastrava por todos os lados da montanha, manifestação natural de seu próprio poder.

Conforme capuz e cabelo esvoaçavam sobre o espaço, os olhos escurecidos se contraíram em puro espanto.

Não pensava que contemplaria tamanho potencial provir de um jovem como aquele. O patamar podia ser comparado à risca dos próprios deuses superiores.

Viu-se incapaz de manter os lábios conectados, demonstração do fascínio inconsciente perante tamanha autoridade.

“Esse foi o responsável por afugentar o filho da Punitiva”, as memórias recentes voltavam à tona, de quando os agressores denominados de Imperadores das Trevas regressaram.

Desprovido de algum planejamento defensivo, o esguio somente acuou a postura dominante, impelido pela influência aterradora que aquele jovem escondia até então.

Era diferente.

Singular.

Embora sorridente, não pôde impedir a nova onda de temor que aflorava no corpo.

Ao ver os primeiros passos do apóstolo liberto do transe estranho, apertou a empunhadura da faca no intuito de remediar as inéditas emoções.

Queria matá-lo, mais do que simplesmente o faria há alguns segundos.

Ser encarado de cima por aquelas esferas da cor do sangue lhe despertava calafrios jamais sentidos desde quando tinha conhecimento.

— Chega de truques. — O despertar foi completo. Mais um indicativo da absoluta superioridade. — Prepare-se para morrer.

O recado em alto e bom som arrancou um riso de escárnio do inimigo verdadeiro.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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