Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 5 – Arco 4

Capítulo 82: Irmãs do Submundo

Depois que a flora terrestre voltou a crescer, a época de temperaturas elevadas e dias mais longos se estabeleceu.

Agora, seu ápice cobria todos os mortais que viviam sob a sombra do Olimpo.

Desde as precoces alvoradas a raiarem sobre o continente helênico, sentiam na pele a chegada do solstício mais quente do período de quatro temporadas.

Só que, comparados aos eventos vivenciados pelo panteão ao qual louvavam, tais mudanças não passavam de insignificantes.

A nova crise surgiu tão repentina quanto o clímax do verão.

Depois de um longo tempo de equilíbrio sobre as estruturas olímpicas, sombras inéditas se revelaram com garras apontadas ao domínio absoluto daquela Era.

Escolhas, caminhos, causa e consequências; a união de tais fatores minuciosos virava a ampulheta do destino ao prelúdio de um novo desafio.

O alerta desperto por suas ameaças obrigou Zeus, o Pai dos Céus e Rei dos Deuses, a agir de forma contundente.

Antes que a situação escalasse para fora de seu controle, fez o primeiro movimento em prol de resguardar uma base sólida ante aos crescentes prenúncios.

A convocação das atuais doze divindades mais prestigiadas da Era Prateada trazia à tona tanto essa precaução, quanto uma ratificação: o cenário era real e poderia ser mais grave do que se imaginava.

Determinação seria imprescindível no intuito de expurgar as trevas que ousavam os desafiar.

Chegava a hora de, mais uma vez, mostrar aos “desafiantes” o poder e a influência daqueles que já estavam há muito no topo.

— Que a reunião dos Doze Tronos tenha seu início.

Em alto e retumbante som, o deus supremo proclamou no salão maior do Monte Olimpo.

A pressão espiritual permaneceu influente por toda a extensão da montanha até o entardecer.

Mesmo as raízes da cidade olimpiana e a entrada do Reino dos Mortos, abaixo da terra, experimentavam o peso criado pela respectiva reunião.

Diferente dos mortais, almas não eram afetadas.

O funcionamento do Submundo mantinha-se padronizado, o que fazia Hades ignorar toda aquela proliferação de auras imponentes vindas do topo.

Não demonstrava curiosidade alguma para com os eventos decorrentes da superfície.

Nem mesmo Lilith, deitada em sua cama, parecia ser impactada por tal difusão.

De olhos fechados, era tomada por calafrios particulares. O corpo inteiro tremulava com leveza.

Como se vivenciasse um pesadelo, contorcia o rosto, à medida que suor frio vertia por ele.

A sorridente forma sombria permeava sua cabeça, a exemplo da experiência do Deserto da Perdição.

Enxergava-se sem saídas. E, mesmo assim, empenhava-se a fim de escapar, evitar de alguma maneira a aproximação das trevas que buscava lhe envolver.

No entanto, as mãos escuras sempre conseguiam a abraçar.

Incapaz de desfazer as amarras, sentia o coração disparar de modo alucinante.

Só que, dessa vez, pôde perceber uma singela diferença: a possessão deturpada não ocorreu em sua totalidade.

Era o total oposto; não era uma possessão.

Os olhos rubis se arregalaram no instante que fitaram a silhueta humanoide se transformando em um aspecto.

Dominante no ambiente esbranquiçado, desenhou um sorriso no que parecia ser o rosto.

Novas emoções pesadas dominara o coração da garota.

Então, a suspeita boca se moveu...

Quase lá.

Lilith executou um salto da cama, de volta à realidade.

Arfava com dificuldades pela boca, na busca pelo controle das palpitações dolorosas contra o peito.

Levou a mão direita à altura do incômodo. Apertou o pijama de linho e suspirou com pesar.

Com o tempo, obteve sucesso em regular a respiração.

Desejava lavar o sonho da cabeça para, enfim, despertar.

Não era tão fácil assim, sabia. As estranhas paisagens continuariam marcadas tanto na consciência quanto no próprio âmago.

 “De novo isso...”, a mão foi do peito à face e cobriu os olhos estremecidos.

Perdeu mais alguns minutos ao sentar-se no colchão macio. Abraçou as próprias pernas numa posição encurvada e descansou a testa nos joelhos.

Desejava entender o ocorrido, mas tinha ciência de que era algo fora do alcance.

“Desde aquele dia isso vêm acontecendo”, evocou momentos recortados do confronto na missão passada.

Depois de ser perfurada no abdômen pela lâmina de fogo do titã, os fragmentos de memória se apagavam.

E só retornavam à normalidade no momento que acordou sobre o colo de Damon.

Tudo que ocorrera entre aquele intervalo desapareceu.

Somente o filho de Zeus conhecia.

Apesar de não receber as informações por conta das demais sequências, desconhecia a respectiva preparação em prol de as escutar.

Pelo menos as razões foram compreendidas sem delongas.

Ver a expressão do garoto quando murmurou a ela de maneira resumida, um tanto omissa, sobre o que viu...

As secas palavras de seu pai e o olhar perfurante, de julgamento superior da irmã mais velha...

Reunir tais fatores lhe direcionada a uma única resolução.

Afinal, ela mesma sentia a energia obscura, entranhada em seu âmago, elevar-se cada vez mais.

 Não era a primeira vez. E tampouco seria a última.

Exalou um pesado lamento e tentou reunir coragem para se levantar em definitivo.

Recebida de frente pelo espelho na escrivaninha adiante, observou a feição cabisbaixa, protagonizada pelos olhos fundos, refletida na superfície de vidro.

Nem se importou em pentear o cabelo bagunçado, a escorrer sobre os ombros e alcançar metade das costas.

Só apanhou o punhal fincado acima da mesa e deixou o cômodo púrpuro. Precisava achar qualquer forma de ocupar a mente deturpada.

Seguiu no corredor com passadas curtas, até ultrapassar a sala de estar.

Não encontrava mais quem sempre desejava ver ali. Tornou a lamentar pela saudade que sentia da mãe, mas balançou a cabeça em negativa, de forma a livrar-se daquele apego.

Foi ao exterior e passou por algumas alamedas iluminadas pelas enormes tochas de tons frios, chegando a uma câmara isolada das demais.

Antes de adentrar o local, mirou marcas espalhadas por paredes e solo; lembranças que ela conhecia muito bem.

Quando entrou, foi diretamente até o centro do salão, bastante danificado em diversas proporções.

Fechou os olhos, respirou com calma em busca de compenetração e apertou o botão central da pequena arma.

Essa se abriu, até a forma de uma lâmina curvilínea no topo, a grandiosa foice que era seu aspecto verdadeiro.

Fitou-a por meio das vistas entrefechadas. Ainda queria resolver o resquício de relutância quanto à busca do que tinha decidido.

Mais uma vez, balançou a cabeça em negativa.

Redobrou a firmeza no empunho do cabo escuro e começou a reunir sua Energia Vital. Precisava trazer à tona o fator atribuído a suas péssimas noites de sono.

Deveria deixar de aceitar o sofrimento, sem recorrer a qualquer auxílio — tanto no mundo inferior quanto na superfície.

Ansiava por encontrar a coragem em prol de seguir o caminho que sua mãe havia a indicado, superando os obstáculos com as forças tidas em si.

“Tenho que deixar...!”, espreitou o recinto inteiro nas cercanias.

A energia condensada em volta do corpo originou uma aura levemente rubra.

Mais... mais...

Pôde ouvir aquela voz, paralisante em um sussurro.

No mesmo instante, todo o foco esvaiu-se junto à energia.

A influência que a envolvia regrediu, a exemplo da determinação criada a fim de controlar os sentimentos.

Novamente, sucumbiu ao temor.

Tentou relaxar de alguma forma, então encarou a palma agitada. Nem as palavras de Perséfone podiam fazê-la ultrapassar o entrave atual com facilidade.

Sabia disso. Nada seria simples e se resolveria em um estalar de dedos.

Mesmo assim, abaixou a cabeça e devolveu o equipamento à forma do punhal.

“Hoje não”, corrupiou-se no próprio eixo, a fim de deixar a câmara.

O passo de esforço daquele momento já parecia ter sido o bastante por ora.

Todavia, as mágoas continuariam a sobrepor toda a tenacidade da qual ela precisava alimentar.

— Parou por quê?

Então, uma voz conhecida a alcançou.

Erguendo o rosto desanimado, deparou-se com a mulher de porte robusto, agora com o torso bem mais acobertado por uma blusa cortada sobre o abdômen.

Parou de andar no ato de fitá-la bloqueando a saída do recinto. Quase recuou dois passos ao observar o sorriso convencido ostentado pela soturna.

Escondeu a pequena arma atrás do corpo e desviou o olhar na direção do solo.

— Irmã Meli — mussitou com certo embargo. — Não estou fazendo nada demais...

— Eu vi você tentando reunir sua energia — rebateu com severidade.

Lilith tentava, mas não conseguia evitar o modus operandi que a fazia se acuar ainda mais.

Apertou as mãos sobre as lâminas da pequena arma, na iminência de criar um leve corte na palma.

Sentindo a ardência repentina, fechou uma das vistas.

O fio de sangue recheado de pontinhos dourados escorreu do membro, chamando rapidamente a atenção de Melinoe.

Forçou os dentes ao prender um riso jocoso quando viu o ferimento autoimposto pela caçula.

Sem ter o que dizer, Lilith agarrou o punho do palmo machucado e acelerou as passadas, no objetivo de deixar o local e a presença julgadora.

Porém, o braço da mulher esticou à sua frente, impedindo o prosseguimento.

Numa velocidade fora de cogitação, ainda a envolveu num abraço por trás do pescoço, a exemplo do primeiro reencontro dias atrás.

— Vamos bater um papo, que tal? Faz tempo que não nos falamos direito, né? — disse, ainda rindo com gozação. — Que tal irmos pra superfície um pouco? Queria tomar um ar fresco...

A prodígio procurou evitar o encontro ocular com a veterana, ainda mais por incompreender o convite feito por ela.

A diferença de altura entre ambas não era tão grande. Sua testa alcançava o nariz da mais velha, que logo a conduziu para fora do salão.

Sem chances de ganhar no revide de força, deixou ser empurrada para fora.

— Ei, Li — mussitou enquanto olhava para o alto, sem risadas. — Por que você ainda se esforça?

Lilith levou segundos de atraso até assimilar a indagação.

— Hã...?

Os olhos deixaram de piscar, mesmo presos ao foco dos próprios pés.

De repente, toda a determinação compartilhada com Perséfone desapareceu, à medida que a mais velha prosseguiu:

— Você sabe. Nunca consegue conquistar bons resultados, não evolui em nada. E, ainda por cima, tem essa Maldição impregnada em seu cor...

Antes de terminar a frase soturna, a caçula se livrou de seu abraço com um empurrão e tomou distância de imediato.

Com o leve ferimento à mostra, não sangrando mais como a princípio, levantou o olhar fremido à faceta indiferente da irmã.

Ela sorriu em retorno — embora um sorriso desprovido de empatia. Fazia tempo que não era encarada daquela maneira.

Seu ponto estava comprovado: a irmãzinha continuava se esforçando.

— Eu... vou me trocar. — Girou e avançou por conta.

Sem nem virar o rosto, atravessou toda a distância para o cômodo pessoal por meio de passadas apressadas.

Fechou a porta numa batida potente, capaz de criar um intenso eco por todo o corredor.

Encostou por trás na estrutura metálica e ali permaneceu por um tempo.

A palma lacerada não parava de estremecer. As sobrancelhas erguiam-se, mesmo que contorcidas, ao limite.

Rangeu os dentes em busca de se livrar de tudo, até cair com os joelhos sobre o piso frio. E afundar o rosto na cama.

Gritou o quanto pôde, sem que ninguém pudesse a escutar.

Tal reação sustentou-se por bons minutos, até perceber que estava prestes a pegar no sono graças ao momento de exaspero.

Soergueu a cabeça e enxergou o sangue seco na abertura da palma. Outra vez, só foi capaz de exalar uma arfada que lhe doeu o peito.

Com algumas dificuldades, voltou a ficar de pé.

Encontrou a si mesma, de novo, no espelho. Os olhos tão sofríveis quanto os que tinham despertado, há pouco.

“Tenho que... me trocar...”

Movida contra a própria vontade, despiu-se em frente a superfície de vidro, fitando a marca do corte quente na barriga e resquícios das queimaduras graves sofridas no deserto.

Além de outras marcas menores de eventos vetustos.

As emoções embaralhadas não a permitiriam prosseguir daquela forma.

Sua única saída era aceitar o estranho convite feito por Melinoe, com destino à superfície depois de dias confinada no Submundo.

Completamente solitária.

Após vestir uma roupa escura sob a típica manta vermelha de seu figurino principal, Lilith amarrou o cabelo nas habituais caudas gêmeas laterais e saiu do quarto escuro com um ar renovado.

Caminhou até o salão principal, onde Melinoe estava, sentada na poltrona onde normalmente sua mãe se encontraria.

Embora sem causar muitos ruídos ou tampouco anunciar a chegada, foi percebida pela Classe Herói. Ela virou o rosto e a recebeu com um riso satisfeito.

— Não esquenta. Meu pai não vai saber que saímos.

Levantou-se do assento singular.

Os globos de íris roxo-escura logo perceberam o pequeno curativo feito pela caçula.

Lilith, vendo que ela estava de olho na faixa de pano amarrada pelo dorso, o escondeu movendo os dedos.

Por meio de uma bufada, a veterana avançou para a escadaria do exterior e foi acompanhada pela garota.

Sem delongas, as duas atravessaram o portal encíclico e receberam a lufada estival.

Depois de contornarem a passagem arco-íris que envolvia a sequência ao Submundo, alcançaram o verdadeiro lado de fora.

A quietude trazia incômodo à jovem de caudas gêmeas. Envoltas por pequenos templos na área especial, onde só divindades tinham acesso, reuniu certa coragem a fim de perguntar:

— O que você... queria conversar?

— Hm? Ah, por favor. Para de fazer perguntas sem sentido — rebateu ao corrupiar o corpo. — Só ‘tava a fim de tomar um ar. Voltei de uma missão irritante e não tenho nada pra matar tempo. Você não consegue entender, já que ‘tá acostumada a nunca fazer nada de produtivo, né?

Soltou um bocejo com uma das mãos à frente da boca.

Lilith sentiu a pontada que ela tentou atiçar com a última sentença, porém segurou as estribeiras ao apertar os lábios um contra o outro.

Ainda não entendia muito bem as razões que levaram sua irmã a trazê-la até a superfície.

— Ah, sim. Fiquei sabendo de sua promoção pra Classe Prodígio. Essa última missão que você veio relatar foi uma mais dificilzinha, né? — Colocou um dedo no lábio inferior.

Nada obstante às aparências, ela ainda soava bem feminina no gestual.

— Hm. — A mais nova desviou o olhar.

— Eu ‘tava um pouco curiosa, sendo sincera. Mas meu pai nem deixou você falar. — Abafou uma risada, apontando o indicador em riste ao rosto dela. — Me espanta o quanto ele ainda se dispõe pra te ouvir. Parece até que tem alguma expectativa em você. Que bizarro!

Lilith continuava a ser esmagada pelos pesos daquelas palavras.

Palavras essas que Melinoe pouco se importava em desferir contra a irmã.

Se estivesse a cortando a cada sentença cuspida pelo sorriso de desdém, também jamais ligaria.

E era isso que ela queria.

— Como eu tinha dito, lá embaixo: por que você ainda se esforça? Você nunca vai conseguir recuperar a aceitação dele, ainda não se tocou? — Dando de ombros à postura inerte da menina, ela fechou os olhos e abriu as mãos. — Você é uma falha completa. Tudo que pode conseguir é a rejeição e o desgosto.

Os punhos cerrados da Classe Prodígio adquiriram tamanha força que os ossos pareciam estalar.

O corte sob o palmo quase voltava a sangrar.

Porém...

Lilith. Você não tem somente a mim.

Os dizeres de sua mãe retornaram à consciência, como uma luz no fim do túnel.

Assim como as poucas nuvens sob o céu alaranjado saíram da frente do sol, trazendo a verdadeira iluminação aos olhos rubis.

Eu sei que você mesma já sabe disso. Então, acredite neste caminho. Pois ele será somente seu...

Remetendo aquela frase de sua mãe, a sensação calorosa da qual escapou há dias a tomou por inteiro.

— Eu... não preciso mais disso — mussitou em uma réplica contida.

Mas, ao mesmo tempo, determinante.

— Como é que é?

Não crendo naquele início de afronta, Melinoe voltou a encarar o semblante esforçado da mais nova.

— Agora eu... tenho pessoas com quem posso contar. — Tomou fôlego e coragem em prol de continuar: — Eu agora tenho um caminho que eu quero seguir! E o que você ou o papai acham... não preciso mais disso!

Proferida toda a resposta de olho nos próprios pés, a garota ergueu o rosto, definindo sua verdadeira investida contra a mulher.

Sem a tremulação ocasional em cada esfera preciosa, a surpreendeu pela primeira vez.

E, apesar do baque inicial, Melinoe levou a palma a cobrir as vistas, juntando os dentes em um sorriso forçado que prendia uma gargalhada.

— Ai, é cada coisa! Você realmente ‘tá se esforçando pra ser mais atrevida? É só isso, né? — Despejou com ironia, sem ser rebatida. — Vou falar de novo: você não passa de um fracasso. Não existe alguém melhor do que meu pai pra te levar ao ápice, mas você não é capaz disso. E agora quer renegar ele pra se sentir melhor? “Outro caminho”? Por favor, não repita essas asneiras na minha frente...

— Não! — Elevou o timbre da voz, explodindo os sentimentos sobre a finalização da mais velha. — Eu sempre quis seguir seus passos! Eu queria ser como você! Mesmo tentando te imitar em tudo eu não conseguia me livrar dessa angústia!

Quase despejando lágrimas, a jovem ctónica apertou as palmas contra o peito.

— Ficou maluca? — De novo, Melinoe elevou o queixo e tornou o timbre ainda mais soturno. — Você nunca poderia ser como eu.

— Sim... — E, para sua surpresa, Lilith usou aquilo contra si mesma. — Eu percebi. Percebi que nunca poderia ser como você...!

Sem nem ter percebido a desfeita do riso sarcástico, a ctónica veterana sentiu algo diferenciado vir daquela colocação.

Jamais tinha recebido algum tipo de retruca de sua irmãzinha, portanto adentrou uma postura de superioridade defensiva.

No instante que significado da sensação anterior, semicerrou as vistas com fervor.

E essa impressão foi explicitada pela própria Lilith, logo em seguida:

— Eu tenho que ser apenas eu mesma! Esse é o caminho que eu deveria seguir desde sempre!

Pela primeira vez desde que se lembrava, Melinoe experimentou uma influência ameaçadora fluir da caçula.

Chegou a recuar um pouco do torso, ainda que a fitasse de cima. Só que, ao contrário do que o cérebro comandava, um sorriso torto se formou em sua face.

A de caudas gêmeas voltou a recuar.

“Eu disse...”, rebobinou as frases ditas há meros segundos. “É isso, não é, mamãe? O que eu preciso...”

Com puro esforço, guiada pela coragem resgatada em todas aquelas palavras — dela e de sua mãe —, sustentou a postura ante a impetuosidade da mais velha.

— Ora. Que surpresa. — Uma terceira voz, mais madura e mansa, interrompeu o conflito silente das duas. — O que ambas fazem aqui, a esta hora?

Melinoe desfez a pressão agressiva que acumulava na face, virando-a à vertente da questionadora.

— Deusa da Sabedoria — grunhiu com raiva.

Lilith fez o mesmo e, querendo ou não, foi tomada por certo alívio.

A respectiva divindade, apesar de recebida daquele jeito, continuou sorrindo.

Depois, contemplou a expressão acuada da mais nova. Por aquela simples olhadela em cada uma — além de ter escutado a reta final da conversa, omitindo isso consigo —, pôde entender a situação.

— Isso te interessa de verdade? — Melinoe cruzou os braços, sem pudor nas palavras. — Meu pai ‘tá ocupada com você sabe o quê. A gente só saiu pra conversar.

— Entendo. — A sábia não se importava com a petulância. — De todo modo, confesso que foi uma agradável coincidência encontrar com vocês duas aqui.

— O quê?...

— Necessito de vosso auxílio para que informações importantes sejam entregues a meu tio.

— E o que seria?

— Ainda planejo, formalmente, deixar todos vocês, apóstolos da corporação, a par de tudo. — Executou uma curta pausa, passando pelas duas. — Todavia, acredito que Lilith saiba bem sobre o que se trata.

A enunciada reagiu com assombro, sendo encarada por Melinoe, que era atiçada por aquela nova curiosidade.

— Contarei, primeiramente a vocês — continuou Atena —, sobre as discussões postas em pauta na reunião dos Doze Tronos. No entanto, também preciso resolver uma questão pendente. Poderiam oferecer-me um pouco de vosso tempo e subirem comigo?

Encarou-as ao virar o rosto sobre o ombro, atraindo-as com sua influência instigante de praxe.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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