Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 4 – Arco 4

Capítulo 72: Levantam as Sombras 2 [Esmagados sem PIEDADE]

— E aí, suas escórias!

O indivíduo de manto negro proclamou, estabelecendo sua presença como um claro obstáculo contra os apóstolos que retornavam da missão.

Sua voz soou grossa, porém mais jovial em comparação ao homem encontrado na situação de Delos.

Pelo menos, foi isso que os filhos de Zeus e Hades ponderaram depois de o escutar.

Sem pestanejar, ele puxou uma corrente metálica escondida na capa negra.

Na extremidade, uma grande esfera preenchida por diversos espinhos pontiagudos e grossos.

Tombou com violência sobre a areia quente, chamando todos os quatro para que fossem suas novas presas.

Chloe e Julie ainda sentiam o desgaste da batalha anterior.

E, diferente dela, não podiam sequer prever qual seria a periculosidade daquele rapaz.

Damon não dizia nada a respeito, pois sabia que as gêmeas estavam pensando em algo.

Quando os braços machucados de Lilith apertaram seu pescoço, hesitou.

— Não vou deixar — sussurrou sua vontade ao pé do ouvido dele.

— Lilith...

Antes que pudesse fazer algo a respeito no intuito de convencer a parceira, que se recusava a largá-lo, o encapuzado deliberou uma pequena amostra de sua influência.

A pressão repentina recaiu sobre os apóstolos, entregando o teor verdadeiro de sua ameaça.

Levantou a estrela da manhã pelos elos metálicos...

“Vejo que não dispomos de outros rumos”, a lanceira se preparou, quando ele disparou contra o quarteto num salto violento.

Investiu com um golpe descendente, obrigando os jovens a desviarem como podiam.

A esfera bateu na areia, levantando bastante massa mineral pelos arredores e provocando um tremor intenso naquela região.

Damon recuou com Lilith agarrada a suas costas;

Chloe e Julie foram juntas a outro lado. O cansaço vital e físico dificultava seus movimentos, mais do que tinham cogitado de antemão.

Antecipando qualquer reação adicional, o agressor pulou ao ponto onde a dupla mais debilitada caiu.

O cacheado se espantou, ciente de que não poderia se defender com as mãos ocupadas sob as coxas da ctónica.

Pôde observar, no esvoaçar do capuz, os olhos alaranjados que envolviam cada pupila afiada do garoto.

Sem tempo em prol de alcançar a espada na cintura, procurou recuar o mais rápido possível.

Olhou rapidamente para onde as irmãs se encontravam.

Quando constatou a distância, executou um passo acelerado para trás.

Só que o sorriso de caninos afiados do encapuzado entregou seu único alvo: o próprio olimpiano.

Deslocou-se de maneira súbita, como se fosse um animal, e puxou a corrente de aço. A esfera espinhosa zuniu tão rápido que o filho de Zeus mal pôde acompanhar.

Apenas sentiu o queixo ser atingido. O impacto lhe trouxe uma dor arrepiante, à medida que o maxilar se deslocava e outros ossos fraturavam.

Por sorte, nenhum espinho tinha o atingido. E o resultado foi ter o corpo inteiro lançado para o alto.

— Damon!! — Ainda segura a ele, Lilith se desesperou ao acompanhar o golpe sofrido.

“Ele porta um armamento tão maciço como se fosse uma pluma”, Chloe apanhou as duas metades da lança quebrada.

O de manto prosseguiu no assalto responsável por tirar o jovem prodígio do chão.

Pulou com o pesado mangual e com o objetivo em mente de rebatê-lo para a terra.

Só que, antecipando sua sequência letal, duas flechas foram disparadas por Julie, o obrigando a se defender com a esfera metálica.

A mudança de posição ofereceu tempo e espaço para Damon se recompor. Girou o corpo com dificuldades, mas retornou à areia com algum equilíbrio.

Cambaleou em virtude da agonia eletrizante no rosto, somada ainda às fisgadas provocadas pela fadiga por todo o corpo.

Buscou retomar fôlego, mas o queixo fraturado o incomodava demais para sugar o ar pela boca.

A simples ação de abri-la e fechá-la se provava quase impossível.

“Merda! Não posso nem falar”, depois de amaldiçoar a situação intrincada, encarou as filhas de Atena.

O garoto em questão voltou ao plano. A impetuosidade consecutiva de seus movimentos fez o capuz, que cobria o rosto, voar da cabeça.

O volumoso cabelo verde-escuro, cheio de pontas baixas repartidas e bagunçadas, alcançava metade do pescoço.

No entanto, os detalhes mais chamativos vinham das profundas cicatrizes espalhadas pela face morena.

Umas eram escondidas pela franja que cobria parte das vistas. Outras estavam bem visíveis — uma ia da bochecha esquerda ao pescoço e outra vinha da orelha direita até um pouco acima do nariz.

“Requisito: Deixe isto conosco, Mon-Mon e Li-Li”, a voz de Julie ecoou na cabeça da dupla, tão logo quando tomou a dianteira junto da irmã.

— Garantiremos vossa segurança. — Chloe fitou por cima do ombro. — Conceberemos uma abertura apropriada em prol da possibilidade de escaparem.

— M-Mas...

— Inquietudes são desnecessárias — interrompeu a filha de Hades. — Usufruímos de um objetivo mútuo. Deste modo, procederemos assim que construírem um distanciamento considerável. Para ser franca, neste exato momento, as chances de o derrotarmos apresentam-se adjacentes à inexistência.

Damon apetecia a retrucar, porém as condições não o permitiam proferir de maneira entendível.

Não somente isso, como reconhecia a afirmação contundente da aliada dotada de vasta saberia.

Isso o levou a aceitar a ideia.

Ninguém ali se via fora da zona de enfraquecimento, resultante dos esforços elevados a fim de derrotarem o Titã Condenado.

O rapaz ainda precisava se preocupar com Lilith, quem estava menos apta a agir no presente cenário.

Embora tivesse acometido o grupo com golpes considerados “simples”, o garoto das cicatrizes exalava uma aura tão lancinante quanto a do titã derrotado há poucas horas.

“Como quiserem...”, Damon tentou responder com a mente.

No mínimo cogitava a ideia de Julie ser capaz de captar suas palavras através da Telepatia.

Dito e feito.

Ela transmitiu a curta mensagem à irmã na sequência.

Preocupado com sua amiga, ainda com as queimaduras incômodas pelos braços e torso, venceu o desejo de permanecer e lutar.

Entender que aquele era um evento totalmente diferente do que havia passado até então foi crucial para aceitar a decisão.

As gêmeas da sabedoria assentiram e a filha de Hades, ainda que incapaz de escutar a voz interior do olimpiano, foi preenchida por alívio.

De longe desejava deixar as duas para trás, mas precisava aceitar a própria impotência diante do contexto.

Como resposta a isso, afundou o rosto nas costas do garoto.

“Compreendo a frustração”, a purpúrea fitou o solo por um breve instante. “Todavia, não devemos apostar individualmente.”

Quando voltou a atenção ao adversário, girou os cabos das lanças e se preparou.

O jovem das cicatrizes acelerou a passada, à medida que rodopiava os elos de aço conectados à esfera espinhosa.

— Vão — murmurou Chloe.

Julie puxou uma flecha e posicionou na corda de aço. Mirou na areia, reuniu frações de Autoridade Elementar da Luz sobre o objeto e atirou.

O tiro surpreendeu o inimigo, que teve a visão tomada pela grande massa de areia que se ergueu graças à explosão.

Mesmo com as dificuldades, lançou a estrela da manhã adiante, cortando a camada de minerais refletidos pela parca luz alva.

A presença dos alvos voltou a surgir. Porém, somente as irmãs se encontravam.

Esgazeou as vistas, à procura de ínfimas linhas de presença dos outros dois. Não pretendia deixá-los escapar com sucesso dali.

“Como cogitei; ele deseja fragmentar a atenção”, um sorriso silencioso se projetou na feição plácida da lanceira.

Aproveitando parte da cortina criada pela gêmea, se esgueirou à esquerda e buscou um ataque por seu flanco.

No puro instinto, o esverdeado desviou da lança empurrada e retornou por meio de um salto poderoso à vertente oposta. A expressão feroz não esvaneceu.

De relance, encontrou a dupla que tentava fugir às escondidas. Fitá-los fez com que as extremidades dos lábios alcançassem o limite do riso feroz.

Sem pestanejar, jogou a arma pesada na direção dos fugitivos.

Ao perceber a acometida, Damon resmungou consigo e interrompeu as passadas.

A esfera de espinhos atingiu a areia logo à sua frente, levantando outra porção pelos arredores.

“Esse cara...!”, quando se voltou à vertente da corrente esticada, se surpreendeu.

O garoto, com o resto dos elos amarrados na cintura, aproveitou a distensão causada pelo lançamento e deixou ser puxado à direção deles.

As filhas de Atena não acreditaram naquele recurso, ao que já consideravam ter sido superadas no plano em curso.

Ele voou por metros até chegar exatamente no mesmo local onde tinha derrubado sua arma pesada.

— Não vão fugir! — vociferou com gutural, como um maníaco.

As irmãs se empenharam a fim de agir o mais rápido possível, mas o inimigo conseguiu superá-las até naquilo.

Violento, jogou a estrela da manhã contra o corpo do filho de Zeus.

O impacto mostrou-se aterrador, com a agonia chegando à filha de Hades em suas costas.

Ambos foram lançados a metros de distância, capotaram na areia e foram, enfim, separados.

Lilith grunhiu com as dores causadas por suas queimaduras nos braços. Damon cuspiu mais sangue, paralisado pela dor acumulada do abdômen ao peito.

Com imensa dificuldade para respirar, ponderou sobre os órgãos terem sido esmagados. No entanto...

— Tsc! Seu sortudo desgraçado! — O cicatrizado, apesar de risonho, reclamou.

Enquanto retomava parte do controle respiratório, o olimpiano notou que fraturas mínimas tinham acometido seu torso.

Chloe e Julie avançaram em meio à aflição, reduzindo a distância para com o adversário.

Ele puxou a esfera e a jogou contra as duas, que desviaram juntas.

— Vocês não podem me tocar!

Embora bem-sucedidas em evitar o pior, adquiriram alguns cortes leves nos braços.

Uma pressão vigorosa se criou com o ataque, suficiente em prol de criar uma onda de choque a se alastrar por boa parte da zona de batalha.

Pega pelo vento, Lilith tentou se levantar. Os ferimentos obtidos na batalha contra Prometheus não a deixavam se mover com precisão.

Virou o rosto ao companheiro, preocupada com as condições dele — mais do que as suas próprias.

“Merda! Não consigo me mexer”, Damon sentia-se preso pelas dores acumuladas. “Quem é esse cara? O que diabos ele quer!?”

Reuniu as lamentações no intuito de arrancar forças no objetivo de se reerguer.

— Dr...! — Nem despejar reclamações conseguia, graças ao maxilar quebrado.

Lançou o olhar adiante e constatou a aproximação do agressor, agora focado em acertar a ruiva.

Foi a força que procurava. Conseguiu romper as barreiras da agonia e saltou até onde ela estava caída.

Pôde alcançá-la antes do inimigo, portanto puxou a espada na bainha da cintura e defendeu a descida pesada da esfera.

Estremeceu dos pés à cabeça, a ponto de ranger os dentes.

A filha de Hades virou o rosto, sendo coberta pelas costas do rapaz. Boquiaberta, sentia o perigo que aquele conflito emanava.

Julie disparou novas setas, obrigando o misterioso a recuar.

Isso permitiu ao jovem cacheado se livrar da pressão, ainda que sofresse com as dores latejantes no peito.

Virou com o canto dos olhos. Incapaz de mover a boca, buscava transmitir qualquer confiança a favor da parceira atônita.

“Será que...?”, mirou a mão que portava a empunhadura da espada. Os olhos piscavam com lentidão, como se desejassem se fechar.

O desgaste acentuado era nítido, mas o novo cenário não o permitiria escapar.

Depois de ter falhado com o plano das gêmeas, viu que inexistiam outras escolhas.

“Se você quer tanto assim lutar...!”

Cerrou o palmo livre, dando início ao processo de condensação de Energia Vital.

Todos os membros uivavam de dor. Novas dúvidas acerca de seguir em frente naquela manobra arriscada surgiram.

— Damon... — A voz de Lilith não podia alcançá-lo.

Tanto ela quanto os demais presentes contemplavam o diferenciado fluxo de energia rodear o apóstolo.

Raios cerúleos nasceram em estalos num ritmo controlado. A aura elevou-se ao nível de criar uma pressão singular no local.

“Eu consigo. Pelo menos pra atrasar ele”, visualizou o sorriso do oponente crescendo em relação à sua euforia.

Defronte àquela manifestação, o respectivo enfim sentiu a possibilidade de desfrutar um confronto digno.

Isso o levou a deixar de lado as irmãs de Atenas, a fim de aguardar o primeiro movimento do verdadeiro desafio.

O Classe Prodígio posicionou a espada voltada ao solo, atrás das costas. O foco para retornar de vez e desferir o primeiro ataque contra o cicatrizado mostrava-se abissal.

Porém...

Diante dos olhos, tudo ficou branco.

Um choque tão profundo quanto o anterior lhe correu pelo corpo inteiro. As sobrancelhas subiram ao limite e, para surpresa geral, a influência que aflorava ao seu redor desapareceu.

Chloe, rapidamente, cogitou a relação entre o ocorrido ao alcance das vistas e o estado fatigado do rapaz.

Contudo, o que veio a seguir provou ser um cenário ainda pior...

— GAAAAAAAAAAAAH!!!!

Era como se tudo no interior do jovem deus sofresse com uma potente descarga elétrica, capaz até de vencer a dor do maxilar fraturado.

Depois de segundos duradouros com o grito excruciante, os joelhos desabaram sobre a areia quente. Por fim, sucumbiu à dor com tudo.

Lilith não conseguia dizer uma palavra, apesar da boca escancarada.

“Imprudente! Por que procurou forçar a própria energia!?”, Chloe quase mordeu o lábio inferior, frente a situação que ia de mal a pior.

Não esperava que ele fosse seguir à risca o planejamento, a partir do momento que mostrou ser falho num primeiro instante.

Somado a isso, o fato de já o conhecer o bastante para obter tal noção lhe entregava o resultado em questão.

Nada obstante a isso, não pôde resguardar o espanto ao experimentar o “choque interno”, antes citado pelo próprio.

Mesmo Julie, que sequer demonstrava emoções condizentes com o momento, aparentava estar consternada.

A lanceira só pensava em uma explicação para o ocorrido com o filho de Zeus, inerte de joelhos.

A força resistente foi levada pelo vento, fazendo-o largar a espada sobre os minerais aglomerados.

— Hã!? Que isso? Não consegue nem usar energia? — O adversário ergueu o queixo, rindo à toa. — Que sem graça! Eu escolhi vir pra cá porque disseram que o filho do bam-bam-bam ‘tava aqui, mas é isso que me esperava!? Ra! Acho que criei expectativas além da conta!

Enquanto o esverdeado despejava sua humilhação...

“Não sinto...”, Damon ainda podia raciocinar, a despeito de estar imerso num estado que sequer compreendia. “Não sinto... minhas mãos... minha energia...”

O desespero interior lhe preencheu. Por mais absurdo que aparentasse, o cenário corriqueiro de seus sonhos regressava aos poucos.

Olhou à frente por meio das vistas arregalados. Os globos oculares trêmulos podiam enxergar aquela silhueta estranha, tomada por um borrão escuro.

Mas, naquela ocasião, surpreendeu-se ao reconhecer parte do semblante.

De uma mulher...

Como se um sorriso tomasse forma em sua direção.

Antes que pudesse fazer algo a respeito, um ruído assustador se proliferou pela cabeça. Todo o sistema nervoso foi afetado.

Mal conseguiu gritar quando a ardência jamais experimentada em vida o percorreu por completo.

Somente tombou com o peso do tronco, sendo seguro pela filha de Hades.

— Damon! Damon!! — Foi assolada pela tremulação anormal do garoto ao abraçá-lo.

“Isso seria...?”, o agressor desfez o sorriso pela primeira vez.

Um sinal de alerta peculiar nasceu em seu peito.

Levado pela curiosidade, avançou o quanto pôde até chegar à apóstola, mais rápido que o pensamento.

Os olhos alaranjados pareciam perfurar a alma da jovem deusa, inapta a esboçar qualquer reação.

— Parece que carrega consigo um dos nossos. Mas não pegou o controle, hein... Essa é uma surpresa e tanto!

Lilith não captou sentido nas palavras proferidas pelo inimigo.

Engoliu em seco na expectativa de ser esmagada pela estrela da manhã, sem ter a oportunidade de desviar junta ao companheiro debilitado.

Chloe e Julie reduziram a distância em alta velocidade no intuito de protegerem a dupla. O ataque surpresa da lanceira obrigou o rapaz a executar um giro rápido, abrindo nova distância.

 Apesar de todas as atribulações, Damon encontrou forças para levantar o rosto e acompanhar o proceder do conflito.

Sua audição estava restrita a um zumbido incômodo. Sabia que a amiga gritava perguntas sobre seu bem-estar, porém as palavras não chegavam perto de contatá-lo.

Nesse meio tempo, o jovem das cicatrizes voltou a atacar.

Julie disparou três flechas, todas defletidas pela esfera espinhosa que, em seguida, seguiu contra as atenienses.

Quando notaram que se encontravam na linha de fogo dos aliados, o que os faria ser atingidos caso desviassem.

Dito isso, Chloe resolveu encarar a afronta a fim de defendê-los.

“Medidas extremas provam-se necessárias”, puxou do bolso o amuleto, recuperado da missão anterior.

Em prol de impedi-lo, posicionou a lâmina defronte ao torso e pensou em dobrar a defensiva.

No entanto, o golpe da esfera foi tão poderoso que, além de jogá-la para trás com ímpeto. O artefato resistiu de forma surpreendente.

A arqueira afiou o olhar, em busca de devolver o “presente”, mas o adversário deslocou os elos de aço habilidosamente e impediu o sucesso dos novos tiros.

Ela procurou se desvencilhar da esfera, que logo retornou ao saltar à esquerda. O braço destro terminou atingido, a fazendo voar por um espaço até cair na areia.

Usou de uma cambalhota ágil e retomou parte da postura.

Sentia o ombro deslocado, onde alguns cortes visíveis soltavam fios de sangue com Ícor.

— Que decepção, filhos dos deuses!! — Puxou de volta o armamento maçante. — Esperava mais de vocês!!

Avançou contra os prodígios abatidos, os passos curtos criavam pegadas fundas na areia.

“Ele está ciente de nossa exaustão...”, a jovem púrpura deixou a areia. Fios do cabelo bagunçado caíam sobre a face. “Caso não desgastássemos toda energia contra o Titã Condenado, estaríamos aptos a nivelar esta contenda.”

Analisou o contexto até onde era possível.

Nenhuma saída positiva podia ser enxergada por ela.

— Eu queria até usar minha energia, mas vou ter que guardar para os deuses de verdade. — Parou acima dos prodígios. — É o fim, suas escórias! Prometo acabar com suas vidas com um só golpe!

A imóvel Lilith não desfazia o abraço no amigo.

Chloe estava distante, não poderia os alcançar. Julie, com o ombro machucado, já convivia com a escassez do estoque de flechas na aljava.

“Vai... acabar assim?”, Damon cerrou o punho trêmulo.

O semblante erguido carregava mais irritação do que melancolia. Encarar o sorridente inimigo trazia suas emoções a um estado de ebulição.

Mas sua impotência provava-se tão desagradável quanto.

Não seria capaz de proteger sua amiga, ajudar as gêmeas e tampouco abandonar as experiências passadas, sempre pendentes ao lado negativo das resoluções.

Embora a ira elevasse a vontade de superar os obstáculos, inexistia a possibilidade de se mover.

“Tenho que levantar... Tenho que proteger eles!”, ao alcance das vistas, a imagem da exasperação da filha de Hades.

“Tenho que vencer!”, ao seu lado, a imagem das filhas de Atena, empenhadas para se erguer a tempo de impedirem a finalização planejada pelo esverdeado.

Tenho que vencer!!”, dentro do coração, a promessa feita no retorno de Delos.

A palavra direcionada à Atena, na partida ao deserto.

O afago em Daisy, animada para se tornar uma apóstola.

Nada daquilo conseguia o empurrar ao movimento.

Estava tudo acabado...

Até que uma ventania repentina interrompeu a execução do golpe fatal.

Os quatro encararam a mesma vertente, notando a repentina alteração que tomou a feição do garoto cicatrizado.

Ele tornou o rosto com lentidão. Os olhos vibrantes encontravam-se bem abertos.

Mirou uma figura em caminhada a passos lentos, porém pesados.

— Enfim alguém que vale a pena — murmurou com a elevação de sua euforia, prestes a se perder há segundos.

Todos paralisaram ao receber a influência tão aterradora em comparação a do inimigo, responsável por dominá-los desde o princípio.

Chloe foi a única a respirar com alívio, pois reconheceu a identidade daquele que chegava sem pressa.

O volumoso cabelo loiro caía com as pontas soltas até parte da nuca. Dançava no espaço, devido à ação da ventania — causada por sua própria presença.

Carregava uma enorme foice, predominantemente cor-de-rosa, apoiada no ombro direito.

Trajava somente uma capa avermelhada, que cruzava o torso de poucos músculos, mas bem definido.

O símbolo do ômega invertido, cinzelado em um aparato de metal dourado, prendia esse tecido.

Os olhos escarlates miravam o escopo.

Não demonstravam um pingo de compaixão ou hesitação com relação ao adversário.

— Quem...?

Lilith mal era capaz de proferir o questionamento. Impressionada com a pressão retumbante, estremecia as pupilas contraídas.

— Esse é o prodígio entre os prodígios — antecipou Chloe, convicta em suas palavras. — O mais jovem apóstolo que alcançou a Classe Superior. Em toda a história da corporação...

A ctónica não resistiu à reação perplexa, em reconhecimento àquela pessoa.

E, ainda assim, transmitia uma impressão profunda.

Demonstrava estar a par de igualdade com o garoto de manto escuro.

Ou então...

— Vamos lá! Tudo de novo! Dessa vez pra valer a pena! — Agarrou com pujança os elos da arma. — Eu ‘tava esperando por esse momento!!

O loiro findou o avanço. A respiração despreocupada cessou a ventania, por meio de um simples deslocamento ocular.

A jovem púrpura estreitou a visão no exato átimo.

Um clima tão pesado quanto instaurou-se na região desértica. A confiança a favor de um desfecho positivo passava a regressar.

Ele virou o rosto, fitando cada um dos quatro “aliados”. Todos derrotados, incapazes de oferecer resistência.

Não demonstrava decepção ou sequer satisfação por encontrá-los, fosse mal ou bem.

Meramente permaneceu neutro, na respectiva feição.

Levou alguns segundos a mais até desviar a atenção de Damon e Lilith, atônitos diante da reviravolta.

Cerrou as vistas por um átimo e retornou o foco ao agressor sorridente.

— Está acabado.

Soltou as primeiras palavras, por meio do tom de voz peculiarmente melancólico.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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