Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 57: Batalha Crítica no Deserto 5 - Herói Traidor

Um pouco mais cedo na área subterrânea do Deserto da Perdição...

Chloe e Julie percorriam os corredores labirintais na caçada do herói traidor.

Conforme experimentavam os tremores provenientes da batalha contra Prometheus crescerem a cada átimo, procuravam se livrar das crostas terrestres que insistiam em atacá-las.

De alguma forma, eram capazes de manter o foco pleno naquela tarefa, mesmo curiosas — e preocupadas — com o evento paralelo.

A lanceira cortava como podia as massas sólidas, as purificando com sua Autoridade Elementar da Luz. Isso mantinha o ritmo da corrida, sem as atrasar.

A arqueira usufruía de sua Telepatia a longo alcance, a fim de compreender os movimentos do adversário e, ao mesmo tempo, receber informações vindas dos pisos superiores.

Suas sensibilidades vitais elevadas, por si, já eram suficientes para desvendarem os “rumos” tomados pela magia dele. E isso as permitia se defender sem problemas.

“Aviso: Três horas pelo teto”, o aviso da irmã ecoou pela cabeça, as fazendo antecipar com celeridade ao local designado.

Chloe girou os gumes banhados em luz, que tinha uma tonalidade ligeiramente lilácea, as purificando através de cortes rápidos.

Mal permitia que as crostas completassem metade do caminho após destruírem o teto.

O trajeto era liberado, enquanto a retaguarda se tornava repleta de escombros.

Eles estavam terminando de “enterrar” aquele local.

Pouco importava, pensou a apóstola.

As duas seguiram dessa maneira, até alcançarem um novo salão que repetia o padrão de todos os encontrados até aquele momento.

Defronte à escadaria singular no outro extremo do espaço, Teseu foi avistado.

Só que ele não se movia. As mãos apertavam os joelhos com o torso inclinado. A respiração ofegante trazia ardência ao peito.

A jovem púrpura alçou as sobrancelhas logo de cara, então puxou a irmã pelo braço.

Aproveitaram um corpulento bloco de pedra derrubado ao lado e ali se esconderam.

Evitaram causar quaisquer ruídos, ao passo que observavam as costas do traidor.

Trocaram olhares e assentiram em conjunto. Palavras sequer eram necessárias.

A alva esgueirou-se até uma das alas do salão, sem ser percebida. Já tinha uma nova flecha preparada na corda de aço.

“Como de praxe, um mortal não porta sensitividade demasiada”, Chloe aguardou o afastamento da parceira para erguer-se e saltar sobre o fragmento retangular.

Dessa vez o som das sandálias foi propositalmente propagado pelo recinto. E chamou a atenção do homem.

Esse semicerrou as vistas ao virar o torso pela metade, encontrando o caminhar de passadas curtas da filha de Atena.

Um sorriso de escárnio surgiu na face enrugada.

Percebeu os globos violetas mais escurecidos que o normal. Isso o fez estremecer por inteiro.

—  Malditas...! Conseguiram me alcançar... mesmo com minhas armadilhas. — Ainda arfava entre as frases.

— Armadilhas? Ah, sim — ela inclinou o rosto à direita. — Sugiro dedicar-se a conceber algo satisfatoriamente delineado em uma ocorrência posterior.

Quando ela ergueu o queixo em exímia demonstração de superioridade, o Classe Herói estalou a língua.

Cerrou os punhos enraivecido, antes da respectiva finalizar:

— Todavia não existirá uma ocorrência posterior.

Apontou uma das lâminas em direção ao pescoço do grisalho, o fazendo recuar passos involuntários até tropeçar no primeiro degrau.

Já tinha estranhado a razão pela qual ele não decidira prosseguir. Agora, tal reação tornava tudo ainda mais inusitado.

Ao avançar um pouco mais, entrou no raio de experimentação de um conflito massivo de energias.

Podia compreender, enfim.

No fim, sempre remetia ao fato de que, apesar de ser um Classe Herói, ele continuava a ser somente um mortal.

Tal sensação a induziu a seguir adiante. Afinal, tendo imaginado que sua irmã tinha identificado o mesmo cenário, estava prestes a alcançar o escopo original.

Disparou contra o homem em alta velocidade e, desfazendo uma das camadas luminosas, empurrou a lâmina contra seu rosto.

A explosão de ar assolou a lateral de sua face, que tinha desviado no puro reflexo.

Incrédulo, Teseu sentiu um corte superficial ser aberta sobre a barba. Sangue puro escorreu dali.

“Ela quer me matar!”, levantou-se num rompante e girou o corpo, sendo atingido por outra coisa nas costas.

Com bastante dor, cuspiu mais do líquido rubor, à medida que os joelhos tombaram no plano.

Virou o rosto trêmulo, vendo a flecha fincada no dorso.

Não fazia ideia, mas a arqueira situava-se numa abertura superior adjacente à entrada do local.

A posição perfeita para uma atiradora de elite.

Sem pestanejar, disparou outra seta. Essa acertou a panturrilha do homem, lhe arrancando quase todas as chances de fugir ao salão seguinte.

Onde, de certo, a batalha derradeira ocorria.

“Eu realmente... vou perder!?”, procurou dar a volta, mas o ombro foi rasgado pela lança da jovem deusa.

Desse modo, ficou “preso” naquela posição.

— Desde que estime pela respectiva vida, proponho a prudência quanto vossas ações. — Aproximou as vistas do oponente. Um ar impiedoso pairava ao redor dela. — Não presumia que, além de traidor, seria um covarde. Todavia posso moderadamente compreender vossos sentimentos, mortal.

“Covarde...?”, o velho, incapaz de escapar da encarada letal, mordeu o lábio. “Sua...!!”

Moveu o braço dominante na tentativa de usar o machado, mas outra flecha lhe atingiu sobre o punho.

Agonizou de dor por um grunhido. Mais sangue escapava, o deixando anêmico de súbito.

Os dedos se abriram com lentidão, de modo a largarem o pomo da arma média.

Suas chances de sucesso, fosse em vencer o confronto ou escapar dele, acabavam de ser reduzidas a zero.

A lanceira executou um sinal silencioso com a cabeça, permitindo à desbotada saltar da abertura.

De volta à superfície, relaxou o arco, mesmo sem deixar de posicionar uma seta pronta para qualquer disparo.

— Iremos detê-lo aqui. — Não desprendia o foco do homem ao declamar. — Posteriormente, prosseguiremos por estar escadarias, visando auxiliar aqueles dois contra nosso escopo primordial.

“Resposta: Como quiser, minha irmã”, a telepata assentiu.

Só que, no instante que a dupla se preparou para encerrar o combinado... uma influência diferente de tudo que já tinham experimentado em vida retumbou sobre o subsolo inteiro.

 A exemplo do próprio mortal, as apóstolas estremecerem da cabeça aos pés.

Perderam a capacidade de se mover durante os segundos que pareciam minutos de eternidade. Uma aflição agonizante as invadiu de supetão.

A intensidade grotesca teve a capacidade de arrancar uma reação de Julie, que arriou um pouco das sobrancelhas.

Pouco tempo depois, a influência sórdida esvaneceu.

Mesmo assim, um fluxo de energia continuou a irradiar da passagem à frente.

As irmãs puderam retomar os movimentos voluntários.

— O que foi isso? — A lanceira enxergou gotas de suor pingarem do rosto à palma livre.

Recuperando a respiração comedida, voltou ao intuito de prender o Classe Herói adiante.

Entretanto, em mais um fenômeno inesperado, um enorme rachão se originou entre as irmãs e o homem. O chão se abriu, obrigando a purpúrea a saltar para trás.

Foi o recuo na hora exata, evitando que os pés fossem puxados pelo vazio criado no plano.

Ao lado da irmã, enxergou o que evitou ocorrer com Teseu.

O traidor foi puxado pele gravidade junto dos escombros, deixando as filhas de Atena no salão.

Chloe correu até a beirada e, por meio de vistas esgazeadas, procurou o inimigo. Não achou nada além de escuridão.

Pôde identificar sua presença somente pela sensitividade vital, que passou a se proliferar em seguida.

Resquícios da Autoridade Elementar da Terra subiram em velocidade acelerada, obrigando-a a retornar com o corpo.

A surpresa veio com a enorme crosta alaranjada, que ascendeu rente a sua postura.

O corpo imóvel do mortal estava sendo carregado pela camada terrestre.

Julie pensou em atirar contra ele, mas a imprecisão da mira lhe permitiu apenas a acompanhar sua fuga pelo teto destruído do recinto.

Exalou um profundo lamento ao cogitar a ausência de apoio em prol de atingi-lo.

Virou-se até a gêmea irresoluta ao mirar a escadaria.

Visto a proximidade real para com o escopo derradeira, experimentava novos tremores se alastrarem pela zona de batalha.

— Julie... — murmurou — deixemos Teseu para depois.

“Resposta: Como quiser, minha irmã”, a telepata concordou com a gêmea, a chamando para a realidade novamente.

Dotada de uma inédita placidez interior, Chloe fincou uma das lâminas no chão e bateu as palmas sobre as bochechas.

O ruído dos tapas espalhou ecos rápidos pelo silêncio.

Então, retomou o controle das emoções.

— Certo... — sussurrou com as laterais da face avermelhadas.

“Tal energia maligna. Poderia ser...?”, tendo os pensamentos ordenados, optou pelo primeiro palpite ao apanhar o cabo da arma e saltar da abertura à frente.

Remeteu ao encontro de mais cedo com a dupla enviada do Olimpo.

Estava fresco na memória a atenção especial oferecida à filha mais nova do Deus do Submundo.

“Presumível que esteja de acordo com os rumores de nossa mãe...”, avaliou a sórdida energia que se alastrava com maior intensidade pelas passagens estreitas.

Também cogitava ser pertencente ao Titã Condenado.

Não sabia qual seria pior.

Quando atravessou novos corredores, percebeu a ausência de fogo nas tochas das paredes.

Uma impactante explosão, sem precedentes, tornou a sacudir as passagens sob o Deserto da Perdição.

O avanço das garotas foi interrompido. Se entreolharam ao perceberem a energia maligna, que começou a se dissipar como um passo de mágica.

A leveza regressou ao clima naquele ínterim. Mesmo com as luzes apagadas, pôde enxergar com maior clareza o restante da extensão.

Voltou a caminhar a passos curtos. Alcançou a passagem do próximo salão, onde já era possível identificar a retaguarda do alvo principal.

Suas mãos carregavam dois objetos: uma espada flamejante e um artefato redondo.

— Escopo avistado — murmurou, semicerrando as vistas. — Não enxergo Damon e a garota. Porém ainda posso senti-los.

“Confirmação: Ele está bem, apesar de extremamente desgastado. Quanto à garota...”

A telepata não completou, o que surpreendeu a jovem púrpura, desacostuma a vê-la hesitar daquela maneira.

Logo cogitou uma situação ainda mais grave sobre Lilith.

— Pois bem. Ele aparenta acumular extenuação da mesma forma. — Apontou com o queixo contra o homem. — Aproveitaremos este fator. Tão logo encerraremos tal incumbência.

“Resposta: Como quiser, minha irmã.”

Com cuidado, Julie reuniu sua Energia Vital após escutar as determinações da irmã.

A flecha posicionada no arco passou a ser envolta numa camada luminosa.

Depois de lamentar com delonga, como se procurasse remover um peso do peito, Chloe focou naquilo que se situava ao alcance.

Como nunca, definiu a última reta em prol do sucesso.

Através de um tiro certeiro contra o dorso de Prometheus, Julie salvou a filha de Hades do ataque derradeiro.

Logo em seguida, Chloe perfurou o peito do titã e o arrastou até prensá-lo na parede.

Assim, recuperou o amuleto que foi largado por sua falta de força.

A arqueira aproximou-se da jovem desmaiada e analisou as feridas com cautela. Constatou que não estava tão grave, mas era necessário se preocupar.

Nenhum indício de sequelas permanentes foi encontrado.

Dessa forma, a apanhou pelos braços e retornou ao olimpiano inerte na entrada. A deitou sobre seu colo.

Ainda sem palavras por toda a sequência inesperada, Damon encarou o rosto de Julie, que devolveu num gesto positivo com a cabeça.

Em seguida, derramou os olhos ao corpo de Lilith que tocava o seu. Sua roupa estava toda rasgada, à deixando à mostra em diversas regiões do torso.

Um imenso alívio o preencheu. Parecia que todas as dores, acumuladas por fora e por dentro, fossem lavadas.

Rangeu os dentes e, pela primeira vez, pôde se movimentar sem os efeitos colaterais lhe atiçarem.

Assim, a envolveu em seus braços, com cuidado a fim de não incomodar suas queimaduras.

“Informação: São ferimentos medianos, portanto ela suportará até que terminemos isto”, a voz da alva ecoou na mente do rapaz.

Ele, depois de afogar sua atenuação no abraço à parceira, levantou o rosto e encarou a feição da filha de Atena.

“Complemento: Deixe o restante com minha irmã e comigo. Terminaremos o quanto antes para que nossa mãe lhes entreguem os cuidados devidos no retorno.”

Deu a volta, voltando a fitar os combatentes adiante.

Com as informações passadas, Damon fitou o rosto de Lilith outra vez.

A sensação excruciante de quase a ter perdido por uma série de fatores ainda o deixava trêmulo.

Podendo mexer os braços de novo, usou o polegar para limpar o rastro de sangue seco acima da vista direita dela.

— Obrigado...

Seu murmúrio de voz rouca alcançou a arqueira, que assentiu com a cabeça e exprimiu sua deixa ao caminhar de volta à batalha.

Onde o Titã Condenado continuava a ser pressionada contra a parede.

“Me desculpa, Lilith...”, tocou a testa da ruiva, notando a retomada de controle de sua respiração.

Ela emitiu um resmungo ínfimo, levado pelo incômodo dos machucados, ainda que desacordada.

De fato, parecia que ficaria bem. Reafirmando o controle da situação, deixou a maioria da preocupação sobre ela para que, sem erros dessa vez, pudesse cumprir sua promessa.

“Agora...”, só que o olhar carregado se dirigiu ao centro do salão. “Deve ser a primeira vez que vou ver uma batalha pra valer dessas duas.”

Deveria sair dali o desfecho do confronto crítico contra Prometheus.

— Antes de receber o julgamento, responda-me. — Chloe o fuzilava pelo olhar. — Qual vosso real objetivo?

O titã regurgitou mais líquido com Ícor sobre os pés.

Franziu a testa ao avaliar as próprias condições.

Sua conclusão foi não omitir uma resposta, por todos os motivos que já se mostravam claros como o dia.

— Eu só darei aquilo que vocês, deuses, merecem. Mas com certeza vocês que são jovens não devem entender. — De seu rosto um sorriso desprezível nasceu. — Vocês jamais sentiram na pele como seria ficar preso em uma montanha! Acorrentados por anos enquanto servem de alimento para um animal.

— Tenho plena ciência deste fato, titã Prometheus. No entanto, tal penitência lhe foi imposta por usurpar o Fogo dos Deuses a fim de entregá-lo aos mortais.

Ciente sobre aquele ocorrido, ainda que muito por cima dos reais detalhes, Damon ficou curioso quanto ao fato de a ateniense conhecer a história por conta.

O humor do condenado passou a se alterar. O olhar rubro ganhou uma influência rancorosa, apertando as sobrancelhas e fazendo veias saltarem na testa.

— Esse era meu trabalho!! — vociferou de forma gutural, assustando os presentes. — O Rei dos Deuses tirou tudo de mim!! Ninguém fez absolutamente nada que fosse contra o que me passou e, mesmo assim, ele usurpou o meu dever como se nada tivesse acontecido!!!

Diante das primeiras lamúrias do titã, o jovem separou os lábios.

“Foi o velhote que...?”, nem encontrou coragem em prol de completar o questionamento retórico.

Não obstante, o homem continuou a despejar as palavras que soavam como uma maldição:

— Vocês sempre determinam tudo como bem desejam, mesmo que isso signifique prejudicar os outros!! Eu vou destruir tudo isso!! Em nome de meu irmão, morto em frente aos meus olhos, mesmo depois de eu ter implorado para que ele fosse poupado!!!

“De novo”, as semelhanças do conflito na Ilha Methana não paravam de se alimentar.

Os pensamentos do cacheado se remexiam outra vez.

Diferente dele, Chloe quase conectou os cílios, impiedosa e sem ceder às lamentações despejadas pelo homem.

Mantendo a firme postura que o prendia pela lança, começou a pressentir uma influência lancinante irradiar do corpo dele.

Com presteza, ele moveu o braço canhoto de modo a apanhar a lâmina. O fluido de pontos dourados escorreu da nova região lacerada.

Só que ele elevou a força da palma, no intuito de retirá-la do peito.

A lanceira recebeu toda a potência imposta pelo indivíduo, então tratou de produzir outra contrária, no intuito de mantê-lo pressionado contra a superfície.

Ao enxergar a chapa metálica ser removida aos poucos, quem agiu foi Julie, logo atrás, ao puxar duas flechas e atirar contra o membro do titã.

Ele sentiu o baque de ter os músculos perfurados. Contudo, prosseguiu com o empenho colossal, até poder mover o outro membro.

Utilizando ambas as mãos, obrigou a apóstola a repetir o processo.

Seu estalo de língua pôde ser ouvido, ao passo que as pernas começaram a ser empurradas para trás.

— Eu não vou... perdoá-los!!!

Naquele instante, as irmãs perceberam uma reviravolta terrível causada pelo clima do enfrentamento.

Naquele instante, ninguém mais seria capaz de interrompê-lo.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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