Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 3 – Arco 3

Capítulo 56: Batalha Crítica no Deserto 4 - MALDIÇÃO

Uma menina de cabelo vermelho-escuro observava aquele pequenino ser dormir nos braços da mulher.

— Veja, Meli — disse, abraçando o bebê no colo. — É sua irmãzinha.

Meli ergueu o rosto para enxergar melhor a criança, convidada por Perséfone a tocar nela.

Com cuidado, levou a mão direita sobre o rosto da recém-nascida. Um sorriso alegre surgiu de sua expressão.

Foi quando um homem adentrou a câmara iluminada por candelabros de fogo branco. O olhar de rubis fitou as garotas reunidas na cama.

A Deusa das Flores recebeu a ausência de emoções de seu marido, que parou ao seu lado após avançar alguns passos.

Dali, o foco voltou-se à bebê adormecida.

Meli precisou se afastar, triste pois queria fazer mais carinho em sua irmã.

Abriu passagem a favor do dono daquele território.

Instigado pelo fluxo que sentia vindo do corpo minúsculo, conduziu sua palma fria até a testa dela, a fazendo remexer os olhinhos oclusos.

Experimentou a energia latente que tinha nascido junto. Estava adormecida naquele momento; isso lhe arrancou um fraco riso de canto.

— Tenho altas expectativas nessa criança — murmurou.

Após puxar a atenção de mãe e filha mais velha, corrupiou-se no intuito de deixar o cômodo.

Meli o observou sem dizer nada, os lábios ligeiramente distantes.

— Espere. — Entretanto, a voz da esposa o fez interromper a passagem pela porta aberta. — Escolha um nome para ela.

Hades virou o rosto por cima do ombro, fitando o semblante circunspecto da ruiva.

Seu olhar sempre insensível não a amedrontava.

— Não tenho motivos para fazer isso...

— Hades. — O interrompeu com afinco no timbre. — Escolha um nome para ela.

A insistência firme e até ameaçadora da mulher se transformou numa feição tão sombria quanto a do deus.

De sobrancelhas franzidas, despertou nele um instinto que raras vezes era permitido a sentir dentro de si.

E ele gostava daquilo.

Tanto que sua atitude o fez reconsiderar, virando metade do torso para contemplar a filha mais nova.

Parou para pensar durante alguns segundos.

Então, declarou:

— Lilith. Esse será o nome daquela que irá me superar.

— Fracasso... — A voz do Deus do Submundo soou como um punhal perfurante. — Tentaremos novamente até que você aprenda.

Encarava, de cima, a menina com furor nas pupilas.

Ofegante ao extremo, a pequena Lilith situava-se derrubada no chão frio.

— Pa... pai... — Tentava falar, mas só gaguejos escapavam; mal conseguia respirar. — E-eu... não consi...

— Não perguntei sua opinião. Levante-se.

Estremeceu por completo ao receber a frieza da resposta de seu pai.

Não teve outra escolha senão se esforçar o quanto podia em prol de se reerguer.

Assolada pela agonia dos pés à cabeça, atravessada pelas incontáveis lesões espalhados do torso abaixo, executou a ordem através do temor absoluto.

— Você deve se lembrar de que não é apenas filha do Deus do Submundo. Você é aquela que deve me superar. — Ele nem piscava ao entoar. — Deve ser perfeita em tudo que fizer.

Incapaz de corresponder às expectativas, depositadas por uma das mais influentes divindades de todas, mal conseguia se sustentar no próprio peso.

Encontrou o tormento físico e psicológico proporcionado pelo rígido tratamento do progenitor.

Tendo uma opinião adulterada quanto a que teve no dia de seu nascimento, Hades desejava fazer de tudo para que ela, no mínimo, conseguisse se tornar tão forte quanto sua irmã mais velha.

Um prodígio responsável por ofuscá-la completamente.

“A irmã Meli é incrível”, assim pensava a menina, sempre que encarava a irmã de pé, a olhando por trás do deus.

Dentro de si, mesmo no caminho de tantas dificuldades em melhorar, acumulava o desejo de se tornar como ela.

 E, mesmo assim, estava ciente de que jamais seria capaz de alcançá-la.

Afinal...

— Você é um fracasso. — Hades cuspiu as palavras como se fossem uma maldição. — Quando nasceu, pensei que poderia se tornar aquilo que eu almejava. Parece que cometi um engano crasso.

Lilith não teve sucesso em se levantar.

De joelhos, buscava desesperadamente por oxigênio, devastada por uma mistura de dor e ardência no peito.

Meli só acompanhava a cruel sessão em silêncio, os braços cruzados e o queixo erguido.

Nada obstante ao sofrimento no alcance dos olhos púrpuros, não demonstrava apreço ou compaixão quanto a seu estado atual.

“Meu pai devia estar delirando de felicidade mesmo”, exalou um suspiro de desaponto ao pensar que seu pai, uma vez, pensou que aquela garota iria o superar.

E, por consequência, superar a ela.

“Quero ir embora logo, odeio perder meu tempo com coisas chatas”, levantou os olhos com cansaço.

— Não. Você ficará até o fim. — Hades a ordenou como se pudesse ler seus pensamentos. — Isso servirá como aprendizado. Para que você jamais se torne um fracasso como ela.

Meli engoliu em seco, por mais que soubesse que seria impossível regredir àquele nível.

De qualquer forma, voltou a prestar atenção na sofrível caçula a fim de evitar outra bronca.

Semicerrou os olhos, em busca de entender o que se passava com a respectiva.

Porém, quando se atentou à garota pela segunda vez...

“Será que ela entrou em choque?”, mostrou-se até um pouco mais preocupada com a situação dela.

Está cansada, não é?

Hades esgazeou as vistas quando pensou ter escutado uma voz estranha ecoar em sua cabeça.

Meli não entendeu muito bem a reação repentina dele, que olhou para os lados com certa cautela.

Lilith tinha parado de se mover.

De toda possibilidade, a voz não teria vindo dela.

Ainda assim...

“O que é essa sensação?”, o Rei dos Mortos tentou lidar com o ponto de interrogação que surgiu em sua concepção.

O coração da menina palpitou mais alto em intervalos bem definidos.

O corpo passou de reagir estranhamente. Uma aura negra a envolveu de súbito, percorrendo-a numa velocidade assustadora.

Não se preocupe. Mostrarei a eles o poder que desejam ver.

A mais velha descruzou os braços ao identificar uma novidade perigosa irradiar da energia da caçula.

Seu pai também demonstrou espanto perante a anomalia. O par de sobrancelhas arregalados permitiu às pupilas encararem a sombra que envolvia corpo e alma da descendente.

Paralisada até o momento, Lilith ergueu o rosto enfraquecido.

Uma explosão sombria surgiu segundos após, abalando boa parte da extensão do Submundo.

Chegou até Perséfone, que estava no lugar do marido como coordenadora das almas que chegavam para julgamento.

“O que é isso?”, sendo envolvida pela energia maligna, jamais experimentada em toda sua vida, hesitou por um átimo.

Quando percebeu de onde vinha aquele fluxo sórdido, não pensou duas vezes em largar o trabalho voluntário e correr em direção ao rastro intangível.

A ansiedade cresceu a milhão. Imaginou o lugar onde as filhas estavam treinando, como de praxe.

E foi para lá, constatando a destruição espalhado por todas as partes só no exterior.

Chegou na entrada do salão encíclico.

Presenciou o cenário caótico envolto em uma cortina de fumaça, por onde atravessou até encontrar a figura de Hades e Meli, ambos portando suas armas.

Mais à frente, Lilith também foi encontrada; a energia sombria a dominava de tamanha forma que a levantava do chão.

Os olhos estavam preenchidos pelas trevas.

Um pouco acima da têmpora esquerda, um chifre roxo-escuro se dobrava.

— Afaste-se, Perséfone. — Hades nem precisou olhar para a deusa ao ordenar. — Isso foi um tanto inesperado. Nunca imaginei que um descendente divino pudesse portar uma energia tão indescritível.

A deusa demonstrou-se abismada, tanto pela forma da filha quanto pelo desconhecimento de Hades sobre aquela essência.

E não somente isso, como, num grau equivalente, sua posição ante a própria filha.

Parecia até...

“O que é isso!?”, Meli não se via capaz de conter a aflição, à medida que encarava a pesada propagação daquela natureza.

Perséfone empenhou-se em prol de retomar o raciocínio.

“Isso... não é a Lilith”, determinou sem dúvida alguma, na iminência de perder outras palavras ditas pelo Deus do Submundo.

Avançou a passos firmes, gritando contra ele:

— Espere, Hades! O que você pretende fazer!?

— A resposta é óbvia — respondeu enquanto colocava o Elmo sobre a cabeça. — Essa criança amaldiçoada deve ser morta por minhas mãos.

Lilith tinha se erguido, cercada pela energia sombria que governava todo o subterrâneo.

Metros à frente, Prometeu experimentou um calafrio indigesto correr seu corpo por dentro e por fora.

“Estou... com medo?”, encarou a mão que portava o amuleto místico.

Depois, encarou a que empunhava a espada quente.

As duas tremulavam, de leve, mas de forma perceptível.

Uma gota de suor escorreu, lentamente, pela lateral de seu rosto.

“Eu não sinto isso desde... desde quando mesmo?”, voltou a encarar a adversária. “Ah, é mesmo... Desde o dia que o Rei dos Deuses definiu minha punição.”

De fato, fazia bastante tempo. Por isso o assustava tanto.

Ao acompanhar o nascimento da ponta curvada na cabeça da jovem, os olhos arregalaram num misto de curiosidade e inquietação.

Até agora não compreendia o significado daquela paisagem.

“Essa garota conseguiu me fazer lembrar de um sentimento que não tenho há anos. Algo que nem aquele garoto me proporcionou...”, trouxe o amuleto à altura da face, escondendo o sorriso perigoso que brotou entre a barba volumosa.

— Agora devo matá-la o quanto antes!

Apertou a empunhadura da espada, conduzido pela euforia da reviravolta inesperada.

Contudo, a filha de Hades agiu muito mais rápido do que ele poderia prever.

Ela surgiu diante de suas vistas com a foice posicionada sobre a cabeça.

Desceu a arma em altíssima velocidade, de maneira a cortar o ombro do inimigo sem tanto esforço.

A ponta da lâmina ainda tocou o solo, causando um impacto retumbante pelo salão.

Bastante sangue jorrou do membro lacerado, que tombou no chão. O titã sequer teve tempo para digerir aquilo.

A garota, logo em seguida, conduziu a lâmina sinuosa na direção de seu pescoço vulnerável.

Incapaz de sequer respirar, Prometeu inclinou o tronco para trás; o lanho arrastou-se rente ao rosto, levando apenas alguns fios do cabelo e da barba.

Notou, então, que a essência tórrida que ela trazia antes tinha se tornado gélida.

“Que tipo de mudança é essa!?”, sorriu de escárnio perante a nova adversidade e aproveitou a posição para tentar chutá-la na perna.

A apóstola saltou sem que ele pudesse notar. Girou o corpo com maestria no ar e atingiu um pontapé poderoso bem no seu nariz.

Os ossos do órgão e dos arredores fraturaram na hora. Além disso, a colisão o lançou com violência a metros de distância, até se chocar contra uma das paredes.

As sandálias de cabedal, prestes a serem rasgadas voltaram a tocar a superfície. Mal se postou de volta, pisou na lâmina da espada derrubada e a partiu.

Observador silencioso, Damon mal conseguia conceber com precisão o que via.

— Então era disso que ela falava?...

Suas tentativas de se movimentar tinham esvanecido como pó.

O ar frio se instaurou numa celeridade anormal pelo salão, criando uma camada de pressão capaz de causar tremores involuntários em seu corpo.

Não sentiu isso nem quanto enfrentou Castor, ou mesmo o titã há pouco.

Era ainda pior.

Ele não fazia ideia do que fazer naquela situação.

Nem Prometeu.

Enquanto se recompunha do golpe sofrido, forçava o amuleto mais uma vez a fim de restaurar o rosto das feridas e recuperar o braço arrancado.

— Desgraçada...!

Arfava feito um animal, conforme caminhava alguns passos cambaleantes à frente dos destroços.

A recomposição dos ossos, carne e pele do próprio membro foram resolvidas de forma simultânea.

Pela primeira vez naquela noite experimentava a vitória em risco. E, ainda assim, não deixava de sorrir.

Na iminência da “reconstituição” de seu braço inteiro, estalou os dedos ao contorcê-los contra a palma. Pôde senti-los de volta.

Pisou com ímpeto no chão, espalhando um tremor intenso por todas as partes.

Quando enxergou o salto da ctónica, pronta para o atacar de novo, aumentou a produção de energia.

Não importava mais a fadiga acumulada naqueles conflitos.

Elevou a seriedade ao máximo e desviou do corte perigoso, que passou por seu flanco esquerdo e atingiu a parede onde tinha acabado de sair.

Partiu à espada, notando que estava com a lâmina partida pela metade.

Logo ao tocar a empunhadura, uma camada de Autoridade Elementar do Fogo renovou a extensão do releixo.

Em seguida, a apóstola reagiu o mais rápido possível ao pegar impulso na divisão vertical.

De súbita, energia de sombras envolveu não só a foice, como o corpo dela.

A aproximação vertiginosa, já com a arma posicionada, fez o titã rodopiar por inteiro e buscar o contato direto.

E assim foi feito; a colisão entre a lâmina de trevas e a de chamas causou uma detonação de pressão vital, levando queimaduras aos braços dela.

No entanto, mesmo ao ser jogada agressivamente de volta, Lilith não parecia se importar com os ferimentos; tampouco queixou-se de dor.

Por outro lado, o fogo do condenado se extinguiu.

“Isso é...”, pensou rápido no significado daquilo.

Lilith, com as lesões teciduais do abdômen à mostra em virtude da capa e do vestido queimados no processo, arrastou as solas no plano e arqueou o corpo adiante.

Prometeu depositou novos fluxos de energia de fogo pela extensão do gume e começou a cortar o ar, de maneira a disparar violentas rajadas contra a garota.

Ela se defendeu por meio de incisões ainda mais rápidas, anulando o efeito flamejante com a influência sombria.

Depois, disparou contra o flanco esquerdo dele sem pensar duas vezes.

Conduzida por um rugido feroz, um misto de sua voz original com um ruído de fundo grotesco, prosseguiu numa incisão vertical descendente.

O Titã Condenado evitou. Porém a destruição ao contato no chão levantou diversas plataformas rochosas e jogou-o a metros de altura

Se por um lado o pânico tomava o coração do filho de Zeus, por outro o titã se remoía em raiva pura, a ponto de estalar a língua no ar.

Só piorou no instante que Lilith saltou em sua direção.

“Não vai d...!”, sequer pôde completar a frase mental.

O gume da foice desceu e rasgou seu peitoral.

A força abrupta ainda o impeliu de volta à terra com brutalidade.

Quando bateu na superfície sólida, a região aprofundada ganhou novos metros de rachaduras e liberou uma quantia exorbitante de fumaça.

Lilith deixou a gravidade lhe trazer de volta. Lacerou a camada desbotada e, sem pudor algum, desferiu a terceira investida sobre o corpo ferido do adversário.

Prometeu regurgitou tanto sangue que nem fazia ideia de existir dentro de si. O abdômen era esmagado pela força dos joelhos da jovem, enquanto a lâmina tinha afundado em sua garganta.

Segurava como podia o amuleto, mas esse mal dava conta do recado naquele cenário.

Seu peito ardia em carne viva.

— Inacre... ditável... — Tentou grunhir, mesmo com uma lâmina atravessada no pescoço.

“E imaginar que um descendente divino... poderia se tornar um monstro desse”, prensado contra o chão, o titã não parava de cuspir o líquido com Ícor. “Não acredito... terei que usar aquela forma!”

Quando ela tirou a lâmina e deixou sangue espirrar para fora, pisoteou seu peitoral aberto e afundou-o ainda mais no solo.

“Que força! Desgraçada!!”, apertou na mesma intensidade o artefato místico, em busca de suportar toda a agonia.

Mal conseguia sugar oxigênio.

Mostrando os dentes num riso forçado, usou sua última cartada possível naquela posição.

Uma quantidade massiva de energia subiu pela lâmina de fogo, até surgiu uma fagulha que se alastrou por toda a cratera.

A jovem descontrolada encarou a vertente do fulgor e preparou-se em prol de impedir sua ação. Mas já era tarde.

Graças a sua notável insanidade, o risco foi tomado visando o melhor momento possível de descuido.

“Você não pode se curar...”, apostou todas as fichas no potencial de recuperação daquele amuleto, visto que atingia não somente ela, como também a si mesmo.

Ao esgazear as vistas, ativou a nova — e maior — explosão.

As proporções grotescas não só chacoalharam a estruturas subterrâneas, como causou um rebuliço violento no deserto acima.

Depois de proteger o rosto como podia, Damon abriu as vistas vagarosamente, só para ver a parceira viajar pelo espaço até cair no chão.

Ignorou a cortina escurecida de vapor escaldante, responsável por fazê-lo sentir uma ardência indigesta.

Apenas tinha foco para as feridas da garota, que percorriam seus braços, pernas e torso.

Só que, para algum alívio seu, parte daquelas machas escurecidas era proveniente da energia sombria.

Ela ainda foi protegida e o pior pôde ser evitado, revelando as verdadeiras queimaduras que, ainda assim, preocupavam à primeira vista.

Esperou que ela se erguesse de novo.

Mas o contrário ocorreu.

Enquanto as “tatuagens” negras regrediam sobre sua pele caucasiana, o chifre se desfez gradualmente em partículas pesadas a caírem como terra no chão.

O cabelo, bagunçado e sem o penteado característico graças aos impactos, voltou à tonalidade vívida.

A epítome do terror ganhava cores intensas.

Prometeu deixou a cratera envolto por todas as consequências do ataque suicida.

O físico restituído pelo amuleto só se cansava cada vez mais. Ele ofegava com afinco, incapaz de resistir a tamanho esforço.

— Você... Não, aquilo não era você — murmurou com rouquidão. — Ainda conseguiu... evitar a morte. Só que não pode mais... se levantar!...

Perante o fim da presença maligna propagada pelas trevas, o homem ergueu o queixo.

A escuridão que dominou sua natureza regrediu de volta ao âmago, como se fechasse os olhos e regressasse ao sono profundo.

Sua vitória estava decretada.

— Lilith... — Damon pressionou as mãos trêmulas contra o chão.

Conforme a fumaça se dissipava, podia enxergar melhor as lacerações pelo corpo dela, além das queimaduras preocupantes.

Apenas o rosto estava intacto, onde havia um corte na testa de onde sangue escorria, já seco.

Sua respiração não andava nada bem...

— Lilith...!

“Tenho que salvar ela!”, repetiu algumas vezes a frase para tentar se empurrar.

Os dentes rangiam com vigor. Precisava vencer as próprias dificuldades e impedir que o titã finalizasse.

Ele caminhava a passos curtos, subindo o aclive que levava à plataforma onde ela jazia derrotada.

— Eu achei que seria morto. Por pirralhos como vocês — cuspiu enquanto recompunha a respiração equilibrada. — Essa sua mudança foi assustadora. Conseguiu superar aquele moleque. Você é, de longe, a mais perigosa desse lugar.

Franziu o cenho ao encarar a jovem desacordada.

Ergueu a espada elementar e, nesse ínterim, o olimpiano se moveu por poucos centímetros.

A agonia eletrizante continuava a superá-lo, o puxando de volta à impotência.

Só precisava dar o primeiro passo. Ele tinha que...

“Se mexe! Se mexe!! Se mexe, merda!! Me obedeça!!!”, mordia o lábio inferior. “Eu não posso quebrar!!!”

Socou o chão com o punho direito, evocando palavras proferidas por si próprio.

“Eu tenho que... proteger a Lilith!!!”

Conseguiu vencer a eletrocussão interior e avançou alguns centímetros. Mas não era o suficiente.

— Adeus, garota. — Prometeu arqueou o golpe final.

— Para...! — A voz do garoto soou rouca.

Ainda não havia desistido, mas estava certo de que não poderia alcançar.

Quando contemplou a paisagem à sua frente, experimentou uma ascensão de comoções em seu peito.

Parecidas com o que via nos sonhos desconhecidos.

E isso o deixou com ainda mais medo.

Do fundo da alma, machucada por algo que nem sabia o que era, liberou seu grito mais profundo:

— PARA!!

Assim que sua voz ecoou pelo salão, num tom de extrema melancolia, o Titã Condenado suspirou.

Todavia, antes que pudesse cortar a cabeça da ruiva, um rastro luminoso atravessou o recinto inteiro.

Da entrada até suas costas, o atingiu em cheio num piscar.

Prestes a enfrentar uma perda inestimável, a ponto de ser assolado por sensações nada compreensíveis, Damon paralisou de novo.

Ao alcance da íris marejada, o titã perdeu estabilidade com um ferimento crasso na região atingida.

O fogo do releixo perdeu força e, em antecipação a uma possível reação, acabou surpreendido pela silhueta que se esgueirou nas cinzas e o afligiu sem piedade.

A lâmina escura da lança lhe perfurou o peito esquerdo.

No ímpeto do empalamento, a mulher empenhou-se a, daquela maneira, conduzi-lo até jogá-lo com força na parede próxima.

Bastante sangue escapou de sua boca.

Tal sequência de eventos o fez largar o amuleto por um instante.

Esse caiu, girando, até ser pego por outra mão, mais delicada e pálida comparada à dele.

— Vocês aguentaram bravamente — declamou a jovem, os globos violetas cravados no inimigo.

A arqueira atravessou o vapor, descansando a palma sobre a cabeça do filho de Zeus.

Espantado perante o desenrolar inimaginável, demorou a entender o carinho rápido feito por ela.

Quando levantou o rosto, apenas viu os fios brancos, amarrados num coque, dançarem conforme prosseguia à direção da filha de Hades.

— Pois bem. — Por meio de um tom determinado, Chloe prendia o último escopo contra a parede. — Que tal findarmos de vez esta brincadeira?

Em sua outra palma, descansava o amuleto de pedra branca que o grupo também buscava.

Mais uma vez, a batalha crítica no Deserto da Perdição sofria um ponto de intensa reviravolta.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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