Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 3 – Arco 3

Capítulo 51: O Homem Forte por Excelência [TESEU]

As filhas de Atena deixaram ser conduzidas a uma nova área, dissemelhante a todas as quais já tinham explorado no subterrâneo.

Verificaram na velocidade do pensamento que o local não lograva de novas saídas, exceto aquela pela qual vieram.

Lentamente a crosta de terra perdeu ímpeto e as libertou. A camada de Energia Vital retornou ao solo de pedra, deixando seu rastro por uma dimensão não tão espaçada.

No espaçamento mais vasto, pilares escuros se erguiam do plano e quase chegavam a tocar o teto distante.

Eram distribuídos em posições aleatórias, o que despertou a primeira reação negativa de Chloe.

Um súbito desejo de reposicionar todas as estruturas desiguais cresceu em seu peito.

Ou então, poderia apenas destruí-los, em prol de “limpar” a região.

“É... esta não é uma ideia maléfica”, sorriu de canto ao puxar a lança de dupla-lâmina.

No entanto, mal teve tempo para que pudesse atender ao transtorno obsessivo-compulsivo.

Os passos metálicos alcançaram seus ouvidos, fazendo ela e a irmã darem a volta à entrada.

O grandioso mortal surgiu segundos após, caminhando com serenidade e um sorriso de júbilo.

“Reflexionando à vontade, porventura... esta possa ser uma contenda interessantemente promissora”, a lanceira semicerrou as vistas, tendo o grisalho em foco.

— Aguarde com moderação, Julie. — Chamou o olhar inexpressivo da desbotada. — Primeiramente, desejo dialogar com ele. Portanto, o averigue ao passo que articulamos.

“Resposta: Como quiser, minha irmã.”

Julie mirou a passagem encíclica, trazendo a tensão sobre a corda do arco à frouxidão. O deixou defronte ao torso, ainda assim.

O Herói do Minotauro terminou sua travessia e balançou o machado que tinha o tamanho do braço que o portava.

Adentrou o salão dos pilares e parou de andar bem próximo do arco. Avantajou ainda mais o sorriso e descansou a arma sobre a ombreira.

Esperava que a dupla o afrontasse logo quando chegasse, só que acabou recebido por um olhar intenso e silencioso.

Nenhuma delas demonstrava qualquer traço de ansiedade em seus semblantes soturnos.

— Responda-me, Herói do Minotauro. — A purpúrea disparou em elevação ao tom de voz. — Quais os vossos objetivos em se dispor à frente de nosso rumo?

— Rá! Não devo satisfações a vocês! Não pensem que as coisas têm que acontecer sempre à forma que vocês, Deuses, regram. — Apontou a lâmina chapada às garotas. — Eu devo ser um exemplo para aqueles que não são abençoados, como vocês gostam de dizer, possam chegar também ao topo!

“De acordo. Há uma desavença com os deuses”, a apóstola assentiu consigo, mas só aquilo não era o bastante.

— E não deseja reconsiderar?

Teseu ficou quieto por um tempo breve.

— Confesso que isso me pegou de surpresa, mocinha. — Relaxou a postura de porte do machado. — Mas não tem mais volta, entende? Eu já me decidi...

“Minha irmã...”

“Sim...”, respondeu prontamente à voz da arqueira, ciente de novos detalhes quanto aquela traição repentina do mortal.

Os lábios dele se contorceram num riso ainda mais grotesco.

De súbito, realizou o mesmo movimento de antes, “arranhando” o chão com a lâmina retilínea.

Mova-se, Terra — murmurou com gosto, enquanto as faíscas subiam.

Além da terra acumulada ao redor, a crosta subterrânea se manifestou.

Rachaduras nasceram por todos os lados, de onde os aglomerados subiram e se uniram ao resto, em prol de avançarem contra as gêmeas.

Dessa vez, não tinha qualquer outro intuito senão esmagá-las até a morte.

A influência ameaçadora as devolveu ao alerta.

Sem pestanejar, começaram a correr na direção contrária da entrada, como se estivessem fugindo.

“Acho que perceberam que não têm chance contra mim?”, o rosto dele se contraiu. “Deplorável o que estão se tornando, deusinhos de araque! Eu realmente apostei no lado certo...!!”

Mostrou os dentes amarelos e reuniu bastante energia.

As transmitiu ao machado e, por consequência, conectou-se aos fragmentos terrestres em sua volta.

Enquanto as porções cresciam, as filhas de Atena criavam caminhos entre as pilastras desconexas.

Embora tirassem a paciência da lanceira, seriam ironicamente importantes a favor de seu planejamento de batalha.

Ultrapassada cada estrutura, deixavam que as partes afiadas de suas armas batesse nelas. A pequena colisão entre os materiais provocava ruídos metálicos em profusão.

“Considerações: Sua postura é externamente confiante, porém seu pulso está acelerado. Ele aparenta estar mais tenso do que de fato tenta demonstrar”, sem parar de atingir os sustentáculos, a alva entregava sua visão. “Ainda prega em sua concepção que é superior a nós duas. No entanto, carrega consigo uma dúvida crucial.”

Desviava como podia das massas de terra que lhe alcançava e tentava lhe esmagar.

Chloe estreitou as vistas ao escutar a voz de sua semelhante ecoar pela cabeça.

“Conclusão: Sua experiência não deve ser subestimada, porém isto já era claro. O contrário não prevalece, contudo. Caso algo em sua visão venha à ruína, poderá agir por puro impulso. Então...”

— Esta será nossa trajetória definitiva — sibilou a púrpura, aumentando a segurança em si mesma. — De fato, não havia traços de dissimulação naquelas palavras.

Tendo o complemento bem detalhado pela gêmea, Chloe virou o rosto sobre o ombro e pôde contemplar o adversário distante.

Ele arqueava uma das sobrancelhas, incapaz de compreender o desejo de ambas em adotar aquele comportamento.

Sem parar de criar os ecos sonoros, os globos violetas voltaram a se mover pela extensão, checando todas as possíveis vertentes do salão.

“Não somente o senhor herói e o Titã Condenado...”, tentava descortinar o restante da conjuntura.  “Aquelas harpias. E mais alguém por trás de tudo...”

Formulou as hipóteses, mediante a escapada das massas de Autoridade Elementar da Terra que continuavam a persegui-la.

Deixou as suposições de lado ao virar o rosto de novo. Outra crosta se aproximava a toda velocidade por entre as colunas negras.

Quando parecia estar prestes a ser afligida, modificou a rota da corrido num rápido átimo.

Julie executou a mesma procedência e o mortal, em êxtase puro, comemorou mentalmente.

“Não passam de idiotas se acham que podem driblar meus ataques guiados!”, arregalou os olhos pretos, crente que estava com a vantagem do confronto...

“Vamos começar, Julie.”

“Resposta: Como quiser, minha irmã.”

A Telepatia avançada de Julie a permitiu escutar a voz interior da irmã, responsável por dar início à verdadeira operação de batalha contra Teseu.

No instante que as camadas de terra voltaram a encurralá-las, duas pilastras metálicas surgiram adiante de modo repentino.

Foi o suficiente em prol de bloquear as massas de energia.

Já de vistas esgazeadas, o herói apenas complementou a feição ao separar os lábios em bons centímetros.

Balançou a cabeça para os lados, tentando se recompor. Ponderou ter sido nada mais que um golpe de sorte.

Todavia, as apóstolas alteraram o itinerário e deram início a uma corrida em círculos por volta de diversas estruturas.

As rajadas terrestres continuavam a persegui-las. A maioria colidia com os materiais escuros, sendo desfeitas de forma gradativa.

O acúmulo remanescente acabava por formar novas porções, mas que não usufruíam da mesma celeridade.

Teseu procurou as imbuir com uma nova leva de energia, as tornando maiores em comparação às fracassadas.

As atenienses perceberam essa mudança sem dificuldades. O planejamento nunca mudou.

“Não consigo acertar!”, tentou mais três vezes, todas sem obter sucesso. “O que está acontecendo!!?”

Os resultados negativos se repetiam, fazendo seus nervos subirem à flor da pele.

Rangeu os dentes, deixando uma veia saltar na têmpora.

Por mais que odiasse admitir que estava errado, o velho homem não se deixaria cair no mesmo truque sem alguma mudança.

Ao perceber as falhas consequentes de suas tentativas, tratou de respirar fundo e se acalmar.

Só que, logo, percebeu a aproximação gradativa das jovens.

“Vamos, proceda. De outro modo, evidenciará vossa diminuta perspicácia a fim de nos surpreender”, os olhos de Chloe fixaram no oponente. “Nos mostre do que é capaz, Herói Forte por Excelência!”

— Entendi! — proferiu em voz alta. — Eu achei que tinham me decepcionado, mas eram vocês que queriam brincar, né!?

“Continua presunçoso. Porém...”

Chamando a atenção das gêmeas, Teseu resolveu agir.

Preparou-se num agachamento singelo e disparou na corrida firme à vertente dos pilares.

Com o pensamento voltado a surpreendê-las, acabou coincidindo com o plano traçado por elas.

Assim, a lanceira alterou a respectiva trajetória de maneira brusca; freou com ímpeto e passou a avançar na direção do próprio mortal.

Tal resposta o deixou perplexo mais uma vez.

Sustentou o sorriso forçado e acelerou as passadas largas. O machado foi balançado à direita, fazendo o estoque restante de magia terrestre se adiantar.

Chloe desviou ao flanco contrário, de novo usufruindo de um sustentáculo a fim de bloquear a ofensiva pesada.

O Classe Herói não desistiu e manteve a pegada na maratona, agora ordenando às duas crostas restantes cercarem as apóstolas.

A púrpura aguardou alguns segundos atrás do pilar, porém a massa que buscava sua irmã mudou de trajetória repentinamente.

Enfim experimentou o espanto ao alçar as sobrancelhas. O plano oculto do herói prevaleceu sobre seus cálculos, até então absolutos.

— Se não posso com as duas, então vai uma de cada vez! — Teseu executou um salto poderoso. — Você é a primeira!!

Para garantir que a jovem não iria se livrar, adicionou-se na rota das duas camadas de Autoridade Elementar da Terra.

Entretanto...

— Perfeito. — Ela ergueu o semblante, sorrindo. — Agradeço por nos agraciar à indulgência de diminuir vossa distância.

A efusividade de Teseu desmanchou por inteiro.

Antes que pudesse fazer algo a respeito, Julie aproveitou a liberdade ocasionada por sua decisão e preparou o arco.

Puxou a corda sem pestanejar com a flecha posicionado e condensou Energia Vital sobre ela.

Toda a arma com ponta de seta foi envolta no pináculo luminoso que surgiu em um piscar...

Arte da Sabedoria. Matriz Base”, mirou entre o herói e sua irmã, onde a pilastra escura se fazia presente. “Luz da Morte.”

Disparou o projétil avassalador. Um rastro de luz atravessou os poucos metros que os separavam, até atingir o ponto médio mirado.

A detonação eletromagnética triplicou a iluminação do recinto.

O homem, ainda em processo de queda, foi cego. De quebra, isso inibiu o restante de sua magia, permitindo a Chloe se desvencilhar na velocidade do pensamento.

“Portar-se impulsivamente à medida que a própria habilidade não funciona é trivial entre mortais. Por mais que sejam soberanos como você.”

Ela interrompeu o recuou, conforme a cortina brilhante esvanecia. Manteve ainda os olhos fechados por precaução.

Demorou um bocado até a visão do grisalho ser recobrada à normalidade.

Dessa forma, resolveu abandonar as expectativas criadas de antemão — erroneamente — e partiu para a segunda rodada.

Tudo deveria ser resolvido no embate físico.

“Fui um tolo! Não posso mais subestimar essas duas!”, amaldiçoou a si próprio, mas isso era uma coisa boa. “Ainda posso acabar com elas. Querem que eu seja impulsivo!”

Ter descoberto o “joguinho” delas elevou sua segurança.

Verificou os flancos. O maior empecilho naquela nova rodada seria a arqueira, capaz de cobrir ataque e defesa da irmã com precisão.

Um novo ataque de luz daqueles seria terrível.

“Posso me virar!”, decidiu diminuir a distância para com a jovem desbotada, antes de tudo. “Eu vou...!”

— Aparenta enfim ter se adaptado. — Chloe interrompeu sua divagação, na mira com a lança. — Podemos findar com esta contenda o quanto antes? Devemos avançar ao indivíduo que libertou.

Teseu, mesmo surpreendido, desviou do empalamento rápido da garota.

Estalou a língua e resmungou:

— Não vou deixar que passem!!

— Pois bem. Levá-lo sob custódia também deve ser prioridade, afinal.

Por consequência, a filha de Atena confirmou outra parte da dedução feita há pouco.

Franziu o cenho ao recuar com a lança, a girando com maestria em volta do próprio corpo.

Os dois trocaram encaradas afiadas.

Um sorriso voltou a brotar no rosto enrugado do mortal, ao mesmo tempo que abria os braços.

— Meu senhor deve estar se divertindo nesse momento...!

A risada dele, unida à declaração jocosa, matou a charada a favor da ateniense.

Agora, tinha quase todas as interrogações respondidas. Isso só serviu de motivação extra à garota, que sugou o ar em escassez da zona fechada e expirou com força.

De lábios ligeiramente afastados, viu o Herói do Minotauro lamber os seus.

Com deleite, ele esperou pelo desespero delas. Afinal, ambas sabiam com quem estavam lidando, para começo de conversa.

Tinha confiança incondicional que, mesmo não estando recuperado totalmente, o Titã Condenado seria suficiente para acabar com aqueles pirralhos.

— Portanto devemos crer neles.

Ainda assim, a resposta de Chloe veio serena, desprovida de aflição.

Tal conduta quebrou as expectativas do velho homem que, para esconder a sensação, retrucou num grunhido:

— Você realmente acha que um Titã da Segunda Geração irá perder para aqueles cachorrinhos de deuses!?

Moveu o machado, furioso, até causar uma onda de choque leve ao redor.

Foi o bastante a fim de causar oscilações nos fios ondulados da apóstola.

Ela piscava com lentidão. Não tinha mais pressa alguma. Tinha tornado a própria respiração imperceptível.

— E por qual razão não seriam capazes? — indagou no ato final do gesto decisivo. — Ao que me consta, Prometheus pertence à mesma geração da Tríade Olímpica.

Teseu caiu no dilema entre oferecer atenção às retrucas da púrpura ou à preparação da alva, que saltou de súbita e disparou as novas flechas.

Atingiram o alvo no braço canhoto, utilizado para se proteger no puro instinto.

Seu sangue espirrou pelo espaço. A ausência dos pontos dourados conhecidos como Ícor comprovava sua descendência mortal.

Cambaleou para frente, forçando as próprias pernas a fim de manter-se erguido.

Sem lhe oferecer tempo de reação, Julie voltou a correr entre os sustentáculos e iniciou uma salva de disparos em seguida.

Incapaz de ver ou prever, o homem teve a armadura atingida inúmeras vezes por diversas setas velozes. Começou a rachar rapidamente.

Cercado pela profusão de tiros, decidiu disparar contra a inerte, no objetivo de atingi-la com o machado.

Entretanto, ela desviou sem muitas dificuldades ao saltar à esquerda. O fato de nem ter feito força para executar o movimento trouxe ainda mais espanto ao respectivo.

— Aquela dupla, de certo, logra de um traquejo formidável. Afinal foram preparados pelos próprios pais... — Escondeu-se atrás da estrutura metálica. — Porventura presumo que conheça as divindades responsáveis pelo reino celestial e mundo inferior, certo?

Ao escutar a questão da adversária, o Herói do Minotauro experimentou um arrepio indescritível escalar sua espinha.

Esse acabou sendo substituído de maneira brusca pelo ardor de duas flechas, que atravessaram a proteção de bronze e penetraram sua carne.

Depois, ainda foi atingido na panturrilha, o que o fez sucumbir com o joelho destro no chão.

“Aqueles dois... são filhos de senhor Zeus e senhor Hades!?”, ele já não sabia mais sobre o que confiar. “Não, não importa! O senhor Prometheus jamais seria...”

— “Jamais seria derrotado por eles”, você crê?

Como se pudesse ler sua mente, Chloe terminou de perfurar a estrutura protetora em seu torso com uma das lâminas afiadas.

A extremidade atravessou o metal e penetrou a cota de malha abaixo.

Equilibrado pela própria arma, Teseu cuspiu sangue sobre o cabo escuro.

— Está na hora de despertar de vossos devaneios... Herói Traidor.

As palavras da jovem vieram tão penetrantes quanto o empalamento sofrido.

O impensável se tornava realidade.

O Herói “Forte por Excelência” estava em apuros.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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