Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 3 – Arco 3

Capítulo 39: O MITO DO FOGO

Sobre uma colina elevada, o homem observava as estrelas cintilantes no céu negro.

Coçava a barba ruiva com as unhas sujas, em movimentos ligeiros. As pernas não paravam de se mexer em meios às próprias indecisões.

“Será que já ensinei tudo que podia a eles? Não, estou certo de que ainda falta algo”, concluiu com um arquejo.

Conforme experimentava as pontas bagunçadas do cabelo flamejante esvoaçarem com a brisa, tentou concentrar-se ao máximo.

Fechou os olhos, igualmente ardentes.

Só queria alguma resposta para se livrar daqueles constantes questionamentos.

— O que houve, meu irmão?

— Oh?

Ao sentir uma mão repousar sobre seu ombro canhoto, virou o olhar por cima dele.

O dono da pergunta era outro homem, esse bem semelhante à sua aparência.

O cabelo bem escuro e os globos oculares abóboras combinavam entre si. No entanto, seu porte era um pouco mais franzino comparado ao do pensativo.

— Uau. Até você se assusta às vezes, Prome — disse o de pé.

Sua barba era tão volumosa e bagunçada que, além de criar alguns cachos em suas extremidades, escondia o leve sorriso projetado ao contemplar a reação do irmão.

Seu olhar superior elevou a surpresa de Prometheus.

— Culpa sua por me tirar dos meus pensamentos, Epime — resmungou de volta, desviando a atenção para frente.

Em nota àquela atitude estranha, Epimetheus arqueou mais o corpo, no intuito de não o perder de vista.

— Me diga, você não é disto — insistiu, num ligeiro tom de persuasão. — Sobre o que pondera de forma tão profunda por aqui?

O ruivo mais forte cruzou os braços e ergueu o rosto. Através de piscadas lentas, voltou a contemplar a extensão superior recheada de pontos pulsantes.

Não obstante à relutância, exalou um lamento delongado e explicou, descontentado:

— Sinto que já ensinei tudo que podia aos... mortais. — Depois de antecipar a correção, franziu o cenho. — Não faço ideia de como proceder nessas circunstâncias. Me parece que eles anseiam sempre por mais do que já têm em mãos...

— O poder da curiosidade... Parece até aquela menina... —Prendeu um riso fraco e relaxou as sobrancelhas. — Confesso que também me aproximo a passos largos da finalização da criação animal. Lorde Poseidon pegou uma boa parte ao querer dar conta de toda a vida marinha e isto abriu um espaço incômodo na minha lista de tarefas.

Sorriu com algum escárnio ao pontuar.

— Procuro pensar em algo, contudo sinto que minhas ideias já alcançara o limite... — Repousou a palma sobre o olho esquerdo. — Desde o fim da Primavera Eterna, que culminou na divisão entre as Quatro Estações, os seres mortais perderam quase todo o conhecimento de quando ainda eram humanos.

O mais velho entrefechou as vistas.

— Se não consegue encontrar nada a mais para ensiná-los, acredito que não há muito a se fazer. Diria que deveria estar feliz pelo trabalho bem-feito. — Com dois passos, ficou ao lado dele, capaz de enxergar seu rosto miúdo. — Você, que é o grande Titã da Astúcia, poderia se martirizar menos. Nem tudo pode durar para sempre.

— Talvez...

Prometheus voltou a coçar os pelos ruivos abaixo do maxilar. Os olhos pareciam prestes a se apagar com um simples sopro do gélido vento.

Tal era o fruto de uma das novas estações, revezáveis com a primavera. Mesmo ainda sendo uma novidade, os titãs já estavam habituados às mudanças proporcionais de cada.

O clima ameno trazia consigo a queda das folhas, cobrindo os campos e pintando as cidades num dourado peculiar.

E, porventura, uma dessas caiu ao lado do Titã da Astúcia. O formato laminar chamou sua atenção, até que a brisa retomou-se com ainda mais ímpeto.

A folha foi alçada de volta a uma dança no ar. Foi quando o ruivo esticou o braço e a apanhou pelo pequeno caule, com toda cautela na ponta dos dedos.

A trouxe de volta, de forma a encará-la rente às esferas flamejantes. De cinco pontas maiores e pequenas curvaturas laterais, era peculiar em comparação a todas às quais conhecia.

E sua tonalidade, em especial, lhe oferecia um aspecto único que o fez reacender as chamas de cada íris.

— Já sei... — Levantou a folha singular acima da cabeça.

Epimetheus tornou a contemplá-lo.

Os supercílios se ergueram quando viu os de seu irmão tão elevados.

O respectivo girou o torso e se levantou num salto rápido. A folha de aspecto único foi mostrada por ele.

— O Fogo! — exclamou a plenos pulmões. — Se eu o trouxer de volta, talvez tenha uma chance!!

O franzino, a despeito da perplexidade inicial, tratou de interrompê-lo no ato:

— Isto é impossível, irmão. — Adotou um semblante de extrema circunspecção. — Zeus o tomou para si por conhecer a capacidade de aprendizado latente dos mortais.

— Ele teme que os mortais obtenham maior sabedoria e dominem a fonte motriz da Energia Vital! — retrucou num timbre eufórico. — Uma gama de possibilidades foi retirada deles, à força. Se pegarmos o Fogo de volta, poderemos fazer com que deixem as trevas sob as quais foram impostos!

Os olhos de Prometheus continuavam cravados na planta.

Recuando de volta os dois passos, Epimetheus experimentava a influência de pressão gerada pela astúcia do parceiro. A curiosidade custava a ser varrida de lado.

O lembrava ainda mais a menina citada mais cedo.

E ciente de que seu irmão sempre fora contra a retomada do Fogo pelo Rei dos Deuses, a persuasão sobre aquela demanda o envolvia com mais força.

De qualquer forma, sua busca era pautada no mantimento da respectiva integridade até o fim. Precisava ser o lado racional no momento.

Para quebrar aquela formação perigosa, mussitou:

— Irmão, me desculpe, mas não podemos fazer isso. Tomar o Fogo sem a permissão de Zeus certamente configura uma afronta a todo o Olimpo. Será considerada uma “usurpação”. Mesmo para nós, que os ajudamos na Grande Guerra, a punição seria...

— Foi ele que usurpou primeiro.

As frias palavras do mais novo interromperam o raciocínio, fazendo o franzino engolir em seco. Enfim a angústia floresceu em seu peito.

Ficava cada vez mais tentado em deixar a racionalidade de lado, a fim de o acompanhar na empreitada suicida.

“Se o Rei dos Deuses definiu algo, caso alguém venha a lhe contrariar...”, nem mesmo ousou completar aquela definição.

E, independente disso, o caçula não pararia de o instigar ali. Àquela altura, já arquitetava diversas linhas de ação na mente efusiva.

Agora, cada íris abóbora apresentava-se mais viva do que nunca.

— Prome... Deseja tanto assim ensinar mais para esses mortais?

Na busca da confirmação acerca de algo que já tinha resposta, o mais velho engoliu o desconforto pela garganta apertada.

Tudo já havia sido definido no instante que Prometheus se conectou à folha de fogo.

“Se ele conseguir devolver a luz àqueles que estão abaixo de Deus...”, tentou virar o rosto.

Só que não era capaz de se desprender daquele olhar desafiador.

“Esse sempre foi seu desejo, Prome?”, pesou os cílios, que por pouco não se conectaram.

— Ensinarei ainda mais coisas que nem posso imaginar! — Abriu os braços musculosos, encarando o céu livre de nuvens. — Vou torná-los iluminados novamente! Vou fazer com que superem a luz divina!...

A motivação em chamas, sob todos os sentidos, fez seus dentes afiados se mostrarem no centro do mar de fios rubros.

O vento batia no corpo preso e maltratado.

As diversas feridas ardiam ao entrar em contato com a lufada gélida que rondava toda a montanha.

Os braços do homem estavam erguidos. Os punhos putrefatos em carne viva se uniam, envoltos por consistentes correntes de aço.

No solo, os tornozelos sofriam da mesma forma.

Já não fazia ideia sobre o tempo que tinha passado naquele lugar. Sentia frio, fome, dor. Mas só era capaz de relembrar do instante no qual o Sol começava a raiar no horizonte à sua frente.

Afinal, a precisão impecável representava o início de seu eterno tormento.

Uma águia branca de asas enormes surgiu. Seu bico carregava uma tonalidade avermelhada antinatural.

Nem o próprio animal reconhecia o período no qual ia e vinha para torturá-lo sem piedade alguma.

Apenas cumpria sua missão, como um bom irracional. Com o pequeno gancho afiado em sua boca, destroçava o fígado do prisioneiro.

Dia após dia, a rotina se mantinha.

A sequência durava até o momento que a estrela da vida se esgueirava no poente.

Quando a luz estelar dava lugar às sombras da noite, outra fonte de fulgor surgia. Essa vinha de seu próprio torso, do amuleto preso numa corrente em seu pescoço.

O cintilar alvo vinha tomado por uma onda calorosa, responsável por arrepiá-lo dos pés à nuca.

Ao envolvê-lo na região superior maltratada, criava o efeito místico encarregado de regenerar todos os órgãos dilacerados.

Nesse ínterim, a águia observava sem fazer algo a respeito.

Primeiro, partes do pâncreas.

Depois as alas do estômago. Por último, o fígado.

Conforme tudo era reconstituído pela magia estranha, o revestimento de sua carne terminava de cobrir as estruturas.

A pele retornava por cima, não tão nova em folha, em vista da repetição infinita daquele processo. Ficavam marcas bem chamativas nos pontos atingidos.

Por fim, a luz regressava a cada íris abóbada. Junto a isso, a dor excruciante ganhava espaço, o permeando por todos os membros.

— GUOH!! — Seu corpo ia para frente e era puxado de volta pelos grilhões.

Dos lábios rachados, o sangue era expulso e terminava de tingir o solo rochoso.

Com um soluço violento, retomava a respiração. A ardência infestava seus pulmões e o coração voltava a palpitar, acelerado ao máximo.

Tendo todos os sentidos repostos, o aprisionado se remoía e mordia os beiços. Não aguentava mais. Há tempo já tinha aceitado o pagamento e almejava nada além do que a morte.

Reconhecer que ainda permanecia vivo o trazia ânsia.

Mesmo assim, as memórias vinham numa torrente feroz, de modo a mantê-lo são.

Findada a cadeia de eventos, os olhos se cansavam e entravam numa profunda oclusão.

Ao recobrar a consciência, a águia albina foi a primeira figura que o foco de Prometheus encarou.

Estava preparada para reiniciar a degustação. Como determinado, destroçaria seu abdômen em busca do fígado e demais tecidos nos arredores.

Ele não poderia se importar menos.

Já tinha desistido de se livrar das correntes. Sequer gritava e tampouco se desesperava com o tormento físico.

Se encontrava espiritualmente preparado em prol de fornecer a própria carne por mais um dia inteiro.

Não existia poder de escolha a seu favor. Em breve, o Sol iria surgir perante sua visão.

O animal abria as asas brancas, o aquecimento para o bote violento. Seguindo com a apreensão, o mar de luz clareou o espaço e a ave avançou.

Desprovido de temor, o titã fechou os olhos. No entanto, dor alguma o afligiu nos segundos seguintes.

Por ter decorado o intervalo que o animal precisava até lhe alcançar, experimentou uma estranheza dominante como há muito não se lembrava.

O bico afiado não fincou em seu abdômen.

Nada ocorreu.

Pela primeira vez, os globos flamejantes retomaram o fulgor ao serem abertos.

No instante que se deu conta, enxergou uma silhueta corpulenta. Os movimentos feitos por ela começaram a recobrar o funcionamento pleno da audição e visão do aprisionado.

Sons de armadura ruíam contra o espaço e sobrepujavam o uivo do vento frio. Em seguida, pisadas fortes contra o animal derrubado sobre o chão, na altura de sua barriga.

Por fim, a figura puxou um machado simples e lacerou ambos os apêndices da criatura.

De sobrancelhas esgazeadas, Prometheus nem percebia sua boca aberta em espanto.

Enfim uma emoção divergente de melancolia ou sofrimento surgia dentro de si. Tão lancinante a ponto de despertar o subconsciente enevoado.

Descobriu que estava faminto e tinha sede, mesmo que não precisasse disso para sobreviver.

Foi assolado por intensos calafrios. E reconheceu o aroma sanguinário, proveniente da águia destroçada.

De forma gradativa, identificou as verdadeiras nuances daquela presença.

O homem sacudiu o machado após findar os golpes que deceparam a ave. Depois, repousou-o virado para o alto sobre o ornamento metálico de bronze, acima de um dos ombros.

“Ele... não é um deus?”, nem reconheceu a forma da própria voz a ecoar em sua cabeça.

O sujeito sorridente, de barba marrom ligada ao cabelo levemente grisalho, bateu a base posterior da lâmina duas vezes na cobertura metálica.

Os sonidos se espalharam fracos.

— Finalmente te alcancei. — Sua voz soava rouca. Virou o rosto enrugado e com algumas cicatrizes menores ao ruivo. — Olha só, ‘cê ‘tá todo acabado! Mas não era por menos. Eles já presumiam essa situação!

Mudou a movimentação. De frente para o condenado, moveu o braço canhoto à frente e ergueu a arma de médio porte, apontando a chapa metálica ao peito dele.

Por conta do tempo inestimado naquelas condições, a barba do titã quase alcançava a pedra branca envolta por um anel dourado.

— A solução ‘tá aqui. Nem os deuses conhecem a origem dessa coisa. — Ao falar, não recebeu resposta alguma. Então, passou a mão à frente dos olhos semimortos do ruivo. — Oi, oi? Será que quebrou após tanto tempo? Ah, uma pena, então.

Utilizou a ponta da lâmina com cuidado, a fim de trazer o objeto circular até a mão livre.

A reação do prisioneiro foi abaixar os olhos. Notou as marcas da experiência, que cobriam todo o dorso, palma e dedos daquele homem.

Esse que, sem delongas, arrancou o artefato preso do colar e o observou com cuidado.

— Acho que não precisa mais disso, já que matei esse animal. Apesar de ser imortal em longevidade, desse jeito logo dará adeus a esse mundo. — O sorriso se esgueirou. — Até nunca mais, Titã da Astúcia.

Lançando o amuleto para o alto só para pegá-lo de volta na palma robusta, deu a volta e começou a se distanciar.

Assim que escutou o epiteto pelo qual era conhecido, Prometheus abriu ainda mais os olhos.

As chamas que queimavam em cada íris se recusaram a apagar outra vez. Estimuladas por aquela ocorrência fora dos pensamentos, ergueu o rosto com vagarosidade.

— Quem... é você?...

O murmúrio enfraquecido interrompeu a deixa do armado, que girou pela metade.

— Então você ainda não ‘tá quebrado — sussurrou contentado e aproximou o amuleto ao lado da face.

Tomado por um sorriso deleitoso, reaproximou-se do titã.

As cores que lhe envolviam se tornaram mais vivas. Contemplar tamanha mudança de repente trouxe um arrepio ao grisalho.

Podia ver o olhar do aprisionado ser dominado por labaredas de puro ódio. Brasas sombrias que se dirigiam à sua postura superior.

Era a confirmação que precisava.

Era aquele homem que ele desejava encontrar.

— Me chamo Teseu.

— Não conheço... — Voltou a franzir o cenho.

— Sou um homem que nasceu bem depois de quando foi condenado a essa prisão. Mas eu te conheço bem, Titã da Astúcia... — Entrefechou as vistas, destilando intimidação. — Aquele que tomou o Fogo dos Deuses e o ofereceu aos mortais.

— Eu não atendo mais por este nome.

Ao receber a retruca inesperada, Teseu deu uma risada entre os dentes.

— Oh, claro, claro! Aceite minhas sinceras desculpas! Então, Titã Condenado... — Enrugou a testa. — Seu objetivo era fazer com que os seres inferiores conseguissem poder e conhecimento acima do que os deuses desejavam. Pois bem... Acredito que foi capaz de, ao menos, cumprir sua tarefa!

Abriu os braços, um gestual claro para que o Titã Condenado compreendesse os frutos de sua tentativa derradeira.

De fato, aquele homem não era um deus. Assim como tinha concluído provisoriamente.

A franja maltrapilha do longo cabelo ruivo cobria os olhos pesados. Os lábios se contorciam com leveza.

— E o que garante que não irá me atacar? — Teseu fechou o sorriso com delicadeza.

Prometheus sustentou o silêncio durante um breve átimo, o bastante a fim de deixar a luz solar alcançar o encontro entre os dois.

— Meu desejo era tornar os mortais tão iluminados quanto os deuses... — Tossia bastante, tão desacostumado a falar. — Sinto que você... tem as mesmas intenções que um dia eu tive.

— Oh?...

— Se me soltar dessas correntes... poderemos nos unir em prol deste fim. — Fixou o olhar com afinco no rosto do armado. — Poderei destruí-los!...

A resposta do sofrível era tudo que o grisalho desejava escutar.

O fogo da determinação recebeu novo incremento, até se alastrar por todo o seu corpo.

Teseu o contemplou naquela posição. Retirou o machado do ombro e cortou os elos metálicos na velocidade do pensamento.

Quando experimentou a liberdade que lhe fora tomada há muito, Prometheus derrubou os joelhos no chão.

Enquanto contemplava os machucados nos punhos, recebeu a luz alva do amuleto no porte do homem de pé.

Sua carne e pele foram curados. Com tempo, os membros se fecharam e retomaram os movimentos naturais, desprovidos de algum incômodo.

Depois de analisar a situação, o titã se ergueu. Encarou as cicatrizes espalhadas pela estatura. Moveu braços, pernas, mãos e pés com cautela.

Podia sentir tudo.

Estava vivo, mais uma vez.

Concluída a libertação, Teseu deitou o machado ao lado e se ajoelhou perante o ex-prisioneiro.

Estendeu a mão destra, oferecendo a ele o amuleto incumbido de mantê-lo naquele plano inúmeras vezes.

— Mal posso expressar meu contentamento por encontrar vossa ambição ainda acesa em meras palavras. — Soando solene, abaixou a cabeça e repousou a palma aberta sobre o peito. — Por favor, conceda a mim, Teseu, a permissão para o guiar de volta à conquista do grande destino!

Diante do tom respeitoso, Prometheus se levantou. O fitou de cima e, em silêncio, aceitou o objeto incompreensível que o permitiu permanecer naquele mundo.

Por ironia do destino, seu pior inimigo no desejo da morte se tornava a salvação na busca por um último desejo.

Um desejo que não foi atingido nem por um instante no decorrer daquele sofrimento.

Depois, conferiu a águia destruída sem piedade pelos pés de seu salvador.

Sem qualquer outro obstáculo naquele lugar, apertou a envoltura dourada de metal.

Agora, o utilizaria com o objetivo de alcançar o terceiro — e mais importante — fundamento daquela equação.

“Rei dos Deuses”, encarou o céu ciano, através de um semblante contorcido em pura cólera.

— Desde o começo estava tentando me despertar — comentou com o armado.

— Sim, senhor. Apenas segui as ordens que me foram atribuídas. Foi necessário para lhe testar. — Teseu se levantou do chão.

— Ordens... — Prometheus caminhou até ultrapassá-lo pelo flanco. — Esta armadura provém do Deus Forjador. Então, quem lhe enviou?

— Eu faço parte da Corporação dos Deuses. No entanto, um “fator novo” de maior interesse me persuadiu a entrar nesse jogo. — Prestou uma rápida mesura com o torso. — Posso lhe contar o que deseja saber, enquanto nos movimentamos. Em breve, o Rei dos Deuses terá conhecimento sobre a morte de sua águia.

O Titã Condenado prendeu a respiração ao escutar a resposta introdutória.

Estalou os ossos do pescoço e esticou as costas. Ainda sentia um cansaço colossal causado pelos anos de tortura.

Contudo, não deveria levar muito tempo até se recuperar.

— Sei disto.

Teseu se juntou a ele, numa das beiradas daquela saliência montanhosa.

— Para onde iremos, meu senhor?

— Conheço um bom lugar. Poderemos dar início aos nossos planejamentos sem pressa.

— Como desejar.

“Parece que fui abençoado por ti, irmão”, o condenado liberto enfim reconhecia as verdadeiras cores da paisagem à sua frente.

Em algum lugar de seu coração, movido agora pela sede de vingança, guardava consigo as memórias de Epimetheus.

Um laço interrompido por culpa de apenas um indivíduo...

“Farei com que todos paguem pelo que fizeram a mim e ao meu irmão”, apertou com força os palmos. “Me espere... Rei dos Deuses.”

O Titã Condenado estava de volta.

Agradecimentos:

Gostaria de agradecer imensamente ao jovem Mortal:

Taldo Excamosh

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