Volume 2 – Arco 2
Capítulo 22: A Terra do Sol e da Lua
O filho de Zeus já tinha as correntes de aço em ambas as mãos, preparado para atracar o navio que chegava à zona portuária de Delos.
Enquanto Lilith e Elaine içavam a vela juntas, Gael continuava imóvel graças ao medo extravagante.
A filha de Ártemis, em específico, também era afetada pelas discussões de momentos atrás. Sem usar força suficiente, acabou dependendo do maior esforço feito pela jovem de caudas gêmeas.
Queria se desculpar de tão chateada que tinha ficado. Contudo, não conseguia encontrar as melhores maneiras de fazê-lo. Ao menos, não por enquanto.
O solavanco da embarcação a fez se desprender dos devaneios ao quase ir de encontro à madeira.
Damon aproveitou a chegada para soltar à ponte do cais. Se prontificou a amarrar a âncora numa das pilastras arredondadas de lateral.
No fim, sinalizou aos demais membros de grupo que já poderiam descer.
Quando o transporte cessou os movimentos, a prancha foi alçada à passagem inferior. As garotas desceram na frente, seguidas pelo jovem solar.
A primeira recepção veio da atmosfera pesada, que caiu sobre as costas dos apóstolos acompanhada de uma brisa uivante. O caminho para a vila se apresentava numa trilha de terra adiante.
Sem uma alma viva no porto, avaliaram as circunstâncias antes de tomarem alguma decisão. Outros navios menores se encontravam aportados nos arredores.
— Parece até que eles foram embora com pressa — comentou a filha de Hades, encontrando objetos largados dentro e fora de cada nau.
Ia de pequenos artefatos cerâmicos a grandes baús e barris antigos.
Esse pensamento rápido da garota trouxe certa admiração de Damon, que a fez franzir as sobrancelhas ao perceber isso.
O aroma sanguinário, entretanto, o levou de volta ao foco principal ao invadir suas narinas.
— Melhor termos pressa também. Sinto um cheiro ruim...
Recebendo a afirmação silenciosa dos três, corrupiou-se e deu início ao avanço para o objetivo.
Num ritmo acelerado, passaram por uma região florestal até alcançarem a entrada do lugarejo, nas proximidades do litoral.
O silêncio natural começava a ser preenchido por gritos desesperados misturados a ruídos de confronto.
Na ausência do filho de Poseidon, único capaz de realizar a análise mais apurada por meio da audição, Damon fechou os punhos com vigor.
Com o ápice do odor alcançando os demais enviados, o campo de visão para a região habitada ganhou destaque.
Ela mostrava um combate entre os mortais despreparados contra figuras esqueléticas. Caveiras que portavam espadas, machadinhas e escudos resistentes.
— O que ‘tá acontecendo aqui!? — A ctónica mal podia acreditar no que enxergava.
Os descendentes do Sol e da Lua também se pegaram perplexos num primeiro instante, até que foram puxados de volta à realidade à força.
Uma dessas estranhas caveiras surgiu no flanco esquerdo da jovem noturna, postada no alcance da espada balançada pela criatura.
Incapaz de reagir no puro reflexo, encarou a lâmina enferrujada partir a fim de penetrar seu olho num piscar.
Foi quando, na velocidade do pensamento, o filho de Zeus invadiu sua vanguarda rodeado por um brilho cerúleo. Esse intervalo de milissegundos o permitiu bloquear o ataque, apanhando o punho esquelético.
Num giro rápido, usou a outra mão e o puxou, arrancando os ossos do torso. Em seguida, lhe derrubou com um chute nas pernas, desmontando sua estrutura frágil sem dificuldades.
Elaine acompanhou a tudo sem nem juntar os cílios. Os lábios também estavam afastados um do outro.
— Vê se acorda. Isso é um campo de batalha.
A bronca do cacheado a fez engolir em seco.
Ignorando essa resposta, voltou a analisar a vila que tinha se tornado um pequeno caos.
Os soldados de ossos pareciam levar a vantagem sobre os defensores, que tentavam de tudo em prol de afastá-los. Nenhuma das residências tinha sido afetada, no entanto.
Poderia ser um contexto facilmente ignorado pela dupla experiente. Mas para os filhos daqueles que tinham a própria essência atrelada à região, jamais iria passar despercebido.
Aqueles que lutavam nada mais eram do que seguidores fiéis de seus progenitores, deuses nascidos naquela terra. Independentemente da ocasião, deveriam defendê-los a todo e qualquer custo.
Compreensivo à tal motivação, encarnada na nova faceta do dueto de opostos, o olimpiano ponderou sobre a desvantagem que significaria o procedimento desprovido de sapiência.
Aquela ocorrência poderia estar relacionada à tarefa inicial, com a qual foram enviados para cumprir...
— Vamos controlar essa bagunça por aqui. Depois pensamos em como ir ao nosso objetivo. — Indicou o campo de batalha ao encarar os companheiros.
— Eu realmente não esperava menos de você!
Gael bateu os punhos cerrados, abriu um sorriso e deixou o estado trêmulo de lado.
— Ué? Mas se você tem medo da noite, como poderia ficar tão bem de repente? — Lilith puxou o punhal da cintura.
— Desde que haja um pouco de luz eu posso me virar!
Sem pestanejar, o dourado disparou ao coração do combate no meão da vila.
Varrendo os resquícios da fobia noturna, preparou os palmos vestidos pelas luvas brancas e iniciou a retomada do controle deliano.
Os mais experientes escolheram não interferir. Aquela era uma boa oportunidade a fim de averiguar as habilidades do rapaz.
Elaine também continuou inerte ao lado, sem nem relar na lâmina coberta por sua manta.
Tomada a iniciativa, o filho de Apolo saltou contra os primeiros esqueletos. Os destruiu ao desferir um simples soco de esquerda.
Depois, acertou três na sequência e mais outros cinco foram assolados pelo impacto de choque. Suas estruturas foram divididas em pedaços e se espalharam pelo solo.
“Isso tudo sem usar energia? Nada mal”, o cacheado abriu um tênue sorriso de canto.
Já a ruiva erguia as sobrancelhas, fazendo beiço. Reconhecia que o tinha subestimado mais do que devia.
Mesmo afetado pelo medo irracional, foi capaz de causar estragos nos primeiros ataques totalmente puros.
Ele seguiu para um agrupamento responsável por importunar outros mortais. Sem parar, executou investidas limpas, rápidas e intensas, sem oferecer chances de reações.
Deixava que os ânimos aflorassem pelo corpo, uma maneira eficaz de bloquear a proliferação da fobia. Nenhum dos adversários atingidos era apto a se defender ou, tampouco, contra-atacarem.
— Ele parece que ‘tá... se divertindo — mussitou a ruiva, relaxando o braço dominante.
— Acho que ele consegue dar conta sozinho. — Damon cruzou os braços, despretensioso em pegar sua espada.
Com a situação bem comedida, Lilith guardou sua arma pequena de novo. Em seguida, encarou de lado a filha de Ártemis, com ambas as mãos voltadas contra o peito.
Os olhos marrons emitiam um brilho ínfimo. A face boquiaberta dela não carregava nada de espanto.
Somente uma admiração da qual parecia não ter potencial em prol de alcançar.
Curiosa, a filha de Hades questionou:
A filha de Hades virou a atenção até a menina e, curiosa, lhe questionou:
— E você, não vai lutar? — Diante da pergunta, a tímida se assustou e correu do olhar que logo se contraiu. — Assim fica difícil conversar...
— Lilith...
— Só estou tentando ser um pouco mais comunicativa com ela.
O olimpiano não rebateu. Foi a deixa para que a ctónica estalasse a língua, sem os encarar de volta.
Pensou que as atitudes enervadas dela tinham passado, porém lá estava ela, mais uma vez, incomodada com a atitude — ou falta de — da garota.
De todo modo, os pensamentos acerca daquilo foram esmagados tal qual os crânios que encontravam os punhos de Gael.
Sua festa particular já estava chegando ao fim. Quando a atenção dos demais retornou a ela, as caveiras restantes foram sodomizadas por seus socos poderosos.
O inabalável sucesso causou alívio instantâneo aos delianos que acompanhavam a reviravolta. Uns eufóricos e outros assustados, voltaram a se erguer da terra, libertos do domínio exercido pelos opressores.
Desprovido de atribulações, ainda com parte da fobia na atividade, a batalha foi vencida. Para o descendente de um dos grandiosos Deuses Olímpicos, aquelas meras criaturas sequer exerciam alguma adversidade contra sua integridade.
Em pedaços, tornaram-se inoperantes.
No cenário controlado, o filho de Zeus abandonou a imobilidade. Foi ao centro da pequena vila, mirando os ossos cravados na terra fofa.
Lilith o acompanhou e, para não ficar sozinha, Elaine veio atrás.
Os delianos agradeciam de todas as formas ao salvador. Ele respirou fundo e juntou os punhos à cintura, ainda empenhado em ludibriar a nictofobia.
Não obstante a isso, experimentar o calor daqueles que lhe rodeava o ajudou a sustentar o sorriso franco.
Já os outros notavam que nem tudo eram flores. Alguns homens tinham dado a vida, literalmente, para proteger o local. Nada demais poderia ser feito quanto aos respectivos.
Alguma comoção se reunia sobre os que sofreram as fatalidades da batalha.
— Pelos deuses!
— Esse jovem nos salvou!
— Isso foi incrível.
Diversos homens, ainda envoltos no calor da adrenalina, se inclinavam ao redor do filho de Apolo.
Em seguida, a grande maioria cercou não só o dourado, mas o restante do grupo. Se ajoelharam, na prestação dos mais sinceros agradecimentos.
Tal devoção exacerbada os deixou desconfortáveis, à exceção do próprio descendente solar. Pelo contrário, ele se sentia cada vez mais fortificado ante ao enternecimento dos moradores.
— Por favor, podem pedir qualquer coisa! — suplicou um dos homens feridos.
— Daremos a vocês o que quiserem, então, por favor...! — Um outro homem abaixou mais sua cabeça ao ditar.
— A gente não quer nada demais. — Damon ergueu as mãos em sinal de renúncia. — Só queremos fazer umas perguntas.
Paralela a ele, que tentava dialogar com os mortais, Lilith fitou as casas nos arredores. Diversas crianças observavam ao desenrolar no exterior, escondidas atrás das frestas de portas ou janelas.
Já as mulheres iam em direção aos homens, no intuito de auxiliá-los com o que podiam.
Todos os sobreviventes feridos eram tratados e os corpos daqueles que pereceram começavam a ser retirados por pequenos grupos.
Depois do reconhecimento, alguns eram levados às respectivas moradas.
— Perdoem minha intromissão...
Um dos homens ausentes durante o caloroso festejo, que carregava uma barba marrom com alguns fios grisalhos, se aproximou dos descendentes divinos.
— Acredito que vocês desejam saber sobre o que aconteceu agora, não é? Venham comigo. Podemos conversar com mais calma em um lugar menos sobrecarregado.
— E quem seria você? — Damon, interessado no convite, se voltou ao respectivo.
— Permita-me me apresentar. — Executou uma leve mesura. — Sou o atual líder da vila de Delos, me chamo Olaf. Se estiver ao meu alcance, garantirei suas recompensas como bem desejarem por terem salvado a nós e a nossa casa.
Olaf esfregou as mãos ao oferecer a possibilidade instigante ao jovem olimpiano.
Não deveria ser nenhuma má ideia aceitar espólios pela fácil ajuda. Mas aquilo passava longe de ser algum desejo pessoal dos quatro apóstolos.
Isso levou o cacheado a aceitar o pedido inicial do deliano:
— Vamos com você.
Por intermédio de um sorriso agradável, o barbudo assentiu e os convidou a acessarem seu recinto pessoal.
O quarteto se reuniu com o autoproclamado líder da vila de Delos dentro de uma das casas na cidade.
Acompanhados pela esposa e a filha pequena, afastada com certa aflição, os enviados divinos não se sentiam muito confortáveis.
A mãe lhe abraçava, sem deixar de sorrir com benevolência para eles. Por outro lado, a menina arriava as sobrancelhas, tentando se manter escondida pela metade no corpo da protetora.
De certo, a presença deles não era nada comum, pois até seres não-divinos como elas eram capazes de sentir a influência exalada por suas essências.
E a pequena, em especial, aparentava ter uma sensibilidade ainda mais afinada. Ao menos, era isso que os apóstolos sentiam ao trocar olhares com ela, cravada em suas posturas.
— Mais uma vez, agradeço de coração por terem nos salvado — Olaf se pronunciou, sentado com os braços derramados sobre uma mesa de madeira. — Certamente perderíamos a batalha se não fosse por aquela intervenção.
— Corta essa bajulação — retrucou Damon, os braços cruzados. — A gente ‘tá com um pouco de pressa. Então, quero perguntar as coisas logo.
— Sim, claro. Eu entendo. Porém, posso eu ser o primeiro a fazer uma pergunta?
O mortal desfez o sorriso, antes mesmo que o olimpiano não o permitisse seguir àquela maneira.
Sem interesse em causar atritos desnecessários após a conquista de mais cedo, cedeu ao mover a cabeça num movimento singular para baixo.
— Vocês... são bem fortes. Posso sentir isso. Não só pela exuberante batalha desse jovem, que conseguiu acabar com todo o exército inimigo em questão de minutos. Por acaso fazem parte da Corporação dos Deuses?
À indicação criada pela pergunta, os visitantes se tornaram ainda mais inquietos a princípio.
Só ratificava a sensação inicial que tiveram, inclusive, pela filha dele.
“Mortais são bem perspicazes, mesmo!!”, Gael aumentou o sorriso fechado, enquanto Elaine se esforçava para evitar o olhar de mulher e criança ao lado.
Lilith encarou Damon.
Na missão da Ilha Methana, talvez os dois tivessem conseguido esconder bem sua descendência. Agora, contudo, não havia sentido em mentir.
— Somos — ele respondeu, gerando espanto nas anfitriãs. — Estamos aqui por uma missão. Acabamos de chegar e viemos ver o que ‘tava acontecendo na vila.
— Entendo. Fico contente em saber que fomos agraciados pelos deuses, de qualquer forma.
Olaf voltou a inclinar o rosto, em sinal de respeito e agradecimento. Na sequência, a mulher e a menina se juntaram ao lado do atinente, repetindo o gesto feito por ele.
O filho de Zeus estava pronto para resmungar incomodado, o total oposto do de Apolo, que ergueu o queixo triunfante.
— Enfim, o que desejam saber? — Olaf ajeitou a postura e cruzou as mãos, apoiando os cotovelos na tábua. — Desde que seja de meu conhecimento, posso responder qualquer questionamento que tiverem.
Perante a clareza deliberada pelo líder de Delos, o cacheado resolveu sondar a questão mais recente:
— O que eram aqueles monstros esqueléticos? Por que vocês foram atacados por eles?
O adulto suspirou profundamente, pensando na resposta.
— Veja bem... Não sabemos o motivo pelo qual fomos atacados. Foi um ocorrido sem precedentes. Fomos pegos de surpresa e, por isso, perdemos companheiros em batalha. — Levou a barba a tocar o dorso dos palmos. — Se não me engano, aqueles monstros esqueléticos são conhecidos como Skeletós.
Bufou numa breve pausa, enquanto olhava o lado de fora a partir da janela aberta.
Todas as circunstâncias eram realocadas em sua mente.
— Precisávamos proteger nossas mulheres e crianças, então tivemos que agir rapidamente, sem tempo algum para nos prepararmos. Nossa grande sorte foi que nossos deuses, lorde Febo e lady Diana atenderam nossas preces e enviaram vocês aqui.
“Febo e Diana?”, Damon indagou para si.
— Fico feliz que tenham orado bastante por eles!! — Gael respondeu, sua animação parcialmente revigorada pela iluminação da casa. — Mesmo que não tenhamos vindo aqui com esse intuito específico, apenas aparecemos no momento oportuno e agimos da forma mais esplêndida possível!!
“Oh, a euforia dele retornou”, a ruiva encarou-o de esguelha, descontente com sua persona cintilante.
Os outros dois apenas escutaram em silêncio e o deliano reagiu com ânimo.
— Entendo, mas é claro! Mas se vocês não vieram aqui para nos salvar, de forma específica, então...?
— A gente ‘tá aqui pra encontrar uma companheira desaparecida. — O olimpiano descruzou os braços. — Ela é uma Classe Iniciante que ajuda outros de mesma classe, ou auxilia mortais com potencial pra serem incorporados aos Apóstolos. Ela ‘tava aqui pra auxiliar duas dessas, mas desapareceu nos últimos dias sem dar sinal.
— Hm. Compreendo. — O homem alisou sua barba com a mão direita, pensativo. — Acredito que alguns de nossos homens ficaram cientes disso. Por acaso essa companheira era uma jovem bem bonita, de cabelo ruivo e com uma presilha de borboleta colorida?
Damon divagou antes de esclarecer.
“Não vejo ela faz tanto tempo, que nem me lembro direito”, resolveu ir naquela toada.
— Acho que ela tinha cabelo ruivo, sim. Um pouco puxado pro laranja... Não lembro de presilha.
— Não se preocupe, acho que é isso mesmo. Ficamos cientes da chegada dela, mas achamos que tinha retornado para o continente. Então ela desapareceu?... — Arriou o olhar, preocupado. — Estou surpreso com essa informação. Nós não fazemos ideia de seu paradeiro. Tem certeza que isso aconteceu mesmo por aqui?
— Tudo indica que sim. — Lilith interviu.
O silêncio tomou conta do recinto.
As expectativas de receberem alguma informação valiosa, a ponto de redirecionar a busca deles a um tiro mais certeiro, começava a diminuir.
O caminho agora indicava uma saia justa complicada de ser resolvida.
No fim, o filho de Zeus passou a pensar sobre a inutilidade de ter ganho pontos positivos com relação aos moradores. Nenhuma retribuição real seria colhida por eles.
Ficaram todo aquele momento de quietude pensando sobre como poderiam alcançar qualquer pista deixada pelo caminho.
Até que...
— Ah!! — Gael arregalou os olhos castanhos. — E se falarmos diretamente com as pessoas que ela veio para auxiliar!!?
— É verdade — Lilith concordou na mesma hora, abrindo um sorriso. — Você não parece ser só músculos, como eu pensava!
— Eu vou me abster de responder isso!!
Como crianças ingênuas, os dois se encararam a ponto de soltarem faíscas através dos globos afiados, deixando a filha de Ártemis deslocada outra vez.
Enquanto a energia pesada fazia a mulher e a filha de Olaf se afastarem, esse soltou uma risada descontraída.
Damon deu de ombros à situação ao soltar uma leve bufada e mirou o sorridente.
— Você sabe quem são essas duas pessoas?
— Com certeza. Estávamos tão ansiosos para que elas conseguissem entrar que até preparamos uma festa para o dia em que partissem ao continente!
Com genuíno júbilo nos dizeres, levantou-se da cadeira ao recordar a felicidade de todos os delianos ao receberem a notícia divina.
Pessoas daquela vila isolada serem escolhidas por aptidão a ingressarem no mais importante grupo, diretamente ligado aos deuses, era motivo de muito orgulho para os mais velhos que lá viviam.
A provocação trocada pelos dois na retaguarda cessou perante as expressões repentinas do mortal.
— Nos leve até elas.
O pedido do olimpiano quebrou toda a vibração do anfitrião.
Ele contorceu os cílios e gaguejou:
— S-sobre isso... — A estranheza foi antecipada pelo rapaz. — Infelizmente não poderei levá-los agora. Elas provavelmente estão dormindo e...
— Acorde elas. Não temos todo tempo do mundo.
De novo, o interrompeu sem pudor algum, não o permitindo discutir. O olhar pesado retumbou sobre ele e as mulheres na companhia, as deixando ainda mais aflitas.
— Damon?... — Mesmo Lilith ficou apreensiva com a aura irradiada pelo parceiro.
Ao perceber que tinha se excedido mais do que o planejado, ele respirou fundo e acalmou os nervos.
Olaf, aliviado com a apaziguada do visitante, esfregou as mãos e tentou entoar sem deixar a voz ficar embargada...
Mas quem disse algo não foi ele.
— Tenho certeza que toda a paciência será recompensada a vocês. Podem passar a noite aqui e de manhã elas certamente irão atendê-los!
A tranquilizadora voz da esposa não carregava um tremor sequer ao alcançá-los.
Foi a pá de cal das ações do garoto, que paralisou de repente, sem palavras em prol de dizer algo contrário a ela.
Dominado pela repentina apatia, abaixou o rosto e reconsiderou. Consentiu com o conselho passado pela mulher sem sangue divino, não pensando duas vezes em fazê-lo.
Para os filhos de Apolo e Ártemis não foi nada, mas Lilith se sentiu extremamente atônita ao contemplar um mortal sendo capaz de convencer seu parceiro. Ainda mais, com aquelas poucas palavras.
O pior era o próprio cacheado, incapaz de entender a respectiva atitude. Buscou uma razão minimamente plausível consigo, porém optou por encerrar o encontro naquele momento.
— Agradeço a oferta. Temos lugar pra passar a noite. — Se virou à porta e, antes de sair, encarou o grisalho sobre o ombro. — Se certifique de deixar elas prontas. Voltaremos amanhã cedo.
— Tudo bem, farei isso com certeza. Mas realmente não deseja ficar?
Olaf voltou a se aproximar da esposa, direcionando os olhos do rapaz a ela de novo.
A sensação estranha o permeou, de modo a induzi-lo à conclusão de sua deixa:
— Não precisa se preocupar com a gente. Qualquer coisa, nos chame em um dos barcos no porto.
Ele deixou o recinto na velocidade do pensamento, só então puxando o restante dos companheiros a seu encalço.
— Tudo bem. Tenham uma ótima noite!
Concluída a despedidas dos quatro salvadores, os três escutaram a porta se fechar num tinido fraco.
Sem aguentar mais, o líder deixou as pernas o jogarem de volta à cadeira. Os arquejos pesados acompanharam os braços estremecidos que dobraram sobre a mesa.
Esposa e filha foram até ele, também abaladas. Ambas lhe abraçaram, no objetivo de repartirem as forças após as duras experiências consecutivas.
Somente quando os jovens da Corporação dos Deuses deixaram a vila que o ar pesado foi carregado para longe.
Desse modo, o senhor pôde respirar com leveza mais uma vez. Pôde sentir que ainda estava, de alguma forma, vivo naquele mundo...
Agradecimentos:
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