Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 2 – Arco 2

Capítulo 20: Nova Tarefa [e Outra Dupla]

Após alguns minutos, todos os presentes tomaram suas respectivas posições. Cada um ao lado do próximo, os jovens aguardavam pelas palavras das divindades mediadoras logo à frente.

O momento de quietude se alastrou pelo recinto, até que Atena recebesse o aceno positivo dos irmãos. Sem delongas, portanto, deu início ao discurso:

— Eis a situação: uma das mais estimadas integrantes da Corporação dos Deuses encontra-se desaparecida. Ela é uma Apóstola de Classe Iniciante.

— Classe Iniciante?... — Lilith questionou, trocando olhares com Damon.

E ele se lembrou da questão que envolvera a tarefa da Ilha Methana, onde diversos do mesmo patamar foram, praticamente, enviados à morte.

— Por que a preocupação com um Classe Iniciante, de repente?

— Ela é uma das descendentes imediatas de nosso pai, Zeus. Vocês a conhecem, Damon e Daisy. — A interrogação dos dois elevou-se, antes da deusa completar: — Trata-se de Helena.

“Helena?”, a informação primordial arrancou um espanto silencioso do rapaz.

Daisy desfez o sorriso de imediato. As sobrancelhas estremeceram, erguidas ao limite da testa.

— A irmã... Helena?...

Seu murmúrio deturpado só ofereceu maior credibilidade à colocação da sábia há pouco.

Isso, por si só, foi o suficiente também para que os demais fossem inseridos no teor urgente que a incumbência pedia.

— E como isso aconteceu? — O cacheado desfez a fila ao avançar dois passos e retomou a atenção dos presentes.

Isolada, a caçula percebeu a súbita alteração emocional do rapaz. E não era para menos, afinal; mesmo aqueles que não logravam de sua Bênção puderam notar.

Conforme ansiavam pelo contexto detalhado da situação, a Deusa da Sabedoria ergueu a mão dominante, num pedido de paciência.

O rapaz obedeceu ao gesto, inclinando o rosto com leveza para baixo.

— Nós desconhecemos as circunstâncias fundamentais no que tange vosso paradeiro. Todavia, pudemos presumir que a Ilha de Delos é a região onde, possivelmente, esta adversidade foi originada. — Executou uma breve pausa, movendo o corpo a favor dos veteranos. — Para ser franca e direta, esta é a terra de nascimento destes dois.

Os olhares foram direcionados aos deuses gêmeos.

— Este é o motivo pelo qual viemos, para mediar esta tarefa — disse Ártemis. — Esta ilha não é tão grande quando equiparada a Rodes, porém possui uma pequena vila construída pelos mortais que lá habitam. Eles cultuam a meu nome e ao de Apolo. Portanto, é um local perfeito para que mortais habilidosos possam ser recrutados à Corporação dos Deuses.

Atena assentiu e retomou a mediação:

— Isto posto, Helena é constantemente enviada a Delos. Tal como esta ocasião, encontrava-se lá há algum tempo.

— Mas ‘pera aí. — Damon interrompeu. — Como ela ainda é uma Classe Iniciante?

— O fato de Helena ser uma Classe Iniciante não diz respeito a uma provável fraqueza ou inexperiência. Sendo a terceira filha mais nova de nosso pai, ou seja, a primeira após você e Daisy, partiu da própria a decisão de suster-se neste nível. Tudo em prol de auxiliar aqueles que desejam ingressar no grupo.

Ártemis fechou os olhos enquanto acenava, um sorriso gentil se desenhava em seu semblante.

— Uma atitude que só alguém puro e gentil poderia tomar para si. Não tenho tanto contato com ela comparado à Atena, mas sei que Helena é uma individualidade extremamente necessária entre nós, neste Panteão.

Apolo escutava a tudo sem dizer um pio. Só mantinha braços cruzados e fitava-as de soslaio, a cara fechada e severa.

— O caso da vez concerne a duas novas aspirantes à ingressão como Apóstolas, que residem nesta ilha. Helena foi requisitada para dirigir-se até lá. — Atena levantou uma das mãos na altura do abdômen, a palma se voltava ao topo. — Entretanto, o contato que tínhamos com ela foi perdido nos últimos dois dias.

— Graças a meu contato com a vida selvagem desta terra, pude receber um sinal que indicava seu paradeiro. Por estar distante, ordenei que fosse feita uma varredura. Contudo, não foi encontrado nenhum rastro. — A Deusa da Lua semicerrou as vistas e buscou o olhar da irmã. — Por isso, restou uma única esperança.

A sábia respondeu com um sinal afirmativa de cabeça.

— É crível que Helena não tenha abandonado Delos. Carrego comigo noventa e nove porcento de certeza de que ela desapareceu exatamente na ilha.

Quando reergueu o palmo, ela o fechou com firmeza para, na sequência, abri-lo outra vez.

E levou a sutileza dos dedos esticados à vertente dos quatro escolhidos, membros de Classe Prodígio daquela corporação.

— Vocês quatro formarão o grupo que partirá imediatamente à Delos. A incumbência, é claro, será a busca de informações acerca do paradeiro de Helena. Caso possível, vosso consequente resgate. — A deusa recuou a mão, no entremeio de uma pausa rápida. — Não podemos descartar nenhuma hipótese relacionada a este ocorrido. Dito isto, não percam o foco e preparem-se em prol de qualquer circunstância possível.

Nenhum dos quatro retrucou as palavras enunciadas pela mulher. Em contrapartida, cientes quanto aos desaparecimentos de mortais que se tornaram frequência nos últimos meses, já trabalhavam com essa teoria em mente.

Se tivesse alguma ligação com a questão resolvida com as Sirenas por dois dos convocados, a nova tarefa tinha potencial para determinar o curso atual do próprio Olimpo.

Atena, a primeira a divagar sobre tudo isso, tentava esconder a leve ansiedade que ameaçava subir seu peito.

— Há um barco preparado no porto de Delfos, onde poderão seguir rumo a Delos — disse Ártemis, acenando com a cabeça para o quarteto.

Com o caminho mais próximo para alcançar a ilha determinado, os apóstolos aceitaram as condições impostas pelas divindades sem proferir uma palavra sequer.

A tensão tomava conta do saguão. Com exceção do eufórico Gael, ninguém sorria — nem mesmo Daisy.

Por meio do ensurdecedor silêncio, foram dispensados.

O sol iluminava boa parte das cidades olímpicas, mas já atravessava o céu para sua metade derradeira.

Gael e Elaine, a nova dupla apresentada para os residentes olímpicos, regressaram junto de seus pais.

O grupo tinha chegado a um grandioso templo que era rodeado por um bosque. Em sua fachada, o símbolo de um arco e flecha apontado para a Lua indicava a residente de tal.

Juntos dos pais, Gael e Elaine retornaram até um grandioso templo rodeado por um bosque, onde a marca da lua fazia-se presente.

— Esplêndido!! Me sinto muito bem preparado!!

Alongando-se de diversas maneiras, o rapaz dourado apreciava a brisa amena que percorria o jardim na entrada do santuário.

Além da roupa utilizada desde a reunião no Olimpo, carregava no braço esquerdo um bracelete dourado, assim como luvas brancas. O símbolo do Sol estampava o tecido na região dos dorsos.

E sobre o restante do torso, uma capa característica da corporação, essa de tom todo dourado, com adornos brancos remetentes à estrela.

— Como está, Elaine!!? — Encarou sobre o ombro, finalizado o aquecimento.

A garota acabava de sair da morada, sem muito ânimo no olhar estremecido.

— Sim...

Trajando também o mesmo vestido, agora com uma manta escura que servia de bainha para sua arma longa, acenou com a característica voz sussurrada.

Sua capa era azul-escura, os adornos remetentes ao satélite natural se mostravam em violeta.

— Acho que não tenho nada mais a dizer para vocês dois, além de “boa viagem” e “boa missão”. — Ártemis veio logo atrás dela, com o sorriso acalentador no rosto. — Onde está seu pai?

— Ele foi na frente!! — Gael cerrou o punho perante a divindade que assentiu com a cabeça.

— Entendo. Pois então, podem ir. Deixo a Helena em suas mãos...

— Pode deixar, tia!! Vamos achar ela, com certeza!!!

— Até mais, mãe... — Elaine fez uma rápida mesura ao se despedir.

A Deusa da Lua acenou com o braço e assim permaneceu, à medida que a dupla iniciava o avanço rumo ao destino.

Mesmo confiante, não deixou de realizar uma breve prece em silêncio, desejando o melhor sucesso à filha e ao sobrinho. Foi assim, até que ambos desapareceram, tomando o trajeto da passagem invisível.

“Tomem cuidado”, encerrou ao levar a mão à nuca, acobertada pelos fios ondulados que simulavam o céu noturno.

Os olhos entrefecharam, quase certa de que algo grandioso estava prestes a ocorrer naquele lugar...

Depois de atravessarem as cercanias do jardim, os filhos do Sol e da Lua alcançaram o itinerário para a cidade defronte ao pôr do sol.

Com as mãos cruzadas atrás da cabeça, Gael comentou com descontração única:

 — E aí!!? O que achou daqueles dois!!? — Adiantou parte do tronco, buscando o rosto da companheira. — Eles parecem ser bem fortes!! É esplêndido, né!!?

Elaine o fitou por um instante, visto que não conseguia sustentar o olhar elevado. Voltou a cravar o solo arco-íris que pisava.

Conforme pensava em alguma resposta, lembrou-se das ínfimas nuances carregadas por aqueles dois, assim que os detalhes da missão foram enunciados.

— Me pareceu que... eles já passaram por isso antes...

— Né!!? Por isso eu ‘tô muito animado pra viver isso!! Quero saber sobre o que eles passaram com meus próprios punhos!! — Os ergueu na hora. — Tenho certeza que você consegue sentir a emoção!!

A lunar forçou um sorriso não muito usual, já que os lábios mais se contorceram do que se elevaram.

Isso tirou uma risada franca do rapaz, que socou o ar diversas vezes à sua frente.

— Não se preocupa tanto! Tenho certeza que você vai se enturmar!! É o começo de uma nova jornada!!

Diferente do gesto anterior, a garota somente contraiu o respectivo corpo. Ligeiros calafrios lhe percorreram a espinha.

Portanto, restou a ela fechar os olhos para os próximos contatos que teria a partir dali.

De quebra, fechou o coração para algo que não desejava recordar em nenhuma instância...

— Uma nova missão. Mediada por Atena — murmurou o deus no trono negro, envolto pelo salão que era pura treva.

De rosto apoiado no punho fechado, os olhos da cor do sangue fitavam a jovem de caudas gêmeas, de pé no meão do recinto.

Perséfone, a Deusa das Flores, encontrava-se ao lado, também de olho na postura nada confortável da menina.

Ainda assim, podia sentir que ela irradiava menos tensão do que no encontro de dois meses atrás. Isso, por si, a permitia esboçar um tênue sorriso de canto.

— Sim! — Lilith forçou a voz, pouco embargada. — Devo partir imediatamente, com o Da... o filho do Rei dos Deuses! Também participarão da tarefa os filhos dos Deuses do Sol e da Lua!...

Não só pela correção feita às pressas pela filha, Hades entrefechou ainda mais as vistas afiadas.

— Que seja. — Balançou a mão livre com desleixo. — Apenas não envergonhe meu nome.

Também abaixando os cílios, porém com melancolia, a descendente do Submundo respondeu:

— Como quiser, papai...

Deu a volta e deixou o recinto, sem delongas.

O deus bufou ao escutar o som das trincas metálicas. Observado de canto pela esposa, não se prestou a oferecer novas declarações.

Em vista disso, a atinente saiu do local, segundos após.

Lilith retornou ao cômodo pessoal. Aprontou-se com um vestido semelhante ao utilizado em Methana. Encarou o punhal rubro-negro por um tempo, então o guardando em uma das correntes laterais baixas do corset de couro sob o busto.

Mediante um forte suspiro, de encher o peito, girou e saiu do quarto.

Ao visualizar o corredor iluminado por tochas púrpuras, se deparou com sua mãe. Ela estava encostada na parede adiante, serena e paciente.

Antes que a filha pudesse dizer algo, antecipou-se no gesto e nas palavras:

— Você está bem?

Fechando a porta com cautela, a apóstola encarou o solo e desviou o foco do sorriso pacificador.

— Como assim?... — Aguardou por uma resposta. Mas veio somente o silêncio. — Você vai embora logo, né? Ficou mais tempo do que deveria aqui. A vó deve estar furiosa...

Quieta, a Rainha do Submundo exalou um lamento. Avançou dois passos rápidos, diminuindo a distância para com a jovem cabisbaixa.

Repousou a mão sobre seu ombro, recheada de graciosidade. O simples gesto foi capaz de transmitir a ela um pouco de confiança.

— Não precisa se preocupar com esse assunto, pois irei resolvê-lo com minha mãe sem problemas. Agora, eu quero que você foque nesta nova missão. — Inclinou um pouco do tronco, ficando olho por olho com ela. — Eu acredito na sua força, no seu potencial. Por isso, não tenha medo de usá-la.

Tocou com a outra palma em seu peito.

Lilith parou de arriar as sobrancelhas e as ergueu. Defronte ao sorriso sincero de sua mãe, respirou fundo.

— Obrigada, mamãe.

Encontrando a nova luz de determinação cravada nas esferas rubis da filha, Perséfone assentiu com orgulho à resposta proferida por ela.

No topo do Monte Olimpo, Damon deixou o cômodo após preparar a espada embainhada no cinturão de couro.

Do lado de fora, estavam Daisy e Atena. Um déjà-vu não tão misterioso, reconstruindo a cena da partida da missão anterior, há dois meses.

— Boa sorte, irmão!

Recebendo a despedida da caçula, assentiu com uma feição aprazível.

Aproveitou para acariciar o cabelo bagunçado dela, enquanto mirava a Deusa da Sabedoria, essa um pouco mais fechada em comparação ao habitual.

Trocaram acenos positivos de cabeça. A mulher desejava direcionar o foco necessário ao prodígio, que ainda carregava as vivências da batalha em Methana consigo.

Mesmo com o avanço do tempo, era difícil lidar com as emoções criadas pelas memórias cravadas em seu âmago.

Ele, portanto, a ultrapassou pelo flanco inerte.

— Acima de tudo, Helena é nossa irmã. Por isto, eu te peço... — Sem nem virar o rosto, ela comentou.

— Claro.

Sem pestanejar, varreu qualquer oscilação da postura e saltou para a balaustrada.

Com olhos obstinados, deixou-se cair para os andares abaixo, até desaparecer nas nuvens.

Com a deixa do meio-irmão, Atena exalou toda a aflição reunida no peito através de um suspiro.

— Também iremos, Daisy. — Olhou para a menina, debruçada sobre o guarda-corpo na beirada do salão.

— Ele vai conseguir... — A réplica morosa dela a pegou desprevenida. — Tenho certeza que ele vai salvar a irmã Helena!!

Sorrindo com animação, foi capaz de varrer parte da postura intensa da deusa.

Nisso, ela fez um rápido movimento com a mão, a chamando para que se aproximasse. Sua corrida de braços abertos a acompanhou no caminho das escadarias.

— Espero que a Chlozinha e a Juzinha não sejam malvadas hoje! — disse tão animada quanto há pouco.

— Bem, boa sorte com isto.

Um pouco mais leve, Atena riu com as palavras proferidas pela criança. Nesse ínterim, o filho de Zeus já tinha descido o monte inteiro.

No sopé, o início da ala especial que se conectava à cidade de Olímpia, se encontrou com a parceira de caudas gêmeas, vinda do outro lado.

Num primeiro momento, trocaram encaradas silentes.

— ‘Tá pronta? — O rapaz quebrou o silêncio.

— Sim. Vamos.

Com a firme resposta de Lilith, Damon piscou duas vezes, a permitindo avançar na liderança do caminho às Passagens Espectrais.

Tomado por uma sensação diferenciada através da companheira, observou o céu que começava a ganhar contornos alaranjados.

Enfim, acompanhou os passos firmes dela, visando o novo destino que lhes aguardava em Delos.

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