Volume 10 – Arco 6
Capítulo 188: No Coração Jaz a Luz

Helena prendia a respiração diante das constantes reviravoltas no confronto decisivo.
A última, orquestrada por seu irmão, foi especial.
Após receber feridas graves, devolveu na mesma moeda ao executar uma cisura profunda no tronco do inimigo.
Bastante sangue espirrou pelo ar. Parte do líquido chegou a espirrar sobre a roupa rasgada e o rosto do olimpiano.
O momento de virada pegou Keith em um limbo de choque. A sensação, além da dor excruciante, era a de ter sido arrastado do topo ao abismo.
A vitória deveria ser concreta. Nada mais deveria ser capaz de o parar.
No entanto, Damon o superou pela primeira vez desde o Deserto da Perdição. O abalo foi mais do que físico.
“Impossível...!!”, a mente paralisada só pôde pensar daquela maneira.
Os olhos escuros se arregalaram, estremecidos. Da boca escancarada, nada além de um silêncio mortal escapou.
Não é.
Uma voz idêntica soou do interior. Permeou sua cabeça deturpada, que naquele momento só pensava no revés inédito.
“Eu... fui superado...!?”
Não podia compreender a profundidade da ferida exterior. Mas isso sequer importava.
O peso daquele golpe fez seu coração congelar como nunca tinha experimentado.
Ou, talvez, essa determinação estivesse errada.
Fazia tempo demais... Tanto que já tinha se esquecido.
Essa é a diferença entre vocês.
A contraparte disparou num tom comedido, seguro. O estado de alerta cresceu por todos os membros do rapaz ferido.
Porém, a força das trevas ainda se sobrepunha aos ecos que dominavam seu âmago.
“Não... Não vou permitir... que me atrapalhem!!”, o ego, mais ferido que o tórax, o fez quase regurgitar sangue. “Eu vou destruir... tudo e todos!!”
Ergueu o rosto, à medida que os dentes se uniram em plena cólera. A vontade de destruir, aquilo que o movia em frente, berrou.
O motivo para qual havia nascido; sua própria natureza...
Não. Esse baque é demais até pra você.
Aquelas palavras...
Você vai perder.
Foram a gota d’água.
— Filho da putaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!
Keith vociferou, na mesma intensidade do colapso pesado sofrido pela Energia Vital.
Toda a área interna do pátio fechado foi dominada pela influência sombria em um piscar. O clima tornou-se insustentável.
Damon se sobressaltou ao ser abraçado pelo efeito daquela explosão descontrolada. Recuou na hora por alguns metros, arfante de tanto peso experimentado.
“Eu ‘tô... com medo?”, encarou as próprias pernas, trêmulas.
Uma onda de choque varreu os arredores, causando um terremoto em toda a edificação.
Helena precisou se segurar ao corrimão do andar superior a fim de manter-se erguida. A força do vento era tamanha que o cabelo se desamarrou do rabo de cavalo sozinho.
Mesmo as garotas, no avanço até a torre negra, experimentaram a essência sórdida em completo alvoroço.
“Alerta: Minha irmã... esta energia...”, Julie nem conseguiu colocar em palavras o que sentia.
Isso servia para Chloe, a contrair as sobrancelhas em genuína aflição.
“Damon...”, cerrou o punho livre, sem ter o que fazer a respeito. Só podia continuar a depositar sua fé no garoto.
Ele tentava suportar a carga assombrosa da energia nefasta. Quando recuperou a compostura, o vento negro a rodear o imperador perdeu intensidade.
Ao contemplá-lo, o filho de Zeus subiu os supercílios ao limite da testa.
A figura desfigurada de Keith assustava tanto quanto o descontrole vital.
Tomado por marcas avermelhadas no corpo escuro, agora havia um segundo chifre nascido na outra têmpora.
Lágrimas vertiam dos olhos esbugalhados, dominados pelas trevas... lágrimas de sangue.
Aquele era um nível além do que Lilith tinha demonstrado. Ciente disso, o espadachim quase mordeu o beiço inferior.
“As coisas só pioram”, reclamou enquanto na busca de manter-se firme com a postura de batalha.
O braço esquerdo estava inutilizado. Conseguia mexer dedos, cheio de dores, mas nada além disso. Seria um empecilho tremendo naquela nova fase do conflito.
A sanidade de Keith já tinha se perdido nas trevas. O sorriso grosseiro desapareceu.
E a presença dele igualmente, sem permitir ao descendente olímpico compreender o que acontecia.
Quando arregalou os olhos noturnos, experimentou a aura nociva o cobrir pelo alto, trazendo consigo o peso da estrela da manhã como se fosse uma pluma.
Autoridade Artificial do Plasma envolveu a esfera em meros dois segundos.
O ataque foi desferido na sequência, na tentativa de esmagar o apóstolo pela cabeça.
Ele desviou no instinto, por pouco sendo acometido pelos raios tórridos do plasma. Mas dos escombros não pôde escapar.
Foi atingido em alguns pontos do abdômen por pedregulhos que subiram da área atingida.
Sustentou o recuo ao executar um segundo salto, pois sabia que enfrentá-lo de frente naquele estado seria problemático.
Contudo, Keith rasgou pela nuvem de fumaça e poeira, arrastando as correntes também recheadas de Plasma. Não se importava em queimar a palma que as segurava.
O preço da insanidade, que o permitiu atacar mais rápido e com violência dobrada.
“Merda!!”, Damon aparou o golpe com a espada.
O impacto agressivo o fez quase deixar a guarda aberta, empurrando-o para trás.
Quando isso ocorria, ele se esquivava e preparava-se a uma nova defesa. Foi a forma encontrada de lidar com aquele ímpeto incontido num primeiro momento.
Cada novo choque fazia seu corpo inteiro doer. Depositava o mínimo de energia sobre a lâmina longa, mas sabia que, em pouco tempo, ela sucumbiria.
Se continuasse daquela forma...
Isso durou até a estrela da manhã bater no chão e subir em alta velocidade, atingindo sua guarda por baixo.
Dessa vez, foi impossível para o olimpiano manter algum controle, visto que o braço portador da arma foi jogado para o alto.
Sem tempo hábil para recuperar a postura, recebeu uma joelhada no abdômen já machucado. Saliva misturada a sangue foi regurgitada.
Os pés se desconectaram do relvado, até a esfera metálica regressar do topo e atingi-lo nas costas. Por estar inclinado, foi um acerto completo.
Todos os ossos estalaram e vários fraturaram quando a bola pesadíssima o impeliu contra o plano.
Quase a perdeu a consciência. As queimaduras no dorso, um pouco abaixo da cervical, arderam furiosas.
Jamais poderia vencer aqueles ataques brutais em sequência, ainda mais com tantas lesões.
Inapto até a entender o que ocorria após o esmagamento, o braço esquerdo foi amassado por outro baque da bola de ferro, jogando-o violentamente pelo ar.
Colidiu-se com a parede, destroçada em rachaduras por todas as vertentes.
“Damon...”, Helena acompanhou a sequência inteira sem reagir. Apenas permaneceu de olhos esgazeados e boca aberta, quase a ponto de derramar seu pranto. “O que... eu estou fazendo?”
Ela queria ajudá-lo. Queria intervir na luta, como tinha prometido que faria.
Mas...
“Não consigo...”, caiu de joelhos, cedendo ao peso do próprio corpo dominado pelo medo.
Ela morreria em vão. Caso se movesse daquele lugar...
O problema era que, no fim, daria na mesma. Se seu irmão fosse morto, ela seria a próxima.
E depois as filhas de Atena.
E depois...
“Não!”, debaixo dos escombros, sentindo todas as fraturas, cortes e queimaduras, Damon abriu os olhos quase desprovidos de luz.
Para repor isso... eles cintilaram.
A energia divina explodiu os destroços para o alto, puxando o foco deturpado de Keith àquele ponto.
O ambiente tornou-se eletrizado. A energia fluente fez Helena despertar da sensação obscura do temor, voltando a olhar para o local de onde ele ressurgiu.
De novo.
Com o braço esquerdo pendurado, os fios de sangue cheio de Ícor a escorrerem incessantes até gotejarem sobre o relvado, o filho de Zeus subiu o olhar.
Um olhar brilhante, como dois faróis que rasgavam as trevas.
O corpo energizou-se totalmente, repleto de raios que estalavam poderosos ao seu redor. Pôde igualar — ou algo bem próximo disso — a intensidade de sua aura contra a do sórdido.
A resposta dele foi entoar uma nova onda colérica.
— Eu ‘tô acabado... — Preparou a espada no palmo dominante. — Vão ser... meus ataques decisivos.
O brilho no par de íris azul-escuro cresceu. Parecia até que dois relâmpagos atravessavam suas pupilas.
“Bênção: Velocidade Deus...”
Mirou o inimigo e nem pestanejou em disparar na direção dele, em menos de um piscar.
O primeiro ataque chegou, frontal, mas Keith bloqueou boa parte do impacto com a estrela da manhã.
Antes mesmo de poder reagir, o olimpiano o contornou até a retaguarda, deixando nada além de um rastro luminoso, grama e poeira levantados no caminho.
“Mais rápido.”
O imperador tentou se corrupiar, mas a lâmina da espada o cortou sob a axila. Antes mesmo de sangue espirrar, outros dois lanhos foram criados em seu peito.
As feridas só abriram após dois segundos de atraso, tamanha a celeridade do olimpiano.
Grunhiu de dor, mas usou aquilo como forma de impulso a fim de o perseguir; balançou a estrela da manhã, só que o espadachim desviou com um pulo rápido.
Lá estava Damon, sobre a balaustrada do andar superior.
“Mais rápido!”
Saltou num mortal até colocar as solas na parede. Pegou o impulso e, como uma flecha, desferiu o novo golpe, arrancando pele e carne do braço canhoto do filho de Alecto.
Bateu no solo, imediatamente pulou de novo no andar superior e repetiu o procedimento três vezes, até disparar ao teto.
Girou-se por inteiro, de modo a pisar no centro circular da cobertura de vidro. Quando se empurrou abaixo, as rachaduras se espalharam até se tornarem inúmeros estilhaços.
A cada nova investida, uma mais imprevisível e veloz do que a outra, a guarda de Keith se abria.
“Mais rápido!!”
Na beirada dos próprios limites, Damon rangeu os dentes.
A Bênção sugava sua energia cada vez mais rápido. Àquela altura, já tinha se tornado apenas um feixe de luz que disparava relâmpagos fugazes, ressoante igual a um trovão imponente.
“Tenho que ir mais rápido!!!”
A determinação para cumprir as promessas, o combustível que o alimentava. Ele já tinha ultrapassado seus limites.
Mas, agora, pela primeira vez, lograva do poder, do domínio necessário em prol de elevar aquele patamar.
A Velocidade Deus de caminhos imprevisíveis, de idas e vindas alucinantes, retaliava o corpo inerte do algoz. Não tinha chance alguma de se defender.
Sentindo os cortes cálidos penetrarem sua carne, Keith vociferou um brado gutural, engolido pelo desespero na escuridão.
Tentou rodopiar as correntes para criar um ataque que se mascarava de defesa, mantendo todos os elos ao seu redor à medida que a esfera de espinhos viajava na liderança.
Ao fechar as passagens, da mesma maneira podia pegá-lo desprevenido.
“Agora!!”
Contudo, assim se criou a grande chance do apóstolo.
Interrompeu o vaivém tempestuoso ao parar frente a frente com o degenerado.
Naquela soma de força e aceleração dos movimentos criados no ato desesperado, Keith sequer teria tempo a fim de retornar com a bola de ferro à sua vanguarda.
— Arte do Relâmpago. — O cacheado avançou, rápido, desferindo o primeiro golpe de cima para baixo. — Segunda Centelha...!
O estampido agressivo abalou as estruturas do salão devastado. Era como se um raio tivesse caído do céu naquele ponto; Keith e Helena ficaram surdos por um breve átimo.
Átimo esse que Damon aproveitou para saltar.
Enquanto a ferida cravou sua marca ardente no centro do torso do imperador, ascendente até atingir o queixo, o filho de Zeus preparou a espada.
No último ato de esperneio, o dominado pelas trevas lançou as correntes ao alto.
Só que o espadachim brandiu sua arma, lançando uma navalha de relâmpagos contra os elos metálicos, que se partiram em pedaços.
Ao atingirem o local, levantaram colunas de terra a se desprenderem do plano, trazendo o filho de Alecto junto.
Com sua arma destruída e os ferimentos gravíssimos, ele só abriu os braços, banhado pela luz que vinha da abóbada celeste.
“Isso... é...”, recuperando a sanidade aos poucos, encontrou a imagem bem lúcida de Damon, que saltou em sua direção e empurrou a espada para o perfurar.
— Três... Trovões!!!
Keith não pôde mover um músculo.
Apenas contemplou o raio azul se aproximar e, mais rápido que o pensamento, o perfurar na altura do umbigo.
Foi impelido agressivamente até retornar com as costas ao solo. A explosão de proporções grotescas se alastrou por todo o salão, derrubando os pilares responsáveis por mantê-lo em pé.
Helena tentou gritar por seu irmão, mas o ruído ensurdecedor engoliu sua voz.
Em um período diminuto, toda a estrutura da edificação foi comprometida.
Em menos de dez segundos, tudo que restou foram cinzas e fumaça, preenchidas por fagulhas elétricas e uma rala névoa negra.

— Você não ganhou uma vida de meu ventre para se tornar um fracassado. — A voz grossa daquela mulher ecoou contra o vento. — Você não irá me decepcionar. Não permitirei que o faça, de forma alguma.
Sob uma forte chuva, o menino de cabelo verde-escuro encontrava-se cabisbaixo frente a grande criatura, cujos fios de cabelo negros encardidos eram envoltos por um acessório metálico.
Ao lado dela estava um homem, também de estatura alta, a observar o pequeno garoto encharcado pela chuva, em silêncio.
Os olhos marrons de Keith encaravam o solo de pedra, que tinha algumas poças d’água acumuladas.
Em uma delas podia enxergar o próprio reflexo, perturbado pelas ondulações causadas por conta das incontáveis gotas a caírem do céu nublado.
Quanto às palavras proferidas pela imponente, não existiu resposta alguma.
Como um menino obediente, somente as aceitou em silêncio. Tampouco percebeu a própria tremulação, ocasionada pelo temor crescente dentro do peito.
— Pode se preparar, pois irei treiná-lo para que me supere. E, também, ao seu irmão. — Ela deu meia-volta e começou a abrir distância. — Espero resultados promissores.
— S-sim... mam...
— E não me chame disso. — Deu uma última encarada por cima do ombro. — Não me chame de nada até provar que merece.
Ao receber aquela ameaça, o aterrorizado menino apenas moveu a cabeça para baixo, um gesto positivo tímido.
O outro, o irmão, continuou a fitá-lo em absoluto silêncio. O semblante no rosto era parcialmente escondido pelos olhos cobertos sob a franja molhada.
Não esperou muito para se corrupiar.
O deixou ali, esmagado pela forte chuva, a fim de acompanhar o rumo tomado pela mãe.
O tempo nublado perdurou por alguns dias.
Como prometido, os treinamentos executados pela mulher, que dentre as poderosas irmãs era conhecida como a “Indomável”, foram intensos.
Para não dizer cruéis.
Não tinha tempo nem para respirar. Cada mínimo erro era retribuído com dor. Marcas surgiam por todo o corpo, até o rosto.
Arlen só observava as ações sanguinolentas da líder das Erínias. As sessões angustiantes, na qual o menino clamava por ajuda e só obtinha o dobro de sofrimento.
Seu inútil. Eu disse para você que não iria permitir me decepcionar!!
Eram as palavras repetidas pela enraivecida, conforme criava as cicatrizes profundas por pele e carne do garoto.
Você não tem pena dele? É seu filho, afinal.
Uma das irmãs indagara, demonstrando rara inquietação às condições desumanas proporcionadas pela mulher.
A resposta da Indomável nunca mudava.
Ele será meu filho assim que provar que merece tal posto. Jamais daria luz a um fracassado.
Ela não iria permitir uma criação frustrada como aquela caminhava para ser.
Faria o possível até conseguir mudar esse cenário.
Talvez seja a lei da vida. Você já tem o Arlen, apenas se livre do defeituoso.
Comentara a outra irmã, irônica, mas tão severa quanto a mais velha. O sorriso deleitoso acompanhava o sofrimento alheio cheio de regozijo.
E a Indomável continuava a recusar aquele seguimento.
Queria despertá-lo e então aperfeiçoá-lo ao seu modo, nem que levasse anos. Pelo menos se ele sobrevivesse até esse dia...
Ou então...
Se não for capaz de fazê-lo... irei apagar sua existência. Será bem melhor esquecer que um fracassado desse nasceu de mim...
Tudo caminhava a um final óbvio.
O herdeiro, que não teve capacidade de desenvolver o desejado por aquela que o deu uma vida, estava prestes a sucumbir ao fracasso da morte.
“Socorro”, ele clamou sem que pudessem escutá-lo.
O herdeiro, que não teve escolha durante toda a sua infância tortuosa, se derramava em lágrimas que ninguém podia enxergar.
“Alguém... me ajude...”
O herdeiro, que não tinha culpa alguma por ter nascido naquele mundo...
“Por favor...”, só desejou um Destino. “Só me matem...”
Um mero segundo foi o suficiente para isso mudar.
“Matem... elas...”
Quando o choro proporcionado pela absurda carga de sofrimento foi substituído pelo rancor, a escuridão abriu um sorriso em sua direção.
A última vontade, antes da chama da vida se apagar, fez surgir uma brecha satisfatória.
“Se deseja se livrar disso, então o farei por ti”, as palavras do ser intangível abalaram seu coração.
— Q-quem...? — O garoto sequer conseguiu se expressar.
“Por ser fraco que acabastes assim. Posso dar um jeito nesses problemas. Posso livrá-los de ti. Posso destruir esse sofrimento...”
— Eu... só quero... que isso acabe...
“Por isso nossas Essências se encontraram. E, agora, estão conectadas.”
Os olhos escurecidos do menino estremeceram de leve.
“Você permitiu isso. Agora somos um só, eu e você. Então, seu corpo se tornará o receptáculo, enquanto eu dominarei o Âmago e ei de erguê-lo... ao caminho dessa destruição.”
Incapaz de rebater, o menino fechou as mãos contra a terra úmida. Queria, de alguma maneira, mudar aquilo.
Porém, não daquela maneira. Não desejava ceder o próprio Destino às mãos daquilo.
Enquanto observava o sorriso daquilo que se apresentava a ele como uma sombra, entendeu, tardiamente, o motivo de ter a invocado...
“O que um simples desejo de segundos pode criar... é assustador até para mim!”
Incapaz de lutar contra a nova força que surgia em sua alma, o jovem cheio de cicatrizes dolorosas pôde ver a sanguinolência no sorriso estampado pelo outro.
Era como um reflexo do semblante daquela mulher. Que, de alguma forma, brotou em seu coração em um singelo e atípico instante, onde tudo estava para ser largado.
“Então, esse é o caminho que, por um mísero momento, você desejou”, o riso dominou a mente do menino, ao que mãos impuras tomaram forma. “Que sorte a minha... Não há ninguém para me impedir agora!”
Os braços se interligaram ao resto do corpo. A entidade estranha criou sua concepção ao receptáculo, conforme dominava a existência dele e a revertia em trevas.
A última imagem que pôde enxergar mostrou a aparência do ser obscuro.
Ele já envolvia sua alma, carne e ossos por completo.
Nenhuma chance de reverter tal domínio existia...
“De agora em diante, durma. Para sempre. Até que eu destrua tudo... por nós.”
Tendo perdido os sentidos do corpo, a audição puxou aquelas palavras finais conforme os olhos se fecharam lentamente.
Caído no chão, adormeceu para, logo depois, acordar.
Quando as vistas voltaram a se abrir, empurrou o corpo ao alto com a força das mãos.
Os ferimentos abertos, a soltarem fios de sangue com Ícor, não pareciam mais o incomodar.
Em um ato natural, moveu os braços em giros fortes. Depois verificou as pernas, executando saltos leves.
Estalou o pescoço. Ergueu a faceta, de olho no céu nublado. Pouco a pouco, as nuvens carregadas iam se dividindo, permitindo ao ciano natural escapar junto da luz do sol.
Soltou um suspiro de alívio. Então, projetou o sorriso sanguinário, mostrando os dentes encardidos.
Quando uma presença “familiar” se aproximou, virou a face por cima do ombro.
A mulher, que trajava um vestido escuro, postou-se à frente do garoto. Em um estalo rápido, os olhos de sangue semicerraram.
— Quem é você?
A indagação da Indomável fez o riso do garoto perder a intensidade maléfica.
Ele então virou o restante do corpo à vertente dela, levou a mão machucada ao peito.
— Ora, mas que pergunta, mãe! Sou eu; o Keith!
E respondeu sem peso algum nos ombros, com a íris de ambos os olhos tomados por um teor alaranjado-escuro.

Opa, tudo bem? Muito obrigado por ler mais um capítulo de Epopeia do Fim, espero que ainda esteja curtindo a leitura e a história!
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