Volume 10 – Arco 6
Capítulo 181: Armação Defensiva de Hélade
— Todos os Classe Herói em peregrinação foram devidamente informados — entoou Hermes, com a mão canhota sobre o peito num gesto cortês de respeito. — Assim como minha querida irmã pediu, foram indicados a permanecerem em alerta sob quaisquer circunstâncias. Portanto, devem rumar a Olímpia, a princípio, caso algum agravante ocorra.
Apesar da nova reunião no Monte Olimpo — apenas algumas horas após a última — a presença dos grandes deuses não se mostrava em sua totalidade.
Diversos tronos dos doze totais encontravam-se vazios, estando somente preenchidos os daqueles que frequentavam a região de forma costumeira.
O Rei dos Deuses, como sempre, altivo e quieto em sua imponência no trono superior.
Ao seu lado, a Deusa do Casamento e Rainha dos Deuses, como sempre, sorridente em sua plena austeridade.
Atena prestava atenção no sorriso cínico do irmão, responsável por mediar as palavras.
Nas laterais, os mesmos presentes da reunião anterior estavam sentados em cada assento de direito: os Deuses do Sol, da Lua, do Amor e o dos Mares.
— Agradeço profundamente, Hermes — comentou a Deusa da Sabedoria ao postar-se em frente ao assento. — Em adição, gostaria de pontuar que Fobos e Deimos deverão ser informados por Harmonia, aquela que recebeu a mensagem em Esparta, vista a ausência de ambos.
Hermes, ao ouvir o complemento da mulher, estalou a língua e virou o rosto, escondendo o descontentamento.
— Então quer fortificar apenas o Olimpo, Zeus? — resmungou Poseidon, sempre com seu tridente em mãos, apoiado ao lado da cadeira. — Você é engraçado às vezes.
— Creio que possa se cuidar muito bem, certo, meu irmão? — Quem falou foi Hera, os lábios envoltos num sorriso franco. — Afinal, você mesmo disse que não havia defesa melhor que a sua, certo? Pensei que tinha passado um recado sobre proteções e alertas máximos delegados a Atlântida seriam desnecessários.
— Se acalmem, meus pequenos — interveio Afrodite, tranquila e sempre sedutora. — Concordo com a pequena Hera, porém devemos estar atentos em cada pólis específica. São de tanta importância quanto.
— Concorda?... — O Deus dos Mares fuzilou a beldade com os olhos semicerrados.
— Sim, sim. Delegarei minhas forças em prol do desejo de meu pai, mas... — Apolo coçou o queixo, circunspecto. — De fato, prepararei os guerreiros de Delfos para agirem sob quaisquer circunstâncias.
— Por que eu insisto em aceitar os convites? — mussitou o oceânico, por meio de uma bufada exasperada. — Vocês são tão retóricos que eu chego a me enjoar.
Repetindo a conduta anterior, se levantou do trono em um rompante, capaz de estremecer o Salão dos Doze Tronos.
No meio do caminho, Hermes se assustou e correu para seu assento o mais rápido possível, deixando a passagem aberta para o austero homem seguir.
— Essa impaciência não te levará a lugar algum, Poseidon! — A ruiva voltou a proclamar do alto. — Onde está a “serenidade” que tanto prega!?
— Não se engane, irmã... — Antes de chegar nas portas, ele parou e encarou por cima do ombro. — Pode não parecer, pois você é incapaz de ver. Mas eu estou sempre sereno.
Por intermédio das sobrancelhas contraídas, disparou a encarada arrepiante à irmã, que boquiabriu com sarcasmo.
Depois de delegar sua ameaça velada, o deus deixou o local. Levou consigo a aura pesada e fria de praxe.
— Ele reclama e reclama, mas continua vindo. Isso que chamamos de “amor”, senhorita devassa? — Encarou de canto a loira, que não caiu na pilha.
— Pode ser uma forma de se destacar, pequena Hera.
E a resposta, sempre à altura e desprovida de vingança, deixou a Deusa do Casamento desinteressada.
Atena lamentou mais uma das batidas de pé do tio, mas considerou as ressalvas plausíveis naquele ponto.
Sem contar o fato de que ambos seus descendentes haviam sido enviados a uma missão suicida, muito influenciada por uma determinação de Zeus.
Era compreensível o estado irritadiço que demonstrara nos últimos encontros.
Ainda assim, nada além do que já estava resolvido poderia ser feito. O Pai dos Deuses permaneceria na autodefesa exacerbada até que qualquer ameaça fosse extinta.
Afinal, para ele, aquele era o pilar inestimável de toda uma Era — tanto a pólis quanto a montanha que a cobria.
Mais importava a plena manutenção desse domínio do que qualquer outro reino, cidade ou pessoa.
Nessa toada, ela varreu os arredores do salão com os olhos verdes. Encarou as reações, onde a maioria parecia concordar — ou, no mínimo, relevar — às decisões proclamadas.
A única que viu mais deslocada era a Deusa da Lua, silenciosa desde a reunião passada. Seus olhos se apresentavam um pouco menos altivos que os demais.
Perfeita em ler os semblantes, a sábia determinou que era a circunstância imaginada. Tinha partido dela as informações sobre a situação que se desenrolava, a princípio, nas duas frentes.
E a fonte de onde isso provinha, mantida em sigilo até então.
Deixou aquilo de lado por ora, no intuito de se concentrar em finalizar aquela reunião.
“Espero que estejam bem”, pensou sobre o grupo enviado à ilha das Moiras.
De todos os caminhos possíveis, em prol do bem ou do mal, o desfecho daquela história era o único impossível de se antecipar.
Pouco a pouco, o salão mais alto da montanha alada esvaziou.
Restaram somente Rei e Rainha, de costume, além da sábia, que ficou para fechar toda e qualquer ponta solta remanescente da nova reunião.
Orquestrados os últimos trâmites para o início da armação defensiva de Hélade, tomou liberdade para deixar o recinto sem trocar mais palavras com os dois superiores.
A passos apressados atravessou o corredor e, ao invés de tomar as escadarias, decidiu realizar um ato tantas vezes repreendido quando seu irmão assim fazia.
Desinteressada na atração da força da gravidade, subiu na balaustrada de gesso e saltou para as nuvens.
Ignorante ao peso das peças de armadura dourada nos ombros, pernas e torso, ela desceu andar por andar acima de cada cobertura na região celestial.
Sem delongas, alcançou o piso que dividia a parte superior à procedência mortal abaixo das nuvens.
Ali, onde Perséfone e sua filha permaneciam, dentro do cômodo singular, encontrou a Deusa da Lua encostada no parapeito.
Ela se surpreendeu ao ver que a sábia tinha descido daquela maneira. Nunca tinha a visto burlar a formalidade olímpica, principalmente na montanha.
— Perdoe-me a demora. Peguei um atalho indigesto, senão Hermes encheria a paciência... — falou com certo receio na voz, enfadada com a atitude extrema que tomou. — Também agradeço por ter aceitado meu convite.
Antecipadas as dúvidas de Ártemis, ela saltou para dentro do pátio semiaberto.
Mesmo ao fazer tais movimentos, o toque das botas de armadura no solo não produziu qualquer ruído.
— Não há de que, irmã... — Ainda um pouco aturdida com o ato da mulher, a lunar deu a volta na mesma posição. — Sobre o que desejava falar?
— Como está a filha de Hebe? — indagou o mais baixo possível, no intuito de evitar ouvidos bisbilhoteiros.
Espantada, mas nada surpresa, com a pergunta, olhou para o chão e, depois, virou o rosto em direção ao horizonte novamente.
— Se recuperando bem, assim como Elaine. Também ficou um pouco mais calma, então, com o tempo, poderei conversar melhor com ela. — Fez uma breve pausa, à medida que a lufada invadia o átrio. — Se Hermes contar...
— Ele não irá. Já lhe garanti isto.
A interrupção feita pela purpúrea foi firme, criando um singelo período de quietude entre ambas.
Apenas o uivo da brisa do anoitecer se pronunciou durante aquele intervalo.
— Devemos mantê-lo distante dela sob absoluta instância, independentemente ao fato de ele estar ciente sobre sua presença em vosso templo. — Franziu o cenho, também em contemplação à paisagem. — Caso o que diz seja verdade, as circunstâncias só tendem a piorar...
— Confesso que não possuo vossa habilidade para determinar verdades e mentiras só de olhar. Mas o que pude sentir não parecia ser mentira... — Lembrou-se da conversa derradeira que teve com a menina de olhos róseos. — Com certeza aquilo não era fruto de manipulação. Os olhos dela são iguais aos de nossa falecida irmã. Por isso, a cólera que emanava deles... tenho certeza de que não era uma mentira.
Atena permaneceu pensativa antes de tirar outra conclusão a partir da declaração da semelhante.
Não existia motivo algum para ela, uma das deidades mais confiáveis que podia se ter ao lado, mentir ou omitir a respeito.
Por conta disso, pôde entender a posição na qual a lunar se encontrava com relação à jovem.
— Permaneça a mantendo sob sigilo.
— Não precisa se preocupar com isso. — Tornou a levantar os lábios num sorriso leve. — Felizmente não estou sozinha nessa empreitada.
— Isto é ótimo.
— Portanto, com sua licença...
Sem ter mais o que discutir, a noturna executou uma rápida mesura e corrupiou-se na vertente das escadarias.
Sozinha de novo, Atena respirou fundo. Parecia que quanto mais o tempo avançava, mais assuntos complexos surgiam.
Restou a ela, antes do sol se pôr por completo, observar os corcéis responsáveis por compor o limite do belo cenário.
Lá e cá, a decisão do futuro daquela Era já estava sendo decidida.
Enfim encerrada a audiência no Olimpo, Ártemis pegou o caminho principal das Passagens Espectrais de volta a Éfeso.
Depois de minutos, desceu o caminho arco-íris na região de gramado ao redor do grande templo.
O sol já se punha por inteiro àquela altura. As estrelas pulsavam destacadas na extensão superior escurecida.
Graciosa, a divindade lunar foi até os degraus pequenos de acesso ao santuário.
Encarou o símbolo da lua no topo da fachada por alguns segundos, até o rangido da porta se antecipar a sua entrada.
A menina de cabelo azul-escuro ostentava um tapa-olho sobre o olho direito, cuja cicatriz mostrava suas extremidades na bochecha e na testa.
Os fios lisos e soltos ao natural traziam ralas ondulações nas madeixas que tocavam os ombros.
— Bem-vinda de volta... — O mussito de recepção tirou um sorriso benévolo da superior.
— Obrigada, Elaine — devolveu, aceitando a entrada oferecida pela filha.
Ártemis entrou, fechando a passagem junto com a filha.
Logo na sala de estar, se encontrou com a garota de cabelo cor de rosa, sentada com ambos os pés sobre a poltrona — as pernas dobradas eram abraçadas e se grudavam ao torso.
Apenas encarou as anfitriãs de canto.
Os olhos, em um tom róseo mais vibrante, cintilavam; as sobrancelhas, porém, transmitiam a característica frieza da inimizade.
— Olá, Bluebell — saudou a deidade, visto que a visitante tendia a ignorar.
— Encontrou o deus que matou minha mãe? — A retruca veio curta e grossa, mas não abalou a mulher.
— Não falaremos disso agora, está bem? — Avançou na sala e sequer lhe deu a chance de desafiar. — Seus ferimentos ainda não cicatrizaram por completo. Deveria estar descansando.
— Já falei pra parar de se preocupar comigo — sibilou para os joelhos, onde a boca quase tocava ao inclinar o rosto.
— E eu já falei que é o que devo fazer por você, filha de minha preciosa irmã e amiga. — Ártemis cerrou os punhos de súbito, trazendo o foco das garotas a suas costas na passagem ao corredor. — Cuidarei de você mesmo que isso me mate.
— Mãe...
Sensitiva quanto à influência enervada da genetriz, Elaine levou a mão canhota sobre o peito.
Bluebell, por outro lado, nem percebeu a boca ligeiramente aberta em surpresa. O desejo de ir contra a mulher permaneceu, só que não foi adiante.
Apenas se levantou da poltrona num salto rápido, deu meia volta e caminhou na direção dela.
Sem sequer trocarem olhares, passou ao seu lado e acessou o corredor responsável por conduzi-la ao quarto oferecido pela anfitriã.
Essa que, enquanto a observava regressar ao descanso sem conflitar, exalou um lamento pesaroso.
De todas as demonstrações possíveis, jamais queria revelar a cólera suprimida dentro de si daquele jeito.
Tal sensação foi apaziguada quando sentiu a palma tenra de sua filha lhe tatear.
Encarou-a de cima, quase sobre o ombro.
No fim, aceitou o gesto ao arriar o olhar, para deixar os problemas recentes de lado.
Aos poucos, a filha de Hebe oferecia indícios de melhora no caso da obscuridade. Pensou que seria imprudente tentar apressar o fluxo normal da recuperação.
Deveria permitir que o tempo trabalhasse no psicológico da garota, tão maltratada pelo destino.
“O que você faria no meu lugar, Hebe?”, respirou fundo, acusando o cansaço da delongada reunião no Olimpo.
Mesmo os grandes deuses precisavam de descanso.
A Deusa do Amor tomou o mesmo rumo, embora a outro destino em específico.
Recebida pelas chamas magentas que davam tonalidade peculiar à cidade de Corinto, desceu das Passagens Espectrais em direção à colina costumeira.
— Obrigada por esperarem — anunciou aos dois garotos de sempre, ambos voltados a vertentes opostas e cobertos pelo horizonte. — Como uma dupla provisória, mas que vem tendo sucesso nas últimas tarefas, tomarei a liberdade de supervisioná-los na defesa contra os Imperadores da Trevas, assim como combinamos anteriormente.
Conforme as sobrancelhas da venustidade arriavam, em detrimento da proficiência sorridente, Arthur e Meade se prestaram à absoluta quietude.
— A partir desse dia, serão delegados à cidade de Atenas.
Ao complemento dela, ambos chegaram a trocar olhares, o que não era tão habitual.
— Por que Atenas? — perguntou o de cabelo verde, sempre em sua atitude cansada e preguiçosa.
Afrodite alargou o sorriso, deixando que o cabelo sedoso dançasse no espaço.
— Uma cidade grande sempre chama a atenção. Além disso, pequena Atena possui inimigos pessoais nessa situação. — Abriu a mão destra e estendeu-a para eles. — Quero que fiquem atentos sob qualquer ataque que ocorra contra ela. Vocês dois são mais do que suficientes para essa parte da tarefa.
O abatido coçou a cabeça, à medida que o loiro, em paralelo, assentiu sem abrir a boca.
“Ela com certeza irá para lá, caso seja realmente um ataque direto”, divagou a bela deidade, os olhos encarnados fitavam o poente solar próximo a ser concretizado.
— Se era só isso, então que seja — rezingou de novo, não perdendo tempo em tomar o rumo descendente do relevo relvado. — Só espero que isso seja rápido...
Arthur tomou semelhante conduta ao ultrapassar a superior, desprovido de reclamações ou assertividades verbais.
Sabia que não teria outra opção senão aceitar a demanda oferecida pela mediadora daquela questão.
Ela, inclusive, observou a despedida prematura da dupla e exalou um suspiro rápido entre os dentes.
— Estou bem curiosa, para falar a verdade — mussitou consigo, mirando as primeiras estrelas a pulsarem no céu noturno. — Aliás, acho que já está na hora de visitá-las de novo...
Deixou as palavras serem levadas ao vento de maresia.
Opa, tudo bem? Muito obrigado por ler mais um capítulo de Epopeia do Fim, espero que ainda esteja curtindo a leitura e a história!
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