Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 11: Enfeitiçadora [Segunda Sirena]

Um pouco de sangue espirrou no espaço, até a cauterização se fazer efetiva nas costas da mulher-pássaro.

A lâmina banhada com as Chamas do Purgatório retornou na tentativa de um segundo ataque.

Thelxiepia respondeu da mesma forma. Quase sangrando pelos olhos com ódio e agonia, levou o braço direito na direção do rosto dela.

Depositou tudo que tinha em busca do golpe derradeiro.

Lilith desviou do revide com um pulo rápido.

Avançou até o flanco contrário do ataque anterior.

A agilidade nos movimentos se aproximava a um nível no qual a sirena jamais cogitou enfrentar.

Durante a finalização da investida secundária, onde o releixo em chamas se aproximou para lhe retaliar, foi obrigada a retirar as patas do solo.

Usou sua única asa em prol de se jogar ao outro lado.

Mesmo tendo sucesso em esquivar do ataque veloz, sentiu algumas penas serem queimadas pelo alcance dimensional da escaldante camada energética.

Fincou as garras no chão, no intuito de interromper o arraste, e subiu o olhar que contemplou a adversária no preparo para a terceira investida.

A postura vacilou graças à proliferação das dores, vindas de todos os ferimentos do corpo — com destaque à mais recente.

Ao buscar o equilíbrio necessário para não sucumbir, pensou no método de batalha avassalador da oponente.

Nem mesmo contra Damon, até então a maior ameaça do trio para ela, passou por tamanho sufoco.

O combate de pressão orquestrado pela ruiva provava-se além da eficácia.

“Mal consigo respirar!”

A criatura não conseguia encontrar espaço que lhe permitisse sequer pensar em fugir. O caminho até o triunfo ia se revelando cada vez mais apertado.

O cheiro das penas carbonizadas invadiu suas narinas, o que a deixava desconfortável.

Aprofundou as unhas nas próprias palmas, em busca de superar a agonia alastrada pelo torso machucado.

De repente, o revestimento flamejante sobre a lâmina curvilínea ganhou volume e liberou uma nova onda de calor.

A apóstola desapareceu de sua linha de visão turva. O próximo ataque veio em um instante, num corte horizontal recheado de agressividade, que procurava arrancar o braço da inimiga.

Thelxiepia precisou se desdobrar para evitar o pior com a asa restante, mais uma vez.

Àquela altura, nem mesmo Silver parecia crer em um desfecho que não fosse de vitória protocolar para a aliada.

Ainda acumulava certo receio quanto a capacidade omitida da adversária, porém o desenrolar da situação não estava mais sob controle dela.

Damon reconhecia os esforços da criatura, que lutava pela própria vida com todas as forças e ainda procurava alguma expectativa no triunfo.

Talvez saber da morte precoce da irmã, além de ter sido um tremendo baque, gerava o combustível necessário para que continuasse contra o destino inevitável.

Só que nada ia a seu favor...

O espanto a dominou quando uma árvore inteira foi carbonizada, embora nem tivesse sido atingida pela foice.

O fogo se alastrou em alta velocidade contra as folhas e os galhos, a exemplo das plumas da asa arrancada há pouco.

A coroa de chamas originou um foco de incêndio na região.

“Essa garota... não, todos esses desgraçados! O que diabos eles são!?”, a mulher não conseguia mais evitar que o desespero dominasse sua alma.

Insistente até o fim, freou através das grandes patas e socou o chão com vigor. O impacto grotesco abalou a terra e atrapalhou o novo ataque da garota.

Voltou a se levantar.

Procurou correr ao bater o membro anterior, no objetivo de adquirir velocidade extra durante o deslocamento.

Entretanto Lilith a acompanhou sem dificuldades e sussurrou:

— É inútil.

Assolada por um calafrio horripilante, a sirena tentou a atingir com as garras da mão canhota. A oponente esquivou para baixo e retornou com um corte ascendente.

A incisão partiu da altura do umbigo até alcançar o ombro arqueado. Seus seios, cobertos pelas penas marrons, foram totalmente lacerados.

Responsáveis por revestir boa área do torso, as epidermes foram preenchidas pelas chamas carmesim, causando um dano violento a sua integridade.

O sangramento jorrou pelo ar, mas a cauterização quase instantânea se repetiu e o fez parar. Restou somente a marca, brilhante como o processo abrasivo de um carvão mineral.

O líquido escuro também escorreu pelos cantos da boca. Os olhos paralisaram, arregalados.

Experimentou todos os membros arderem em dor; era como se o fogo tivesse penetrado seu interior através do corte.

Todavia o baque maior veio na sequência.

De súbito, as forças se esvaíram pelo espaço e suas costas sucumbiram sobre a terra.

O rosto virado não obtinha forças a fim de retomar a posição, fazendo com que os fios do cabelo cobrissem as vistas.

Um lado inteiro de seu torso estava destruído.

Tudo indicava que a derrota se aproximava a passos largos. Incapaz de apresentar qualquer reação, sua Energia Vital esvanecia aos poucos.

Ao observar do alto, Damon comentou:

— Acho que acabou. Com você também foi tão fácil assim?

Encarou Silver de soslaio.

Ele suspirou ao responder:

— Um pouco. Mas essa daí nem usou a habilidade dela.

— Habilidade?...

Mediante uma faceta dúbia, o olimpiano voltou a encarar a cena do embate.

As chamas na lâmina portada pela companheira se extinguiram. Ela avançava a passos curtos na vertente da adversária derrubada; ao fitá-la imóvel, decidiu conferir se estava morta de fato.

Assim que identificou sua energia prestes a sumir, levou em consideração a dispensabilidade em fazer algo a mais.

Os ferimentos dela possuíam gravidade considerável. As chances de a mulher conseguir se reerguer eram baixas.

Só não fazia ideia de que ela sequer precisava fazê-lo.

Do rosto congelado, um sorriso fraco brotou.

A jovem deusa tornou-se alerta, mas jamais adivinharia a próxima atitude da mulher-pássaro: em antecipação, entoou a voz rouca da boca trêmula.

Damon estreitou as vistas. Buscava compreender o intuito da adversária quase morta.

— Recomendo tapar os ouvidos.

A entonação elevada na voz de Silver indicou que a mensagem não tinha apenas o filho de Zeus como remetente.

Contudo a própria Lilith demorou a executar qualquer ação.

Esse breve instante foi crucial a favor da criatura.

A lembrança do desmaio na floresta retornou. Em ocasião semelhante, uma melodia suave foi a encarregada de lhe penetrar a audição durante a caminhada.

Por fim, mediante um arrepio ávido, deu-se conta sobre o significado da tentativa final de Thelxiepia.

Durante esse momento ligeiro, moveu-se para dar o golpe de misericórdia com a foice aberta. Precisava interrompê-la antes que a consonância fosse efetivada.

“Cortar sua garganta!”, visualizou o golpe simples e certeiro que iria desferir em prol de finalizar tudo.

Antes disso, a melodia da monstruosidade ganhou ritmo e alastrou-se por todo o território na velocidade do pensamento.

Quando a jovem iniciou a descida do braço, alavancando a foice contra o alvo... tudo congelou.

O corpo se recusou a obedecer aos comandos cerebrais, que lhe induziam a avançar. Decidiu seguir o comando do prateado, porém a ação tampouco pôde ser realizada.

A paralisia a dominou em milésimos.

A dupla sobre as árvores concentrou energia ao redor dos corpos, a fim de rebaterem as ondas sonoras.

Graças a isso, precisaram limitar as movimentações mais ínfimas possíveis.

“Idiotas... não vai adiantar”, a sirena alargou o sorriso, sem deixar de proliferar seu Canto.

A intensidade foi elevada de forma gradativa, começando a oferecer maior dificuldade ao controle dos afastados.

O som grave carregava um tênue timbre aveludado.

Passeava por toda a floresta, a ponto de alcançar o litoral, onde o barco encontrava-se atracado.

Os tripulantes experimentaram uma inércia súbita. Por outro lado, o comandante sentia arranhões estranhos percorrerem todo o seu torso.

As cicatrizes da terrível experiência começavam a gritar contra o coração. Sendo maior que todas as marcas exteriores, tal ruído jamais poderia ser esquecido pelo grisalho.

Flashes deturpados lhe corroíam a mente. Pegou-se incapaz de não relembrar dos momentos de terror que tinha vivenciado ao ser atraído para aquela ilha.

O resultado regressava como um turbilhão doloroso por todos os membros.

As cenas em que todos os companheiros eram brutalmente assassinados ardiam das profundezas obscuras da alma.

— Por favor... acabem com isso! — suplicou, à medida que entrelaçava os dedos estremecidos.

O Canto de Thelxiepia não somente alcançou a embarcação, como também se espalhou por todos os lados da ilha.

No ápice da consonância, a mulher começou a recuperar a consciência, impondo ainda mais vigor nas cordas vocais.

Lilith tentou de tudo, porém os estímulos do corpo trêmulo não mais eram atendidos. Nem mesmo estalar a língua de raiva conseguia.

— Agora... venha até mim...

A sirena alterou ligeiramente a harmonia vocal ao executar a ordem, em desprezo à finalização do canto.

Dito e feito, a garota foi conduzida por um solavanco estranho contra o torso. A cabeça abaixou, em companhia ao avanço forçado do pé esquerdo, o primeiro passo trepidado.

Na sequência, a perna destra seguiu o caminho.

Durante a realização desse deslocamento, os braços rígidos arriaram sem forças.

A franja ruiva criou uma sombra sobre os olhos, agora escondidos a quem via de frente.

A cena trouxe êxtase à mulher-ave.

O desejo de gargalhar perante a situação era imenso, mas não podia deixar a concentração se esvair.

— Lilith?... — Damon torceu uma das sobrancelhas, sem entender o que acontecia.

Enquanto isso, ela prosseguia de modo esquisito, sem obedecer aos comandos naturais enviados do cérebro.

Após cinco passos dificultosos, sem parar, aproximou-se da região onde a sirena encontrava-se caída.

— Isso, venha...

Ela não podia se deslocar muito bem por conta dos ferimentos, portanto visava lhe matar daquele jeito. Em seguida, ordenaria à dupla adiante que fizesse o mesmo.

Preparou as garras do palmo canhoto, a única parte superior intocada até então.

“Ninguém que escuta meu Canto Enfeitiçador pode se livrar de seus efeitos!”, o sorriso se contorceu na face enrugada.

Em percepção ao novo nível de ameaça, Damon e Silver decidiram agir.

Foi nesse breve átimo que uma influência aterradora, de súbito, aflorou sobre o campo de batalha.

O sorriso da criatura se desfez no mesmo instante que foi atingida por um calafrio sem igual. O alerta quanto à funesta ameaça não lhe deliberou reações.

Sobrepondo-se às ondas sonoras do próprio Canto, a aura liberada pela inimiga esmagou seus privilégios.

Formou-se uma silhueta ao alcance dos olhos da única que poderia enxergar.

A face da garota se ergueu, trazendo traços de um semblante sinistro que era de qualquer outra coisa, menos dela.

O formato da energia ao redor originou uma sombra nada natural.

“O quê?!”, ao vislumbrar tamanho horror, a mente da monstruosidade foi tomada por uma pane.

Sequer fazia ideia sobre ser a única capaz de encarar tamanha aura, semelhante a um monstro nefasto pronto para lhe ceifar.

O peso sórdido, todavia, também recaiu sobre os ombros dos garotos a alguns metros.

Quando a figura estranha esvaneceu, o feitiço imposto pela mulher foi vencido.

Através dos dentes rangidos, a garota recobrou a consciência e trouxe a foice até acima da cabeça.

Arte do Submundo, Quarta Morte — enunciou através de uma voz um pouco embargada.

Ao invés de cortá-la como desejado, desceu a arma até fazer a extremidade inferior do cabo contatar o solo.

Não passou de um toque sutil, responsável por espalhar centímetros de terra.

Levou pouco tempo até que Thelxiepia identificasse uma elevação de temperatura sob as costas.

Em velocidade absurda, camadas finas de fumaça passaram a se desprender de suas plumas.

A onda calorosa só cresceu e cresceu.

Antes que pudesse entoar algo, toda a delimitação do solo ao seu redor ganhou uma escurecida tonalidade de escarlate.

Defronte ao sorriso animalesco da morte, as labaredas subiram do tapete terroso, lhe trazendo o desespero definitivo.

Pilares do Inferno.

Ao complementar, a luz regressou a cada íris rubi, encarregadas de arrancarem o que restava de sanidade da sirena.

A superfície tremeu, se despedaçou e foi rapidamente carbonizada quando um gêiser de chamas rubras subiu.

O local escurecido ganhou uma tonalidade quente.

A última visão da criatura foi a da jovem de caudas gêmeas, ainda envolta por uma fina camada de obscuridade.

Huhum!

Pôde escutar um riso ecoar.

Parecia um deboche declarado a sua tentativa de utilizar o Canto.

“Isso é... um de...!!”, sequer pôde finalizar o pensamento.

Engolida pelo fogo rubro, desapareceu em questão de milésimos.

Para completar a cadeia de eventos, uma poderosa explosão fez boa parte do pedaço terrestre fremir.

Durante aquele período, os mortais no barco pensaram ter sido uma erupção do perigoso vulcão em atividade.

Só depois que encontraram a enorme estrutura flamejante, ultrapassando as densas árvores da mata.

Na soma da bela imagem aos olhos arregalados da maioria, a melodia aterrorizante desapareceu.

Nem imaginavam que, naquele ponto, a apóstola causava e contemplava a finalização da inimiga irritante.

Sua pele fora cremada à carne, que passou do ponto sem delongas. Um mau cheiro enjoativo misturou-se ao aroma natural da combustão.

Junto à única asa restante, as penas foram reduzidas a pó num piscar.

A mulher ainda tentou berrar qualquer coisa, porém a voz não mais conseguia escapar. Sem sentir algo além de vazio, largou o restante das forças e permitiu ao destino levar sua vida.

O pilar de fogo originado pela Autoridade da garota se desfez aos poucos. A presença da criatura se transformou em cinzas, que se misturaram à terra ao caírem.

A faceta sombria também desapareceu, ainda que a influência adicional persistisse por um breve período.

Suas caudas gêmeas continuavam a bailar, movidas em virtude da brisa tórrida.

“O que foi isso?...”, Silver divagou em estado de alerta, após acompanhar a manifestação desconhecida que irradiou da aliada.

O olimpiano, pelo contrário, respirou fundo.

Também tinha presenciado, por um instante, a imagem captada pelo argênteo.

Sem hesitar, desceu do galho na frente; os pés envoltos pelas sandálias de cabedal experimentaram a quentura da terra.

Lilith girou a foice e apertou o botão central com o polegar. Em execução ao trajeto contrário, a arma volumosa regressou ao formato de base; o pequeno punhal.

Guardou-a de volta no cinto de ossos que sustentava o vestido acinzentado. Ao girar sobre os tornozelos, encontrou o olhar silencioso do parceiro cacheado.

Durante a troca silenciosa, caminhou com serenidade, em reunião ao parceiro.

— Trabalho encerrado... — A proclamação conclusiva soou junto com um suspiro de alívio.

Damon a ultrapassou sem proferir qualquer palavra em retorno. Apesar de sentir certo incômodo com a atitude, a garota somente o observou de perfil, através do semblante soturno.

O rapaz reduziu a distância aos restos da inimiga. O odor carbonizado infestava a terra.

— Você foi impiedosa mesmo — murmurou com a mão sob o queixo. — Ainda ‘tava irritada com o que aconteceu mais cedo?

Lilith ergueu as sobrancelhas, porém escolheu não responder. Não obstante à aparente frustração no timbre do companheiro, escondeu o olhar sob os fios avermelhados que caíam das franjas.

Silver desceu após um tempo. Seguia em busca de entender o que havia presenciado no instante que a companheira superou o Canto da sirena, para então a derrotar na sequência.

— E você teria deixado alguma parte do corpo da outra? — O cacheado olhou por cima do ombro ao questioná-lo.

Um pouco surpreso com aquela pergunta, semicerrou os olhos frígidos. Incapaz de concluir o objetivo do respectivo em tocar no assunto, preferiu responder:

— Eu a cortei em dois. — Ao mesmo tempo, tentou evitar qualquer encarada vinda da garota. — Seu corpo está no meio da floresta. Não o tirei de lá.

— Isso é bom... — O filho de Zeus projetou um fraco sorriso.

Após conferir a região devastada pela Autoridade da aliada, caminhou de volta à trilha apontada pelo prateado.

Ainda desentendidos quanto às pretensões do olimpiano, a dupla silente resolveu o acompanhar.

Passado um tempo, o trio alcançou o local onde o corpo da primeira inimiga se encontrava. O espadachim puxou a arma, agachou-se diante dela e travou a mira no pescoço imóvel.

No momento que os dúbios o alcançaram, passou a lâmina na área almejada e removeu a cabeça da falecida.

— Então... o que você pretende com isso? — Lilith torceu uma sobrancelha ao perguntar.

— Ainda resta uma. Como você mesma disse, é minha vez. — Mostrou o rosto pálido de Ligeia, a segurando pelo cabelo loiro. — Vou levar esse presentinho pra provocar a última.

Nenhum dos dois ficou impressionado ou sequer enojado diante da cabeça decepada.

— E depois eu que sou impiedosa...

— Vai facilitar as coisas.

Ao receber o tom circunspecto do parceiro, a ruiva engoliu em seco, à medida que uma gota de suor escorria pela lateral do rosto.

Em silêncio, inapta a oferecer uma réplica, acompanhou-o amarrando a cabeça da criatura sob o cinto de linho azul.

Quando completou a preparação, encarou as copas das árvores. Pôde enxergar um pouco do céu nublado.

Qualquer passagem de luz era anulada pelas nuvens carregadas. Por conta disso, o centro da floresta portava uma tonalidade mais umbrosa.

“Aquele velhote deve estar irritado com algo”, experimentou a brisa forte bater no rosto, as pontas bagunçadas do cabelo cor de vinho meneavam no espaço.

— Enquanto eu cuido da última, preciso que façam algo pra mim. —  Estreitou o olhar contra os dois.

— Eu recuso. — Silver deu meia-volta, mediante um suspiro fraco. — Já que vai decidir o que fazer, voltarei ao barco. Se os dois morrerem no final, eu mesmo cuido das coisas.

Sem pestanejar, manteve a determinação em não ficar mais tempo algum junto deles.

Acenou de costas com o braço dominante e seguiu em frente pelo trajeto contrário, deixando os dois incapazes de rebater.

E os próprios optaram por não questionar a decisão — em princípio a garota, preocupada com a maneira na qual fora encarada pelo respectivo.

Possuía consciência do motivo, mas preferiu manter a quietude, enquanto segurava o antebraço oposto.

— Então ‘tá. Não faz muita diferença. Podemos terminar o trabalho.

Ao encontrar a inquieta logo ao lado, lhe tateou o ombro tenso, na projeção de um singelo sorriso a fim de motivá-la.

A apóstola apertou o palmo dominante contra o próprio peito, passando a acompanhá-lo através de passos apressados.

Mesmo após ter vencido a adversária, ainda desejava ter sucesso durante a reta final da tarefa.

O semblante determinado foi erguido, até que se juntou em paralelo ao avanço do parceiro.

— Do que você precisa?

— Vou atrás da última, como combinamos. Só preciso retomar o aroma do sangue que estava seguindo pra encontrá-la — respondeu sem deixar de mirar o trajeto adiante. — Enquanto eu faço isso, preciso que você tente encontrar algum sobrevivente da ilha.

— Então é isso...

Abaixou os olhos por poucos segundos.

Enfim recebeu os detalhes escondidos por sua justificativa, há pouco.

— Mas você ainda acha que há alguém vivo aqui?...

Contemplou os arredores, ao passo que trespassava o local do conflito contra Thelxiepia.

O clima ainda irradiava certo calor, em virtude da energia proliferada.

Até então, não avistara um sinal de vida na Ilha Methana, à exceção das Sirenas.

E, de certo, seria estranho caso algum mortal, fosse membro da corporação ou não, ainda estivesse vivo dentro do domínio delas.

Damon também sabia disso. Só que seu poderoso olfato o indicava a uma possibilidade de superar as expectativas.

— Além do sangue, eu consegui sentir algo diferente, antes do aroma dessa que o quietão matou aparecer.

Tanto ele quanto a ruiva olharam para a cabeça de Ligeia escondida sob o manto, ao que ele prosseguiu:

— Por isso, podemos arriscar, já que duas primeiras se foram.

Quando se deu conta, a jovem se viu em um plano aberto — tratava-se de outra praia, indicando uma nova área do grande pedaço de terra.

Damon apontou à frente e ela seguiu o caminho que seu indicador mirava, logo tomada pela surpresa.

Ainda poderia existir alguma esperança para qualquer um que tivesse chegado naquela ilha.

O sopro de fé em prol dos possíveis sobreviventes manifestou-se quando a dupla encontrou a carcaça de um navio.

Era semelhante ao que os trouxe até o local da missão.

Naquele instante, gotas de chuva começaram a pingar sobre suas cabeças.



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