Volume 1 – Arco 1
Capítulo 10: A Natureza Dela - EM CHAMAS
Enquanto Silver encarava a sirena com a mão posicionada acima da empunhadura de sua lâmina, Lilith estava de punhos cerrados e cabeça levemente abaixada.
A franja mediana sombreava os olhos fechados.
Os braços pareciam estremecer tanto quanto a postura da mulher-ave, incapaz de tomar alguma decisão cabível.
Naquele estado, restava a ela manter as asas que cobriam o torso.
Embora nenhum dos jovens tomasse alguma ação — incluindo Damon, atrás de si —, se recusava a renunciar à posição defensiva.
Silver já estava preparado para desembainhar sua arma a qualquer instante, porém resguardou a postura sem antecipar um movimento ofensivo.
Embora ciente quanto a ótima oportunidade, considerou aguardar pela resposta da situação paralela.
Como uma reação direta a isso, Lilith caminhou os primeiros passos ao sacar o pequenino punhal rubro-negro do cinto de ossos.
Durante o avanço dela, a sirena reposicionou as asas defensivas e preparou as garras para qualquer contragolpe.
No fim a apóstola só lhe ultrapassou, sem desferir nenhum ataque.
Uma brisa quente se proliferou por todo o flanco direito. Ficou a dúvida sobre como responder àquele tipo de comportamento.
Ponderou, no desespero, a possibilidade de ser uma distração que favorecesse a investida do jovem prateado.
Nada ocorreu, entretanto.
Cresceu o dilema entre se virar a fim de perseguir o avanço dela ou continuar frente a frente com o rapaz.
“O que está acontecendo!? Por que não consigo me controlar!?”, a sirena mal piscava, em vista das ameaças silenciosas.
Ela jamais cogitou um apavoro daquele nível.
Começava a sentir vergonha de si mesma, a ponto de morder o lábio com força...
Graças a isso, demorou a perceber o verdadeiro intuito da garota no momento. E não era atingi-la.
— Hm? — Quem reagiu espantado foi o olimpiano, nas rédeas do combate até então.
— Damon...!
A garota de caudas gêmeas tentou acertá-lo com o punhal.
O filho de Zeus segurou o punho dela e conseguiu bloquear, por pouco.
“Ela o atacou!?”, a criatura ficou ainda mais boquiaberta ao presenciar o repentino desentendimento entre os companheiros.
Se esforçava a fim de balancear a atenção entre a dupla conflitante e o garoto tranquilo, que respondeu através de um suspiro enfraquecido.
Ele mesmo desistiu de tomar a ofensiva contra a sirena, constrangido diante da cena em questão.
De qualquer forma, Damon apresentava-se calmo, o total oposto da aliada efusiva. Ela sequer forçava o braço após o ato protetor do rapaz.
— Por que saiu me deixando pra trás assim!? — rugiu como jamais havia feito durante a missão.
— Só queria adiantar as coisas. Por que tu cismou de me atacar assim, ao invés de acertar a inimiga que ‘tava na sua frente?
Os dois cruzaram olhares, com os rostos bem próximos. Só então a garota o desviou um pouco, acalmando o impulso interior.
À parte, a sirena lhes encarava, inapta a crer no que os olhos acompanhavam.
Sua espinha, contudo, foi dominada por uma influência congelante ao remeter à posição na qual se encontrava. A possibilidade de ter entregado a brecha para ser atacada elevou-se num piscar.
A fútil desavença que deveria lhe favorecer, causou o efeito reverso. Decidiu corrupiar-se com o objetivo de impedir o pior.
Quando completou a volta com braços, garras e asas preparadas, não viu nada além de árvores.
Experimentou o deslize de uma gota de suor sobre a face petrificada. Agora, a brisa gelada se espalhava por toda a lateral esquerda da postura.
O apóstolo prateado tinha adotado a mesma medida que sua aliada há poucos segundos.
Num novo giro brusco, Thelxiepia enxergou o trio se reunir mais uma vez.
Tal configuração indicava o fim de toda e qualquer vantagem que alguma vez já possuíra em todos os confrontos.
Tratava-se de uma fiel reorganização da batalha travada em alto-mar.
O desfecho dessa em questão regressou com clareza pela mente deturpada...
“Esses dois são sempre assim?”, Silver desistiu de sacar a arma pronta na cintura.
Suas sobrancelhas franzidas ditavam o semblante incomodado, ciente de que jamais poderia se dar bem com aqueles dois.
Ao serem fuzilados por seu olhar frígido, Damon e Lilith resolveram dar trégua à interação sem sentido.
Ela recuou o braço que carregava o punhal, um tanto encabulada ao reconhecer a própria conduta.
Ele seguiu o exemplo ao largá-la, e apontou com o queixo à capa do silente:
— Então, qual é a dessa mancha de sangue enorme aí?
— Fomos atacados por uma das Sirenas, no caminho da floresta. Eu a matei, enquanto ela estava adormecida. — Fechou os olhos sem precisar apontar à retraída.
Thelxiepia também pôde escutar a resposta do garoto. Logo se lembrou das informações que o clima de tensão, formado pela chegada deles, apagou.
“Ma... tou?”, ainda demorou a digerir as palavras proferidas por ele, sem tomar conhecimento sobre as consequências que elas traziam.
— ‘Pera, tu dormiu?... — Damon a indagou.
A jovem cruzou os braços, na tentativa de mostrar firmeza pela retruca:
— Foi aquele Canto dela, ou sei lá. Eu nem tinha me preparado para aquilo... você só deu sorte de ter conseguido resistir.
Silver deu de ombros, fugindo da atenção dela. Os olhos se dirigiram à incrédula sirena, agora à par do ocorrido de minutos atrás.
O olimpiano e a ctónica fizeram o mesmo, mais contemplativos após a conclusão do atrito.
Os punhos da criatura se fecharam sem que a própria percebesse, contraídos com tanta força que os ossos poderiam despedaçar a qualquer momento.
— Vocês... fizeram o quê com a Ligeia!?...
A voz dela soou um pouco embriagada. Ainda assim exalava seu tom grotesco, digno para o monstro que era.
Apesar de ter dito em voz alta, Silver fez questão de mostrar a mancha no manto que trajava.
Então, a mulher-ave acabou dominada por temor.
Damon reconheceu o odor responsável por rivalizar com o aroma sanguinário que o guiou até ali. Não disse algo referente, embora.
— A Ligeia jamais morreria... pra pirralhos como vocês... — Ainda em busca de se agarrar à própria convicção, Thelxiepia deixou até de piscar.
Como se não fosse o bastante lhe dirigir duas respostas consecutivas, o ensanguentado deixou ar frio se acumular diante da expressão impiedosa.
Tomando parte de todas as letras, entoou:
— Eu a matei.
A frieza exalada durante a terceira resolução fez com que o fato se tornasse ainda mais difícil de ser engolido.
De qualquer forma a mulher procurava se desvencilhar dos fatos apresentados diante das vistas.
Até o presente momento, nenhum ser teve a capacidade de trazer algum tipo de ameaça às irmãs.
Brincar com suas presas, sem dó ou piedade, já tinha se tornado rotina diária das mulheres-pássaros.
Elas tinham se tornado a personificação do tormento pelo Mar Egeu. Para elas era como um jogo, no qual finalizavam saciadas com a carne de cada um daqueles que as desafiavam.
Tudo isso não passava de uma resposta de retaliação àqueles que as puseram nas presentes condições...
“Impossível! Isso é impossível!”, levou as mãos esguias à cabeça. As garras arranhavam o cabelo encardido até quase arrancá-los.
O sangue voltou a fervilhar em conjunto à energia interior, na ascendência de um pavio curtíssimo a partir do coração machucado.
Puro ódio encontrava-se prestes a ser detonado para fora de seu corpo.
Cerrou ainda mais os palmos, rangeu os caninos afiados e entoou em voz gutural:
— EU VOU ACABAR COM A RAÇA DE VOCÊS!!!
A colérica declaração de guerra não assustou os prodígios da Corporação dos Deuses.
Pelo contrário, os abasteceu com confiança.
A imagem de triunfo naquele conflito já ganhava tonalidades mais quentes a favor deles.
— Damon. Você veio na frente por que sentiu alguma coisa, não foi? — Lilith mantinha os olhos fixados na adversária.
Mesmo sem tanta preocupação, ele resolveu indicar o que o olfato poderoso tinha captado na entrada da ilha:
— Um rastro de sangue. Parecia conduzir um caminho que levava até elas, então quis me certificar de abrir ele pra gente.
— Entendi...
A jovem imaginou que a tal resposta não evidenciava todos os detalhes, porém decidiu a considerar por ora.
Respirou fundo e avançou alguns passos no retorno.
Após ultrapassar a posição do prateado, posicionou-se nas rédeas da situação.
O dorso da mão livre jogou o tufo de cabelo esquerdo para atrás do ombro.
— São três no total. Uma já foi, então vamos fazer dessa forma...
Segurou o punhal com firmeza na mão dominante. O moveu a fim de apontar a pequena lâmina na direção da inimiga.
Quando parecia desfiá-la com a arma inofensiva, o polegar pressionou um pequeno botão, localizado no centro do cabo.
Esse se abriu numa estrutura ainda maior, à medida que liberava camadas quase imperceptíveis de energia.
Antes decidida a atacar os três com brutalidade, a criatura refugou os instintos ao contemplar a transformação do equipamento. A sensação aterrorizante cresceu dentro do peito.
Em pouco tempo, o simples gládio tornou-se três vezes maior.
Revelou uma enorme lâmina de aspecto encurvado; o escarlate predominante era envolto por detalhes foscos de menor escala, no centro e nas bordas.
Assemelhava-se a face de um pássaro.
O cabo de apoio, esse todo preto, era bastante fino. Possuía um singelo rosto de caveira, com olhos rubros, sob a extremidade da base.
Além disso, também continha uma minúscula lâmina embutida, idêntica à principal.
— Eu cuido dessa e deixo a última para você, Damon.
O semblante da ruiva irradiava uma seriedade incomum, entretanto os garotos não ficaram surpresos com a repentina atitude.
Silver, inclusive, já tinha experienciado algo parecido após o desfecho do embate contra Ligeia.
Da mesma forma, Damon apreciou a firmeza naquelas palavras e projetou um fraco sorriso.
Girou a espada que empunhava para retorná-la à bainha de couro, presa às costas.
— Acho justo — respondeu.
Recuou a posição, no intuito de abrir espaço a favor da parceira. O parceiro fez o mesmo, sem outras opções de momento.
Ambos andaram por alguns metros, ficando próximos a árvores remanescentes. Demonstravam confiança quanto a liderança adquirida pela apóstola.
— Nada disso importa!... Eu vou acabar com os três!!!
Thelxiepia mais uma vez utilizou o movimento de imponência, que assustava todo mortal atraído para a ilha; abriu as asas com força.
O deslocamento repentino causou uma leve ventania, responsável por alastrar sua aura cruciante. Todavia nenhuma dessas ações afetou a nova adversária em sua postura altiva.
Isso fez a criatura estalar a língua, antes de contorcer as garras afiadas nas mãos.
Na embarcação ela não tinha feito qualquer coisa relevante, relembrou. E, ainda por cima, só não foi afligida pela intervenção dos companheiros.
“Vou matá-la rapidamente! E depois os outros dois!!”, arregalou os olhos sanguinolentos.
No instante que a monstruosidade abriu os membros penosos, em prol de executar sua primeira grande investida, Lilith girou a foice com maestria por ambas as mãos e se preparou.
A mulher-ave projetou um sorriso feroz ao bater as asas contra o chão, desencadeando uma poderosa corrente de ar na direção da garota.
O acúmulo de terra liberado pelo brusco deslocamento cercou-a rapidamente.
O objetivo de bloquear a visão de todos foi alcançado assim que a camada escura rodeou tanto Damon quanto Silver.
Afastados da batalha, no entanto, não demonstraram inquietação ao serem envoltos por aquilo.
A pressão no ar retornou após a sirena levantar voo. Encarou a aglomeração abaixo e, ao fixar a atenção no primeiro alvo, inclinou o corpo.
Traçado o plano de batalha, executou a rompante dos membros plumosos que a fez mergulhar sobre a cortina terrosa. Abriu a mão direita para retaliar o que viesse pela frente.
As garras mostravam-se prontas e deveriam arrancar a cabeça da adversária num único golpe.
Em antecipação a sua chegada, Lilith repentinamente rasgou o amontoado de poeira numa horizontal.
Conforme dispersava a camada prejudicial à visão, a tensão tórrida espalhou-se pela região até atingir a mulher-pássaro.
Essa forçou um giro corporal à esquerda ao perder ímpeto durante o avanço, mas nada pôde fazer na sequência.
A lâmina curvilínea cortou o espaço outra vez, atingindo o braço direito da inimiga na altura do bíceps.
Para não perder a viagem, buscou atingi-la num contra-ataque com as unhas das patas, mas a garota mostrou-se preparada para a reação.
Com o auxílio do extenso cabo fosco, foi capaz de posicioná-lo à frente do torso. Ao mesmo tempo que encontrou a defensiva, já pensava numa forma de revidar.
“Droga!!!”, a sirena rangeu os dentes, enquanto experimentava seus músculos serem rompidos pelo releixo afiado.
Após o membro se desgarrar pela metade, conseguiu abandonar a linha de ataque da garota. Planou entre ela e os dois observadores; a dor gritante na área ferida a estremecia.
Esforçou-se em prol de ignorar a ardência que derramava seu líquido na terra. Rodopiou-se, lançando as penas pontiagudas sem vacilar.
A apóstola desviou de algumas e rebateu outras com facilidade.
Dada a quantidade de disparos consecutivos, Damon e Silver saltaram para os galhos de uma árvore.
Além de permanecerem seguros, poderiam observar o confronto num panorama ainda mais favorável.
Enquanto isso, a monstruosidade experimentava uma latente pontada sobre o ferimento no membro, o que a obrigou a cessar os disparos.
Encarou o local rasgado que, por pouco, não foi arrancado.
Fragmentos de pele, grudadas à carne exposta, dançavam em virtude da brisa, à medida que liberavam uma quantidade considerável de fluido escuro.
A fenda originada pela lâmina o fazia escorrer do antebraço aos dedos, até pingar sobre a terra.
A sensação de ter o corpo afligido de qualquer maneira lhe despertava uma ânsia repugnante. Não poderia permitir novos danos daquela magnitude.
Dito isso, o combate corpo-a-corpo se mostrava prejudicial.
Considerou executar uma inédita abordagem a partir daquele momento.
Não importava o meio. Deveria revelar àqueles jovens inconsequentes o verdadeiro terror das Sirenas...
— Não vou te dar tempo para descansar — rosnou sem piscar.
Lilith aproveitou o momento de pausa e ajeitou a postura, conforme girava a foice apenas com a mão dominante.
Dessa vez, foi ela quem tomou a iniciativa. Flexionou as pernas e disparou contra a mulher-ave, ainda no ar graças aos movimentos das asas escuras.
No reflexo, essa lançou outras penas afiadas, porém todas foram repelidas pela apóstola.
Durante a aproximação, tentou acertá-la, em seguida, através de um golpe de diagonal ascendente.
A Sirena se irritou com a presunção da oponente e bateu os membros anteriores contra ela. A pressão do vento impediu a conclusão da ruiva, enquanto fez a própria mulher recuar.
Na companhia de espaço para recuperação do fôlego, a criatura contemplou o regresso ao solo da desafeta.
E ela não tinha desistido ainda. Alçou a face e avançou num segundo disparo, a foice posicionada atrás das costas.
Cada vez mais incomodada com a insistência da apóstola, Thelxiepia repetiu o processo ao movimentar os pares plumosos a fim de a expulsar.
Durante a terceira tentativa, adicionou nova dose de potência no deslocamento das asas escuras.
Só não tinha percebido que, dessa vez, Lilith falseou uma nova repetição dos saltos passados.
A corrente de ar atingiu as árvores, liberando espaço a favor da ação distinta.
Tal situação foi revelada à sirena num atraso de segundos.
Energia Vital foi reunida pela ruiva num piscar, que a distribuiu por toda foice, até alcançar a lâmina rubro-negra.
Ao identificar a brisa quente, semelhante à de minutos atrás — quando foi só ultrapassada pelo flanco —, a mulher-pássaro decidiu regressar ao plano.
Livre do ataque, bateu a pata canhota em união às asas escuras na terra, com ímpeto.
O objetivo era obstruir a visão dela, de novo.
— Ela ‘tá desesperada — Damon comentou, de braços cruzados. — ‘Tá repetindo as mesmas coisas inúteis. Lilith vai vencer em breve.
Perante as palavras confiantes do aliado, Silver sustentou o silêncio, sem concordar ou discordar.
A atenção da dupla foi recuperada quando a garota rasgou a camada escura através de um corte quente.
A sirena arregalou as vistas ao apreciar o encurtamento da distância num piscar.
Quase partiu os dentes, tamanha a força imposta sobre eles.
Ao passo que resolveu contra-atacar da mesma forma, Lilith hesitou por um segundo.
Essa perca repentina de foco lhe ofereceu uma ínfima e tão almejada brecha. Escondeu o braço sob a enorme asa, enquanto a ultrapassava pela lateral.
Deixou o punho cerrado ser conduzido pelo movimento do corpo para, no último segundo, a atingir no abdômen.
Foi tudo muito rápido.
E mesmo assim, percebeu que o impacto total fora interceptado pelo cabo da foice, posicionado bem adiante.
De qualquer maneira, depositou todo o peso no membro, a fim de empurrá-la com agressividade.
Apesar de ter evitado o pior, a menina foi lançada e colidiu com as costas contra uma árvore. Sentiu os ossos estremecerem de dor.
Os olhos rubis arregalaram e a boca expeliu boa quantia de saliva.
Foi arrastada pelo tronco até cair sentada na terra rodeada por folhas secas.
Fechou uma das vistas na sequência, ainda soltando um resmungo de agonia.
Sem tempo para descansar, levou aquilo como um esforço extra para se reerguer. De angustiada expressão, voltou a encarar a inimiga enraivecida.
Damon engoliu as próprias palavras ao observar a recuperação da mulher, dada como quase derrotada em sua visão.
Como não tinha opinado a respeito, Silver pouco se importou com a reviravolta.
A sirena já tinha recobrado parte do fôlego perdido ao retornar ao solo.
Incapaz de movimentar o braço destro com eficácia, graças ao grave ferimento, optou por focar toda a energia nos membros intocados.
E para melhorar, ainda restava algo.
Conseguiu manter a última cartada escondida até o presente momento, mesmo com a situação tendo corrido a além do expectado.
Apesar do esforço, não conseguia deixar de subestimá-los no inconsciente.
As dores causadas pela jovem divindade lhe arrancaram desse dilema. Não importava as consequências, deveria utilizar seu poder definitivo no intuito de acabar com os três o quanto antes.
Na ala dos arvoredos; conforme acompanhava o reposicionamento da parceira, Damon alargou o sorriso da confiança que depositava nela.
Silver lhe encarou de soslaio, inapto a compreender o motivo da elevada convicção.
Quando voltou a observar as costas de Lilith, percebeu um fluxo caloroso de energia retumbar sobre todo o território de imediato.
— Parece que ela já ‘tá bem quente — sussurrou, com a mesma dose de ânimo na voz.
Thelxiepia, também em nota à proliferação repentina, amaldiçoou em aborrecimento:
— Ugh, não posso deixar ela reunir energia!
Sem permitir aos obstáculos mentais lhe atrapalharem, puxou todo o oxigênio possível no objetivo de utilizar a habilidade fatal.
Nesse instante, Silver alçou as sobrancelhas.
Mas para surpresa geral, a apóstola agiu mais rápido que o pensamento e abriu o braço, apontando a lâmina na vertente da terra.
No instante que sua energia atingiu o ápice de condensação, fechou e abriu as vistas em milésimos.
Os tufos de cabelo laterais se levantaram com o vento...
— Arte do Submundo, Primeira Morte... — A lâmina rubro-negra foi dominada por uma camada de... — Chamas Polivalentes.
“Morte?...”, Thelxiepia pegou-se inerte ao domínio do fogo sobre a chapa metálica adiante.
A tonalidade carmesim combinava com o cabelo e os olhos da portadora, tão brilhantes quanto a combustão elementar.
Elas ainda carregavam um título mais específico, enunciado pela respectiva bem na sequência:
— Chamas do Purgatório.
Sem esperar por surpresas, desceu o ponto de gravidade do corpo.
Girou-o pela metade, mantendo a posição do braço portador, com a arma direcionada para a retaguarda. Antes que a sirena pudesse fazer algo, realizou um salto expressivo.
O barulho causado pelo impulso assustou a mulher, que deslocou a asa esquerda até a vanguarda por puro instinto.
Separou os lábios em prol de liberar a habilidade específica. Só não contava que o intenso calor cobrisse a distância num piscar.
Em chamas, Lilith rasgou todo o espaço e arrancou o membro plumoso na região que o conectava à escápula.
O fogo característico alastrou-se em instantes, arauto da carbonização completa sobre as penas escuras que caíram por terra.