Emissários da Magia Brasileira

Autor(a): Gabriel Gonçalves


Volume 1

Capítulo 7: A Rebelião

Castiel ficou impressionado com a velocidade que manejava as suas espadas, quando ele as removeu da bainha ficou com medo de que não soubesse o que fazer, mas seguindo seu instinto ele estava conseguindo lidar com os policiais do lado inimigo sem muita dificuldade.

“Talvez eu devesse tentar usar a minha magia novamente”, pensou Castiel.

Percebendo a intenção de Castiel pelo seu olhar, Lia foi o mais rápido que pôde para fazer um importante aviso.

— Castiel, não use magia aqui! Tem muitas pessoas aqui, se você cometer qualquer erro pode acabar ferindo a pessoa errada. Continue usando apenas as suas espadas, é mais seguro — disse Lia.

Luther junto dos outros emissários tentavam tirar os civis do meio do fogo cruzado e proteger os policiais aliados, porém o pânico e disparos constantes entre os dois lados dificultava a missão deles. 

No meio da confusão Luther se deu conta que Dariss já não se encontrava mais no portão e sabendo o que isso significava buscou por Jasmim e ao encontrá-la disse:

— Jasmim! Temos que ir até à mansão, tenho certeza que ele vai tentar fugir! Nós não temos muito tempo!

— E os civis?! Ainda não conseguimos tirar todos do caminho! — falou Jasmim.

Ao lado dos dois estava a subcomandante da polícia que fazia parte do grupo de policiais que se aliaram a Himiko. Ela atirava em seus antigos companheiros com uma precisão invejável tentando evitar seus órgãos vitais e ouvindo a preocupação de Jasmim, ela falou:

— Vocês dois podem ir! Nós temos pessoas o suficiente aqui para evacuar o resto dos civis! Não podemos permitir que ele fuja. Assim que conseguirmos uma abertura, nós iremos nos unir a vocês!

— Entendido, vamos então Luther e obrigada policial — disse Jasmim.

— É muito gentileza sua, mas não me agradeça ainda. Me agradeça quando tudo estiver acabado.

Usando os passos de vento, Luther e Jasmim partiram em direção a mansão para aproveitando que a barreira dos policiais inimigos estava fraca devido à batalha. Isso aliado ao fato que os policiais estavam muito agitados e eram inexperientes em lidar com o cenário em que eles se encontravam, proporcionou a vantagem necessária para que Luther e Jasmim conseguissem tirar os seus inimigos do caminho.

Seguindo a recomendação de Lia, Castiel se conteve a usar apenas as suas armas. Ele, ao contrário dos Emissários de Vento, não estava tão preocupado em ferir gravemente seus oponentes, por isso ele atacou com ferocidade os inimigos que cruzavam o seu caminho. 

Kira ficou um tanto surpresa com o estilo de luta de Castiel, em um cenário mais controlado ela teria pedido para ele se conter, todavia como aquele não era o caso restava apenas deixar que ele lutasse da forma que queria. Afinal, ninguém estava interessado que a luta se estendesse mais do que o necessário.

Conjurando o impulso de vento para impulsionar o salto deles, Luther e Jasmim passaram por cima do muro, enquanto evitavam os disparos lançados contra eles. Assim que Jasmim colocou seus pés no chão, voltou a usar a conjuração passos de vento para atacar os policiais, que estavam fazendo a segurança da entrada da mansão, e removê-los de seu caminho.

Ao entrarem na mansão foram recebidos por mais alguns policiais, mas conseguiram se proteger com o escudo de vento e após conseguirem lidar com seus oponentes, Luther pegou um dos policiais pelo pescoço e disse:

— Onde ele está?!

O policial, que aparentava ter a mesma idade de Luther tremia vendo alguns de seus colegas feridos, enquanto outros foram abatidos.

— Eu não… Eu não… — disse o policial soluçou até que por fim conseguiu juntar coragem para encarar Luther nos olhos. — Eu não sei!

— Não consegue perceber que acabou?! Sua lealdade é louvável, mas sua lealdade deveria estar com a cidade! Se ele fugir todos vamos ter problemas!

— Cale a boca, você não é dessa cidade para me dizer se eu sou ou não leal a ela!

O olhar do policial deixava claro que ele não tinha intenção nenhuma de falar e Luther ponderou sobre o que faria com o policial. 

Com cuidado o policial pegou o canivete retrátil que tinha no seu bolso de trás para se livrar de Luther, mas seu colega que estava no chão temendo pela vida de seu amigo falou:

— Ele deve estar na adega da mansão! Lá tem uma passagem secreta para fuga!

O policial sendo segurado por Luther olhou para trás encarando seu amigo com a decepção explícita em seu rosto e disse:

— Por quê?

— Desculpa Ian, eu quero que a gente consiga sair vivo daqui… — disse o seu colega.

Jasmim sem esperar por Luther seguiu pelos corredores para conseguir encontrar o mais rápido possível o caminho para a adega e Luther lançou Ian contra a parede, o fazendo derrubar seu canivete em um canto e foi atrás de Jasmim para a auxiliar na tarefa, pois o tempo era escasso.

Abrindo algumas portas ao longo do corredor, eles se depararam com alguns funcionários da mansão que assustados procuraram por refúgio nas salas. No fim eles conseguiram com o auxílio de um dos funcionários encontrar o caminho para a adega. 

Na adega eles viram um boneco de pelúcia caído perto de uma das prateleiras, da qual puderem sentir uma leve corrente de ar vindo.

Conjurando a lâmina de vento, Jasmim fez com que sua espada fosse revestida com uma massa de ar e disse:

— Luther, saia do caminho, eu vou derrubar essa prateleira.

— Espera! — disse Luther em voz baixa fazendo sinal de silêncio.

A adega era bem espaçosa e embora a prateleira que Luther e Jasmim estavam ficasse de frente para uma das paredes e a corrente de ar indicasse haver uma saída escondida ali. Eles escutaram um som de choro bem baixo vindo de outra direção. 

Os dois caminharam devagar pelo corredor da adega criado pelas prateleiras e mais prateleiras de bebida e ao alcançarem um espaço aberto no final do corredor se deparam com a senhora Damaris e a assistente Ena que seguravam a boca das crianças e o menino que era o mais novo continuou a chorar sem saber como lidar com o nervosismo.

Luther virou seu rosto para direita ao escutar o som da arma de Dariss apontada para ele. O governador nervoso revezava seu olhar entre seus filhos e os emissários, mas sua mão se mantinha firme e o dedo pronto para apertar o gatilho caso fosse necessário.

— Vocês vão nos deixar ir embora! Apenas me diga o preço e podemos resolver isso sem violência! — disse Dariss.

— Você sabe bem que não podemos fazer isso — disse Jasmim casualmente, sem mostrar nenhum incômodo com a arma apontada para Luther — Não após você entregar parte da sua cidade para morrer. Você tem que responder pelas suas ações, quer você queira ou não!

— Eu fiz o que tinha que fazer para salvar o máximo de pessoas dessa cidade! Alguém tem que conseguir fazer as escolhas difíceis quando ninguém mais consegue Eu não ia arriscar a minha família só por moralidade! Não sou um covarde! — disse Dariss.

— Você nem ao menos tentou! Só passou por cima de várias outras famílias para se manter a salvo! Você não tomou uma decisão difícil, você foi apenas egoísta e passou mais tempo pensando em você do que nos outros e agora tudo isso aconteceu! Você deveria ser o líder desta cidade, droga! — falou Luther.

Conforme as vozes aumentavam com o seguimento da discussão, as crianças ficavam mais agitadas e as mulheres tinham ainda mais dificuldade em manter as crianças quietas. O medo de Dariss de que não conseguiria tirar sua família da mansão crescia e ele se perguntava se a única opção que tinha era puxar o gatilho.

— Vocês podem até acreditar que estão ajudando a melhorar as coisas, mas no fim eles vão atacar toda a cidade por causa de vocês! Eu me recuso a fazer parte desse conflito, os caçadores não estão tão errados assim. Magia só traz desgraça onde quer que passe! Vocês acreditam que estão acima dos outros, sem se preocupar com o que acontece com os que não têm os poderes que vocês têm para se defender — disse Dariss.

— Por favor, Emissários de Vento, nos deixem ir! O Poltergeist vai querer nos matar por falharmos com ele! — falou a esposa de Dariss.

Uma das crianças se soltou para correr até seu pai, a menina abraçou a perna do seu pai e Jasmim sem deixar a brecha passar correu para desarmar o Dariss que optou por deixar que Jasmim pegasse a arma de sua mão, para que uma briga não ferisse a sua filha.

— Deixa meu papai em paz! — falou a menina sentindo o peso de ser a mais velha e ter que defender sua família assim como seu pai.

Tanto Jasmim quanto Luther estavam com suas armas guardadas na bainha, eles não tinham a menor intenção de levar os Damaris de forma violenta.

Se abaixando para olhar a garotinha que tinha seu rosto vermelho por conta do choro, Jasmim disse com pesar:

— Me perdoe, mas seus pais vão ter que vir conosco.

O barulho de passos vindo da escada denunciou a chegada dos policiais liderados pela subcomandante.

— Vocês deixaram uma trilha difícil de ignorar, se a maioria dos policiais que passamos não tivessem gemendo tanto de dor, eu ia pensar que vocês mataram todos — disse a subcomandante passando pelos emissários e indo direto para Dariss e seus policiais foram até a sua esposa, assim como a assistente deles — Vocês estão todos presos por conspiração contra Port Strong e seus moradores.

— Até você, Carla! Por favor, na frente das crianças não… — disse Dariss olhando para as algemas.

Carla ponderou por alguns segundos olhando para as crianças que choravam ao ser separadas por seus pais.

Tsk, tudo bem! Podem levá-los sem algemas, eles não representam nenhuma ameaça. Não vamos fazer isso ainda mais difícil para as crianças — falou Carla.

O menino tentava se soltar do policial que o segurava, enquanto seus pais estavam sendo levados e desesperado ele disse:

— Papai, mamãe! Por favor, não! Eles não fizeram nada de errado!

Dariss parou por um instante e voltando sua atenção para Luther, ele disse:

— Espero que você esteja feliz com isso! 

Luther olhou para os filhos de Dariss chorando e lembrou de uma criança chorando há dias à espera de seu pai, enquanto outros tentavam tranquilizá-la de que tudo ficaria bem, até que chegou o dia que a criança percebeu que seu pai não retornaria. 

“Me desculpem”, pensou Luther observando as crianças.

Jasmim, cerrando o punho irritada, foi ao encontro de Dariss para confrontá-lo.

— É melhor ter pais ruins longe, do que perto de seus filhos! Vai doer agora, mas no fim isso é melhor que ter alguém disposto a fazer o que vocês dois fariam, por perto! — falou Jasmim.

Sem dar tempo para que Dariss respondesse, Jasmim passou direto por ele e se retirou do local. Luther sentiu que alguém o estava observando e notou que se tratava de Ena o olhando com curiosidade enquanto era levada, ao contrário dos Damaris ele não sentia nenhuma hostilidade vindo dela.

O choro das crianças preencheu o local, enquanto os policiais tentavam o seu melhor para acalmar as crianças e Luther vendo que seu trabalho por ali havia terminado, ele se retirou indo atrás da pessoa que não saia de sua mente desde que a luta começou.

“Hora de ter uma conversinha com a Himiko!”, pensou Luther.

Do lado de fora da mansão, Kira caminhava pela praça, após o fim do conflito, enquanto as pessoas vinham atrás dos corpos de seus entes queridos. 

Embora outros civis se mantivessem distantes do trágico cenário que Kira e os demais se encontravam.

“Estamos mesmo fazendo a coisa certa aqui? Olha quantos corpos de civis. Se o governador ao menos tivesse cooperado desde o começo… Que matança desnecessária… Isso me deixa tão irritada! Pessoas continuam morrendo por decisões de pessoas tolas!”, pensou Kira.

Kira brandiu a sua espada para remover o sangue da lâmina antes de retorná-la à bainha.

— Eu espero que no final isso tudo valha a pena.

Mesmo sentindo um desprezo gigantesco, a emissária se acalmou e seguiu para ajudar as pessoas em seus ferimentos e no que mais elas pudessem precisar.



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