Volume 1
Capítulo 3: Um Novo Aliado?
Perdendo toda a aparência de pessoa indefesa, o homem de cabelos cinzentos se levantou, lançando uma enorme onda de chamas em direção a Isami, interrompendo seu ataque mortal. Seus olhos brilhavam intensamente, e suas pupilas se estreitaram, assumindo um formato felino.
A luz das chamas iluminou o ambiente, revelando sua vestimenta. Ele estava trajado como um guerreiro: duas espadas repousavam em suas bainhas, e sua ombreira, com textura de escamas, refletia a aura vermelha que o envolvia.
Instintivamente, Isami girou sua foice com agilidade, desviando parte das chamas para o céu. Quando Jasmim recobrou a consciência, ficou chocada com a quantidade de energia mágica que emanava do homem. Luther também lutava para processar o que estava vendo.
“Ele parecia estar à beira do colapso momentos atrás, e agora conjurou uma magia tão poderosa sem nem mesmo usar um encantamento”, pensou Luther, perplexo.
Ao perceber que o ataque havia cessado, Isami redirecionou o restante das chamas de volta para o homem, mas Jasmim interveio, puxando-o para longe do alcance do contra-ataque.
Ouvindo passos se aproximando, Poltergeist e os outros dois caçadores aproveitaram a distração para recuar. Luther, exausto demais para persegui-los, só conseguiu assistir enquanto desapareciam na escuridão.
Aliviada por a batalha ter terminado, Jasmim se voltou para o homem de cabelos acinzentados, que agora exibia novamente um semblante assustado e deslocado.
— Você está bem? — perguntou Jasmim, com voz suave.
— Eu acho que sim. Você está sangrando… — respondeu ele, preocupado.
— Não se preocupe. Luther e eu já passamos por coisas piores. Quando a magia começar a regenerar o ferimento, nem vai deixar marcas.
Jasmim tentou transmitir confiança com um sorriso, mesmo com o sangue escorrendo de sua bochecha.
Luther, que observava a direção dos passos que se aproximavam, ficou aliviado ao ver que eram seus amigos. Os três emissários estavam visivelmente feridos, indicando que haviam enfrentado um combate intenso. Jinn corria à frente das duas garotas, guardando sua espada ao perceber que não havia mais inimigos por perto.
Jinn, o mais enérgico do grupo, muitas vezes contrastava com sua aparência madura e séria.
— Luther, Jasmim! Vocês estão bem? — perguntou Jinn, ansioso.
— Acho que, pelo visto, nenhum de nós está muito bem — respondeu Luther, com um suspiro.
— Pois é, chefe, o acampamento foi atacado pouco depois que vocês saíram.
— Para de me chamar de chefe, você sabe que eu não gosto!
— Verdade, eu sempre esqueço disso.
— Esquece sim…
Luther olhou irritado para Jinn, que riu da situação. Kira suspirou, aliviada por ver que Luther já estava mais relaxado. Lia, segurando sua lança, observava os dois em silêncio. Sua aparência nobre e reservada muitas vezes a fazia ser confundida com uma humana, já que suas orelhas pontudas ficavam escondidas sob suas mechas rosadas de cabelo.
— Desculpe pela demora. Como o Jinn falou, fomos atacados no acampamento, e fazer os caçadores recuarem levou mais tempo do que gostaria de admitir — explicou Kira.
— Não se preocupe com isso. O que importa é que todo mundo está bem — disse Jasmim, tentando tranquilizá-la, apesar de seus ferimentos.
Lia se aproximou do homem próximo de Jasmim e apontou sua lança para ele, desconfiada.
— Quem é você?! — perguntou Lia, com voz firme.
— Calma, Lia! Eu já estava prestes a perguntar isso a ele. Não precisa se preocupar, ele não é uma ameaça! — interveio Jasmim.
As três emissárias olharam para o homem, aguardando sua resposta. Ele colocou as mãos sobre o rosto e ficou em silêncio por alguns momentos, o que deixou Luther e Jinn preocupados. Por fim, ele respondeu, tímido:
— Meu… meu nome é Castiel.
Kira estendeu a mão para cumprimentá-lo, com um sorriso caloroso.
— É um prazer conhecê-lo, Castiel!
— Consegue ficar de pé, Jasmim? — perguntou Lia, estendendo a mão para ajudar a amiga. — Acho que quanto antes sairmos desse lugar, melhor.
— Concordo com ela. Ainda vamos ter que mudar o lugar do nosso acampamento, então é melhor irmos andando, antes que eu fique cheio de preguiça — brincou Jinn.
— Não seria nada fora do normal — respondeu Luther, com um sorriso irônico.
— Ei! Respeite os mais velhos!
Jasmim, ao se levantar, fez sinal para que Castiel fizesse o mesmo, mas ele parecia ter dificuldades. Luther se aproximou e o ajudou a ficar de pé, oferecendo apoio para que ele pudesse caminhar.
— Acho que aquele ataque te custou bastante. O que era de se esperar, já que você nem ao menos usou um encantamento — comentou Luther.
— É… meu corpo está bem pesado — respondeu Castiel, com voz fraca.
Havia algo em Castiel que incomodava Lia. Apesar de sua aparência assustada e voz baixa, ela sentia uma aura estranha e hostil emanando dele.
“Ele está assustado, mas sua energia é estranha e um tanto hostil. Melhor eu ficar em alerta”, pensou Lia.
Enquanto caminhavam de volta ao acampamento, Kira apresentou todos para Castiel. Ela era a mais entusiasmada com o novo integrante, embora ninguém comentasse. Jinn, no entanto, decidiu guardar isso para provocá-la mais tarde.
Com a brisa calma da floresta, o cansaço aumentava em todos. Entretanto, ao chegarem ao local onde estavam acampados, algo deixou Jinn, Kira e Lia surpresos.
— Onde estão os corpos?! Nós matamos alguns do grupo que veio aqui! — exclamou Jinn.
— Verifiquem se não levaram nada nosso — ordenou Luther.
— Não, aparentemente nada sumiu. Devem ter buscado os corpos às pressas — disse Lia, após verificarem tudo. — Vamos guardar tudo e ir embora.
— Só queriam dar descanso aos seus companheiros… — comentou Castiel, parecendo distante.
“Ele precisa descansar”, pensou Jasmim.
Porém, algo chamou a atenção da kitsune: no braço esquerdo de Castiel, pelo rasgo na manga de sua camisa, ela notou uma parte da runa que ele portava.
“Não é a runa de um emissário de fogo. Essa runa é… Isso devia ser impossível!”, pensou Jasmim, alarmada.
— Agora que tudo está guardado, vamos embora! Eu preciso realmente de uma boa noite de sono — disse Luther, assim que terminaram de arrumar as coisas.
— Isso porque você não está carregando nenhuma bagagem — murmurou Jinn.
— Eu ouvi isso, hein!
— Não sei do que você está falando…
— Quando chega a idade em que vocês homens começam a amadurecer? — perguntou Lia, com um tom de brincadeira.
— Acho que isso são apenas lendas, Lia — respondeu Kira, rindo.
— Nossa! Eu não consigo acreditar no que estou ouvindo — reclamou Jinn, exagerando.
Castiel, que apenas observava a situação, soltou uma risada que contagiou todos. Luther ficou satisfeito por ele parecer menos assustado do que antes.
O grupo vagou pela floresta por algum tempo, procurando um local seguro e distante para descansar. Apesar da exaustão, sabiam que não podiam se acomodar em qualquer lugar. Quando avistaram alguns cervos da lua — criaturas noturnas com três chifres, enormes dentes caninos e olhos completamente brancos — vagando pelo caminho, perceberam que os caçadores não estavam por perto. Decidiram, então, acampar perto de um lago.
Após reorganizar o acampamento, Lia preparou novamente seu chá para todos. Feito com uma erva especial descoberta pelos filhos da floresta, o chá ajudava na recuperação do corpo, do fluxo mágico e, para alguns, do próprio espírito.
Embora tímida, Lia se orgulhava muito de sua habilidade na preparação de chá. Era uma das poucas coisas que ela valorizava do treinamento exaustivo que teve para ser uma mulher nobre. Jasmim, ciente disso, nunca perdia a oportunidade de elogiar as habilidades da amiga — um gesto simples que deixava Lia muito feliz.
— Lia, como sempre, seu chá está incrível. Já estou começando a me sentir bem melhor! — disse Jasmim.
— Obrigada, Jasmim. Depois de tudo que aconteceu hoje, achei que seria ótimo apenas beber algo quente antes de irmos dormir. Ainda mais com o vento gelado de hoje — respondeu Lia.
— Você é muito gentil, Lia — falou Kira. — Realmente, hoje foi uma noite bem agitada. Se bem que, a esse ponto, o certo não seria: outra noite normal para nós?
Luther, que passou o caminho todo repensando suas ações, ainda estava absorto em seus pensamentos. Para ele, revisitar situações era um hábito encorajado por sua mestra. Contudo, havia momentos em que ele levava isso de forma literal, se torturando muito mais do que aprendendo com seus erros.
— Me desculpem. Essa situação toda só ocorreu por conta da minha imprudência. No fim, acabei os ajudando a executar o plano deles de nos superar em números — disse Luther.
— Mesmo tendo uma boa estratégia, eles falharam, Luther. Não se preocupe. Eles também erraram ao nos subestimar — disse Kira.
— Mas…
— Luther, somos emissários e guerreiros do Clã de Vento. Não é a primeira vez que nos arriscamos, e nem será a última. No fim, o que importa é que vivemos para ver mais um dia — interrompeu Lia.
— A única coisa que me irritou durante o ocorrido foi aquele ex-templário brincando conosco. Era como se, para ele, fossemos apenas um grupo de mercenários vindo de lugar nenhum — disse Jasmim.
— Bem, pelo menos agora sabemos quem é o responsável — ou melhor, os responsáveis — pelos assassinatos de usuários de magia em Port Strong. Não me admira que estejam matando seus alvos com tanta facilidade. Pelo que sei, ninguém naquela cidade teria chance contra eles — falou Luther.
Jinn olhava para as chamas da fogueira, que refletiam em seus olhos castanhos. Ele jogou mais lenha para manter o fogo aceso. Falar sobre pessoas como Poltergeist o enchia de desprezo e raiva.
— Um bando de covardes liderados por um covarde maior ainda! Usuários de magia sem uma runa ou treinamento adequado se tornam alvos fáceis — disse Jinn.
— O pior foi ver um dos caçadores usando uma daquelas máscaras — falou Jasmim.
— A da Seita da Foice Lunar?! — exclamou Kira.
— Sim…
— Por que alguém usaria aquela maldita coisa, sabendo tudo que ela representa? — disse Lia.
— Eu não sei. Acho que, no fim, para alguns, instigar o medo é mais importante do que qualquer outra coisa — falou Luther, colocando a mão sobre a cicatriz acima de seu olho.
Por um momento, todos ficaram em silêncio. O assunto os fazia lembrar do motivo pelo qual estavam tirando “férias” de suas funções no Clã de Vento. Kira, no entanto, quebrou o silêncio, puxando conversa com Castiel, que estava quieto bebendo seu chá.
— Castiel, você parece ter a nossa idade. De onde você é?
— E-eu não sei. Tenho tentado me lembrar das coisas enquanto vinhamos para cá, mas não sei de onde vim ou como parei aqui — respondeu Castiel.
— Então a única coisa que você lembra sobre si é o seu nome?
— Sim.
— Aquela magia que você utilizou foi muito poderosa. Você é um emissário de fogo? — perguntou Jasmim, aproveitando a brecha criada por Kira.
— Eu não sei. Me desculpem — disse Castiel.
— Você se importa de mostrar sua runa? — Jasmim apontou para o braço onde a runa estava.
Lia e Luther, que também sentiram algo estranho na aura mágica dele, aguardaram ansiosos. Castiel, inocentemente, levantou a manga da camisa, revelando a runa.
— Impossível! — exclamou Jinn.
— Como ele pode ter essa runa sendo humano ou pelo menos aparentando ser? — murmurou Lia.
“Isso explica porque eu estava sentindo aquela aura estranha vindo dele”, pensou Lia.
As suspeitas de Jasmim e Luther foram confirmadas. A runa que Castiel possuía só poderia ser portada por membros de uma raça específica — uma raça extinta há muito tempo.
Constatando os olhares de medo e receio de todos, Castiel começou a ficar agitado, tomado por preocupação.
— Isso é algo ruim?! Eu vou morrer?! Eu sou algum tipo de monstro?!
— Calma, calma, Castiel — Luther se aproximou, falando com voz tranquila, enquanto o encarava diretamente nos olhos. — Você não está sozinho. Não precisa ficar com medo, estamos aqui com você.
— Você não é um monstro — falou Jasmim, com firmeza.
Castiel se acalmou, e o ambiente voltou a ficar tranquilo outra vez. Contudo, o grupo sabia que o segredo por trás da runa e das memórias de Castiel tinha o potencial de mudar o mundo.
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