Emissários da Magia Brasileira

Autor(a): Gabriel Gonçalves


Volume 1

Capítulo 3: Um Novo Aliado?

Perdendo toda figura de pessoa indefesa, o homem de cabelos cinzentos, se levantou lançando uma enorme onda de chamas na direção de Isami e assim interrompendo o ataque dele. Seus olhos brilhavam, e suas pupilas mudaram para um formato semelhante ao de um gato.

Com a luz das chamas clareando o ambiente, a vestimenta dele ficou visível. Ele estava vestido como um guerreiro, suas duas espadas descansavam na bainha e sua ombreira com textura de escamas destacada pela camisa preta refletia a aura vermelha que o cercava naquele momento.

Instintivamente, Isami girou sua foice o mais rápido que pôde para se defender das chamas, chegando a conseguir redirecionar parte delas para o céu.

Quando Jasmim recobrou a consciência, se assustou com a quantidade de energia mágica que emanava do garoto. Luther também estava tendo dificuldade em acreditar no que estava vendo. 

“Ele parecia não estar bem momentos atrás e agora conseguiu conjurar uma magia tão forte sem ao menos usar um encantamento", pensou Luther.

Ao perceber que o ataque do homem havia chegado ao fim, Isami redirecionou o restante das chamas de volta para seu dono, porém Jasmim tirou o alvo da frente antes que o contra-ataque o alcançasse.

Ao ouvir passos se aproximando, Poltergeist com os outros dois caçadores aproveitou para partir e Luther fatigado demais para os impedir, foi obrigado a apenas assistir.

Aliviada que a batalha havia acabado, Jasmim se voltou para o homem de cabelos acinzentados, novamente com o semblante deslocado e assustado de antes e disse:

— Você está bem?

— Eu acho que sim. Você está sangrando… — falou o homem.

— Não se preocupe. Eu e Luther já passamos por coisas piores do que isso. Quando a magia começar a regenerar o ferimento, não deve nem deixar marcas.

Em uma tentativa de transmitir confiança, Jasmim exibiu um sorriso simpático enquanto sangue escorria de sua bochecha.

Luther que olhava na direção do som dos passos, à espera do que poderia surgir, ficou aliviado ao ver que se tratava de seus amigos. Com alguns ferimentos, os três emissários aparentavam ter se envolvido em um combate, o que explicou muito para Luther. Jinn corria à frente das duas garotas, enquanto guardava sua espada ao ter constatado que não haviam mais inimigos por perto.

Jinn era o mais energético do grupo e muitas vezes sua aparência adulta e madura não batia com o jeito que ele costumava agir. 

— Luther, Jasmim! Vocês estão bem? — disse Jinn.

— Acho que pelo visto, nenhum de nós está muito bem — disse Luther.

— Pois é chefe, o acampamento foi atacado pouco tempo após vocês terem saído.

— Para de chamar de chefe, você sabe que eu não gosto!

— Verdade, eu sempre esqueço disso.

— Esquece sim…

Luther olhou irritado para Jinn que ria dele. Kira suspirou se sentindo tranquila que Luther já estava mais relaxado e o clima mais calmo. 

Lia observava os dois em silêncio enquanto segurava sua lança. A boa aparência da elfa denunciava sua origem nobre e era confundida como humana por conta das orelhas ficarem cobertas a maioria do tempo pelas mechas rosa de cabelo. Tinha a personalidade fechada e reservada, o que costumava afastar as pessoas.

Seu olhar, às vezes interpretado como frio, apenas analisou os arredores tentando deduzir o que havia ocorrido por ali.

Kira caminhou até Jasmim um pouco preocupada com os ferimentos dela, mas ao averiguar viu que embora tivesse muito sangue, o corte era apenas superficial.

— Desculpe pela demora, como o Jinn falou, fomos atacados no acampamento e fazer os caçadores recuarem levou mais tempo do que gostaria de admitir — disse Kira.

— Não se preocupe com isso, o que importa é que todo mundo está bem — disse Jasmim.

Jasmim tentou tranquilizar Kira com um sorriso, mas não conseguiu passar muita confiança por conta de seus ferimentos. 

Lia se aproximou do homem próximo de Jasmim e apontou sua lança para seu rosto ao notar algo estranho nele.

— Quem é você?! — disse Lia.

— Calma, Lia! Eu já estava prestes a perguntar isso a ele. Não precisa se preocupar, ele não é uma ameaça! — disse Jasmim.

As três emissárias olharam para o garoto aguardando pela resposta, ele colocou as duas mãos sobre seu rosto e ele ficou alguns minutos em silêncio fazendo com que Luther e Jinn o olhassem preocupados, até que ele por fim respondeu tímido:

— Meu… meu nome é Castiel.

Estendendo a mão para cumprimentá-lo, Kira disse:

— É um prazer conhecê-lo, Castiel!

— Consegue ficar de pé Jasmim? — disse Lia enquanto estendia sua mão para sua amiga. — Acho que quanto antes sairmos deste lugar melhor.

— Concordo com ela. Ainda vamos ter que mudar o lugar do nosso acampamento, então é melhor irmos andando, antes que eu fique cheio de preguiça — falou Jinn.

— Não seria nada fora do normal — brincou Luther.

— Ei! Respeite os mais velhos!

Jasmim ao se levantar fez sinal para que Castiel fizesse o mesmo, mas ele não conseguia. Luther foi até Castiel, o ajudou a ficar de pé e ofereceu apoio para o auxiliar a caminhar.

— Acho que aquele ataque te custou bastante. O que era de se imaginar, já que você nem ao menos usou um encantamento — disse Luther.

— É… meu corpo está bem pesado — disse Castiel.

Havia algo em Castiel que trazia desconforto a Lia, porém ela podia notar pelo jeito que falava com a voz baixa e semblante caído que ele também estava receoso.

“Ele parece estar assustado, mas ele tem uma energia estranha e um tanto hostil, acredito que seja melhor eu ficar em alerta”, pensou Lia.

Enquanto caminhavam para o acampamento deles, Kira apresentou todos para Castiel, ela era a que mais parecia estar entusiasmada com o novo integrante. Todavia, ninguém comentou sobre isso e Jinn quis guardar isso para provocá-la em outro momento.

Com a brisa calma da floresta o cansaço ficava ainda maior em todos, porém ao chegar no local onde estavam acampados algo deixou Jinn, Kira e Lia surpresos.

— Onde estão os corpos?! Nós matamos metade do grupo que veio aqui! — falou Jinn.

— Verifiquem se eles não levaram nada nosso — falou Luther

— Não, aparentemente nada sumiu — disse Lia após verificarem tudo. — Vamos guardar tudo e ir embora.

— Só queriam dar descanso aos seus companheiros… — disse Castiel parecendo estar distante dali.

“Ele precisa de descanso”, pensou Jasmim

Porém, algo chamou a atenção da kitsune no braço esquerdo de Castiel. Jasmim observou pelo rasgo na manga de sua camisa uma parte da runa que ele portava.

“Não é a runa de um emissário de fogo, essa runa é… Isso devia ser impossível!", pensou Jasmim.

— Agora que tudo está guardado, vamos embora! Eu realmente preciso de uma boa noite de sono — falou Luther assim que tudo foi guardado.

— Isso porque você não está carregando nenhuma bagagem — disse Jinn em voz baixa.

— Eu ouvi isso, hein!

— Não sei do que você está falando…

— Quando chega a idade que vocês homens começam a amadurecer? — falou Lia.

— Acho que isso são apenas lendas, Lia — falou Kira.

— Nossa! Eu não consigo acreditar no que eu estou ouvindo — falou Jinn.

Castiel, que apenas observava a situação, soltou uma risada que acabou contagiando a todos e Luther ficou feliz por ele estar menos assustado do que aparentava antes.

O grupo vagou pela floresta por algum tempo, procurando por um local distante para poderem descansar, já que todos estavam muito cansados e se não fosse por segurança, qualquer local teria servido para eles. 

Ao notarem haver alguns cervos da lua(diferentes de cervos comuns, eram seres noturnos, possuíam três chifres, enormes dentes caninos e olhos totalmente brancos) vagando pelo caminho perceberam que os caçadores não estavam nas proximidades e decidiram acampar perto de um lago.

Assim que eles organizaram novamente o acampamento, Lia fez novamente seu chá para que todos tomassem ao redor da fogueira. O chá era feito com uma erva especial, descoberta pelos filhos da floresta, que ajudava na recuperação do corpo e fluxo mágico, e para alguns do próprio espírito.

Embora tímida sobre isso, Lia se orgulhava muito da habilidade de preparação de chá, era uma das coisas que ela valorizava, de todo o treinamento exaustivo que teve para ser uma boa mulher nobre. Jasmim, sabendo muito bem disso, nunca perdia oportunidade de exaltar as habilidades dela, um simples gesto que deixava Lia muito feliz.

— Lia, como sempre seu chá está incrível. Já estou começando a me sentir bem melhor! — disse Jasmim.

— Obrigado Jasmim, depois de tudo que aconteceu hoje, julguei que seria ótimo apenas beber algo quente antes de irmos dormir. Ainda mais com o vento gelado de hoje — disse Lia.

— Você é muito gentil, Lia — falou Kira — Realmente hoje foi uma noite bem agitada, se bem que a esse ponto, o certo não seria: outra noite normal para nós?

Luther, após o ocorrido, ficou o caminho todo repensado em como havia agido. Para ele esse era um exercício comum que fora até encorajado por sua mestra, todavia tinham momentos em que ele acabava levando isso de forma literal, se torturando muito mais do que aprendendo com seus erros.

— Me desculpem, essa situação toda só ocorreu por conta da minha imprudência. No fim só acabei os ajudando a executar o plano deles de nos superar em números — disse Luther.

— Mesmo tendo uma boa estratégia, eles falharam, Luther. Não se preocupe. Eles também erraram ao nos subestimar — falou Kira.

— Mas…

— Luther, somos emissários e guerreiros do clã de vento, não é a primeira vez que nos arriscamos e nem será a última. No fim, o que importa é que vivemos para ver mais um dia — Lia o interrompeu.

— A única coisa que me irritou durante o ocorrido foi aquele ex-templário brincando conosco. Era como se para ele, nós fossemos apenas um grupo de mercenários vindo de lugar nenhum — disse Jasmim.

— Bem, pelo menos no final das contas, já temos um responsável, ou melhor, responsáveis pelos assassinatos de usuários de magia em Port Strong. Agora que sabemos quem é o líder, não me admira eles estarem matando seus alvos com tanta facilidade. Pelo que eu sei, ninguém naquela cidade tem chance contra eles — falou Luther.

Jinn olhava para as chamas da fogueira que refletiam em seus olhos castanhos e jogou um pouco mais de lenha para manter as chamas acesas. Ouvir sobre pessoas como Poltergeist o enchia de desprezo e raiva.

— Um bando de covardes, liderados por um covarde maior ainda! Usuários de magia sem uma runa para usar magia elemental ou treinamento algum se tornam alvos fáceis — disse Jinn.

— O pior foi ver um dos caçadores usando umas daquelas máscaras — falou Jasmim.

— A da Seita da Foice Lunar?! — disse Kira. 

— Sim…

— Porque alguém usaria aquela maldita coisa, sabendo tudo que ela representa? — disse Lia.

— Eu não sei, acho que no fim para alguns instigar o medo é mais importante do que qualquer coisa — falou Luther ao colocar a mão sob a cicatriz acima de seu olho.

Por um momento todos ficaram em silêncio, pois aquele assunto lembrava a todos do motivo pelo qual eles estavam tirando “férias” de suas funções no Clã do Vento, até que Kira quebrou o silêncio puxando assunto com Castiel que estava quieto bebendo seu chá dizendo:

— Castiel, você parece ter a nossa idade, de onde você é?

— E-eu não sei. Eu tenho tentado me lembrar das coisas enquanto vínhamos para cá, porém não sei de onde eu vim ou como eu parei aqui — falou Castiel.

— Então a única coisa de que você se lembra sobre você é o seu nome?

— Sim.

— Aquela magia que você utilizou foi muito poderosa. Você é um Emissário de Fogo? — falou Jasmim aproveitando a brecha criada por Kira.

— Eu não sei. Me desculpe — disse Castiel.

— Você se importa de mostrar sua runa? — Jasmim apontou para a posição onde a runa se encontrava em Castiel.

Lia e Luther que haviam sentido algo estranho na aura mágica do novo integrante do, aguardaram ansiosamente por Castiel que inocentemente levantou a manga de sua camisa revelando a  sua runa.

— Impossível! — disparou Jinn.

— Como ele pode ter essa runa sendo humano ou pelo menos aparentando ser? — disse Lia em voz baixa. 

“Isso explica porque eu estava sentindo aquela aura estranha vindo dele”, pensou Lia.

As suspeitas de Jasmim e Luther foram confirmadas, porém, a runa que Castiel possuía só poderia ser portada por membros de uma raça específica e esta raça estava extinta há muito tempo.

Constatando os olhares de medo e receio de todos, Castiel começou a ficar agitado, tomado por preocupações e disse:

— Isso é algo ruim?! Eu vou morrer?! Eu sou algum tipo de monstro?!

— Calma, calma, Castiel — Luther se aproximou de Castiel com a voz tranquila e o encarou diretamente em seus olhos. — Você não está sozinho, não precisa ficar com medo, estamos aqui com você.

— Você não é um monstro — falou Jasmim.

Castiel se acalmou e o ambiente ficou mais tranquilo outra vez, porém o grupo sabia que qualquer que fosse o segredo por trás da runa e das memórias de Castiel era algo que tinha o potencial para mudar o mundo.



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