Emissários da Magia Brasileira

Volume 1

Capítulo 22: A Outra Face

Antes que o som do tremor ecoasse por toda a cidade e Kira partisse em busca da fonte da pesada energia mágica, Castiel e Ash travavam uma batalha feroz na praça. A luta entre os dois estava equilibrada, com poucas aberturas para ataques decisivos. Até mesmo o kon mender, que antes interferia a favor de Ash, agora não conseguia mais espaço para ajudar sua mestra.

Castiel, seguindo o conselho da voz em sua mente, avançou mais uma vez contra a caçadora, fingindo atacar a parte superior do corpo. Quando estava próximo o suficiente, ele revelou sua verdadeira intenção: um chute giratório que atingiu o quadril de Ash, criando o espaço necessário para se afastar. O kon mender tentou atacar pelas costas de Castiel, mas ele escapou a tempo.

“Controle a respiração, Castiel. Batalhas longas são decididas pela fadiga. Se você não aprender a controlar sua respiração, não vai aguentar os dois”, disse a voz em sua mente.

Ao se afastar, Castiel notou uma adaga encantada cravada em sua coxa e ficou perplexo por não ter percebido quando Ash a lançou. Sem poder guardar uma de suas espadas para remover a adaga, ele apenas enxugou o suor da testa e alternou seu olhar entre Ash e o kon mender.

Tanto Castiel quanto Ash estavam feridos, mas a caçadora se levantou, agradecida pelo treinamento rigoroso de Poltergeist, que a permitia suportar a dor e continuar lutando. Para garantir que não ficaria para trás devido ao fator de regeneração mágica de Castiel, ela pegou uma pílula de seu bolso para acelerar a cura de seus ferimentos.

“Quase não consegui contra-atacar, mas agora que a adaga está nele, isso não deve demorar mais. Ou pelo menos eu espero que não”, pensou Ash, torcendo para que o encantamento da adaga atrapalhasse a regeneração de Castiel.

Castiel, querendo ganhar tempo para recuperar o fôlego, disse:

— Acho que no final eu estava errado quando disse que isso seria rápido. Daquela vez, você estava pegando leve comigo, não é?

“Ele está tentando enrolar? Isso é bom. Ele deve estar mais cansado do que eu pensei”, pensou Ash.

— Acredito que ambos nos subestimamos, mas, independentemente disso, eu ainda sairei vencedora daqui — respondeu Ash.

— Você não acabou de dizer que me subestimou? — perguntou Castiel.

— Fique tranquilo, não estou subestimando você. Isso é apenas uma questão de que falhar não é uma opção. Respondendo à sua pergunta: na floresta, eu ainda não tinha intenção de acabar com você. Aquilo foi um teste.

— Teste?! Estava me testando para quê?!

— Você não precisa se preocupar com isso.

“Chega de conversar com ele, Ash. Não cometa o mesmo erro da última vez. Ele é apenas um monstro que você precisa capturar!”, pensou Ash.

No entanto, antes que um dos dois avançasse para continuar a batalha, ambos sentiram uma forte energia mágica vindo de perto. Pela pressão que Ash sentiu, ela soube imediatamente que se tratava do alvo de Isami — ou pelo menos um deles.

As mãos de Castiel tremeram enquanto a voz em sua cabeça pedia que ele se acalmasse, mas ele não conseguia. O kon mender se encolheu, rosnando e olhando ao redor, também afetado pela energia.

“O que está acontecendo aqui?! Meu corpo está pesado, não consigo me mexer. Isso é medo?”, pensou Castiel.

“Castiel, mantenha o foco! Não se esqueça de que seu oponente está bem na sua frente!”, disse a voz.

Ash prendeu a respiração ao ver Castiel soltar uma de suas espadas e arrancar a adaga cravada em sua coxa. Ela sorriu, admirando a ousadia de usar a dor como combustível.

Um estrondo cortou o ar, seguido pelo desabamento de uma construção. De longe, Isami despencou entre Castiel e Ash, atingindo o solo com força suficiente para erguer uma nuvem de poeira. Ossos estalaram no impacto, mas, antes que a poeira assentasse, ele já se levantava, ajustando o corpo e arrancando a metade da lança de sangue de Ena cravada em seu estômago.

O coração de Ash disparou quando seu pingente captou uma onda de magia vinda do oponente de Isami.

Do alto de uma das casas, Ena mergulhou em um salto, perseguindo o caçador e forçando todos a recuarem. O impacto de sua aterrissagem rachou o chão, e a poeira ergueu-se como um véu. No meio da névoa densa, apenas uma coisa era visível—seus olhos vermelhos, brilhando como brasas vivas.

— Deve doer bastante quando enfiam algo na sua barriga, não é, “caçador”? Uma pena que minha arma quebrou. Agora vou ter que matar você com meus punhos! — disse Ena, com um sorriso cruel.

Castiel, sem perceber, deu um passo para trás. Ena, vendo isso, riu dele e disse:

— Por que está com medo de mim?! Ainda está fingindo ser humano? Mas talvez seja bom para você sentir medo. Pode ser que você não seja um dos fortes no final das contas…

“Do que ela está falando?! Essa não é a assistente do governador?! Por que estou com tanto medo? Não consigo nem falar!”, pensou Castiel.

Querendo aproveitar a poeira enquanto ainda havia tempo, Ash mordeu a língua para conseguir investir contra Ena. Ao ficar cara a cara com a emissária, ela disse:

— Hora de morrer, filha do demônio! Atrapalhar minha missão foi um grave erro!

— Não tão grave quanto a sua ingenuidade assassina! — respondeu Ena.

A emissária esquivou-se com facilidade do primeiro ataque de Ash, mas a caçadora rapidamente lançou uma adaga na direção de sua perna como distração. Ena conseguiu agarrá-la a tempo, mas não evitou o chute duplo de Ash, que a lançou para trás.

Cuspiu sangue e avançou, cravando as mãos nas adagas da caçadora para imobilizá-la. O kon mender, percebendo sua mestra em perigo, investiu contra Ena, mas ela afastou Ash com uma cabeçada antes de se virar para a criatura. Agarrando-a por uma das asas, Ena a quebrou com um movimento brusco, sua mão ainda atravessada pela lâmina. O grunhido de dor do kon mender ecoou pelo ambiente enquanto sua asa esquerda se tingia de sangue.

Ash, ainda atordoada, puxou mais duas adagas. Isami recuperou sua foice do chão, e Castiel, segurando firme o cabo da espada, hesitou. Não sabia a quem atacar, mas o som do kon mender gemendo de dor fez a raiva ferver dentro dele.

Ena, mesmo cercada por hostilidade, suspirou e arrancou as adagas de sua mão casualmente. Ela riu ao perceber que Isami estava prestes a atacá-la.

— Você acha mesmo que vai conseguir me parar com essa foice ridícula? Se quiserem vir os três ao mesmo tempo, não vai fazer diferença. Nenhum de vocês vai me derrotar hoje! Não me façam esperar, eu não tenho o dia todo! — disse Ena, com um sorriso macabro.

Para diversão de Ena, Isami e Ash a atacaram antes mesmo que ela terminasse de falar. Ena respondeu indo primeiro na direção de Isami, atingindo-o com um soco. Ele conseguiu atingir seu queixo com a ponta da lâmina de sua foice, arrastando-a consigo quando o impacto do soco o lançou para trás.

Ena caiu no chão um pouco antes de Isami, e Ash cravou suas adagas nas costas da emissária, fazendo um corte profundo. Ash arrancou as adagas antes de recuar, fazendo Ena grunhir de dor. Para não desperdiçar sua energia mágica, já que estava usando bastante para se regenerar, Ena disse:

— Arte Imperial: Modulação de Sangue!

O sangue próximo a Ena se transformou em espinhos, que ela lançou na direção dos dois caçadores. Aproveitando a oportunidade, a Emissária de Sangue usou a força das pernas para se impulsionar na direção de Ash, acertando-a com o joelho no estômago. A caçadora caiu perto de Castiel, tossindo sangue. Os olhos dele se cruzaram com os de Ena.

“Vamos, Castiel, mexa-se! Não seja um covarde!”, pensou ele.

— Arte Imperial: Modulação de Sangue! — disse Ena, repetindo o encantamento para matar Ash.

“Mexa-se! Mexa-se! Mexa-se!”, pensou Castiel repetidamente.

Ash agonizava, tentando se levantar enquanto via Ena lançando os espinhos de sangue em sua direção.

“Não vou conseguir me recuperar a tempo. Desculpe, senhor Poltergeist… eu falhei”, pensou Ash.

Isami atacou Ena para impedi-la, mesmo sabendo que era tarde demais, em honra ao seu mestre. Para o espanto de Ash e Ena, Castiel se colocou na frente da caçadora e repeliu o ataque da emissária com sua espada, sendo atingido apenas por alguns espinhos.

— Por quê? — perguntou Ash, com dificuldade.

— Temos um inimigo em comum. Depois que terminarmos com ela, continuamos nossa luta — disse Castiel, arrancando os espinhos de seu corpo.

O caçador mascarado trocou alguns golpes com Ena e, por fim, conseguiu atingi-la, perfurando seu ombro. Com a foice de Isami cravada em seu ombro, Ena o segurou pela roupa e, com um giro, o lançou em direção ao tronco de uma árvore. Livre do caçador por enquanto, Ena se virou para Castiel, Ash e a emissária que acabara de chegar.

— Pelos deuses, o que está acontecendo aqui?! Isso é ruim… muito ruim! — disse Kira, chegando perto de Castiel.

“Não posso acreditar que a assistente dos Damaris era uma Emissária de Sangue, e com uma energia mágica tão forte assim!”, pensou Kira.

— Eu não sei direito o que ela é, mas sim, isso é muito ruim mesmo! Eu só sei que ela é algo muito perigoso! — disse Castiel.

— Já disse que não tenho o dia todo! Não vou ficar esperando vocês virem até mim! — disse Ena.

Embora Ena não fosse tão rápida quanto um Emissário de Vento, ela se aproximou rápido o suficiente para forçar Kira a usar o escudo de vento sem conjuração, colocando-se na frente de Castiel para protegê-lo. No entanto, a força bruta de Ena rompeu o escudo.

Castiel saltou na direção de Ena para proteger Kira e atacou a emissária com sua espada. Ena desviou o rosto a tempo, levando apenas um corte na bochecha. Kira usou o impulso de vento para atacar Ena, que cruzou os braços para se proteger da espada que cravou neles.

Ena empurrou Kira para se livrar da espada e atingiu Castiel com um chute no pescoço, evitando seu próximo ataque. Com Kira desequilibrada, Ena a socou três vezes, levando alguns cortes no processo, e terminou com um chute que fez a emissária cair no chão, coberta de sangue.

A caçadora tentou se levantar, mas levou um chute de Ena, que disse:

— Fique no chão, querida. Isso já está ficando vergonhoso.

“Eu ainda… não… terminei. Preciso proteger…”, pensou Kira, arrastando-se até sua espada.

Com o corpo cheio de dores e o cansaço no limite, Castiel se levantou, vendo Kira ensanguentada no chão e Ena se aproximando.

— Sai… de perto dela! — disse Castiel.

— De quem você está falando? Dessa aqui? O azar é dela por já ter vindo ferida de outra luta. Acabou durando pouco — disse Ena, com desdém.

— Se você tocar nela, eu vou te matar!

Castiel apontou sua espada para Ena, com as mãos trêmulas de fadiga, e seus olhos começaram a mudar para um tom avermelhado.

“Ele finalmente vai parar de fingir ser humano? Vou empurrá-lo só mais um pouco. Tem uma boa oportunidade se apresentando aqui”, pensou Ena.

Quando Kira encostou no cabo de sua espada, Ena chutou seu rosto com força suficiente para jogar seu corpo para frente. Castiel, enfurecido, largou sua espada e correu na direção de Ena, dando um soco que a emissária não conseguiu desviar a tempo.

Ena se chocou contra a parede de uma casa, rindo ao sentir a energia mágica que Castiel estava emanando. Ela disse para si mesma:

— Finalmente, isso vai ficar divertido!

Kira, antes de perder a consciência, viu um Castiel completamente diferente indo atrás da Emissária de Sangue. Seus olhos estavam vermelhos, com íris semelhantes às de um gato. Chifres surgiram em sua cabeça, assim como asas e uma cauda de cor preta e vermelha. Ele grunhiu para Ena enquanto a pegava pelo pescoço, com uma expressão mais parecida com a de um monstro do que de uma pessoa.

A visão de Castiel estava turva, e ele não conseguia mais se sentir no controle de suas ações. Naquele momento, ele tinha apenas uma coisa em mente: “Matar! Matar! Matar!”.

Ena pegou as mãos de Castiel, forçando-o a soltá-la. Com uma satisfação nítida em seu rosto, ela disse:

— Vamos dançar, draconiano! Espero que consiga me manter entretida mais tempo que os outros!