Emissários da Magia Brasileira

Autor(a): Gabriel Gonçalves


Volume 1

Capítulo 18: Cumprindo uma promessa

Saindo da antiga casa de Himiko, o grupo composto por Koloman, Ian, Castiel, Margery seguem Himiko, após verificarem o grupo de nobres que estavam escondidos no porão de sua casa.

A nobre depois um curto período de descanso, passou o resto da madrugada organizando os civis, para que todos que não fossem lutar pudessem ficar escondidos em segurança até o fim do conflito com os caçadores.

Luther desconfiado que Ian pudesse fazer algo contra Himiko, mesmo sabendo que Ian temia pela segurança de sua esposa, mandou que Castiel a acompanhasse para ter certeza que a elfa ficaria segura, confiando nas habilidades de espadas dele para protegê-la.

Fazendo seu melhor para cumprir seu papel, Castiel se mantinha alerta enquanto seguia Himiko sem esconder sua hostilidade com os duvidosos aliados.

— A mobilização dos civis foi um sucesso! Estou até surpreso que os nobres cooperaram tão bem, considerando que vão ter que ficar escondidos em um porão com um pouco de comida enquanto aguardam, espera… esqueça o que eu disse — disse Koloman.

— A senhora Kami já havia conversado com eles sobre isso na noite anterior, como você mesmo pode notar, eles não têm muitos problemas em deixar que os outros façam o trabalho para eles enquanto descansam — disse Margery.

— Se eu pudesse teria colocado todas as pessoas escondidas em segurança, mas a polícia não conseguiria dar conta de todo o território, principalmente depois da rebelião. Então enquanto eles se escondem, temos vários voluntários arriscando suas vidas para manter a cidade segura, espero que eu não me arrependa de ter deixado civis ajudarem… — disse Himiko.

— Não se preocupe, senhora Kami, estamos todos apenas lutando pelas nossas famílias — disse Koloman.

Parando de andar, Himiko não precisou dizer uma palavra sequer para que Koloman se arrependesse de seu comentário. Até mesmo Castiel, que não era alvo da irritação da elfa, ficou tenso.

Antes que Koloman pudesse se desculpar, um policial chegou correndo até Himiko dizendo:

— Eles chegaram! Senhorita Kami, a comandante falou para lhe avisar que eles já estão aqui! Estão atacando a cidade de dois pontos diferentes!

— Quais são os pontos da cidade que eles estão atacando? — disse Himiko.

— Um grupo maior está atacando pela entrada principal da cidade no ponto leste e outro menor está atacando do ponto oeste da cidade. A comandante já conseguiu organizar dois grupos para proteger esses dois locais, ela acredita que o grupo menor de caçadores seja uma distração.

— Onde está o Poltergeist? 

— Na entrada principal, senhora.

Levando apenas alguns segundos para considerar o que faria a seguir, Himiko pegou a pistola que estava carregando consigo desde seu último encontro com Dariss

— Droga, se nossas forças ficarem dispersas podemos acabar perdendo para os Caçadores de Elite. Avise a comandante Carla que estou indo para batalha na região oeste dar um fim ao grupo menor quanto antes para que nossas forças não fiquem tão dispersas. Vá agora!

O policial assentiu e correu de volta para a entrada principal seguindo as ordens de Himiko e ela se virou para Koloman e disse:

— Quero que a Margery fique em segurança até tudo estar acabado, então levem ela para um local seguro imediatamente!

Entretanto, Margery se colocou no caminho de Himiko para impedi-la de ir para a batalha.

— Eu não posso deixar que a senhora vá, é muito perigoso. A senhora ainda nem ao menos assumiu formalmente o cargo de governadora, não podemos perder você em hipótese alguma! Himiko, você precisa ficar escondida também, se eles te virem na batalha você vai virar o alvo principal, por favor reconsidere — disse Margery.

Mesmo tendo treinamento em defesa pessoal, era um fato que Himiko não tinha experiência real em um campo de batalha e as chances eram altas dela se ferir no campo de batalha ou até mesmo falecer, Margery não conseguiria se considerar uma boa amiga se permitisse que ela fosse lutar, principalmente agora que Himiko tinha um importante papel a cumprir.

Contudo, o olhar de Himiko deixou claro para Margery que ela já havia tomado a sua decisão e não iria retroceder.

— Porque está tomando esse risco, você não tem nada a provar! — falou Margery.

— Eu conversei com uma pessoa que me fez perceber que ainda tenho sim. Esta cidade se encontra em um momento de crise e acabamos de reclamar que os nobres estão se escondendo enquanto parte dos civis se juntou aos policiais para proteger essa cidade. Não posso me esconder, mesmo que seja o mais racional a se fazer, Port Strong precisa de uma líder que lute por ela. Essas pessoas precisam ver que seu líder se importa com eles e não fica apenas usando eles como peões — falou Himiko.

— Mas…

— Não, Margery. Vou lutar e vou vencer, não há espaço para pensar na derrota, Lauren não morreu protegendo uma covarde. Ela morreu protegendo a governadora de Port Strong e está na hora de mostrar para aqueles caçadores que eles não estão atacando uma cidadezinha do interior cheia de pessoas indefesas! Os Emissários de Vento não são a única coisa que eles precisam se preocupar!

Margery ficou boquiaberta com determinação de Himiko, perdendo toda a insegurança de que a nobre morreria em combate. Se lembrando de como Himiko lidou com a armadilha na prisão, Koloman e Ian novamente sentiram o tamanho da força de Himiko.

“Eu fui um tolo, achei que tinha entendido quem era Himiko Kami, mas estava completamente errado. Esta jovem, não, esta mulher não é só uma rica mimada. Ela tem o que é necessário para liderar Port Strong e eu só não tinha enxergado”, pensou Koloman.

— Filho, leve a assistente da governadora Kami para um local seguro. Eu vou acompanhá-la até o campo de batalha, não vou permitir que ninguém encoste um dedo sequer nela — disse Koloman.

— Que mudança drástica, Koloman, assim fica difícil de acreditar em você — disse Himiko.

“Tirou as palavras da minha boca”, pensou Castiel.

— Não é repentino. Minha lealdade continua sendo a esta cidade e a minha família, eu apenas percebi que temos um líder capaz fora da família Damaris. Por isso eu, o comandante da polícia de Port Strong, farei o possível para protegê-la!

— Tudo bem, eu aceito a sua ajuda, mas saiba que eu não vou te colocar de volta como comandante.

— Justo! Não me culpe por tentar recuperar meu cargo, hahahaha.

Envergonhado com a cara de pau de seu pai, Ian se retirou para levar Margery a um lugar seguro que não fosse a casa antiga de Himiko, já que Margery não tinha interesse algum em ficar perto dos outros nobres da cidade. 

Cruzando uma pequena praça da cidade a caminho para a fronteira oeste da cidade, Castiel parou e sinalizou para que Himiko e Koloman fizessem o mesmo ao sentir uma presença estranha, semelhante à que havia sentido na floresta.

— Está tudo bem emissário? Eu não estou vendo nada até agora — disse Koloman olhando ao redor.

Também procurando pelo que deixará Castiel em alerta, Himiko segurou sua pistola e se manteve vigilante ao possível inimigo que Castiel sentiu. Até que uma sombra cobriu os três e quando olharam para cima se depararam com o kon mender indo na direção de Castiel tão rápido que ele quase não conseguiu sair do caminho a tempo. 

A criatura voltou a subir no céu e Castiel percebeu haver uma pessoa montada na criatura que retornava para seu próximo ataque. Ele riu ao se dar conta de quem era a pessoa que estava o atacando e disse:

— É melhor vocês seguirem o caminho de vocês! Eu cuido dela!

— Tem certeza disso? Podemos ajudá-lo e depois irmos todos juntos para a fronteira oeste! — disse Himiko.

— Não há necessidade de vocês perderem tempo aqui, pode ir senhora Kami. 

Ash compreendendo o que estava acontecendo, se aproximou com o kon mender a uma distância segura dos seus oponentes, encarando Castiel. 

— Termine isso o mais rápido possível, emissário! — disse Himiko sinalizando para Koloman baixar sua arma.

— Não se preocupe, senhora Kami, isso não vai levar muito tempo! — disse Castiel.

Depositando sua fé nas palavras de Castiel, Himiko e Koloman seguiram ao seu destino. O kon mender rosnou para Castiel se preparando para o atacar e Ash com a expressão neutra disse:

— O que te dá a impressão que você conseguirá vencer? Isto não vai ser como da última vez!

Mesmo que Ash soubesse que sua missão era apenas capturar Castiel, ela precisava fazer com que ele não suspeitasse de suas intenções, assim ela conseguiria capturá-lo facilmente.

Ela lutaria fingindo que iria matá-lo, afinal não teria problema algum se ele sofresse alguns ferimentos graves, já que por conta do que ele era, Ash tinha certeza que seu fator de regeneração mágica era maior que um usuário de magia comum. Além disso, Ash queria testar os limites de Castiel para só então subjugá-lo.

— Não se preocupe, eu lembro da sua promessa! Eu também não tenho a menor intenção de agir como da última vez — disse Castiel.

“Pare de cerimônias e puxe logo as suas espadas, você tem o péssimo hábito de falar demais!”, Castiel escutou a voz da mulher de cabelos vermelhos, que ele havia escutado antes e sorriu enquanto sacava suas espadas.

— Vai se um prazer tirar esse seu sorrisinho idiota do rosto! — disse Ash saltando do kon mender para atacar Castiel com suas duas adagas encantadas em mãos.

“Não me decepcione, Castiel, ou essa vai ser a última aula que eu vou te dar!”, disse a voz na mente de Castiel.

Castiel foi ao encontro de Ash com suas espadas em mãos, sem se conter para cumprir com a sua promessa a Himiko. Ao se chocarem as lâminas dos dois soltam faíscas e escutando o som da criatura se aproximando, Ash saiu do caminho do kon mender que acertou Castiel em cheio com sua cauda fazendo com que ele quase perdesse o equilíbrio.

— Você tem razão! Isso vai acabar rápido! — disse Ash avançando para o próximo ataque.

“Não vou dar tempo algum para você respirar, em hipótese alguma irei decepcionar o senhor Poltergeist!”, pensou Ash.

 

 

Alguns minutos antes, enquanto o policial chegava para avisar Himiko da chegada dos caçadores. Bogna caminhava irritada em direção a delegacia com Nádia logo atrás dela.

— Nádia volta para o bar e fica no porão! Não é seguro para você ficar aqui fora! — disse Bogna parando em frente a Nádia.

— Como que é perigoso para mim e não para você? Só porque está armada com um arpão? Eu sou uma usuária de magia, o que significa que meu corpo é mais forte e resistente do que uma pessoa comum e se eu me ferir me regenero muito mais rápido que você — disse Nádia.

— Isso até seria útil se você tivesse qualquer habilidade em luta, sua mãe tentou te ensinar mostrando o caminho dos elfos, mas você não quis. Aposto que nem lembra direito o que ela ensinou! 

Nádia ficou cabisbaixa ao se lembrar de sua mãe e Bogna voltou a falar:

— Desculpe de ter fazer lembrar dela, mas esse justamente é outro ótimo motivo para você não me seguir. Não tem como você ajudar a ficar de guarda na prisão nesse estado, se algo ruim acontecer pode acabar te deixando em um estado ainda pior. Só volta, por favor.

Sem esperar pela resposta de Nádia, Bogna voltou a caminhar em direção a prisão e ficou agradecida ao não ouvir os passos de sua amiga a seguindo.

“Não posso ter distrações hoje, meu foco precisa estar no objetivo!”, pensava Bogna.

Todavia, não levou muito tempo para que Bogna voltasse a escutar Nádia a seguindo e ficando sem paciência alguma, Bogna falou:

— Mais que porcaria, Nádia, para de ser tão teimosa!

— Por que você está agindo assim comigo?! Eu também quero ajudar, mesmo que seja difícil, eu quero ajudar! — falou Nádia lacrimejando.

— Eu não ligo! Eu quero que você fique em segurança, que droga!

— O que está acontecendo aqui? — disse uma doce voz feminina.

As duas se surpreendem ao se depararem com Freirr que sorriu para as duas e pousou sua mão no ombro de sua filha Bogna para que ela se acalmasse. 

— Desculpe mãe, é que a Nádia quer ir ficar de guarda na prisão como voluntária, mas eu não acredito ser uma boa ideia depois de tudo que ela passou — disse Bogna.

— Você é tão fofinha se preocupando com a sua melhor amiga! — disse Freirr abraçando Bogna e fazendo Nádia rir com a cara de sua amiga — Melhor a deixar ir, vamos torcer para não ter problema algum.

— Sério, eu vou poder ir?! — disse Nádia com os olhos brilhando.

— Mãe! — protestou Bogna.

— Não há o que fazer, a Nádia é uma mulher adulta e precisamos respeitar as decisões dela.

— Mãe, por favor…

— Desculpe filha, não podemos forçar ela a nada.

Contente, Nádia correu até Freirr e a abraçou. 

— Obrigado, tia Freirr, a senhora é a melhor!

— Que exagero, Nádia, não estou fazendo nada de mais.

Bogna fitou sua mãe irritada, mas Freirr apenas ignorou e sem levar muito tempo as três chegaram até o ponto onde ficariam de vigia, a entrada dos fundos da delegacia que ficava em um beco estreito onde se encontravam outras três pessoas, além delas.

Após alguns minutos em silêncio, Nádia notou que sua amiga estava muito inquieta, olhando constantemente para os lados, segurando firme o seu arpão. 

— Ela tenta ser valente, mas está tão ansiosa quanto todos aqui. Afinal de contas, estamos todos correndo risco de vida, sejam os policiais, voluntários ou até mesmo os que estão escondidos. É difícil lidar com medo de ser morto a qualquer momento por um estranho que simplesmente decidiu que você precisa morrer — disse Freirr.

Suas palavras tocaram na ferida de todos que estavam presentes, mas o jeito calmo que Freirr falava trazia um sentimento maior de compreensão do que de receio e o fato de que ela estava se alongando sem nenhum sinal de preocupação reforçava isso nos voluntários. Exceto Nádia que parecia ficar mais inquieta a cada segundo que se passava.

— É verdade, é muito difícil esse sentimento. Eu não sei como lidar, eu quero ser corajosa, mas tenho medo também do que estamos fazendo, do risco que estamos correndo e das consequências. O que eu faço, tia? — falou Nádia pensando na coragem de sua mãe em defender Himiko.

— Estar aqui é o bastante por agora, afinal fomos nós que decidimos que agora é hora de agir. Não somos covardes, estamos aqui para fazer o que precisamos mesmo que seja difícil para nós — falou Freirr.

— Mãe! — falou Nádia com a sua mão tremendo.

— Desculpe, acho que acabei fazendo vocês ficarem ansiosos — disse Freirr parando de se alongar checando as pessoas ao seu redor — Eu não queria ser rude, eu realmente peço desculpa por tudo.

— Tia, por favor, não precisa…

Nádia se interrompeu e entrou em estado de choque ao ver os olhos de Freirr ficarem vermelhos. Antes que os outros tivessem tempo reagir, ela com a própria mão golpeou um dos homens na barriga perfurando o abdômen, em seguida quebrou o pescoço do segundo e com um soco quebrou a caixa torácica da mulher que sobrou.

Sem conseguir gritar, chorar ou menos perguntar o motivo, Nádia se lembrava de todos os momentos que passou com a sua melhor amiga e todas às vezes que sua mãe Freirr ajudou Lauren e ela, enquanto Freirr caminhava em sua direção com as mãos sujas de sangue e Bogna gritando algo que ela não conseguia entender.

Freirr pareceu pedir novamente desculpas para Nádia, mas ela não tinha a certeza por não se boa em leitura labial e quando o punho de Freirr encostou em seu rosto tudo escureceu e antes que perdesse completamente a consciência ela escutou de longe a voz de Bogna.

— Nádiaaaaa!!!!! — disse Bogna.



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