Emissários da Magia Brasileira

Autor(a): Gabriel Gonçalves


Volume 1

Capítulo 16: Desejo de um Guerreiro

Após ter seu braço enfaixado, Ash seguiu Poltergeist e Isami até um local mais reservado, onde pudessem conversar sem serem perturbados. O kon mender foi deixado para trás, obedecendo à ordem da elfa para que esperasse, embora a criatura tivesse tentado seguir seu mestre inicialmente.

Os jovens caçadores observavam Ash com um misto de admiração e ciúmes. Dídac, que permaneceu no acampamento, ouviu alguns deles comentando:

— O Isami acompanha realmente o senhor Poltergeist para todo lugar, nem o deixa sozinho para cagar.

— Respeite o senhor Poltergeist, Hotsuma! Ele é procurado pela Aliança. É óbvio que um dos homens mais fortes daqui ficaria de guarda para protegê-lo — retrucou Dídac, defendendo o líder.

— Para de puxar saco, Dídac! Ele só está brincando. Todos aqui dariam a vida pelo senhor Poltergeist. Se quer mesmo o lugar da Ash, vai ter que fazer mais do que só beijar o chão que ele pisa — zombou outro caçador, sem desviar os olhos de sua comida.

Os caçadores ao redor riram, e Dídac, irritado, deu um tapa na tigela de comida do homem. Este, enfurecido, puxou Dídac pela gola da roupa. O clima ficou tenso, e todos ao redor pareciam ansiosos por uma briga. No entanto, um dos caçadores mais velhos, Edgar, levantou-se calmamente. O simples gesto foi suficiente para que o agressor soltasse Dídac imediatamente.

Edgar, um dos primeiros caçadores a seguir Poltergeist, era conhecido por sua presença imponente e silenciosa. Aos sessenta e quatro anos, ele ainda era uma máquina de matar, e sua reputação mantinha os jovens caçadores sob controle. Poltergeist confiava nele para manter a ordem no acampamento, e o método era infalível.

— Desculpe, Nikolas. Eu não devia ter feito isso — disse Dídac, arrependido, enquanto se repreendia mentalmente por sua impulsividade.

— Esquece. Vou pegar mais comida — respondeu Nikolas, afastando-se sem olhar para trás.

Dídac respirou fundo, tentando se recompor. “Preciso me controlar. Essa já é a segunda vez hoje. Quando invadirmos Port Strong, vou garantir a cabeça de um dos Emissários de Vento e provar meu valor ao senhor Poltergeist”, pensou, determinado.

— Quando entrarmos em Port Strong, vou matar um daqueles emissários malditos que mataram meus amigos e trazer a arma deles como troféu, seguindo o costume da nossa ordem — ouviu-se outro caçador dizer.

Dídac olhou para seus colegas, lembrando-se de que não estava sozinho em sua ambição. Muitos ali também desejavam tomar o lugar de Ash — ou até mesmo o de Isami, embora ninguém tivesse coragem de desafiar o homem mascarado.

A antecipação pelo ataque a Port Strong era palpável entre os jovens caçadores. Eles ansiavam por provar seu valor e se tornarem Caçadores de Elite, deixando para trás o status de meros aprendizes.

 

 

Enquanto isso, longe do acampamento, Ash explicava a Poltergeist seu encontro com Castiel, sem omitir detalhes.

— Foi por isso que eu disse que suas suspeitas estavam certas. Nunca vi uma criatura como ele, mas ele se parecia com um deles. O pingente também captou uma aura mágica ainda mais poderosa do que a que sentimos naquele dia — concluiu Ash.

Poltergeist riu, um som rouco e carregado de ironia.

— Hahahaha! Esse mundo maldito não cansa de me surpreender. Eu sabia que aquele garoto não era um Emissário de Fogo! Mesmo assim, estou surpreso de que sua raça ainda exista. Eles continuam por aí! — exclamou, passando a mão pela testa.

— Eles? Senhor, ele pode ser o último sobrevivente. Ninguém viu um deles há décadas.

— Não seja ingênua, Ash. Otimismo não leva a lugar algum. Sempre espere o pior. Se um deles existe, outros também podem estar por aí. Você não deveria ter hesitado em matá-lo, mas, desta vez, sua falha trouxe algo bom.

Ash baixou a cabeça, envergonhada.

— Eu não sei o que aconteceu comigo. Se fosse qualquer outra pessoa, já estaria morta!

— Você ainda carrega conflitos internos. Mesmo depois de tudo que passou, parte de você ainda acredita que usuários de magia podem ter bondade. Mas, como eu disse antes, neste mundo, você deve sempre esperar o pior. Caçadores são carrascos das sombras. A luz da esperança só vai cegá-lo na hora de cumprir seu dever.

— Considere esse problema resolvido, senhor. Não falharei novamente! Suprimirei qualquer dúvida dentro de mim. Vou ajudá-lo a criar um mundo onde as pessoas não sejam destruídas pela magia, custe o que custar.

— São palavras fortes, mas não passarão disso se você não enfrentar suas dúvidas. Suprimi-las só levará ao mesmo erro.

Ash cerrou os punhos, forçando-se a visualizar os rostos de sua família, rostos que jamais veria novamente. “Por que continuo tentando ver o lado bom nas pessoas? Se eu não enxergar meus inimigos como os monstros que são, nunca serei a pessoa que o senhor Poltergeist precisa”, pensou, determinada a endurecer seu coração.

 

— Ash, como trouxe informações valiosas e capturou uma criatura útil para nosso ataque, não vou repreendê-la por demorar a responder ao sinal. Mas reflita sobre o que eu disse. Agora, vá se juntar aos outros e comer algo. Não quero você de barriga vazia.

— Sim, senhor! Prometo que, quando atacarmos a cidade, terminarei o que comecei. Ele morrerá por minhas mãos.

— Precisamos dele vivo para obter informações, Ash. Não se preocupe, eu o capturarei quando chegar a hora — interveio Isami, sua voz calma e firme.

Antes que ele terminasse de falar, Ash já havia puxado uma de suas adagas, aproximando a lâmina do pescoço de Isami. O homem mascarado permaneceu imóvel, sem demonstrar qualquer reação.

— Ele é minha presa. Se a missão é capturá-lo, serei eu quem o fará. Não me trate como uma criança incompetente só porque cometi um erro — disse Ash, seus olhos fixos nos de Isami.

— Não era minha intenção. Apenas informei o que será feito. Sugiro que abaixe a adaga; sua mão está tremendo, provavelmente pelo cansaço das batalhas — respondeu Isami, impassível.

— Não mude de assunto! Senhor Poltergeist, por favor, diga a ele que sou eu quem capturará aquele homem.

— Isami, vamos confiar nas habilidades de Ash. Ela tem o direito de terminar o que começou. Esse é um dos direitos de um caçador e deve ser respeitado — declarou Poltergeist.

— Obrigada, senhor Poltergeist. Peço desculpas pela minha atitude. Irei me retirar agora.

Enquanto Ash se afastava, Poltergeist refletia sobre o que a diferenciava dos outros jovens. Ela era uma das poucas que conseguia confrontar Isami sem recuar, mesmo sendo afetada por sua presença intimidante.

— Ela tem muito potencial — murmurou Poltergeist, pensativo.

— Você a mima demais — comentou Isami.

— Agora que sabemos o que aquele garoto realmente é, tudo faz sentido. A energia mágica, o portal... Até a Aliança, com todos os seus recursos, acreditava que eles estavam extintos. E aqui, em Eskos, encontramos um. Ainda é suspeito que ele não use suas habilidades plenamente. Ele parece se limitar a momentos-chave, assim como aconteceu com Ash e a kitsune.

— Concordo. Sua energia mágica é forte. Não há motivo para ele se conter, a menos que esteja escondendo algo.

— Mal posso esperar para interrogá-lo antes de entregá-lo a Yujiang. Sua existência vai causar pesadelos até no alto escalão da Aliança. Adoraria ver a cara deles quando descobrirem que ainda existem.

Poltergeist olhou para o céu, um sorriso, imaginando o caos que a revelação traria. “Os guardiões da paz são tão limitados quanto qualquer um. Espero que se sintam pequenos, como me fizeram sentir. Quantos segredos este mundo ainda esconde?”, pensou.

— Senhor, vamos atacar a cidade durante a madrugada? Todos estão prontos e ansiosos. A escuridão seria uma aliada — sugeriu Isami.

— Não. Quero que os emissários e os habitantes da cidade passem a noite em claro, com medo de que possamos aparecer a qualquer momento. Mesmo que se organizem em turnos, estarão exaustos ao amanhecer. E será nesse momento que atacaremos.

— É uma estratégia eficaz, senhor.

— Já tenho o planejamento completo para o ataque. Minha única preocupação é o monstro que se esconde na cidade. Ele é o único elemento que pode mudar o curso da batalha.

— Não se preocupe com isso. Eu mesmo matarei o monstro. Minha foice está sedenta por sangue, e não falharei.

Poltergeist olhou para Isami, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. Ele sabia que a lâmina de Isami não era a única coisa sedenta por sangue.

O templário ergueu os olhos para o céu novamente, como se aguardasse um sinal de que finalmente exterminaria as aberrações que se escondiam em Port Strong.

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