Volume 1
Capítulo 5: Um Homem Determinado
Na escuridão da floresta, Jayden ergueu seus punhos — seus músculos retesados. O suor escorria por sua testa, misturando-se ao sangue seco dos ferimentos anteriores. Ele respirou fundo, sentindo o cheiro da madeira queimada misturado ao odor pútrido que emanava das criaturas.
— Vocês acham que podem me quebrar?! — ele vociferou para as criaturas, cerrando os dentes.
Elas avançaram como sombras vivas, seus olhos brilhando com uma luz maligna. Jayden esquivou-se da primeira — girando o corpo com precisão — seu punho direito encontrou o torso de uma criatura. A explosão de fogo desintegrou-a instantaneamente, deixando apenas cinzas que flutuavam no ar pesado da noite.
— Próximo. — murmurou Jayden, seu olhar afiado perfurando o círculo de monstros à sua volta.
As criaturas hesitaram por um breve momento, mas a fome e o ódio em seus olhos superaram qualquer resquício de cautela. Elas se lançaram juntas — um enxame de sombras malformadas.
Ele girou sobre os calcanhares, desviando de uma garra que passou a centímetros de seu rosto, contra-atacando com um chute poderoso — envolto em fogo — que reduziu outra criatura instantaneamente a cinzas.
Contudo, ele mal teve tempo de se posicionar antes que outra ameaça viesse pela retaguarda. Girando o corpo novamente, ele impulsionou o cotovelo em chamas contra ela. O impacto foi acompanhado por um estalo seco, e a criatura se desfez em pedaços ardentes que iluminavam brevemente a escuridão.
Mas Jayden não podia relaxar. A cada golpe que ele desferia, mais criaturas surgiam. Elas se moviam como uma horda coordenada, cercando-o lentamente.
"É como lutar contra a própria noite," pensou, enquanto socava o chão com toda a força. Uma onda de calor explodiu ao seu redor, empurrando os monstros para longe por um breve momento. "Mas eu já vi noites mais escuras que essa."
Ele cambaleou levemente para trás, tentando recuperar o fôlego. Entretanto, antes que pudesse reagir, uma garra atingiu suas costelas com força.
Jayden sentiu a dor aguda cortar sua concentração. Ele cuspiu sangue, mas manteve-se de pé, encarando as criaturas com um sorriso amargo.
— Vocês não entendem, não é? Eu não vou cair. — Sua voz era firme, mas dentro dele, dúvidas começavam a se formar.
As criaturas — como resposta — começaram a atacar em sincronia. Ele conseguiu bloquear o primeiro ataque com o antebraço, mas foi atingido no flanco. Outro golpe o derrubou de joelhos.
"É isso? Depois de tudo que passei, vou cair aqui?" A visão de Jayden começou a escurecer, as sombras ao redor pareciam mais densas, mais vivas. Ele tentou acender suas chamas novamente, mas elas tremulavam, fracas como sua força.
Uma nova garra atingiu seu outro ombro, rasgando a carne. Jayden gritou de dor, mas se recusou a ceder.
— Não vou desistir... Não ainda. — Ele falou, mais para si mesmo do que para as criaturas.
Seus pensamentos vagaram para Abigail, Fynn e as crianças. Ele lembrou do sorriso de Abigail, sua determinação inabalável, e a promessa que fizera a si mesmo de protegê-los a qualquer custo.
— Eu não posso morrer aqui! — rugiu ele, levantando-se com esforço.
Mas, antes que pudesse reagir, mais garras o atingiram. A dor era insuportável. Ele caiu novamente, suas mãos encontrando a terra fria e úmida.
"Eu estou mesmo enferrujado… Será o fim?" pensou ele, enquanto seus olhos pesavam. Ele tentou resistir, mas a força estava se esvaindo de seu corpo.
A última coisa que viu foi o brilho dos olhos famintos das bestas antes de sua visão se apagar.
*Minutos antes na casa de Abigail*
O ambiente, normalmente acolhedor, parecia pesado e sufocante. A lareira crepitava baixinho, lançando sombras nas paredes de madeira envelhecida.
A porta se abriu com força, batendo contra a parede. Lam entrou apressado, os olhos arregalados e a respiração irregular, trazendo com ele o frio cortante da noite.
— Ho! Abigail! Jayden está lá fora... enfrentando várias criaturas! — Suas palavras saíram em um tom urgente, quase desesperado.
Abigail, sentada em uma cadeira simples de madeira, segurava um pano remendado que costurava à luz bruxuleante. Seus dedos pararam no meio de um movimento, e ela ergueu o olhar. Os olhos esverdeados dela, tão cheios de ternura ao cuidar das crianças, agora brilhavam com uma determinação inabalável.
— Onde ele está? — perguntou, a voz firme como uma rocha, cortando o silêncio opressivo da sala.
Lam hesitou, umedecendo os lábios secos antes de responder. — Ho! Ele foi para a floresta. Não sabemos se... se vai sobreviver.
Um silêncio pesado caiu sobre a sala, quebrado apenas pelo som das chamas na lareira. Abigail se levantou lentamente, deixando o pano esquecido sobre a mesa. Ela caminhou até o cabideiro perto da porta e pegou um manto pesado.
— Então vou buscá-lo.
Sua declaração foi calma, mas carregada de uma força que fez Lam recuar.
Sara, que estava sentada perto da lareira tentando manter as mãos ocupadas, deixou cair o cesto de costura. Ela levantou-se de um salto, seu rosto uma mistura de incredulidade e medo.
— Abigail, você não pode ir sozinha! — exclamou, a voz embargada. — Deixe que Lam e eu cuidemos das crianças, mas você... e se algo acontecer com você também?
Antes que Abigail pudesse responder, passos leves soaram nas escadas. As crianças, atraídas pela conversa acalorada, desceram lentamente, seus rostos ainda sonolentos, mas marcados pelo medo.
— Mamãe? — perguntou a menor, a voz fraca e trêmula. — O que está acontecendo?
Abigail se ajoelhou diante deles, suas mãos firmes segurando os pequenos ombros de Alessia. Ela deu um sorriso reconfortante, mesmo que o peso da preocupação estivesse claro em seus olhos.
— Não se preocupem. Lam e Sara cuidarão de vocês. Eu só preciso trazer o papai de volta, tá bom? — Sua voz era gentil, mas irrefutável.
Lam tentou argumentar novamente. — Abigail, isso é loucura! Você sabe o que tem lá fora? É horripilante…
Ela se levantou, ajustando o manto sobre os ombros. — E por isso que ele não pode estar sozinho. Se eu não for, quem irá? — Seu tom era resoluto, encerrando qualquer discussão.
Antes de sair, Abigail olhou para Sara. — Cuide deles. E confie em mim, eu voltarei. — Sem dar chance para protestos, ela abriu a porta e saiu, enfrentando o vento frio da noite que parecia ecoar os lamentos da floresta.
Sara, visivelmente preocupada, começou a recolher os objetos caídos enquanto Lam se aproximava da janela, olhando para a Abigail estava se preparando.
Após alguns momentos, Lam resmungou.
— O que ela acha que pode fazer sozinha?
Sara suspirou, inclinando-se para recolher um pedaço de madeira caída. — Não subestime Abigail. Ela é mais forte do que aparenta.
Lam cruzou os braços, mas sua curiosidade o levou a perguntar: — E aquele grande objeto que ela pegou? O que é aquilo? Sempre quis perguntar...
Sara olhou para ele de soslaio, hesitante. — Você vai ter que perguntar para ela. Eu mesma nunca entendi.
No mesmo momento, um rangido soou vindo da janela da casa. Do lado de fora, Abigail puxava com cuidado o tecido grosso que cobria algo volumoso. Ao remover o pano, revelou-se uma lança reluzente, feita de um metal prateado e brilhante, quase como a cor da lua. Ela passou a mão sobre a arma, seu olhar carregado de memórias.
Lam e Sara, que estavam curiosos vendo pela janela, abriram a porta e olharam para a lança com espanto.
— O que... é isso? — perguntou Lam, a voz carregada de surpresa.
Abigail lançou-lhes um olhar breve antes de segurar a lança com firmeza. — Apenas uma lança velha. Mas, por algum motivo, nas mãos dele, é mais forte do que qualquer coisa que já vi. — Ela ajustou a lança sobre o ombro, seu olhar fixo na floresta.
Sem mais explicações, ela partiu, deixando Sara e Lam intrigados e ainda mais apreensivos enquanto o som de seus passos desaparecia na escuridão.
A floresta vibrava com o caos. O rugido das criaturas misturava-se ao som do balançar das árvores.
Jayden, de joelhos, mal segurava a respiração. O sangue escorria por cortes profundos em seus ombros, enquanto as criaturas, famintas e implacáveis, o cercavam. Seus olhos brilhavam como brasas na escuridão. Ele apertava os punhos, mas seu corpo não obedecia mais.
Zing!
Um assobio cortante cruzou o ar, seguido por um clarão prateado que iluminou o campo de batalha.
— Levante-se, Jayden! — gritou Abigail, sua voz firme e cheia de autoridade, enquanto a lança reluzente cortava o céu e aterrissava com precisão ao alcance dele.
Jayden ergueu a cabeça, sua visão turva focando na arma. Ele estendeu a mão e agarrou a lança, sentindo uma energia poderosa pulsar através de suas veias. Era como se a lança estivesse viva, respondendo ao seu chamado. O fogo que parecia apagado dentro dele voltou a rugir.
— Você chegou a tempo, querida — disse ele, com um sorriso cansado, levantando-se com esforço.
— Até quando vai ficar apanhando delas? Você era mais forte que isso… quando me casei com você. — retrucou ela, erguendo uma mão para frente enquanto sua outra mão fazia gestos suaves.
— É... Acho que fiquei mole depois de casar. — murmurou, um sorriso cansado brincando em seus lábios, antes de estalar os ombros e voltar sua atenção para as criaturas à frente.
Jayden avançou, girando a lança em um movimento amplo. As chamas ao redor da arma intensificaram-se, e ele gritou:
— Noboru Jigoku!
Com um golpe no chão, uma onda de fogo disparou em linha reta, incinerando as criaturas em seu caminho. A explosão iluminou a floresta, revelando Abigail em meio à fumaça, cercada por uma aura etérea.
— Véu do Éden! — murmurou, e uma onda de vento giratório se formou ao seu redor, criando espirais prateadas que chicoteavam as criaturas. Os ventos não só cortavam, mas os arrastavam para longe, rasgando as sombras que os envolviam.
Ela balançou o braço direito em um arco elegante, o chão aos seus pés tremendo em resposta.
— Lamento de Gaia!
Do solo, colunas de espinhos de pedra emergiram com velocidade letal, empalando as criaturas que tentavam flanqueá-los. Cada coluna brilhava com uma leve luminescência, como se estivesse imbuída com a essência da própria terra.
Jayden e Abigail se moviam como se fossem um só. Ele avançava com ataques diretos, sua lança flamejante rodopiando como uma extensão de seu corpo, enquanto ela o cobria com magias devastadoras.
Uma besta maior, mais rápida, investiu contra Jayden, suas garras reluzindo à luz das chamas. Ele desviou por pouco, girando a lança em uma pirueta baixa que cortou as pernas da criatura. Com um salto, ele lançou a lança para frente, perfurando o peito do inimigo.
Abigail, observando a aproximação de outros, abriu ambas as mãos para frente com seus olhos começando a brilhar, e bradou:
— Coroa das Estrelas!
No céu, pequenos pontos de luz se formaram, brilhando como estrelas cadentes. Um a um, eles dispararam contra o solo, explodindo em explosões de energia prateada que pulverizavam as criaturas.
— Não está cansada, Abigail? — perguntou Jayden, parando ao lado dela por um momento.
Ela sorriu de canto. — Se você não está, eu também não.
Mais monstros emergiram das sombras, e os dois se entreolharam, um breve instante de compreensão entre eles. Jayden avançou novamente, seu corpo envolto por chamas intensas, enquanto Abigail continuava conjurando magias, seus movimentos graciosos, como uma dança entre a destruição e a beleza.
— Corrente Glacial! — murmurou ela, e correntes de gelo dispararam de suas mãos, prendendo várias criaturas no lugar, permitindo que Jayden as eliminasse com um golpe poderoso da lança.
A batalha parecia interminável, mas cada golpe, cada feitiço, era uma obra de arte em meio ao caos. Quando a última criatura caiu, Jayden e Abigail pararam, ofegantes. O chão ao redor estava queimado e rachado, as marcas das magias e da luta ainda estavam quentes.
Jayden encostou-se na lança, olhando para Abigail. — Viu? Você também está perdendo o jeito… casar te deixou mole, foi?
Ela deu de ombros, limpando o suor da testa. — Talvez um pouquinho…
— Ei… Vocês estão bem?! — Uma voz bem distante interrompia o momento
Eram Lam e Sara chegando com as crianças, seus olhos encheram de alívio ao ver os dois ainda de pé.
— Ho! Que bom que estão…
VROOM!
O chão começou a tremer, atrapalhando a fala de Lam. O tremor estrondoso sacudiu a terra, e as árvores balançaram violentamente. No horizonte, uma nova onda de criaturas da noite avançavam, respondendo ao abalo.
De repente, o solo sob seus pés se abriu, e uma criatura colossal emergiu.
Um monstro de fogo tão colossal que fazia as montanhas parecerem insignificantes. Chamas dançavam em seu corpo enquanto ele rugia, lançando uma onda de calor sufocante.
Lam caiu de joelhos, a boca seca. Ele sussurrou, incrédulo:
— Ho! Guardião...?
Traduções:
Noboru Jigoku - Inferno Ascendente