Volume 1
Capítulo 6: O Peso da Decisão
Lam ficou paralisado, os olhos fixos na figura colossal diante deles. O brilho incandescente das chamas refletia no suor que escorria por seu rosto, misturando-se à poeira e ao sangue seco — vestígios da batalha anterior. Seu corpo tremia, mas não era apenas de medo — era de reconhecimento.
A criatura diante dele era mais do que um inimigo; era um antigo aliado, perdido para o abismo do caos.
O fogo que envolvia o guardião deformado transparecia estar vivo, pulsando como se fosse uma extensão da dor e da raiva que o consumiam. Seus chifres, negros e retorcidos, pareciam crescer diretamente das sombras. Lam sentia algo profundo e perturbador: um eco distante que chamava por ele.
— Lam... — A voz de Jayden quebrou o silêncio, rouca e carregada de exaustão. Ele se apoiava na lança, como se ela fosse o único elo que o mantinha de pé. — Aquele monstro... é o guardião?
Lam apertou os olhos e respirou fundo, lutando para ordenar seus pensamentos. Mas as imagens do passado surgiam com brutalidade: o guardião, outrora majestoso, imponente e justo, agora irreconhecível.
— Ele não era assim... — murmurou, as palavras saindo hesitantes. Ele sentia o peso esmagador da verdade em seu peito. — Mas... dentro de mim... algo me diz que é ele. Por mais que tudo em mim queira negar...
Abigail avançou com determinação, sua postura rígida em contraste com o caos ao redor. — Então precisamos de um plano! — Sua voz tinha um tom de urgência que beirava a empolgação desesperada. — Podemos usar as fadas. Elas podem atacar pela retaguarda enquanto distraímos aquele monstro! E depois…
— Não! — A voz de Sara cortou como um trovão, carregada de pânico. — Não podemos.
Abigail girou nos calcanhares, seus olhos estreitando-se em incredulidade e indignação. — O que você quer dizer com "não podemos"?
Sara engoliu em seco, suas mãos trêmulas enquanto tentava encontrar as palavras. — Muitas de nós não são guerreiras, Abigail. Se as fadas morrerem... se muitas de nós morrerem... — Sua voz quebrou, mas ela reuniu forças para continuar. — A floresta entrará em colapso! Sustentamos este lugar com o nosso NI. Se nos sacrificarmos, todo este mundo... toda esta vida... perecerá.
Abigail olhou para Lam, buscando apoio. Seus olhos ardiam, como se implorassem por alguma forma de esperança. — Lam! Vocês vão simplesmente nos deixar lidar com isso sozinhos?
Lam baixou a cabeça. Ele não podia encará-la, não podia enfrentar a dor e a decepção em seus olhos.
— Responda, Lam! — A voz de Abigail agora estava tomada pela raiva. — Eu achei que éramos uma família! E agora, no momento em que mais precisamos, vocês só vão... só vão nos abandonar?
— Abigail, chega! — Jayden interveio, sua voz cortante como um golpe de espada. — Controle-se!
— Como posso me controlar, Jayden? — Abigail gritou, sua voz quebrada pela frustração. — Eles... eles nos prometeram que estaríamos juntos nisso!
— Eu sinto muito. — Sara murmurou, seus olhos fixos no chão. — De verdade, Abigail... mas não podemos.
Abigail apontou o dedo para Sara, seu rosto marcado pelo desespero. — Então vá! Saia daqui! Desapareça da minha frente…! E fique longe dos meus filhos!
Sara hesitou, o peso das palavras de Abigail esmagando-a. Ela se virou lentamente, seus olhos marejados, e se ajoelhou diante das crianças. — Sinto muito, pequenos. — Sua voz era quase inaudível.
— Por favor, não vá! — Alessia gritou, as lágrimas escorrendo livremente pelo rosto.
Abigail segurou Alessia, puxando-a para um abraço apertado antes que ela pudesse correr atrás de Sara. — Shhh... querida, está tudo bem. Vai ficar tudo bem...
Lam ergueu os olhos para Jayden. Ele tentou falar, mas as palavras não saíram. Por fim, apenas murmurou: — Me desculpe...
Jayden balançou a cabeça, sem dizer nada. O olhar que ele deu a Lam não era de raiva, mas de uma aceitação amarga — como quem entende, mas não perdoa completamente.
O silêncio entre eles — agora — era pesado, como se as decisões que tomaram fossem um fardo que todos agora precisavam carregar. O rugido do guardião e o som da horda que avançava ao longe eram um lembrete cruel de que não havia tempo para lamentos.
O silêncio pairou no ar como um manto pesado, abafando até mesmo os sons da floresta. Abigail respirou fundo, tentando reunir forças enquanto seus olhos varriam o pequeno grupo. As crianças estavam abaladas, os rostos molhados de lágrimas e marcados pelo medo.
Ela se ajoelhou, buscando o olhar de cada um deles. — Escutem, vai ficar tudo bem. — Sua voz era calma, mas carregava uma determinação que parecia desafiadora diante do caos ao redor. — Nós vamos lidar com isso, eu prometo.
Alessia fungou, limpando o rosto com as costas da mão, enquanto Luke cerrou os punhos, sua expressão cheia de convicção. Ele deu um passo à frente, como se quisesse desafiar a própria realidade. — Eu sei que elas não nos abandonaram. As fadas vão voltar. Elas têm que voltar!
— Elas não vão, Luke. — Brody cruzou os braços, o tom frio e realista. — Você ouviu o que disseram. Elas não podem nos ajudar, e você sabe disso.
Luke girou para encará-lo, os olhos faiscando de indignação. — Você só está desistindo! Nós não estamos sozinhos!
Jayden bateu palmas com força, a frustração evidente em sua expressão. — Luke! Brody! Basta! — Sua voz ecoou, cortando o princípio de discussão como uma lâmina. — Agora não é hora de brigar entre nós. Temos coisas muito mais importantes para resolver.
O silêncio caiu novamente, desta vez mais carregado, como se até mesmo a floresta estivesse prendendo a respiração. O rugido distante do colosso, seguido pelo som ensurdecedor da horda avançando, trouxe todos de volta à realidade brutal.
Abigail se levantou rapidamente, vasculhando sua bolsa antes de puxar um pequeno frasco esverdeado. Sem hesitar, ela o lançou na direção de Jayden. Ele agarrou a poção no ar e, em um único gole, despejou o líquido em sua boca.
— Jayden, qual é o plano? — perguntou Abigail, sua voz urgente, mas firme.
Jayden devolveu o olhar, seus olhos brilhando com uma determinação renovada, mesmo enquanto segurava a lança com as mãos ainda marcadas pelo esforço. — Tenho um. Mas para isso, vou precisar que você fique na retaguarda. Proteja as crianças.
Abigail piscou, surpresa. — E você?
Jayden respirou fundo, sua mão lentamente puxando a camisa ensanguentada que vestia. Ele a retirou com um movimento decidido, revelando os músculos tensos e definidos — deixando Abigail levemente corada.
De seu bolso, ele pegou uma bandana azul, desbotada e marcada pelo tempo, um símbolo de algo que carregava consigo.
Com cuidado, ele a amarrou firmemente na testa, como se aquele simples ato solidificasse sua determinação. Seus olhos encontraram os de Abigail, e sua voz saiu firme, carregada de uma força renovada:
— Eu preciso liberar todo o meu poder, Abigail. E, para isso, não posso me preocupar com mais ninguém.
Ela hesitou, seus olhos brilhando com uma mistura de resistência e aceitação. Mas, no fundo, sabia que ele estava certo. — Certo. — Sua voz tremia ligeiramente, mas sua postura não cedia. — Não nos deixe na mão, Jayden.
Um sorriso tênue curvou os lábios de Jayden, mesmo que o peso da situação o puxasse para baixo. — Nunca deixei antes. Não vai ser agora que eu vou deixar.
Ele virou-se para encarar a direção do guardião, a silhueta monstruosa destacada contra o brilho do fogo e das sombras. Abigail olhou para as crianças mais uma vez, passando a mão pelos cabelos de Alessia.
— Fiquem perto de mim. Vamos passar por isso juntos.
Antes que qualquer um pudesse responder, Abigail fechou os olhos e estendeu as mãos. Palavras mágicas fluíram de seus lábios, suaves, mas carregadas de poder. Uma luz azulada emanou de seus dedos, crescendo até formar uma grande barreira translúcida ao redor dela e de Alessia.
A barreira cintilava, pulsando com a energia do NI de Abigail, como uma promessa de proteção.
Luke permaneceu em silêncio, mas o brilho de determinação ainda ardia em seus olhos. Ele encarou a barreira como se ela fosse mais um lembrete do que precisava fazer. Brody, embora cético, deu um passo à frente, soltando um suspiro pesado antes de juntar-se ao grupo dentro da barreira.
— Isso vai nos manter seguros? — Brody perguntou, sua voz soando entre dúvida e esperança.
— Pelo tempo que for necessário. — Abigail respondeu, sem desviar o olhar da barreira. Sua expressão endureceu. — Mas precisamos acreditar no Jayden... e uns nos outros.
Jayden se afastou para tomar posição, o peso de cada decisão, de cada palavra dita e não dita era arrasador. Entretanto — ao mesmo tempo — esse peso era uma força silenciosa que aumentava sua determinação.
O rugido do guardião ecoou novamente, mais próximo e mais ameaçador. Jayden apertou a lança com força, o som do metal rangendo levemente sob a pressão. — Tudo ou nada. — Ele murmurou para si mesmo antes de avançar, preparado para encarar o inferno de frente.
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