Volume 1
Uma conversa amigável
ora dado início a cerimônia. A rainha discursou no grande salão com um lindo momento de luto pelas princesas que morreram pelo misterioso assassino em série a solta por Ecor, em seguida conduziu os convidados até a Arena de Combate — construída ao lado do castelo pegando uma parte do interior da montanha com abertura para fora, uma pequena gruta por assim dizer — onde é feita a competição. Lembrava um coliseu, mas o terreno era pouco menor com a abertura para os campos e à floresta, lá há o necessário para os desafios escolhidos aleatoriamente — cada um dos representantes das famílias escrevia num papel os três desafios e colocavam numa simples caixa. O rei, então, é quem se dava ao mérito de ditar alto e bom tom os desafios escolhidos da caixa: arremesso de tronco; espiral invertida e deslizamento por salto.
Já sentia o calor da gruta penetrar as grosas camadas do vestido até minha pele me deixando suar de forma interminável, limpar a testa com frequência estava irritante, o que me salvou fora o leque que Lilith trouxe. Apesar de estarmos naquela arena “escura” o sol é impiedoso e sua iluminação escaldante refletia no chão, indo até o topo da arena iluminando o ambiente de forma natural.
Os participantes estavam se aquecendo, o primeiro desafio era o arremesso de troncos.
Três troncos foram postos na área externa da arena, nas marcações circulares de cada um dos participantes. Eles vestiam grandes cinturões logo acima da cintura, alguns, por tradição, estavam sem camisa e usavam pulseiras tribais nos punhos. Os três esperavam pela largada, aqueciam seus joelhos e ombros para arremessar seu objetivo o mais alto possível, até quase alcançar as nuvens. Eles discretamente posavam para me impressionar, eu escondia meu rosto de desgosto atrás do leque da Lilith, porém um deles não tinha a intenção me de atrair a atenção com gestos e poses sutis a ponto de me deixar desconfortável como o resto dos homens. Ah, não. Este parecia ser diferente. Pois um momento ele virou o rosto para mim, e sorria para mim gentilmente com um olhar de ternura e simplicidade.
— Lilith — a chamei, curiosa sobre o rapaz. — Quem é aquele?
Ela rapidamente percebe o rapaz que se virou de costas. Ela me fita de canto, encucada com minha curiosidade sem motivo aparente.
— Aquele é Irsh S’hurt, das terras Kognas no Leste, um Kogniano de aparência simples, mas com um corpo esculpido pelos deuses. — Ela suspira, morde o lábio e se fixa no corpo suado e musculoso. Suas guelras plumosas se chacoalharam.
Por influência, acabo por admirar de boca entreaberta aquele Kogniano em específico. Algo nele atraia meus olhos a ponto de estes não quererem tirá-lo do meu campo de visão. Mais uma vez ele se vira para me ver e solta seu simpático sorriso e seus fofos olhos castanhos, meu coração palpita quando nossos olhos se encontram e meu rosto ruborizou-se de imediato me deixando sem reação.
— Ayla... — Lilith diz. — Você... está corando por um homem?
— Não, não! É só o calor! Está muito quente, Lili, apenas isso. Pare de pensar besteira, por favor.
Foi uma horrível desculpa, eu sabia. Cubro meu rosto com a mão envergonhada por isso. Mamãe, no meu lado esquerdo, apenas ouvia e ria da situação sem interferir.
A apresentação iniciou, correram paras as marcações e, da direita à esquerda, jogaram o tronco o mais alto que conseguiram. Um dos pretendentes acabou torcendo a coluna ao jogar o tronco, então fora desclassificado e levado à enfermaria. Irsh S’hurt foi um dos finalistas e o que arremessou mais alto o tronco. Foram parabenizados os finalistas e seguiram para o próximo teste que começaria daqui uns minutos.
Assim como todos, parabenizo-os com palmas gentis, mas inusitadamente eu estava olhando apenas para o Irsh S’hurt.
Mais uma vez eu coro.
A dor no estômago retorna, mais forte a ponto de eu não aguentar e me retirar por um instante. Um péssimo momento. Mamãe me questiona e apenas digo alguma desculpa para ir ao banheiro mais próximo.
⸗ ⸗ ⸗
Lá, corro me apoiando na pia sentindo um remexo no estômago como se eu estivesse prestes a vomitar. Suava frio, hiperventilando. Respirava tensamente pela boca e, minha visão estava turva como se estivesse para desmaiar. Jorro um pouco de água no meu rosto, “Não posso ter pegado gripe... Será que foi da Festa?”, cogito.
De repente um arrepio passou pelo meu corpo, sentia algo amedrontador perto de mim, como uma assombração. Quando levanto minha cabeça para o espelho vejo minha sombra viva, sorridente, se erguendo pelas minhas costas e se movimentando ao me chamar.
Eu surto e solto um enorme grito.
A sombra abafa minha boca com seu enorme e frio tentáculo puxando-me para um dos cubículos do banheiro, rudemente.
Eu luto para me livrar daquele lugar e chamar por ajuda, mas o vestido estava muito justo para me mexer. A sombra salta para fora e se agarra a mim como uma fita enorme e espirra tentáculos que se grudam nas paredes como correntes.
— Pare de se mexer! Vai atrair atenção desnecessária para nós...
Lilith bate na porta do cubículo perguntando se eu estava bem.
— Sim, só falta de ar por conta do príncipe, Irsh. Pode ir, já retorno. — A sombra simula minha voz.
— Sua vaca — Lilith diz, brincando de forma animada. — Sabia que finalmente você iria acabar gostando de algum deles. Quero saber dos detalhes quando vocês derem uns amassos depois, hein!
Lilith sai do banheiro.
A sombra retorna a me olhar com os vazios olhos brancos e redondos, tentei falar em seguida, mas minha boca permanecia tampada por seus tentáculos frios e mórbidos. Ela grunhia como uma criatura feroz bem próxima ao meu rosto, meu coração acelerava de medo quase pulando para fora ao sentir a imponência da minha própria sombra contra mim, era obviamente inútil eu continuar resistindo então apenas parei, deixei-a falar o queria.
— Katarina Olga Hellman III
Meus olhos se arregalaram seguido de um suspiro, mostrando meu espanto causado por a sombra saber meu nome completo.
— Preciso que nos escute — continuou. A voz da criatura era afeminada. — Em alguns minutos o inimigo surgira de cima com sua impetuosa ameaça, ameaça perturbadora e desconhecida. Precisam sair.
Ela percebe minha vontade de falar, meus olhos estavam amedrontados como os de uma criança indefesa querendo a mãe, minhas sobrancelhas tremelicavam e meus pulmões trabalhavam dobrado, meu coração palpitando rápido e minhas mãos, aprisionadas, suavam. Ela me avisa que irá permitir que eu fale, mas alerta para que eu não grite e nem tente fugir, pois que ela queria argumentar com a Nova Portadora do Manto.
"Nova Portadora do Manto?”, pensei confusa.
A sombra liberta minha boca e o resto do meu corpo, mas vigiando-me de modo a ainda arrepiar minha espinha. Ela estava mesmo ligada a mim, à minha sombra, semelhante a uma simbiose mágica, Paracelso costuma chamá-los de Espíritos de Ígma — criaturas sem corpo do reino de Ígma que acabam por invadir a sombra de outras pessoas para pouco a pouco tentar tomar o lugar delas na tentativa de voltar ao mundo vivo e fracassar miseravelmente. Geralmente dizem eles são quem influenciam os Nômades a fazerem o que fazem por puro caos e revolta.
Rapidamente tento pensar em algo para falar, mas não conseguia pensar em nada que poderia servir de ajuda. Minha única solução seria cooperar com aquela suposta Ígma.
— ...O que quer de mim? — enfim falo, quase sem conseguir.
— Te ajudar.
— P-p-porque um Espírito de Ígmä iria querer me ajudar?
— Um o que?!
Ela se irrita pela suposta comparação.
— Acha que somos um eles?! Não somos como eles! Eles são estúpidos e idiotas, sem raciocínio!
O banheiro começa a se deformar (como se estivesse sendo esmagado) e escurecer com a criatura crescendo de ódio na minha frente, o chão racha lentamente abrindo com o chão tremendo. Eu me encostava contra a porta do cubículo na ponta do pé para não cair no buraco enorme. Fecho os olhos de medo.
— M-m-m-m-mas você surgiu como um e sua forma é idêntica a eles, como eu não poderia te identificar como um Espírito de Ígma?!
O tremer cessou, abro os olhos e tudo voltou ao normal. Como num estalar de dedos o ambiente voltou ao que era antes e a Ígmä sumiu da minha frente, pelo visto foi apenas um evento efêmero. Eu me tateava em todos os cantos certificando que o Espírito se fora me indagando de que tudo passou e foi apenas uma forte alucinação.
Uma real e tátil alucinação. Minha respiração pesada foi cessando, o coração batia com menos intensidade. Já me acalmava. A dor no estômago passou.
— Você ganhou dessa vez — me assusto com a repentina voz da sombra, procuro em todo o canto por onde poderia vir naquele cubículo do banheiro. Pelo visto ela não iria me fazer mal. Minha sombra, dessa vez estava normal. — Agora vá, precisa retirar todos da Arena, agora!
— Espera como assim? Você nem me explicou direito do que temos que fugir, mas que porra?
— Quanto mais ficamos aqui, mais as chances de uma catástrofe. Mais as chances da sua mãe sair ferida. Merovak está a caminho, se apresse!
— Então, se você não é um Espírito de Ígmä, o que você é?...
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