Volume 1
Capítulo 10.1: O Segundo Príncipe (S7)
Sue e Klevea estavam se enfrentando diante de mim, espadas de treino em mãos.
Tirando vantagem do pequeno físico de Sue, Klevea defletia sua espada com facilidade enquanto minha irmã investia. Apesar de atacar impiedosamente, seus golpes pareciam não surtir efeito contra a defesa precisa de Klevea, que a repelia com facilidade.
A esgrima muscular da mulher maior parecia um rio fluindo com elegância, enquanto a técnica de Sue era frenética para compensar seu tamanho diminuto. Tanto em aparência quanto em movimento, as duas eram opostos totais.
Sue com certeza não poderia ser considerada fraca, é claro — mas comparada com a experiência extensa de Klevea em batalhas reais, sua habilidade ainda ficava muito atrás. Isto era particularmente previsível, considerando que Klevea tinha Maestria com Espada, a versão avançada da Esgrima, no nível 7.
A Esgrima de Sue, ainda na versão normal, estava no nível 6. Era uma diferença de 11 níveis.
Não havia como compensar por uma discrepância como essa.
Ainda assim, havia muitas vezes em que apenas atributos poderiam pelo menos prolongar uma batalha; aquela situação era uma dessas. Sue estava invocando ambos, Guerra Mágica e Guerra Mental, ao mesmo tempo.
Essas eram habilidades que poderiam consumir MP e SP para aumentar os atributos básicos, e como ela tinha muito MP, a melhoria que Guerra Mágica fornecia a ela não era pouca coisa. Seus atributos físicos também haviam aumentado muito recentemente, portanto, ela estava um pouco fora do padrão na questão do status.
Mesmo assim, Klevea estava se abstendo da Guerra Mental para criar uma vantagem. Se ela também a estivesse usando, as probabilidades com certeza penderiam a seu favor.
Mesmo sem isso, sua vitória era certa e inquestionável.
Os atributos de Sue podiam ser um pouco mais altos, mas essa era um vantagem pequena comparado com a enorme vantagem de Klevea em força e experiência. Sue não tinha chance de virar o jogo.
Como esperado, ela se atirou na ofensiva, e o contra-ataque de Klevea a derrotou. Recebendo um golpe forte do estômago, Sue caiu no chão.
Na mesma hora, Anna disparou na direção dela e usou magia de cura.
Limpando a sujeira de suas roupas, Sue se levantou com frustração se espalhando por todo o seu rosto enquanto falava entre dentes:
— Eu perdi.
— Se você pode lutar dessa forma em sua idade, Princesa, você com toda certeza me superará em pouco tempo — disse Klevea com dignidade — Realmente, seu talento é uma maravilha.
— Não precisa me bajular.
Assim que estava a ponto de caminhar até minha irmã rabugenta, ouvi o som de palmas bem ao meu lado.
— Não acho que isso foi bajulação! Você lutou muito bem.
Todos na sala, incluindo eu mesmo, arregalamos nossos olhos pela surpresa.
Nem mesmo Klevea e Anna, quanto mais Sue e eu, notamos este recém-chegado. Mesmo quando ele estava parado bem ao meu lado, não detectei o menor traço de sua presença.
— Julius!
— Ei. Eu te surpreendi? — Julius, o segundo príncipe e meu irmão mais velho da mesma mãe, riu como se tivesse pregado uma peça.
— Quando você voltou para casa?
— Só ontem. Queria dizer olá mais cedo, mas entre ver o Pai, nosso irmão mais velho, e todos os demais, não tive muita escolha.
Meu irmão era muito mais velho do que eu, e já estava trabalhando em várias coisas fora do país. Era raro que retornasse ao reino dessa forma.
— Sue, eu tiro meus olhos de você por um segundo e você fica ainda mais talentosa todas as vezes. A velocidade com que aprende e evolui nunca deixa de me impressionar.
Mesmo que Julius falasse de forma calorosa com Sue, ela apenas o olhou com a cara fechada em resposta. Por algum motivo, ela não parecia gostar muito de Julius — sentimento que eu não compartilhava, já que ele era muito mais amigável que meus outros irmãos.
Mais do que gostar dele, acima de tudo, eu o respeitava.
Para ser honesto, a fricção entre o irmão mais velho que eu admirava e a irmã mais nova que eu adorava me incomodava um pouco.
— Vamos, Sue. Você tem mesmo que agir assim com seu próprio irmão?
— Ha-ha, está tudo bem. Sue está em uma idade difícil agora — disse Julius, usando um tom condescendente.
Apesar do fato que eu era tecnicamente mais velho que Julius (se contarmos a vida anterior), ele ainda parecia me sobrepujar na idade mental.
— E quanto a você Shun? Quer praticar como costumávamos fazer?
— Podemos!? Sim, por favor!
Treinar com meu irmão Julius? Não poderia pedir por nada melhor.
— Muito bem, então vou pegar isto emprestado.
— É-é claro.
Meu irmão tomou a espada de treino de Klevea, que se encolheu para longe. Ela nunca ficava tão nervosa com outras pessoas. Mas acho que fazia sentido com alguém como Julius.
— Tá legal. Quando você estiver pronto. Venha até mim de onde você quiser.
— Certo!
Eu imediatamente ativei Guerra Mágica e Mental; não fazia sentido me segurar contra ele. Foquei em usar todo o poder que tinha, disparando para a frente enquanto traçava um golpe diagonal por baixo.
Fui bloqueado sem esforço.
Embora o tenha atacado com toda a força, ele facilmente deteve o golpe com sua espada segurada com apenas uma mão. Contudo, era exatamente isso que eu estava esperando.
Na mesma hora afastei a espada para o próximo ataque, e mais uma vez ele me parou sem nenhum problema.
Isso era divertido.
Mesmo tentando com todas as minhas forças, não poderia tocá-lo. Não importava o quão rápido ou vigorosamente o atacasse com minha espada, não importava que técnicas complicadas tentasse, não poderia pegá-lo.
Não poderia nem mesmo começar a imaginar como poderia passar por suas defesas. Mas era por isso que me sentia sortudo por alguém tão habilidoso estar disposto a treinar comigo.
Isso era divertidíssimo.
Contudo, não importava o quanto eu desejasse manter isto para sempre, o fim chegaria. Minhas Guerra Mágica e Mental expiraram.
Respirando com força, me apoiei em meu joelho.
— Muito bom. Sua esgrima é muito direta e poderosa. Parece que não há limites para quão longe seus talentos podem chegar.
— Muito… obrigado…
Eu ofeguei meu agradecimento. Apesar de estar esgotado, a respiração de meu irmão estava perfeitamente equilibrada.
Ele era mesmo incrível.
Fazia sentido, já que ele era um herói. O humano mais forte no mundo.
Eu poderei me equiparar a ele algum dia? Se havia um sonho neste mundo que guardasse no peito, era o de me tornar seu igual. Um respeito avassalador me preenchia.
Não podia nem mesmo fazê-lo suar no nível em que estava, mas algum dia seria, ao menos, capaz de proteger suas costas em uma batalha.
Esse era meu principal objetivo.