Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 78: Liberdade, parte 2

A luz da manhã bateu em meus olhos, forçando o pouco de sono que tive para fora do meu corpo. Ao abri-los, vi a cabeleira negra colada no meu peito e sorri. 

Não foi um sonho… 

O som dos seus batimentos, a respiração dela na minha pele, tudo era intoxicante, de uma forma que nunca havia experimentado.

Não pude deixar de apreciar o momento de silêncio para contemplar meu caminho até aqui. Enquanto não foi uma caminhada agradável, não posso reclamar do resultado final. 

Levantei-me com calma e deitei-a, vestindo-me então para o dia. Saindo para fora, fui até a forja, mas vi que, para minha surpresa, a porta estava trancada. 

Estranho, ele está lá dentro, trabalhando em algo, mas… 

— Vovô mandou você tirar o dia de folga. — A voz da neta soou próxima e assenti, caminhando de volta para o quarto. 

Já que é assim, precisava me trocar, mas o que vestir.

Quando cheguei lá para selecionar minha roupa, fiquei paralisado ao ver meu antigo uniforme. Trazendo-o até mim, vi que os cortes e furos haviam sido costurados e olhei de novo para a cama, vendo-a sorrindo para mim.

— Surpresa… — disse, fechando a cara ao ver a minha própria. — O que foi? Não gostou?

Não é isso… mas, como posso explicar? É mais como se isso fosse uma memória distante, uma que não pertencia mais a mim. Que não devia ter mais contato… 

— Bem, eu… — Antes de ter a chance de responder, ouvi o som de gritos e arregalei meus olhos. Pegando a espada, corri para fora, meus olhos parando num grupo de crianças, que guardavam uma mulher, com um profundo corte no braço. 

— O que está havendo aqui? — perguntei, fulminando os soldados. Pelo emblema nos braços, eram um grupo mercenário, sem qualquer lealdade a uma outra nação.

O som de metal sendo cortado preencheu meus ouvidos e, imediatamente, pulei para trás, desviando de uma lâmina. Ou algo próximo disso…

Era como um chicote, uma lâmina que se estendia por vários metros. Antes que pudesse analisar mais, bloqueei um golpe da mesma. 

Para minha surpresa, o peso atrás do ataque foi o suficiente para me fazer recuar, forçando-me a ficar de joelhos. 

A lâmina então voltou a tentar me perfurar e tive de usar minha técnica de teletransporte para desviar. 

Contudo… Ainda fiquei com um corte no rosto, um profundo. 

— Quem é você? — Olhei em direção ao telhado, onde a lâmina retrocedeu e formou uma espada longa o suficiente para ser quase o comprimento daquele que a empunhava. 

— Eu? Só um andarilho em busca de diversão… — O homem levantou-se, o cabelo loiro espetado balançava com o vento, o colete verde com o emblema do grupo mercenário dos Javalis Orgulhosos no peito.

Abaixo, podia-se notar uma cota de malha que cobria o torso inteiro. Tinha duas manoplas na mão e uma calça longa, algo incomum na quente região de Vislo. 

O traço mais marcante, contudo, era de longe a cicatriz que carregava no olho direito. Era como se uma garra tivesse quase arrancado o mesmo. Claro, ainda brilhava com inteligência, mas mesmo eu podia ver o quão feia era a cicatriz. 

— Meu nome é Bill. E… bem, eu vim aqui apenas confirmar um rumor. — Sorriu ao ver minha surpresa e curiosidade, pulando fora do telhado e caindo como se não fosse nada. — Quero ver se o Ceifeiro do Sétimo Distrito faz jus ao nome… 

Nisso, antes mesmo que pudesse lembrar de onde ouvi aquelas palavras, a espada foi contra mim, forçando-me a desviar. Buscando um padrão nos cortes, vi que era esperto o suficiente para não deixar nenhuma abertura que pudesse explorar. 

Os ataques dele eram como uma rede inescapável… Se usasse minha técnica no alcance dele, seria cortado em dois!

Mantendo distância, teleportei-me para os lados, afastando-me da destruição que causava. Cada balançar de espada, mais destroços se formavam; as casas e edifícios não faziam nada para parar aquela lâmina. 

O que raios ele é? De onde essa frase me é familiar?

— Não está fazendo jus ao título, Ceifeiro…

Parei de me mover, parei de respirar ao lembrar de onde exatamente vinha essa frase. 

A imagem de Bill foi sobreposta a de outro homem, um que causou a maior derrota da minha vida, que tirou tudo de mim. 

O Moedor. 

Minha hesitação foi o suficiente para a lâmina me alcançar, meus olhos se arregalaram quando percebi o quão próximo estava da morte. Defletindo o ataque com minha espada, teleportei para o lugar mais próximo que podia ver.

Ao aterrissar, um violento corte foi feito do meu lado, um que só não me cortou ao meio devido a espada que carregava, que travou a lâmina no lugar.

Contudo, ainda pude sentir alguns pequenos espinhos, uns que não consegui ver com a velocidade que a lâmina se movia, me perfurando. 

Vendo o sorriso dele, arregalei os olhos e mordi o lábio. 

Com um simples movimento, a lâmina voltou ao lugar, arrancando sangue e carne do meu corpo, mandando-me voar para longe. 

Os espinhos desapareceram quando a espada voltou à forma original… Eram retráteis… 

Merda, estou perdendo a consciência… 

— Já acabou? — Ouvi a voz decepcionada do humano à minha frente, que se aproximava mais e mais. Quando me pegou pelo cabelo, olhou fundo em meus olhos, permitindo que visse apenas o azul celeste dele. 

— Deixa eu te falar o que vai acontecer a partir de agora… Os soldados de Migrand vão vir aqui. Eles vão executar uma ou duas pessoas para dar o exemplo. De resto, vão pegar as crianças e mandá-las para as minas, como escravas, sabe? Mas não precisa se preocupar… É só não se intrometer que não vai ser tocado. 

Então, chocou minha cabeça contra o chão, forçando minha consciência para fora do corpo. 

Merda… o que foi isso… 

Nisso, a última memória que tive foi a risada dele e o quão parecida sua figura era do assassino que tomou Juvicent à força.

 

Quando acordei, notei que estava só. Tentei me levantar, mas uma grave dor no lado do abdômen me forçou de volta na cama.

O que raios aconteceu…? Onde Blair está? É… é mesmo… eu perdi. Para um humano normal, de novo eu fui derrotado.

Senti lágrimas caírem do rosto conforme lembrava o que acabara de acontecer. Eu fui completamente esmagado, como um inseto… 

Não pude fazer nada, não consegui nem ao menos um golpe. 

Olhando para o lado, vi minha espada e senti o desespero tomar conta conforme o chão voltava ao mar de sangue, as mãos rastejavam pelo meu corpo, arrastando-me até o fundo.

Não… Agora eu tenho ela… Isso não pode acontecer! Não acontece desde que eu salvei aquelas pessoas!

Mas você desistiu de salvá-las, não? — A voz me puxou para longe, meus olhos vendo-a plenamente. — Essas pessoas… elas precisam de um herói agora… e você desistiu. De novo. 

As mãos voltaram a me puxar, comigo recebendo aquela bronca da minha oficial mais preguiçosa. 

É… eu desisti. Eu sei disso, sei que eles precisam de mim. Esse povo que nos acolheu… Mas o que posso fazer?

Ele é mais forte que eu… Ele é que nem o Moedor, um muro que não consigo ultrapassar, não importa o quanto treine.

Eu… Eu…

Está satisfeito com isso? Se fosse você de seis meses atrás, sem dúvida daria uma surra em si mesmo e se forçaria a ficar mais forte!

— Que tipo de pergunta é essa… — disse, olhando para ela, minhas presas cresciam conforme me perdia no emocional. — É ÓBVIO QUE NÃO ESTOU SATISFEITO!

Ela sorriu, um sorriso cândido e reservado, que só a vi dar uma única vez. Era um tipo de felicidade tão pura e bondosa que apenas me fez parar.

Era como… 

Jovem mestre… — A voz da mulher que me salvou naqueles dias voltou, abraçando-me num manto de luz e expulsando as mãos. — Sei que está com medo, mas tem coisas que devem ser feitas… Ou nunca vai crescer em um adulto saudável. 

Essas palavras… a última vez que ouvi-as foi antes de sairmos do Continente de Corpist, antes de fugir de minha família… 

Eram palavras que me deram força para continuar no momento mais sombrio da minha vida. Palavras que me deram coragem para seguir em frente, mesmo depois da morte dela. 

Ser adulto significa fazer o que é necessário; o que é difícil, não o que é fácil.

— Essa é a resposta… Agora, pegue sua espada e treine. Tenho certeza que, sendo o gênio que você é, já pensou numa forma de melhorar… 

Nisso, ambas me deixaram só. Com lágrimas caindo do rosto, olhei para o espaço onde estava, vi que era o maior quarto da casa, mas ainda era pequeno… 

Ou seja, é o lugar perfeito para o que eu planejo. Aquela técnica dele, aquela espada dele… Vou achar uma forma de quebrar ambas! 

Levantei-me e fiz como o fantasma de Miia falou, indo até um canto do quarto e olhando para frente. 

Agora, vamos começar. Pondo-me na familiar postura do Battoujutsu, abri os olhos e comecei o treino infernal que me daria a vitória.

 


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