Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 79: Liberdade, parte 3

Foco. 

O que estava fazendo era difícil, por isso precisava de foco. 

Recriar a situação na minha mente era fácil, minha memória era boa; o difícil era fazer isso enquanto calculava a força necessária para cobrir a pequena distância entre as janelas que podia explorar e ter de fazer isso em frações de segundos. 

Normalmente, o cálculo era mais fácil devido à distância que percorria. O inverso dela era o que precisava gastar de Energia Dual, visto que era o espaço se comprimindo e dobrando que fazia minha técnica funcionar. 

Um espaço menor significa mais controle, mais foco e mais poder gasto. Afinal, não é só uma questão de se mover, também há a questão de parar. 

Não é como se eu pudesse teleportar no meio de um “salto”. Tenho que primeiro aterrizar para focar no próximo lugar.

Quando parei a sequência, cai no chão, exausto. 

Meu corpo estava cheio de suor, minha camisa e calças descartadas em algum canto. Todos os músculos do meu corpo doíam, como se abrissem minha carne e colocassem carvão dentro. 

Contudo, levantei-me e entrei na postura de Battoujutsu de novo. 

Não tenho tempo para parar. Quanto mais tempo descansamos, mais pessoas morreram. 

Pulando, eu “saltei” contra parede e, quando aterrizar alguns milímetros, “saltei” de novo, e de novo, e de novo. Mesmo que meu cérebro não conseguisse seguir o fluxo de informações, forcei-o a trabalhar até não poder mais. 

A dor de cabeça, portanto, era avassaladora. Como se pegassem um prego quente e martelassem ele no crânio, era uma sensação horrível, mas não foquei nela. 

Não posso parar.

Não posso parar.

Não posso parar.

Meu corpo se chocou direto contra o chão, incapaz de aplicar mais energia, tanto Dual quanto física. Senti uma enorme dor quando ouvi o osso do braço se deslocar do lugar, mas levantei de novo. 

Minhas pernas bambas, minha respiração descompassada, meu cérebro há muito desligado. 

Tentei aplicar Energia Dual, mas não tinha mais ela. Acho que fazer esse treino por seis horas seguidas não ajudou muito. Ainda que, graças ao meu lado vampírico, tenha mais do que um híbrido normal, ainda assim fui muito além dos meus limites.

Tocando no braço deslocado, senti um incomodo. Se doía ou não, não posso dizer. Meu corpo inteiro devia doer a essa altura, mas minha mente não conseguia processar mais nada. 

Com um som desconfortável para o ouvido de alguém normal, pus o membro de volta no lugar. Merda… 

Ainda sou muito fraco. Se não aperfeiçoar a técnica, não poderei salvar ninguém.

Caindo no chão, ouvi sons de passos se aproximando, e então a porta se abriu.

Olhei de relance, não confiando em meus ouvidos para identificar quem era. Vendo a neta do ferreiro, engoli em seco com a óbvia tristeza e desconforto.

— Por favor… eles pegaram a mamãe. Os soldados disseram que a execução vai ser em dois dias… Por favor, salve ela… — Choramingando, olhou para baixo, escondendo as lágrimas… 

Merda… Não podem me dar nem um segundo de descanso!

Levantando-me, senti o corpo inteiro protestar, mas perseverei. Olhando para ela, sorri, tentando passar confiança. 

— Não chore… eu vou salvá-la… É uma promessa.

Nisso, caiu no chão, desabando em lágrimas e soluços. Olhando para frente, entrei novamente na postura do Battoujutsu, focando tudo o que ainda tinha de força. 

E, então, “saltei” uma vez mais.

Não tenho tempo para descansar!

 

Após três dias de treino infernal, abri os olhos, levantei-me da cama e caminhei até o guarda-roupa. O dia da execução é hoje… Não posso falhar!

No tempo em que treinei, tive de ignorar o sofrimento claro das pessoas à minha volta, focando apenas em ganhar mais poder.

A hora de se preparar já passou, agora, era o momento da batalha.

Abrindo a porta, vi a roupa que vestiria no dia de hoje. Morte ou glória, seja qual for o resultado final, o Ceifeiro do sétimo distrito renasce hoje.

Com esse pensamento, tirei o pijama e coloquei o uniforme da polícia secreta. 

Cada centímetro dele pesava, sentia os meus pecados me afundarem, sentia os mortos me puxando… Mas não me importei. Tenho um trabalho a fazer.

Olhei-me no espelho e vi o resultado do trabalho duro de Blair. Antes, estava arruinado, mas agora… era como se nunca tivesse recebido um ferimento com ele. 

Pegando a espada e saindo da casa, notei como cada pessoa me olhava, alguns curiosos, outros incrédulos, mas, vários, os soldados de Migrand, imediatamente perceberam de quem se tratava e apontaram as armas deles para mim.

Nem ao menos tiveram a chance de disparar. 

Com diversos saltos, decapitei todos que ali estavam e voltei para minha posição inicial. Caminhei uma vez mais, ignorando os corpos caídos e o sangue jorrado. 

Não importa. 

Foque apenas no que está na sua frente.

Minha velocidade voltou ao que era quando estava em Juvicent, mas minha força aumentou. Aquele treino não era para aumentar a rapidez com que me movia, mas sim o controle que necessitava. 

Enquanto ainda gasta muita energia, sinto que o aumento do meu poder consegue, ao menos, dar-me uma chance contra Bill.

Continuei a caminhar, matando cada soldado que se colocava no caminho. Alguns enfim perceberam o abismo entre nossas forças e apenas correram, decidindo que era melhor viver. 

Não os persegui. Não tenho tempo para perder. 

Com um suspiro, ignorei o cheiro de sangue, encarando o homem nos telhados. 

— Você realmente é estranho… Acaso não tem medo de morrer? — O sorriso traia a seriedade que carregava. Um que só cresceu quando pus a mão no cabo da arma e, desaparecendo, cortei as amarras que prendiam os inocentes. 

— Vão. — Olhando novamente para ele, vi que já tinha se levantado e sacado a arma. Não tem mais volta…

— É, acho que é mais corajoso do que pensei.

— Não… Sinto te desapontar, mas sou um covarde — disse, fazendo-o olhar firmemente para mim, olhando de volta para aquelas pessoas, vi que estavam com claro medo, mas que mantinham-se ali, prontas para ver a luta que seguiria. 

Somos tão diferentes… Alguns parecem estar prestes a pegar o pouco que tem e lutar junto de mim… Prontos para arriscar tudo pela liberdade… 

Já eu… 

— Eu admito que estava com medo da morte. Estava com medo de lutar contigo, estava com medo de lutar contra o Moedor…

— Então por que está aqui?

— Antes de enfrentar aquele homem, tinha aceitado que meu destino era morrer no final… Eu perdi meu caminho, perdi aquilo que me deixava forte, e, sinceramente, isso é mais assustador do que você jamais conseguiria ser.

O sorriso dele se alargou ainda mais e, com um gesto, a espada cortou o ar, alongando-se como antes. Vendo isso, saltei para trás, acima; “saltando” para desviar do fio que continuamente me perseguia.

Eu treinei até a exaustão… Hora de ver os resultados!

Meus “saltos” subsequentes foram precisos, escapando por um triz de cada gaiola. Ainda assim, pude sentir que ainda estava incompleta. A prova disso foi a perda de controle no meio do último teleporte. 

O corte que dei foi bloqueado com facilidade. Ainda que velocidade seja força, o ataque estava muito desfocado, muito telegrafado; de tal forma que bloquear foi brincadeira de criança para meu oponente. 

Nisso, saltei para frente, tentando pressionar o inimigo, forçando-o a continuar bloqueando, dando-me tempo de recuperar as forças. 

Nossas espadas se chocaram, a força eclodindo numa explosão de vento e choque. Ao longe, ouvi o som de diversas janelas quebrando e percebi o quão forte o inimigo era.

Não é um humano comum. Longe disso… é quase como se lutasse com uma mistura daqueles dois, do Moedor e do Monge maldito. 

Enquanto havia um elemento de selvageria e hedonismo indiscutíveis naquele estilo, ainda conseguia responder cada ação minha com a mais perfeita calma e frieza, um contraste claro com o sorriso psicótico que carregava. 

— Continue, vamos! Divirta-me! — Novamente, ambas armas se chocaram, a força tão grande que criou rachaduras no chão e me forçou para longe. Surpreso, quase não consegui desviar do golpe subsequente.

Diversas estocadas eram dadas, usando o comprimento crescente da arma como uma forma de me manter longe. Não tinha nem mesmo a opção de usar o “salto”. 

Tentei fazer isso há algumas frações de segundo atrás, mas quase fui cortado em dois.

A arma mudou a trajetória, a precisão em que foi contra mim era assustadora. Não sei como ele fez isso, mas não vou cometer esse erro de novo.

Pulei direto contra ele, usando de minha velocidade e reflexos para desviar e bloquear os golpes. Alguns passaram da minha guarda, criando pequenos corte no uniforme, mas não era o suficiente para me impedir. 

Com um “salto”, teleportei atrás do desgraçado e tentei decapitá-lo; mas, como a aberração que era, apenas abaixou a cabeça no último segundo, perdendo apenas alguns fios de cabelo. 

Por instinto, coloquei a espada em posição defensiva e dei dois passos para trás, bloqueando o corte subsequente, com força o suficiente para me enviar contra um prédio, quebrando a parede. 

Rápido… e forte!

Tossi um pouco de sangue, saindo dos escombros e olhando para meu oponente. 

Com exceção do novo penteado, não houve grande mudança.

Bem, isso é um problema.

 


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