Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – Arco 6

Capítulo 77: Liberdade,parte 1

Minha espada jorrou sangue dos homens, fazendo três caírem com um só golpe, os soldados de Vislo me olharam espantados, mas continuaram disparando, forçando-me a desaparecer. Nisso, decapitei mais quatro, seguido de três com outro ataque. 

— O que… — Antes que o capitão pudesse perceber, já havia cortado a mão dele fora, forçando-o a olhar horrorizado para o cotoco ensanguentado. 

Testando o peso da arma, balancei-a rapidamente, tirando o sangue dela. Minha espada parecia pronta para continuar cortando, contudo, senti que havia algo errado. Parecia haver algum tipo de resistência nela… 

É, é mesmo… 

Enquanto derramava mais e mais sangue, continuei lembrando do fato óbvio que essa espada não fora feita para o estilo de luta que pratico, sendo capaz de usá-la nesse nível graças a minha habilidade e força física. 

Quando enfim parei de me mover, todos estavam mortos, o cheiro abundante de sangue despertava em mim algo há muito adormecido. 

Eu consigo me controlar… Eu não sou um monstro… Sou melhor, sou diferente… 

Antes que pudesse continuar pensando, as crianças de antes ambas me agarraram, forçando-me de volta para o momento atual, olhando para elas, senti um aperto no coração ao ver as lágrimas que tinham.

Estavam assustadas. 

— Obrigado… Se não fosse por você, não quero pensar no que teria acontecido comigo… — disse a mãe, seu rosto carregava um sorriso trêmulo. Olhando bem para ela, vi que se tratava de uma das mulheres que perdera seu marido há alguns dias atrás.

Ele era suspeito de apoiar os revolucionários, algo que acabou trazendo muita atenção para essa vila. 

— Não por isso… — Minha voz era quieta enquanto olhava de volta para os corpos. Isso é mal… Muito, muito mal.

Soldados não morrem de uma hora para a outra, os Migrandinos vão mandar um esquadrão investigar e, se os espiões de Juvicent forem competentes, o meu país também não vai ficar quieto… 

Na melhor das hipóteses, conseguiremos evacuar a vila… Na pior… 

Meus olhos se estreitaram e foram direto para Blair, que carregava uma expressão pensativa no rosto. Não havia arrependimento ali, nem parecia incomodada, só estava calculando qual o próximo passo que deveríamos tomar. 

Bom… isso é bom. É esperta o suficiente para achar uma solução que não envolva violência… Não precisarei lutar de novo. 

— Ei, idiota. — Olhando para o velho sorridente, vi que estava estranhamente satisfeito. — Você está segurando essa espada… Finalmente se livrou dessa sua indecisão?

Arregalei os olhos, olhando para a arma em minha mão e então para ele, e, enquanto não podia ver minha expressão, sabia que tinha incredulidade estampada no rosto. 

Ele estava certo… Meu coração parou de temer, parou de oscilar. As vozes enfim se calaram… 

Senti lágrimas caírem livremente dos meus olhos quando percebi que, pela primeira vez em meses, talvez até anos, estava livre de culpa. 

Fazer uma boa ação… Até que o sentimento não é ruim. 

— Sim… Meu coração está pronto. — Olhei para Blair, que sorria abertamente, e senti um aperto no peito… Não, não era bem isso… Era mais como se…

Desviei meu olhar, evitando que visse minhas bochechas coradas. 

Ótimo, agora tenho mais isso para lidar. 

Fui até o velho, pronto para continuar o meu trabalho. 

 

Após um longo dia, fui para a cama com Blair, alguns eventos pesando em minha mente. 

O velho ficou quieto o dia inteiro, trabalhando em algo diferente de antes, com um formato familiar, o material tinha um cheiro ainda mais parecido. 

Lembrava muito a Wakizashi do Moedor. 

Ao abrir a porta, vi algo inesperado e, uma vez mais, senti um calor se espalhar pela minha carne. 

Ali, na minha frente, Blair me olhava com uma emoção indecifrável brilhando atrás de seus olhos. Além disso, estava se trocando, comigo entrando logo quando tirava seu sutiã. 

— Não fique aí com essa cara de paspalho, querido… — disse, um sorriso provocativo no rosto enquanto me puxava pela mão. Ainda que não mostrasse, não podia esconder de mim a forma recatada que fizera aquele gesto. — Somos um casal agora, certo? Temos que nos acostumar a ver um ao outro dessa forma… 

Senti um caroço se formar na garganta e fiz força para engoli-lo. Enquanto nunca admitiria em voz alta, o olhar convencido dela ajudou um pouco. 

— É mesmo… então provavelmente não se importa de eu dormir sem roupas hoje… Está um dia bem quente…

Senti um triunfo conforme seu rosto queimava mais e mais e sua voz saia num gaguejo. Naquele momento, era tão adorável que queria tomá-la para mim… 

Mas… Será que é o certo? Será que não vou só me machucar mais?

Por favor… você quer ela, não é? Não acabou com sua indecisão ainda? — A voz de Miia foi ouvida e senti meu coração endurecer em determinação. 

Sim, é verdade… Eu não quero nunca mais sentir aquela sensação horrível… Não quero mais vacilar. 

Peguei-a pelo queixo, trazendo seu rosto para o meu. Ela arregalou os olhos, e ouvi a forma como seu coração batia. Ambos nos perdemos nos olhos do outro, desejo claro em cada faceta deles, junto com hesitação que carregavam.

Eu quero isso… Sei que quero, mas não quero forçá-la. 

Para minha surpresa, ela tomou a iniciativa, encurtando a distância entre nossos lábios, permitindo que dividíssemos um tenro e breve beijo. 

Não havia técnica pela parte de ambos, nem experiência. Era apenas um beijo acidental, que não deveria significar nada… Mas, naquele momento, senti uma profunda felicidade percorrer meu ser. 

É… é isso. É isso que tanto procuro. 

Uma vez mais, encurtamos a distância e, dessa vez, durou bem mais. Ambos exploramos o canto do outro, buscando saber tudo sobre o outro enquanto olhávamos nos olhos, meus vermelhos e os seus negros. 

Minhas mãos foram até as dela, ambas agarrando-as, mostrando o medo mútuo que tínhamos disso acabar. Era a primeira vez que ambos sentíamos isso, e o batimento dela começou a ser eclipsado pelo meu próprio. 

Não conseguia sentir nada além da boca e do olhar dela, estava totalmente focado no corpo da mulher que me amava. 

Contudo, ainda que quisesse ficar preso a ela, a necessidade de respirar que tinha falou mais alto, a afastando um pouco. Ofegante, tomei ar e busquei seus lábios uma vez mais.

Para minha decepção, contudo, ela só colocou um único dedo, impedindo meu avanço. 

— Não… não podemos… Você merece alguém melhor… Alguém que não seja tão velha quanto eu e…

— Eu matei inúmeras pessoas — disse, minha boca abrindo antes que pudesse entender exatamente o que acabara de falar. Arregalando os olhos, acalmei meu coração e deixei as palavras saírem livremente de mim. — Matei companheiros, inimigos, pessoas que considerava serem família… Eu não te mereço, não o contrário. 

Seus olhos arregalados e molhados, junto do lábio trêmulo, mostravam o quão ela queria ouvir aquilo, o quanto as suas inseguranças a impediam de buscar felicidade. 

— Mas… Mas eu… Eu quero isso. E estou disposto a melhorar, a ser alguém que se sacrifica invés de sacrificar outros… Eu… estou disposto a tentar por você, porque te…

Antes que pudesse concluir, ela beijou-me uma vez mais, suas mãos rondando livremente pelo meu abdômen, tirando minhas roupas de cima com destreza surpreendente. 

Demorei um pouco para processar o que acontecia, mas não quis ficar para trás e levei minhas mãos até o selo do sutiã, retirando-o e deixando a peça cair no chão, revelando o que havia sob ele. 

Engolindo em seco, ambos continuamos na cama, consumando nosso amor de novo e de novo. 

Acho desnecessário falar que não dormimos aquela noite. 

 



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