Volume 8
Capítulo 166: Dragoon
Tendo fugido da enfermaria com Izumi, Rudel olhou para o céu das costas de Sakuya.
Suas quatro asas desenhando grandes arcos, Sakuya voou pelo céu aberto. Um corpo de dragão era protegido por mágica, deixando um humano perdurar até mesmo em altitudes elevadas.
Izumi sentou-se nas costas de Sakuya, as costas viradas em direção a Rudel.
Rudel estava sentado com as costas pressionadas contra as dela.
— Izumi, anime-se logo.
Assim, Izumi ergueu uma voz tímida e envergonhada:
— Você disse que pensaria nas palavras para confessar. Ainda não ouvi essas palavras!
Ouvindo isso, Rudel ficou surpreso a princípio, mas depois riu. Ele riu, e levou Sakuya a mergulhar em uma nuvem.
— Uau!
Uma vez que eles romperam as nuvens, Izumi sentiu um leve frio sobre seu corpo. Uma camada de umidade repousava sobre sua pele e cabelos.
Sakuya conduziu os dois mais e mais no céu, abaixo deles um tapete de nuvens se desdobrando.
Rudel levantou Izumi para cima e segurou-a com força.
— Eu gosto de você, me apaixonei por você! Mas não sei se posso te fazer feliz. Por tanto quanto eu te amo... mais do que isso, estou apaixonado por este céu.
De forma ousada, Rudel divulgou seus verdadeiros sentimentos. Izumi assentiu com a cabeça.
— Eu sei. Sempre foi seu sonho voar nas costas de um dragão. Eu já ouvi isso muitas vezes.
Mas em cinco anos na academia, Izumi, que passou aqueles dias com ele, chegou a se solidarizar com os sentimentos de Rudel.
— Se você dissesse que eu era a número um, eu duvidaria.
O dragoon falou:
— Que cruel. Mas ainda assim, eu quero você. Lutei com a minha vida em jogo. Ninguém vai se importar se houver apenas uma coisa pela qual tenha o direito de escolher.
Não havia como dizer o que estava por vir. Courtois estava em grande turbulência e era possível que Fina fosse entronizada como rainha.
Descartando os nobres que levantam uma insurreição, e como esta era a primeira vez que o império os encurralou tanto, seriam necessárias reformas militares também.
Não, antes de mais nada, a própria nação de Courtois precisava de reforma.
— Só uma, eh? Faça o que você quiser. Só vou te seguir.
Quando Izumi abraçou Rudel em resposta, Sakuya deu um rugido tímido. Era como se ela os estivesse parabenizando e parecia excepcionalmente feliz.
E, dessa forma, o dragão oscilou para baixo, perfurando através da folha de nuvens.
Depois de fugir do quarto de doentes, Aleist se encontrou com Eunius e Luecke.
Em pouco tempo, eles estavam afogando suas preocupações na taverna.
— Não posso fazer isso! Aquela quantidade de mulheres é impossível, estou dizendo!
Ele disse com um gole, sua forma prostrada sobre a mesa impensável para o cavaleiro negro.
— Eu disse a elas para desistirem de mim. De alguma forma isso aumentou seus números. E então veio o trono! É inconcebível!
Ele proclamou que jogaria tudo fora, e perdeu todas as trapaças que tinha sido abençoado. Perdeu seu nível não natural de charme, não tinha mais o talento ou a mana que tinha antes.
Mas havia mais mulheres ao redor de Aleist do que nunca.
Eunius e Luecke deram tapinhas em seu ombro para consolá-lo.
— Ei, dê o seu melhor. Faremos o nosso melhor para não causar problemas. Ou melhor, acho que não é sua culpa desta vez. Então, boa sorte, Sua Alteza.
— Bom para você. Se você assumir a realeza, não importa quem seja inserida em seu harém. A Rainha Fina está no topo. Você nunca vai ter que se preocupar com classificações.
Aleist ergueu o rosto.
— Não desistam! Vocês estão todos forçando isso em mim, não estão?!
Eunius zombou:
— Hah! Não me diga, Sherlock. Quem em sã consciência assumiria de bom grado o poder neste irritante período de pós-guerra? Além do mais, estamos definitivamente entrando em uma era pé no saco depois disso.
O Reino de Courtois estava tentando mudar. Não, ele não tinha escolha a não ser mudar. Ao mesmo tempo, o que seria de seu inimigo, o império... havia uma montanha de problemas.
O trabalho exigido seria incomparável aos tempos de paz. Os dois futuros arquiduques compreenderam isso completamente quando fugiram do trono.
Mas Luecke deu um suspiro.
— Do meu ponto de vista, Rudel seria o melhor Rei. Considerando meu casamento com Lena, isso me deixaria acolhê-la como a esposa legal em vez de uma amante... hah.
Enquanto suspirava, suas razões eram unicamente para o interesse próprio. Aleist agarrou-se em lágrimas ao homem que nem sequer trataria a angústia do país como formalidade.
— Você não costumava discursar sobre a nobreza ou algo assim?! Então me salve. Cumpra o seu dever como nobre e salve-me!
Luecke removeu a mão de Aleist e alisou suas roupas. No entanto, ele estava vestido com roupas de um paciente.
— Seu tolo. Você é tão nobre quanto eu. Faça algo sobre isso por conta própria... espere, já sei!
Aleist e Eunius encararam Luecke.
Mas a ideia que ele teve...
— Eu posso simplesmente tomá-la como uma amante, e não casar com uma esposa legal. Nessa circunstância, para todos os efeitos, a amante não seria a esposa legal?!
... era sobre Lena.
Aleist removeu os olhos dele, Eunius bebeu sua cerveja. Em um ar que dizia: “Esse cara é um caso perdido”, os dois optaram por simplesmente ignorar o homem.
“Então é verdade o que eles dizem, que há uma linha tênue entre ser um idiota e um gênio.”
Eunius derramou um pouco de cerveja no copo de Aleist.
— Bom, sabe. Boa sorte.
Depois de tragar o líquido recém-derramado, Aleist falou:
— Isto é uma loucura!
— Aqueles tolos malditos, nunca vou perdoá-los!
Prosseguindo rapidamente com seus preparativos, Fina colocou tudo para lançar as bases para que ela pudesse ser entronizada como rainha. Ela era desnecessariamente proficiente, e somente em habilidades, Fina era a única digna da posição.
No entanto, o problema residia em seu interior.
Ela já havia preparado os papéis e estava se preparando para distribuí-los às divisões relevantes.
— Só espere. Quando eu for rainha, vou acabar com aqueles seus dragoons irritantes! Fwahahahah, eu posso ver meu mestre, chorando, implorando por perdão!
Olhando para Fina estavam Sophina e Mii.
Vendo-a sem nenhuma expressão realizando um trabalho após o outro, tudo enquanto jurava vingança, as duas ficaram muito assustadas.
Mii falou:
— Princesa, quer dizer, Sua Majestade, você não acha que isso é um pouco demais?
Fina olhou para ela.
— Oh, qual o problema? Está tudo bem, Mii… se ele chorar e rastejar, pode ter o meu perdão.
Sophina pareceu irritada.
— Não, isso é o mesmo que dizer que você não vai o perdoar de outra forma. Em vez disso, falando sério por um segundo...
Falando sério, com as Casas Diade e Halbades ajudando-a durante o tempo da insurreição de Aileen, se ela quisesse levar em frente a reforma ou qualquer outra coisa, ela não seria capaz de desprezar nenhuma das casas.
Além disso, ela não detinha o poder suficiente para fazer isso.
— Maldição! É porque esses arquiduques existem que o poder nacional de Courtois diminuiu! Parem de ferrar comigo, tragam o gerente! Nesse cenário, não devemos centralizar o poder?! Você acha que o império vai esperar?!
Mii inclinando a cabeça falou:
— Umm, mas ouvi dizer que o império estava consideravelmente exausto com essa perda.
No gesto inquisitório de Mii, Fina soltou uma baba satisfeita em sua cabeça. E ela começou a falar sobre isso:
— Por ora, pode ser. Mas só espere, dê a eles uma década, um século. O poder nacional deles despencará, do jeito que eles estão indo, ou guerra civil ou separação, o império vai mudar. Você acha que eles não podem mudar para pior? Eu odeio esse tipo de pensamento esperançoso.
Sophina falou com Fina.
— Nesse caso, não devemos lançar algo do nosso lado...
— Sua imbecil!
Fina a atingiu na cabeça. Os olhos da alta cavaleira ficaram marejados.
— Não temos mão-de-obra para mandar por aí! O país está em farrapos, e não há absolutamente nenhum mérito em roubar os desertos estéreos do império! O que estou querendo dizer é que o lado deles é quem tem todas as peças prontas para uma reforma adequada!
Quanto tempo e energia eles teriam que lidar com os movimentos das potências vizinhas enquanto prosseguiam com a reforma no país? Quanto maior era a nação, maior era o problema de governar sua extensão territorial.
Com isso como uma oportunidade, podia haver lordes planejando obter independência.
— Mesmo se nos livrarmos do máximo possível daqueles que se aliaram à rebelião da minha irmã, e aumentarmos o poder nacional do reino... aaaaah!! Minha cabeça dói!
O desejo de Fina em casar com Rudel não era apenas interesse próprio.
Formar uma composição com a força mais forte da nação (Rudel) ao seu lado seria um pesadelo para os outros.
Com a força de Rudel apoiando-a, seu objetivo era forçar suas reformas à força.
— … mas eu, Fina Courtois! Serei aquela que permanecerá firme em tempos de dificuldades! Vou colocar o mestre de joelhos!
Vendo-a voltar a trabalhar com essas palavras, Mii e Fina balançaram a cabeça.
No fim, Mii falou:
— Pelo contrário, por que é que tenho a sensação de que Sua Majestade é quem vai se grudar em Rudel-san...
Ela disse, mas Fina não ouviu.
Alguns anos mais tarde.
Rudel estava de pé no solo em que Askewell havia invadido e trazido à ruína.
Pelas atuais novas políticas da Rainha Fina, a maioria dos nobres abdicou de suas terras para o Estado, passando a viverem no centro em troca de uma remuneração anual do reino.
Uma parte dos que se opuseram foi ordenada a mudar de território para a fronteira, e Rudel estava lá em uma missão como uma expedição da capital.
A fortaleza renovada tinha dez cavaleiros dragoons estacionados.
O império havia entrado em guerra civil, sua divisão dando origem ao nascimento e queda de muitas novas nações, e no meio dessa luta, muitos foram os que marcharam para reivindicar as terras de Courtois.
Às vezes, havia conflitos com nobres em seu próprio país tramando uma rebelião contra Fina, o que não lhe dava falta de trabalho.
Enquanto sua vida tinha ficado agitada, Rudel estava ocupado nos estábulos de dragões lavando as costas de Sakuya com uma escova para convés, cantarolando uma melodia alegre. Sakuya parecia bastante confortável.
Seu subordinado, um novo dragoon o chamou:
— Mais cartas, Castelão1. De sua majestade, o cavaleiro negro da capital, a Casa Diade e a Casa Halbades... é um grupo incrível.
Castelão era o posto de Rudel. Enquanto cumpria o papel de um dragoon, ele era ao mesmo tempo o encarregado do forte.
Depois de saltar de Sakuya, Rudel aceitou as cartas e as abriu no local.
— Realmente não me importo com a de Fina. Eunius quer ir beber, Luecke... oh, seu primeiro filho! Então Lena é uma mãe agora. Mas ele não planeja mesmo ter uma esposa legal?
A carta da rainha era um longo pedido de desculpas e um apelo o incitando a voltar a capital. Rudel pessoalmente preferia a fronteira ao centro urbano, a carta atingiu todos os pontos de sempre, então ele imediatamente leu através disso e logo perdeu o interesse.
Eunius lhe fez um convite para a cidade, enquanto Luecke relatou com grande alegria como uma criança tinha nascido.
— Muito bem, Aleist está… en-entendo.
De acordo com a carta de Aleist, por alguma razão, as integrantes de seu harém aumentaram e ultrapassaram a marca de trinta. Com tantas crianças, ele não tinha ideia do que fazer neste ponto, ou então seus gritos de angústia eram grafados em papel.
Como era de se esperar, Rudel não tinha ideia do que escrever de volta.
— Ele tem uma vida difícil. Acho que vou consultar Izumi e escrever uma resposta.
O subordinado de Rudel olhou para ele com um suspiro.
— Castelão, se você retornar à capital, você receberá um status considerável. Tem certeza de que não vai voltar? Não vejo nada te impedindo.
Enquanto Rudel estava no comando do forte, ele teria preferido se pudesse assumir suas funções como um simples cavaleiro. Ele até achava que tinha muitos deveres desnecessários.
Normalmente, qualquer pessoa gostaria de uma promoção e uma posição na capital. Mas Rudel não poderia discernir nenhum valor nisso. Ele tinha ido tão longe a ponto de empurrar o status da Casa Arses para seu irmão mais novo, Chlust, que ele tinha muito pouco interesse em status ou promoção.
— Não estou interessado. Se você pode voar pelo céu, todos os lugares são praticamente o mesmo. Contanto que tenha Sakuya e minha esposa, não importa onde eu esteja.
Ouvindo essas palavras, Sakuya gemeu com encanto.
Seu subordinado encolheu os ombros.
— Se gabando? Eu só acho que é um desperdício. Você deveria almejar chegar mais alto.
Rudel sorriu. Do ponto de vista de seu subordinado, a vida na fronteira era algo que ele queria acabar logo para poder voltar à civilização. Rudel não tinha intenção de negar essa forma de pensar.
Saindo desse tema, o homem perguntou com profunda intriga:
— Parando para pensar, há um rumor por aí dizendo que você recusou não só a sua posição de Arquiduque, mas o trono também, isso é verdade?
Inclinando a escova sobre o ombro, Rudel se voltou para Sakuya.
— Quem sabe? Não estou realmente interessado nesse tipo de coisa. Agora e para sempre, eu sou apenas...
Se virando, Rudel sorriu.
— Um simples dragoon.
Nota
1 – Um castelão era o governador ou zelador de um castelo ou de sua torre principal. A palavra se origina do latim castellanus, derivada de castellum ("castelo"). Seu papel era o intermediário entre o exercido por um mordomo e um administrador militar — ao mesmo tempo que um castelão era responsável pela equipe de trabalho doméstico do castelo, como um mordomo fazia, ele era também responsável por defender e proteger as terras do castelo, principalmente se o proprietário não residisse no castelo ou se este estivesse frequentemente ausente.