Volume 8
Capítulo 167: Epílogo
Várias centenas de anos se passaram desde o momento em que Rudel estava em serviço.
O Reino de Courtois deixou apenas seu nome enquanto reis e nobres desapareciam, a cortina de uma era se fechando silenciosamente.
As formas dos dragoons, que outrora serviam o país, agora se foram, a visão dos dirigíveis que cruzavam o céu se tornara padrão. Com os céus não sendo mais uma terra além do alcance, a humanidade acabou por abandonar seus dragões. O desenvolvimento da tecnologia logo deu origem a aviões com hélices.
Brigadas de Cavaleiros foram abolidas. Exércitos uniformes se tornaram padrão, e o conhecimento técnico para utilizar um dragão foi perdido com o tempo. Os dragoons desapareceram depressa. Com sua alta manutenção e o temperamento instável de suas montarias, eles se tornaram mais do que valiam.
Dirigíveis, aviões... uma vez que eles estavam em mãos, os dragões se tornaram desnecessários.
No entanto, os governantes supremos do céu ainda permaneceram, como sempre tinham sido, as feras das lendas.
Foi apenas nas últimas décadas que as vastas terras da Morada dos Dragões se tornaram uma terra de disputa entre os humanos
Em um lugar sagrado com um lago, Sakuya observou os pequenos dragões semelhantes a ela brincando ao seu redor.
Suas asas tinham naturalmente aumentado para seis, e seu grande corpo havia crescido ainda mais. Tanto a pedra preciosa esplêndida em sua cabeça quanto seus chifres haviam crescido, o espírito jovem que ela mantinha em seus dias com Rudel não era visto em lugar nenhum.
Sakuya levantou a cabeça para olhar para o céu.
Ela soltou um rugido curto e alto. Só com isso, a Morada dos Dragões aos poucos ficou turbulenta à medida que os dragões voavam um após o outro.
Sakuya também abriu suas asas para se levantar e enfrentar seus rudes visitantes não convidados do país que já fora chamado de Império Gaia.
A partir de mais de trinta dirigíveis, os aviões de combate decolaram em sucessão ordenada.
Uma vasta e fértil terra, além disso, a Morada dos Dragões era abundante em recursos naturais. Para os humanos, os dragões não eram mais companheiros, eles já os reconheciam como inimigos.
Sakuya olhou sobre a cena e murmurou:
“Já se esqueceram do que aconteceu com o último Exército de Courtois que tentou invadir?”
Os dragões do vento voavam entre os caças, atraindo-os para uma dogfight. Uma a uma, as aeronaves eram atiradas ao chão.
Os dragões vermelhos disparavam seus sopros de fogo, afundando os dirigíveis atrás deles. Projetando canhões de seus cascos, os dirigíveis começaram um bombardeio contra Sakuya.
Os projéteis de canhão não conseguiram arranhá-la.
Sakuya abriu sua enorme boca, e à medida que seu sopro foi liberado, ele se dispersou pelo ar. Os tiros atingiram dirigíveis e caças, levando-os para o chão.
Embora houvesse inimigos que tentassem fugir, eles foram rapidamente contornados e esmagados.
Semelhante a Sakuya, um dragão branco com quatro asas se aproximou dela.
“Mamãe, acabou. Tudo o que resta é a limpeza.”
Sakuya manteve os olhos sobre as naves em queda, depois de uma grande batida de asas, ela se impulsionou a uma distância, ela decolou para algum lugar.
Talvez curiosa, a criança de Sakuya a acompanhou.
Foi onde uma vez a capital do Reino de Courtois se localizava.
Agora em ruínas e abandonada, nenhum vestígio de sua antiga glória permanecia.
Tendo chegado aqui, Sakuya imitou uma forma humana enquanto descia, seu filho, copiando-a, mudou de forma também.
A forma que Sakuya assumiu era como se a outrora deusa Sakuya tivesse crescido e se tornado uma adulta. Seu filho ostentava os mesmos olhos azuis e cabelos loiros cortados curtos. Uma pedra preciosa azul incrustada em sua testa.
Mas, ao contrário de Sakuya, suas mãos continuavam desproporcionalmente grandes e parecia que ele ainda não estava acostumado a assumir a forma humana.
— Mamãe, por que você veio aqui? Não há humanos aqui há bastante tempo.
— Você está certo.—, Sakuya murmurou, enquanto caminhava pela capital real enterrada em escombros e areia.
A razão pela qual a capital caiu. Tudo estava dentro dos limites do reino. O reino passou por uma era de ouro sob Fina Courtois, a grande líder que dizia-se ter rejuvenescido a dinastia, ao lado de seu primeiro-ministro Luecke Halbades.
Mas daí em diante veio um declínio lento e gradual.
Eles tiveram sua parcela de governantes sábios, mas no final, lançaram uma guerra contra os dragões, e a capital foi destruída pela força liderada por Sakuya.
Sim, quem queimou o Reino foi a própria Sakuya.
Enquanto ela caminhava por tal lugar, de todos os lados, goblins e orcs mostraram seus rostos. Eles pareciam pensar que Sakuya, em sua forma humana, era um mero alimento ao se aproximarem.
Aqueles goblins e orcs foram rasgados ao meio por de um único balanço do braço de seu filho.
— Para quem vocês acham que estão levantando suas lâminas, seus vira-latas imundos?!
Sakuya o impediu de perseguir e caçar os que fugiram.
“... estou com cada vez mais crianças que pensam em dragões como a raça mais forte da terra, menosprezando os outros.”
Em suas batalhas com humanos, um maior número de dragões começou a pensar em si mesmos como os verdadeiros governantes da terra. Isso estava se tornando uma grande preocupação para Sakuya.
Levando seu filho pela mão, Sakuya foi em direção a algo.
O que antes era o centro da cidade. Em uma fonte agora quebrada, com Fina no centro, ao seu lado estavam Rudel, Aleist, Luecke e Eunius, as estátuas de quem havia contribuído para o apogeu de Courtois.
Sakuya limpou a poeira e areia, limpando apenas aquele local para ver a estátua de Rudel. Era duvidoso dizer que se parecia muito com ele, mas enquanto as pessoas considerassem uma representação dele, ela não poderia tratá-lo mal.
— ... Rudel, mal consigo me lembrar do seu rosto.
Suas lembranças da juventude gradualmente se esvaiam.
O tempo que ela tinha passado com Rudel e Izumi, para Sakuya, não era mais do que um instante. Nos tempos que se seguiram, depois que os dois se foram, um pouco mais tarde, Mystith e todos os dragões que cuidavam dela também partiram.
Antes que ela percebesse, Sakuya era quem liderava os dragões, e suas relações com os humanos estavam se desfazendo.
Foi tudo muito doloroso para ela.
A criança olhou para Sakuya antes de olhar para a estátua.
— Não posso acreditar que você já deixou algum humano montar em suas costas. Isso é loucura.
Sakuya escondeu o rosto com a mão direita, virando-se para a criança.
— Você nunca teve um humano montado em suas costas antes. Não, você nunca teve um cavaleiro. Quando os corações do dragão e do humano se conectam, eles se tornam um dragoon. Era algo normal.
As bochechas da criança ficaram estufadas.
— Humanos são incompetentes com nada além de números. Se dependesse de nós, teríamos queimados todos eles.
Sakuya recebeu as palavras com tristeza; ela sentiu a realidade de quão grande a distância com os humanos cresceu para os dragões desenvolverem essa mentalidade.
Então, o céu de repente ficou turbulento.
Uma sombra escura sinistra no alto — impossível saber se eles estavam vivos ou mortos, eles tinham crescido em números nos últimos tempos, aquelas coisas que não eram monstros, e um deles estava sendo perseguido por um avião de combate.
A criança encolheu os ombros.
— Um daqueles insetos que vem se multiplicando ultimamente? Esse é um bom desafio para aqueles humanos irritantes.
Aquela sinistra coisa com a forma de um artrópode foi enfim encurralada e baleada até a morte pela aeronave. Mas o avião também foi atingido e pegou fogo.
— Está caindo.
Enquanto o caça continuava em uma trajetória descendente para algum lugar, o piloto saltou da cabine com um paraquedas amarrado.
Estranhamente, bem na direção de Sakuya.
Quando o piloto pousou, o paraquedas caiu sobre ele, e enquanto ele se contorcia para sair, o homem segurava uma pistola na mão.
Um momento antes de seu filho balançar o braço, Sakuya viu o rosto do piloto e baixou o punho contra a cabeça de seu filho. Ela baixou com energia suficiente para um som estridente ressoar.
— Mamãe, isso machuca!
— … eu sinto muito. Mas espere.
Se ela usasse apenas palavras, certamente o humano diante de seus olhos estaria morto. O piloto parecia bastante perplexo diante de Sakuya e da criança.
Ele puxou o capacete cobrindo a cabeça, removeu seus óculos e falou. Com inconfundíveis cabelos prateados e olhos azuis, o piloto estava com sua pistola preparada.
— Civis? Vocês estão em um lugar bastante estranho para isso.
O jovem disse, olhando para os braços grandes da criança e observando os dois. Aos olhos de um humano, não havia nenhuma maneira possível de Sakuya vir aqui tão levemente equipada quanto ela estava.
Mas, com o jovem diante dela, Sakuya começou a chorar.
— Uma vida humana é curta. Mas…
O jovem se aproximou, sua arma apontada para Sakuya. Enquanto a criança o intimidava, Sakuya ergueu a mão para interrompê-lo.
— Rudel.
Tocando uma mão na bochecha do jovem, Sakuya murmurou um nome. O homem parecia bastante abalado e pulou para trás para criar distância.
— Você não é humana. Uma forma de monstro? Ou um novo tipo de inseto? Onde você aprendeu meu nome?
Ao ouvir que não apenas seu rosto, mas também seu nome eram os mesmos, Sakuya mostrou um pequeno sorriso. Ela mudou para sua forma de dragão.
Ao ver aquele dragão enorme, os olhos de Rudel se abriram de surpresa. No entanto, ele não mostrou nenhum medo.
Ele olhou com pura intriga.
— Um dragão?! Além disso, o senhor do Covil dos Dragões!
Sakuya descansou Rudel em sua mão e o elevou para o céu.
“Vou te entregar para algum lugar perto de onde os humanos vivem. Uma vez um belo humano montou nestas costas. É o mínimo que posso fazer para retribuir o favor.”
Da palma da mão dela, Rudel olhou para Sakuya.
— Um dragoon?! Nunca acreditei que eles realmente existissem... que interessante, então deixe-me montar nas suas costas também.
Quão descarado ele poderia ser? A criança voltou a sua forma de dragão, voando ao lado de Sakuya enquanto reclamava com Rudel:
“Não fique se achando, humano! Com quem você acha que está falando?! Você acha que a mamãe deixaria um canalha sujo como você descansar nas costas dela?!”
Mas Sakuya trocou palavras com o homem.
“Você sabe sobre os dragoons, você sabe sobre o mundo, ainda assim, você deseja montar nas minhas costas?”
Rudel levou sua mão direita para o peito.
— É claro. Você é bem mais forte do que um caça. Se eu cavalgar você, posso aniquilar aqueles insetos malditos!
Mesmo agora, seu filho estava pronto para atacar a qualquer minuto. Suas presas à mostra, seus olhos bem abertos, ele mataria o homem na menor oportunidade.
Rudel continuou:
— E as pequenas coisas realmente não importam. Só quero montar nas suas costas!
Sakuya riu.
“Uma vida humana é curta. Mas elas passam por ciclos...”, essas foram as palavras de Mystith, que já havia perdido Marty para ganhar uma nova parceira em Lena.
Enfim entendendo o que ela quis dizer, Sakuya levou a mão para as costas e colocou Rudel sobre ela.
“Muito bem. Então me monte como quiser... dragoon da nova era.”
“Mamãe!”, a criança gritou.
Assim que Rudel estava em suas costas, ele abriu os braços e sorriu.
— Sim! Me sinto em casa. Dessa forma, poderei aniquilar qualquer inseto que surgir no meu caminho!
E assim o primeiro dragoon em várias centenas de anos forjaria uma nova lenda... mas essa é uma outra história.