Volume 8
Capítulo 151: A outra reencarnação
A mansão da Casa Arses.
Muitos cavaleiros e soldados armados se amontoaram no trecho do portão até a porta da frente.
No estado ruidoso, os preparativos estavam em andamento para interceptar o Império Gaia invadindo a fronteira nacional. Embora as tropas estivessem reunidas, não era a melhor das reuniões.
Dois mil foram reunidos ali, mas o equipamento e o treinamento estavam aquém.
Sentada no topo do telhado, Lena Arses olhou para eles se espreguiçando e bocejando.
— Em nosso território, será difícil conseguir mais.
O desgoverno deles estava seguindo seu curso.
Quando souberam da crise de Courtois, houve até nobres e cavaleiros que fugiram. Os soldados eram poucos para reunir, tornando evidente o quão pouca adoração a Casa Arses tinha.
Que eles pudessem reunir dois mil, mesmo assim, devia ter sido devido a seu status como Arquiduques.
Olhando para o número de tropas muito baixo para a extensão de seu território, Lena avistou Erselica conversando com um cavaleiro.
— Erselica se adaptou muito bem, mas isso vai ser duro.
Mesmo que marchassem agora e ganhassem a ajuda dos nobres que cooperariam, levaria tempo para chegar à fronteira. Qualquer passo em falso e eles não iriam chegar a tempo.
Lena pendurou a lança no ombro e olhou para o céu.
Nostálgico... um vento verdadeiramente nostálgico varreu sobre ela. Sentindo o fluxo anormal de ar soprado pelas asas de um dragão, ela se levantou sem pressa.
Um lindo dragão azul olhando para ela diante de seus olhos... Mystith olhou para baixo sobre Lena.
Enquanto os arredores ficavam em pânico, Lena não poderia estar mais calma.
"Eu encontrei uma humana bastante impertinente, encontrei sim. Não sei onde você aprendeu, mas seu assobio... chegou até mim."
Ela tinha assobiado para o céu. Mas aquele não era um assobio comum.
Foi um assobio para invocar um dragão. Para ser mais preciso, era o assobio usado entre Marty e Mystith. Um assobio que podia ser ouvido onde quer que o outro estivesse.
Lena se virou para Mystith com um sorriso.
— Eu realmente não me lembro dos detalhes. Mas sabe... eu pensei que poderia fazer isso. E pensei que você viria por mim.
Batendo suas asas, Mystith estreitou os olhos para observar Lena.
"... ah, então é isso."
Abrindo a boca em uma risada, Mystith se dirigiu à jovem:
"Já faz um tempo, Marty... você ficou muito fofo quando eu não estava olhando."
Lena riu junto dela.
— Você está certa, Mystith. Mas sinto muito, quase não há nada de que me lembre. No momento sou Lena... Lena Arses, e uma garota. E... eu quero salvar meu irmão. Posso contar com a sua cooperação?
Mystith lentamente abaixou-se no chão, trazendo o nível de seus olhos para a altura de Lena.
"Então você quer que eu ajude. Mas Marty..."
— É Lena. Sou Lena Arses, Mystith.
Lena disse com um sorriso:
— Eu quero salvar meu irmão.
"E pensar que você era a irmã mais nova de Rudel. Isso é algum tipo de destino?"
Com as palavras de Mystith, Lena baixou a cabeça um pouco, pensando.
Não era como se ela soubesse de tudo. Ela apenas teve um leve pressentimento de que tinha um passado que não conhecia. Era impossível para ela determinar se isso era verdade ou apenas sua ilusão.
— Acho que me lembrei quando estava com o mano. Certo, aquela vez quando ele apareceu com o meu... o livro que eu escrevi no passado.
Embora fosse vago, aconteceu quando Rudel trouxe um livro que ela havia escrito em uma vida passada. Naquele momento, Lena se lembrou de uma época anterior.
A memória de um estranho. E o fato de que existia um eu de uma vida passada, para Lena na época, era uma verdade extremamente pesada para digerir.
Quem era ela? Ela começou a pensar que sua própria existência era uma invenção. Ainda assim, para Lena, Rudel falava sem parar sobre como Marty era ótimo. Ele pregaria elogios honestos, fortalecendo ambas as suas aspirações de ser um dragoon...
— ... meu irmão é um idiota, não é?
"… ele é."
Mystith concordou com isso.
— Quando eu olhava para o meu irmão assim, parecia tão idiota pensar muito sobre tudo. Não que eu mesma não fosse uma idiota. Decidi não pensar muito. Afinal, essa é uma nova vida. Por que não me divertir com isso? Mas…
Desta vez, ela viveria sua vida como Lena. Foi por isso que ela nunca pensou que envolveria Mystith em sua vida.
— Claro, houve algum motivo para eu ser a irmã mais nova do meu irmão, eu acho.
Lena disse e acariciou Mystith.
Mystith abriu suas asas, ela parecia encantada com o toque de Lena.
"Bem-vindo de volta, Marty. E é um prazer conhecê-la, Lena Arses. Você é minha terceira parceira."
No palácio, Fritz olhou para o fio da espada que ele recebeu.
Olhando para aquela espada, incrustada com pedras preciosas e feita com a mais recente tecnologia, ele confirmou que seus preparativos estavam em ordem antes de colocá-la em sua bainha.
— Fritz-sama, os preparativos para partir estão completos. E parece que o cavaleiro negro conseguiu sair da capital.
— Entendido.
Fritz disse e saiu da sala, indo para o pátio do palácio onde seu dragão esperava.
Seu subordinado seguindo atrás ficou com uma cara ansiosa.
— Fritz-sama, não há necessidade de você subjugar pessoalmente o cavaleiro negro...
Um Fritz irritado olhou para seu subordinado antes de aumentar seu ritmo de caminhada.
— Você acha que vou perder ou algo assim?
Fritz estava impaciente. Foi muito bom que ele se tornou o Comandante Supremo, mas estava bastante claro para ele que seu ambiente não o aceitava.
Sem nenhuma conquista digna de nota, Fritz se tornou uma decoração completa. Seu último raio de esperança, Aileen, parecia estar com a impressão de que, se isso o manteria fora de perigo, estaria tudo bem.
"Como se eu pudesse aceitar isso."
As existências chamadas Rudel e Aleist eram um estorvo para ele. Derrotar Aleist, que fugiu, era sua última oportunidade de demonstrar suas próprias habilidades.
"Mesmo que ele seja o cavaleiro negro, tenho um dragão do meu lado. Até parece que eu perderia."
Ele obteve uma nova espada.
Era uma lâmina poderosa, apenas pela aparência, e quando ele realmente tentou usá-la, foi assustador. Com esse poder, Fritz derrotaria Aleist, demonstraria sua própria força e se tornaria o comandante supremo não apenas no nome.
"Não vou me tornar uma peça decorativa."
Saindo com isso em mente, Fritz olhou para o dragão cinza em espera no pátio. Seu parceiro, ao vê-lo, deu-lhe as costas. Os servos ao redor que cuidavam dele se distanciaram quando Fritz saltou e espremeu sua voz:
— Vamos derrubar o cavaleiro negro. Agora, voe!
Cumprindo a ordem de Fritz, o dragão cinza bateu suas asas e subiu ao céu.
Algumas carruagens puxadas por cavalos deixaram a parede externa da capital real.
Da bagagem colocada na parte de trás de uma, o rosto de Aleist apareceu.
— Nós-nós de alguma forma conseguimos.
Com um pouco de paz de espírito, tendo contornado os limites externos da cidade, Aleist olhou em volta com uma expressão aliviada. Seu fiel corcel Heath puxava a carruagem disfarçado.
Ele permaneceu em guarda por um tempo, mas não havia sinais de ataque inimigo. A poucos quilômetros de distância, Aleist mostrou todo o seu corpo das sombras das caixas de bagagem.
— Muito bem, estava preocupado que eles notassem, mas parece que deu certo.
Seguindo Aleist, suas companheiras apareceram uma após a outra.
— Mesmo assim, no nosso ritmo, o tempo até a fronteira é...
De repente, Aleist olhou para o pano esticado sobre a cobertura, prontamente saltando da carruagem e olhando para o céu.
Um dragão cinza vinha do castelo e, olhando ao redor, havia uma estranha escassez de transeuntes usando a estrada principal.
Era a estrada que levava à capital, uma situação bastante antinatural.
— Então eles perceberam.
Derramando suor frio, Aleist puxou seu par de espadas de suas bainhas. Enquanto o dragão batia suas asas para manter sua posição no ar, ele ouviu a voz de Fritz:
— Você achou que saiu despercebido? Que seja. Cavaleiro Negro Aleist, você vai morrer aqui.
Quando o dragão cinza abriu a boca para disparar seu sopro, Aleist envolveu seus arredores em uma esfera de sua própria sombra para endurecer sua defesa.
Mesmo assim, diante do sopro do dragão, as defesas de Aleist foram derrubadas com muita facilidade.
— !
Com suas defesas superadas, Aleist olhou para cima para ver a descida de Fritz.
As mulheres ao redor dele prepararam suas armas, mas enquanto tentavam atacá-lo, o Dragão pousou para intimidá-las. Aleist redirecionou sua postura com a fera diante dele.
— Que aborrecimento. Estamos com pressa aqui.
Sentindo o pânico de Aleist, Fritz riu um pouco.
— Você não vai conseguir de qualquer maneira. Em vez de sua situação inútil, por favor, apenas morra pela minha lâmina.
Quando Fritz desembainhou a espada, Aleist olhou perplexo para ela.
"Não vi essa espada em algum lugar..."
Fritz o atacou. Eram as especificações da arma ou talvez sua própria habilidade?
Ele tinha ficado um pouco mais forte do que antes.
— Eu sempre quis acabar com você assim. Não posso esquecer meu rancor da academia!
O rancor de que ele falou envolvia Aleist instantaneamente eliminando-o no Torneio da Academia1. Graças a isso, Fritz foi menosprezado pelas pessoas ao seu redor.
Bloqueando o golpe de Fritz com ambas as lâminas, Aleist deu um chute para a frente para destruir o equilíbrio do inimigo. Mas Fritz se distanciou e atacou de novo. Aleist o defendeu com a espada em sua mão esquerda, apenas para Fritz conter o braço direito de Aleist com seu braço esquerdo.
"Este cara está muito mais forte do que da última vez..."
A pedra preciosa embutida na espada de Fritz lançou uma luz. A espada estava fortalecendo seu corpo.
— São águas passadas! E o que você está fazendo aqui? Você é o comandante supremo, não é!?
Aleist se distanciou enquanto disparava algumas lanças feitas de sua própria sombra em Fritz, mas o rapaz as cortou.
Aleist ficou irritado.
Por dentro, sua raiva em relação a Fritz estava crescendo.
"Você é o comandante supremo, caramba. O que você está fazendo aqui!? Vá se preparar para a guerra ou algo parecido."
Enquanto o Reino de Courtois se preparava para a invasão, era impensável que o comandante do exército saísse pessoalmente para derrotar Aleist.
Do ponto de vista de Aleist, ele queria ir em auxílio de Rudel sem perder um segundo.
Fritz riu. Mas seu sorriso era sombrio.
— Comandante supremo? Nesse ritmo, serei uma decoração. Sem mérito ou conquista. Quem levará minha opinião a sério? Desprezado por ser um plebeu, zombado pelos nobres. Eles me tratam como se fosse seu substituto... como se eu pudesse suportar isso!
Correndo para Aleist, Fritz entrou em um fluxo consecutivo de ataques. Manejando habilmente as duas espadas, Aleist gritou quando as faíscas voavam ao redor dele.
— Como se me importasse! Foi isso o que você pediu!
Do ponto de vista de Aleist, as circunstâncias de Fritz eram a menor de suas preocupações. Mergulhando em sua sombra para evitar um dos ataques do rapaz, ele se moveu para trás para derrubá-lo.
Ainda assim, no momento de crise de Fritz, o dragão rugiu, desviando a atenção de Aleist.
— Merda! Se o dragão não estivesse lá, isso estaria acabado em um instante!
Afastando-se em irritação, Aleist viu suas camaradas tomando posições para cercarem Fritz.
"Mesmo se todos nós formos contra ele de uma vez, o dragão vai atrapalhar. Esse cara está aqui por seus próprios méritos..."
Se Fritz pretendia esmagar Aleist, ele poderia ter feito isso montando seu dragão e lançando ataques de sopro do céu.
Nesse caso, Aleist faria parecer que foi explodido, recuperando secretamente suas companheiras para superar a situação. Projetando um meio de escapar em um canto de sua mente, Aleist deu a Fritz um sorriso.
— Você está satisfeito, vencendo sob a proteção de um dragão... Fritz?
Em sua tentativa de provocação, Aleist olhou para seu rosto para confirmar sua irritação.
Com a testa franzida, Fritz preparou a espada.
— Eu sou diferente de um homem patético que é protegido por suas mulheres.
Aleist riu.
— Kahah! É mesmo? Nunca pensei que ouviria isso de alguém protegido pela Princesa Aileen e autorizado a fazer o que bem quiser. Você quer me dizer que não foi a Princesa Aileen quem o nomeou Comandante Supremo?
Vendo Fritz cerrar os dentes, Aleist pensou:
"Entendo, então ele notou. É por isso que ele está se forçando a me matar. Mas sabe, garoto…"
— … você, você precisa muito se olhar no espelho. Você tagarela sobre plebeus e nobres, mas no final, você está apenas cuidando de si mesmo.
Aleist disse, apesar de pensar:
"Bem, não é como seu pudesse falar isso."
Por ora, enfurecer Fritz era a prioridade. Esticando uma mão atrás das costas, ele sinalizou para suas camaradas se reunirem atrás dele.
Suas camaradas se posicionaram lentamente.
— Um maldito rico como você, que tem tudo, não consegue entender o que...
— É, eu não posso. Não vou negar isso... mas o que isso faz de você? Protegido pela Princesa Aileen, ela até o nomeou comandante supremo. E, no entanto, as pessoas não estão te ouvindo, então você sai sozinho para me pegar? Você não desprezou aqueles malditos nobres que ignoraram seu povo e cediam as suas fantasias? Puxa, você realmente tem uma vida maravilhosa. Tenho certeza que eles vão cantar canções de louvor. Daquele idiota maldito desejando glória.
Do ponto de vista de Aleist, o comandante sair na frente e lutar era impensável.
Claro, ele só pensava assim porque tinha uma vida passada.
Como Fritz disse, aqueles colocados sob um cavaleiro sem conquistas, sem nenhuma experiência da vida real, só poderiam ficar ansiosos.
Qualquer um preferiria uma alma abundante em experiência.
— Fritz, você está se tornando a pessoa que mais odeia. Eu posso dizer. Não sou muito diferente. Então...
— ... você é igual a mim? Impossível. Isso é com certeza impossível!
No final, a compaixão de Aleist apareceu. Ele queria que Fritz de alguma forma notasse, porque ele teve a sensação de que estava praticamente olhando para si mesmo.
Seu eu do passado... sua parte passada tão convencida parecia o mesmo que Fritz para ele.
Mas suas palavras não o alcançaram.
Ficando sem expressão, Fritz moveu-se para o lado de onde ele estava.
— Isso é o bastante. Queime.
No momento em que Fritz se afastou, a forma de um dragão cinzento, um sopro preparado em sua boca aberta à vista.
"Aqui vem ele!"
Calculando a hora certa, Aleist estava prestes a se mover para resgatar seu grupo.
Mas foi então que o dragão de repente fechou a boca, pegou Fritz, e subiu para o céu.
— Quê! Ei, eu não ordenei que você...
Deve ter sido inesperado para Fritz também. Ele estava em pânico.
Onde Fritz estava há pouco, uma massa de água, uma série de esferas, caiu do céu. Elas explodiram ao colidir com o chão, encharcando Aleist e suas companheiras.
Aleist olhou para o céu...
— Bennet-san!
Montando um dragão com escamas azuis, havia a forma de uma jovem pequena com cabelos prateados.
— Desculpe por isso. Não consegui me conter.
Bennet disse, intimidando seu oponente com seu próprio dragão. A diferença entre um dragão selvagem e um criado era grande demais. Para piorar, a diferença de força entre seus parceiros, Bennet e Fritz, também era enorme.
O dragão cinza recuperou Fritz e se retirou para o palácio.
— Aleist!
Não era apenas Bennet nas costas do Dragão. Izumi estava lá com ela.
— Suba. Estamos em uma rota direta para Rudel.
Aleist acenou com a cabeça, imediatamente reuniu suas companheiras e começou os preparativos.
Tendo retornado ao palácio, Fritz relatou a Aileen que a brigada dos dragoons tinha virado a casaca.
Contudo...
— Fritz-sama... já recebemos um relatório do Capitão Oldart da Brigada dos Dragoons que uma parte de seus membros desertaram. No entanto, estamos em um estado onde somos incapazes de persegui-los.
Em torno de uma Aileen conturbada, os cavaleiros de boa linhagem esperavam por ela. Tomando o nome dos guardas, os cavaleiros estavam estacionados perto de Aileen no lugar de Fritz.
Eles olharam para o rapaz com olhos de desprezo.
— Você deve se acalmar, ó alto e poderoso comandante supremo. Neste exato momento, você é o responsável por todos os assuntos militares.
Quando lhe disseram que não era para Aileen receber esses relatórios, Fritz cerrou os punhos. Os cavaleiros olharam para ele e riram.
Aileen falou para o tranquilizar:
— Eles receberão a recompensa apropriada após a guerra. Isso vai ser suficiente?
Aileen disse enquanto buscava a confirmação dos cavaleiros ao seu redor. Com seus acenos, uma ordem foi entregue a Fritz:
— Assim sendo, Fritz-sama. Como nosso general, por que você não vai derrubar o tolo Império Gaia que invadiu nossas terras?
Fritz se ajoelhou e aceitou a ordem.
— Sim, Princesa Aileen.
Mas ele estava em conflito interno.
Apesar de se tornar comandante supremo, os cavaleiros, os jovens nobres de boas famílias, faziam pouco caso dele, e ele estava sendo enviado para o campo de batalha como uma mera decoração.
"... o que diabos eu estou fazendo aqui?"
As palavras de Aleist, "Você está se tornando a pessoa que mais odeia", passaram pela cabeça do rapaz.
Nota
1 – Eventos do capítulo 86.