Dominação Ancestral Brasileira

Autor(a): Mateus Lopes Jardim


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 210: Dia de Casamento(2)

— Maray se recusou, e até tentou vencê-lo em uma luta. Ela me disse, quando voltou naquele dia para casa, que ele simplesmente se defendeu e não a atacou para causar danos graves, mas a deu umas palmadas para aprender o lugar dela. Quando meu tataravô ficou sabendo, nós fomos voando até o Grande Mar Seco, que era conhecido assim pois ele estava em um nível tão baixo que as vezes conseguíamos ver alguns seres marítimos buscando alimentos fora d’água. Muitas vezes nós preparávamos algumas raspas e juntávamos com a massa de frutas e jogávamos ao raso mar para alimentar eles.  Espécies dóceis lutavam entre si, e aquilo nos entristecia tanto, que um dia minha mãe e algumas outras mulheres proibiram que fizéssemos isso para não ter que assistir a eles lutando. Mas quando chegamos lá, o Mar estava, bem, parecendo mais como um Mar. Sentado em uma pedra e cantando, estava um ser arco-íris, que fazia o sol parecer imparcial, e brilhar mais para ele. Todos os anciões da família, os poucos que sobreviveram, eram Reis-Terra e Céu, e eu os vi caírem de joelhos sob a praia do mar doce. Vi meu tataravô tão atônito, e cativado, que coloquei o ser na minha frente em um lugar de respeito máximo. Ravos olhou de volta para nós, e disse que queria ser uma mãe, um pai, um ser com filhos. Mas até o momento, nenhum daqueles que vieram ao planeta em que ele nasceu respeitaram sua carne e seus ossos. Ele disse que tanto tempo se passara, e que já havia perdido a fé que um dia pessoas como nós poderiam um dia pousar sobre sua terra. Mas que finalmente haviam chegado, e que ele nos queria como seus filhos. Mas não somente filhos, também, fiéis. Ravos queria ser adorado como o Deus que ele de fato era. Porém, simplesmente ter fiéis não bastava, ele queria seres dignos de estarem sob ele.

Mutima para brevemente de seu longo monólogo. Saboreando em sua memória, a primeira visão de Ravos. Mits, via através da memória, as sensações, os medos, os anciões, de auras poderosas se curvando ao ser resplandecente.

— Então, um orbe se revelou, após rasgar o espaço. Tomando uma forma rosada, humanoide, porém sem gênero, ela se virou para Maray e disse que, se ela foi a primeira a os encontrar, ela deveria ser a representante do nosso povo. Maray veio a frente e disse que seria a representante com prazer, porém, cautelosa como nos foi ensinado, ela perguntou o que isso traria de mudanças. Que tipo de fé, ele esperava dos nossos...

— ... Ravos se levantou e abanou a mão pros céus. Fez o dia escurecer e uma massa de terra aparecer acima de nós. Dela, um rio descendeu no Mar Seco o preenchendo. Energia pura de diversas cores atacaram a terra, a abençoando. Os mais jovens começaram a irromper de seus gargalos e os mais velhos se tornavam cada vez mais próximos de poder passar de reino. Meu vô sentiu os céus clamarem sua vinda para desafiar a Divindade.

(Para alcançar o 11º Reino você tem que ser chamado pelos céus, como um tipo de convocação para que se prove, e então possa se tornar um “Deus” de verdade. Existem outras formas de alcançar a divindade também, esta é a mais comum, porém é uma de categoria mediana-alta, existem outras de menor qualidade, e maior qualidade.)

Ravos, na memória de Mutima, invoca um papiro que suspirava leis e cânticos eternos. A energia sem fim de Ravos silencia o papiro, para então sua boca novamente se abrir:

— Vocês serão o que são agora. Porém, eu preciso que os próximos representantes a cada geração encontrem e se casem com seres dignos, fortes o suficiente para poder doar para mim suas cores. Após se tornarem no mínimo Imperadores, ou Deuses em cultivação, eu tomarei a cor da esposa ou esposo de meu filho. Da mesma forma que eu os deixarei mais fortes, os evoluindo em outro sentido. Preciso que vocês me ajudem a quebrar a barreira de ser um Deus, para “Senhor dos Deuses”.

Ravos faz um movimento rápido, e arranca o próprio coração do peito. Um órgão completamente branco aparece em sua mão, sangue multi-colorido vaza de seu peito, caindo no mar.

O coração começa a crescer até ter mais de 1km, seja de altura ou comprimento.

— Se vocês aceitam as minhas dádivas, e minhas condições... Entrem todos em meu coração, e deixe-me os transformar em um novo povo. Uma nova raça. E eu não aceito traições, quem me trair se pisar novamente em Ravos. Morrerá. A não ser que traga algo de igual valor para minhas entranhas, que é este planeta, e esta nova raça.

Mutima cessa a visão, sua mão treme.

— Eu não tive coragem de forçar meu marido a doar a cor rosa de seu ser para Ravos. Isso o impediria animicamente de poder ver rosa novamente. A cor se tornaria um cinza morto para seus olhos. Fora que isso também mexe com a sensibilidade de sentir energia e até mesmo rouba parte da cultivação do indivíduo. O pacto que firma a obrigação de um marido ou esposa de se apresentar a Ravos, é a virgindade do Ravoniano ou Ravoniana. Lembro que o primeiro a urgir que Mayra aceitasse foi meu vô. Com Mayra finalmente tendo aceito, todos entramos no coração. Dentro dele uma escuridão profunda reinava. Então, ele disse para o ser ao lado. — Binah, sua promessa — E então lembro de ter perdido a consciência, porém quando acordamos, meu vô era um Deus, muitos Reis viraram Imperadores e príncipes se tornaram Reis. Ravos por sua vez tinha ficado esquelético, e suas cores exultantes pareciam ter sido drenadas pela velhice. Nós em contra partida tivemos nossas irises mudadas e corpos, mentes e cultivações fortalecidas a um nível tão absurdo, que pensávamos que tínhamos vendido nossas almas.

Mits perspira, atônita, nervosa e amedrontada. Ela não entendia muito bem o que de fato aconteceu.

— Vó... Ravos conseguiu?

— Ainda não. Mas quando eu sai de Ravos, ele estava muito perto. Na verdade, se meu esposo tivesse sua cor extraída... Provavelmente ele só precisaria de mais um ou dois. Nesse meio tempo, eu senti que um Deus que nasceu teve sua cor tomada. Sempre que isso acontece, nossa raça por inteiro, sente. Nos tornamos mais fortes com Ravos. Por isso que, por mais que no começo achávamos que tínhamos vendidos nossos futuros companheiros, viemos a aceitar que seria o melhor para todos. Alguns que tiveram suas cores extraídas até mesmo conseguiram se erguer através disso e alcançar novos níveis. Então afundamos o pensamento de erro e mascaramos ele como o de oportunidade. Todo ser que casa com um Ravoniano tem a cultivação acelerada, e não é só rápida, mas sólida e firme. Além disso, nossas qualidades de reprodução são muito superiores. Nossos filhos são basicamente garantidos de alcançar no mínimo o Oitavo Reino. E em todos os Reinos, somos sempre mais fortes que os outros, claro excluindo aqueles de natureza especial, que podem ser nossos iguais ou não perder por tanto.

Mits fecha os olhos e começa a organizar tudo que lhe foi dito. Uma certa insegurança toma conta de seu coração.

— Mythro...

  *****†*****

Sentado, dentro de sua própria cultivação. Mythro conversava com Binah, as outras Sefiras e os habitantes de seu ser.

— Quando aquelas crianças entraram no coração de Ravos. Eu compartilhei Ravos com eles, mas de uma maneira tanto compartilhada quanto independente. Se eles morressem, portanto que fossem enterrados em Ravos a energia e a cosmicidade voltaria para ele. Deste jeito ele cultivaria também, mesmo estando unido ao planeta, como ele se uniu para sobreviver quando foi quase destruído nos primórdios. Esta destruição tinha feito dele estéril, por isso ele precisou de mim. Após me compreender por inteira, e sacrificar sua abundante energia divina, a raça deles nasceu. Sui Generis e seres de linhagem direta divinal. Tendo parte de mim, e de Ravos.

Mythro contempla tudo que lhe foi exposto.

— Aquela menina Mutima provavelmente vai contar o mesmo para Mits. Afinal, quando vocês se deitarem em amor, o pacto será selado. Tenho certeza que ela não a deixará no escuro.

— Binah. O que te levou a dar poder a esta situação?

— Aqueles que compreendem as Sefirás, devem ser recompensados. Portanto que não mude de maneira ridícula o equilíbrio universal, devem ser honrados. Mas eles terão de abrir mão da Sefirá, e de suas divindades. Embora possam a reerguer. Quando o pacto for feito, você deverá por leis cósmicas sua cor a ele.

— Minha cor? Quer dizer que ele roubaria o rosa?

— A cor mais fundamental em você. Nesse caso, suas trevas. A maioria dos outros tem a cor de suas esposas como a mais bela, ou de suas mães, pais ou de eventos importantes em suas vidas.

— Ravos...



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